efdeportes.com

Dificuldades apresentadas pelas crianças na execução 

de habilidades motoras: considerações para a prática

Dificultades presentadas por los niños en la ejecución de habilidades motoras: reflexiones para la práctica

 

Licenciatura plena em Educação Física

Especialização em Motricidade Infantil

Mestranda em Ciências do Movimento Humano

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Luciana Martins Brauner

lubrauner@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Este trabalho tem como objetivo discutir, sucintamente, algumas das principais dificuldades motoras apresentadas por crianças na execução das habilidades motoras fundamentais e nos padrões motores finos manipulativos. Ao longo da exposição, tem-se também como objetivo a reflexão acerca dessas dificuldades, considerando o modelo sistêmico dinâmico. Encerrando, são propostas atividades e estratégias de intervenção que possam auxiliar na superação dessas dificuldades.

          Unitermos: Desenvolvimento motor. Intervenção motora. Habilidades motoras. Crianças.

 

Resumen

          Este artículo tiene por objetivo discutir, sucintamente, algunas de las principales dificultades motoras presentadas por los niños en la ejecución de las habilidades motoras fundamentales y en los patrones motores finos manipulativos. A lo largo de la exposición, se tiene también por objetivo la reflexión sobre estas dificultades, considerando el modelo sistémico dinámico. Finalmente, son propuestas actividades y estrategias de intervención que puedan ayudar a superar estas dificultades.

          Palabras clave: Desarrollo motor. Intervención motora. Habilidades motoras. Niños.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Febrero de 2009

1 / 1

    Adquirir um repertório diversificado de habilidades motoras fundamentais é de grande importância para o desenvolvimento integral do indivíduo, pois essas formam a base para o desenvolvimento das habilidades especializadas desempenhadas em contextos específicos. Dessa forma, durante a infância as crianças deveriam vivenciar prática variada e deliberada de atividades que possibilitassem o refinamento das habilidades básicas e a melhor eficiência em suas combinações (GABBARD, 2000; GALLAHUE e OZMUN, 2005; HAYWOOD; GETCHELL, 2004; PAYNE; ISAACS, 2007). Para desempenhar eficientemente seu papel o professor deveria, além de conhecer a seqüência de desenvolvimento dos movimentos e as dificuldades de aprendizagem, estar apto a analisar o gesto motor de seus alunos observando os pontos críticos de suas execuções, sendo assim capaz de intervir de maneira mais eficiente (KNUDSON e MORRISON, 2001).

    Na análise das habilidades motoras fundamentais, podemos encontrar algumas dificuldades comuns. Em longo prazo, os primeiros componentes motores que o indivíduo deixe de apresentar na execução de um movimento são normalmente os últimos que foram adquiridos, sendo geralmente aqueles relacionados à dissociação da cintura e rotação do tronco durante a realização do movimento. Analisando crianças envolvidas em atividades motoras, podemos observar que um indivíduo em estágio inicial de desenvolvimento tende a apresentar algumas das seguintes características e dificuldades:

  • movimento em bloco, sem dissociação dos membros;

  • falta de coordenação do membro principal da ação com o resto do corpo;

  • falta de fluência rítmica no movimento, com falhas na ação seqüencial;

  • tensão excessiva dos membros;

  • ação inibida/exagerada dos braços, ou utilização para equilíbrio;

  • inabilidade em utilizar o lado não preferencial na ação;

  • dificuldade em manter o padrão rítmico (nas habilidades de corrida, galope e corrida lateral, por exemplo);

  • ação dependente da visão (monitoramento) e conseqüente diminuição de percepção dos estímulos do meio;

  • falta de controle dos parâmetros de movimento (força, velocidade, direção, etc).

    Além dessas características, o desempenho motor pobre em atividades como a corrida pode refletir em dificuldades na execução de outras habilidades que exijam padrão rítmico ou deslocamento, até mesmo em habilidades manipulativas, como o chute (SANDERS, 2005). Alguns dos componentes motores listados podem ainda estar relacionados a capacidades físicas, como falta equilíbrio, força e velocidade, podendo prejudicar ainda mais o desempenho. Nos saltos, por exemplo, o indivíduo que tenha o equilíbrio prejudicado ou pouca força nos membros inferiores, apresentará grande dificuldade na execução.

    Partindo do princípio de que a falta dessas capacidades podem prejudicar o desenvolvimento das habilidades, poderíamos inicialmente relacionar algumas atividades que pudessem contribuir nesse sentido. Para o desenvolvimento do equilíbrio, atividades de deslocamento sobre cordas, linhas, troncos e traves de equilíbrio em diferentes direções e velocidades poderiam ser realizadas. Essas atividades poderiam, inclusive, ser executadas aliadas à prática das habilidades manipulativas, como caminhar sobre uma trave de equilíbrio quicando uma bola ao lado do corpo. Atividades realizadas sobre camas elásticas e pranchas de equilíbrio, que criam instabilidade, também auxiliariam nesse sentido.

    Atividades de trepar em cordas, subir o escorregador pela rampa (em pé e com auxílio das mãos), empurrar objetos, pendurar-se, brincar de “carrinho de mão” com os colegas, transportar os colegas em cima de skates com rodinhas, e até mesmo os saltos, podem auxiliar no desenvolvimento da força.

    Para estimular componentes motores ausentes no movimento, alguns artifícios podem ser utilizados. No salto horizontal, pode-se pendurar objetos acima da altura dos alunos, solicitando a eles que os toquem com as mãos durante a fase de vôo, estimulando assim que os braços sejam levados para cima da cabeça. Ainda nessa habilidade, podemos utilizar a “corrida do saco” para estimular os alunos a realizarem a decolagem e aterrissagem com os dois pés juntos. Em relação às habilidades de salto, obstáculos de diferentes alturas e comprimentos podem ser utilizados, dependendo das dificuldades dos alunos. Para melhorar a habilidade do salto com um pé, poderia ser utilizada a tradicional brincadeira de “amarelinha” com espaços amplos entre as casas, obrigando as crianças a realizar o movimento com bastante força e impulsão. Os mesmos objetos pendurados em altura acima da cabeça das crianças podem ser utilizados em atividades que objetivem a diminuição da elevação na corrida lateral e galope, sendo instruído aos alunos que realizem a atividade sem que encostem a cabeça nos objetos.

    Para evitar que a ação se torne dependente do monitoramento visual, tanto nas habilidades manipulativas quanto nas locomotoras, podem ser mostrados objetos para os alunos durante a execução dos movimentos, solicitando a eles que digam a cor ou formato, por exemplo. Marcas de pés desenhadas no chão podem ser úteis na aprendizagem de muitas habilidades. Na passada ou no salto horizontal, elas podem indicar se a decolagem e a aterrissagem são feitas com um ou com os dois pés; no chute, indicam onde deve ser posicionado o pé de apoio; já na rebatida e no arremesso, podem auxiliar a criança a lembrar do posicionamento lateralizado do corpo.

    Para enfatizar a continuidade e fluência no movimento, pode-se solicitar aos alunos que, ao realizar o arremesso, finalizem o movimento encostando a mão que executa a tarefa no joelho ou na coxa do lado do corpo oposto ao dessa mão, sempre cuidando para que não automatizem esse gesto. Em relação à rebatida, o movimento de rotação do tronco pode ser enfatizado solicitando aos alunos que, após atingirem a bola, continuem a ação até encostar o taco/raquete/mão em algum objeto posicionado às suas costas (em relação ao posicionamento de preparação para a rebatida).

    Em relação aos padrões motores finos, algumas dificuldades que podem ser observadas são a falta de força, pegadas inadequadas, falhas na bimanualidade, excesso de tensão, uso exagerado do corpo na realização de algumas atividades como escrever e recortar e falta de dissociação dos segmentos. A característica próximo-distal do desenvolvimento faz com que os movimentos finos dos membros superiores e inferiores sejam inicialmente realizados a partir dos ombros e quadril, utilizando todo o segmento ao invés de apenas as mãos ou pés (GALLAHUE e OZMUN, 2005; HAYWOOD; GETCHELL, 2004).

    Trabalhando com movimentos amplos, especialmente aqueles de controle de objeto, estaremos concomitantemente auxiliando no desenvolvimento das habilidades de manipulação fina. Atividades realizadas com massa de modelar, argila, giz de cera e canetinhas de diferentes espessuras auxiliarão no desenvolvimento desses movimentos. Também é de extrema relevância propiciar às crianças a manipulação de objetos com diferentes espessuras, comprimentos, texturas, pesos e consistências. Dessa forma, além de aprimorarem suas habilidades, estarão construindo conceitos importantes tanto para a manipulação mais eficiente quanto para a formação de símbolos e representações (ROSA NETO, 2002). Nesse sentido, como somos muito dependentes da visão, é importante que crianças com deficiência visual utilizem, ainda mais que as outras, a boca e as percepções táteis para auxiliar na formação da representação mental dos objetos (ROSA NETO, 2002).

    Exercícios de preensão de bolas pequenas, atividades amarrar e desamarrar, dobraduras, brinquedos de encaixar e blocos de empilhar também podem ser muito eficientes, principalmente se requisitarem o uso das duas mãos, contribuindo para o desenvolvimento da bimanualidade. É importante ressaltar que os objetos devem ser visualmente atrativos e não podem apresentar risco para a segurança das crianças. Iniciando a fase escolar, a pintura de desenhos com contornos ou em folhas menores auxiliarão os alunos a ter maior controle de seus movimentos, facilitando a adaptação para a escrita em folhas com linhas.

    Para o desenvolvimento da manipulação fina com os pés, podem-se realizar atividades que imitem os movimentos de adeus e sim/não, ou então que envolvam o rolamento de bolas pequenas, exploração de diferentes materiais, o exercício de folhar revistas, amassar folhas de jornal ou pegar objetos.

    Considerando o ambiente de aprendizagem, deve-se prestar especial atenção à segurança dos alunos, principalmente em relação aos equipamentos utilizados. Esses devem, além de seguros, ser adequados às características das crianças. Diferentes níveis de dificuldade devem ser propostos para que todos se sintam motivados a realizar a tarefa, que também deve ser passível de variações. Além disso, evitar filas permitirá às crianças mais tempo de envolvimento ativo na execução das habilidades, o que as permitirá atingir níveis mais habilidosos de desempenho. Não podemos esquecer que o ambiente deve ser atrativo para os alunos, além de possibilitar a execução dos movimentos com o máximo de força.

    Alguns recursos de aprendizagem também podem ser utilizados para superar essas dificuldades. A prática guiada se mostra bastante eficiente para alunos com dificuldade, não podendo também ser esquecida a importância das instruções, das demonstrações, da utilização de imagens ou desenhos dos movimentos e de dicas verbais significativas à criança, de forma a facilitar a sua compreensão do movimento (VALENTINI e TOIGO, 2005). Em relação à demonstração, é importante salientar que ela deve ser executada considerando o padrão maduro de movimento, pois visualmente aprendemos muito e o aluno procura imitar o gesto do professor. Ainda nesse sentido, deve-se ressaltar a importância de se trabalhar com indivíduos de diferentes níveis de habilidade juntos, pois os menos competentes poderão espelhar seus movimentos nos outros.

    Apesar de apontar algumas dificuldades comuns na execução de habilidades locomotoras e de manipulação fina e ampla e propor atividades e recursos que podem ser utilizados para superá-las, novamente deve ser salientada a importância de se considerar cada indivíduo como um sujeito único, com características de desenvolvimento particulares. Sendo assim, devemos pensar na metodologia de ensino e nas intervenções mais adequadas para aprimorar o desempenho de cada aluno, considerando suas especificidades e dificuldades em cada tarefa proposta nos diferentes ambientes freqüentados por ele.

Referências

  • GABBARD, C. P. Lifelong motor development. Boston: Allyn and Bacon, 2000.

  • GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005.

  • HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

  • KNUDSON, D. V.; MORRISON, C. S. Análise qualitativa do movimento humano. São Paulo: Manole, 2001.

  • PAYNE, V. G.; ISAACS, L. D. Desenvolvimento motor humano. 6ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

  • ROSA NETO, F. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  • SANDERS, S. W. Ativo para a vida: programas de movimento adequados ao desenvolvimento da criança. Porto Alegre: Artmed, 2005.

  • VALENTINI, N. C.; TOIGO, A. M. Ensinando Educação Física nas séries iniciais: desafios e estratégias. Canoas: Salles Editora, 2005.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 13 · N° 129 | Buenos Aires, Febrero de 2009  
© 1997-2009 Derechos reservados