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Resposta imune aguda e crônica de ratos wistar 

submetidos ao treinamento físico aeróbio

 

* Doutorando em Ciências Nutricionais- UNESP Araraquara-SP

Docente da Universidade de Franca-SP (UNIFRAN)

e Centro Universitário de Patos de Minas-MG.

* * Pós-Graduado em Ciência do Exercício Físico na Promoção de Saúde-UNIFRAN.

*** Docente da Universidade Federal do Amazonas

Pesquisadora da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas.

****Docente da FC UNESP-Bauru-SP, Pesquisador do Lafine- UNAERP e

Docente do Programa de Mestrado em Promoção de Saúde - UNIFRAN.

Prof. Dnd. Daniel dos Santos*

Prof. Dnd. David Michel de Oliveira*

Prof. Esp. Luciano Aurélio Garcia da Silva Lopes Oliveira**

Profa. Dra. Adriana Malheiro***

Prof. Dr. Cassiano Merussi Neiva****

dsantos.ef@unifran.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo verificar as adaptações imunológicas agudas e crônicas promovidas pelo treinamento aeróbio, comparando as mesmas a situação de inatividade física. Foram utilizados 16 ratos wistar, com 60 dias , divididos em dois grupos: controle sedentário (CS n=8) e treinado natação (TN n= 8), onde o grupo TN foi subdividido no último dia de treinamento em: treinado natação crônico (TNC n=4, no qual não realizaram treinamento antes da coleta) e treinado natação agudo (TNA n=4, este submetido a uma sessão de treinamento previamente a realização da coleta). O grupo TN foi submetido a um programa de treinamento aeróbio (modelo aquático) de 50 minutos diários, 5 vezes por semana, durante um período de 5 semanas, suportando sobrecargas de 8% do seu peso corporal. Ao final do experimento os animais foram sacrificados e amostras sanguíneas foram obtidas por decapitação. Os resultados apresentados não indicaram diferenças para neutrófilos, linfócitos e monócitos. Diferenças significativas (p≤ 0,05) foram encontradas nos eosinófilos quando comparados aos grupos CS e TNC ( 1,20 ± 0,45 % e 3,33 ± 1,53 % respectivamente). Sobre os leucócitos totais, também foram encontradas diferenças significativas entre os grupos CS e TNC ( 8754 ± 963 µl e 10030 ± 1266 µl respectivamente) e CS e TNA (10030 ± 1266 µl e 5466 ± 814 µl respectivamente). Após a análise estatística dos dados, concluímos que o protocolo de treinamento promoveu alterações sobre algumas variáveis do sistema imunológico, mostrando uma modulação positiva sobre a adaptação crônica desses animais. Contudo na resposta aguda podemos observar que ocorreu uma leucopenia no grupo TNA, o que demonstra uma possível imunossupressão desencadeada logo após o exercício, estando este resultado de acordo com a literatura.

          Unitermos: Sistema imunológico.Treinamento físico aeróbio. Imunossupressão.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009

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Introdução

    O treinamento físico sistematizado promove uma série de adaptações, tanto crônicas como agudas. Sobre a resposta crônica, observamos que ao longo das sessões de exercícios físicos ocorrem alterações em inúmeras funções e estruturas corporais. Dentre algumas respostas podemos verificar reações anabólicas e catabólicas com o objetivo de reposição dos estoques de energia, recuperação de microlesões musculares e distúrbios no equilíbrio ácido-base (ROBERGS & ROBERTS, 2002).

    Segundo Garcia Júnior et al. (2000), podemos observar que atletas submetidos a treinamento intensos, associados a períodos de recuperação incompletos ou insuficientes, apresentam um estado conhecido como overtraining, caracterizado por uma queda no desempenho, alterações fisiológicas e comportamentais desfavoráveis, e principalmente diminuição dos mecanismos de defesa.

    Na literatura tem-se apontado que a diminuição nos níveis de glutamina circulante, aminoácido essencial à função leucocitária, pode favorecer a imunossupressão quando associada a treinamentos físicos extenuantes (MAUGHAN et al. 2000). Inúmeros estados catabólicas incluindo traumas, infecções, desnutrição e exercícios prolongados, promovem uma alteração da homeostase da glutamina devido ao estresse (WALSH et al. 1998).

    Mesmos atletas que não estão clinicamente com deficiência imune, é possível que pequenas alterações em alguns parâmetros imunológicos podem comprometer o sistema imunológico e aumentar a incidência de infecções do trato respiratório superior (ITRS) principalmente em atletas envolvidos em esportes de endurance( MACKINNON, 2000).

    A atividade física parece promover alterações tanto na concentração, proporção, como nas funções dos leucócitos, células natural killer (NK), inibição da ação das imunoglobulinas e demais fatores responsáveis pelo sistema imune (EICNHER, 1995).

    Uma diminuição dos linfócitos é freqüentemente associada a um aumento da secreção de cortisol após um exercício de longa duração ou uma hora após um exercício extenuante (WEIKER & WERLE, 1991 ).

    Portanto o presente estudo tem por objetivo verificar as possíveis adaptações imunológicas agudas e crônicas promovidas pelo treinamento físico aeróbio em ratos wistars, comparando as mesmas a situação de sedentarismo.

Materiais e métodos

Animais

    Foram utilizados 16 ratos wistar, com 60 dias, provenientes do Biotério da Universidade de Franca. Os mesmos foram divididos em dois grupos: controle sedentário (CS n=6) e treinado natação (TN n=6). Os animais foram alimentados com ração balanceada para roedores (Purina) e água ad libitum. Os mesmos foram acondicionados em gaiolas coletivas( três por gaiola) e mantidos em fotoperíodo de 14 horas de escuro (ciclo de vigília) e 10 horas de claro (ciclo de sono) sob temperatura ambiente de 24Cº, como já preconizado e anteriormente descrito ( NEIVA & MELLO, 1995; LUCIANO E MELLO, 1998). Todos os procedimentos de tratamento e experimentação seguiram as normas internacionais do Canadian Council on Animal Care (1993). . O presente estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Franca.

Protocolo de treinamento físico

    Os animais do grupo TN foram submetidos a um programa de treinamento que consistiu de natação, sendo cinco dias por semana durante cinco semanas. Todo o treinamento foi desenvolvido em um tanque de fibra com 100 cm de comprimento, 70 cm de largura e 60 cm de profundidade, contendo água a uma profundidade de 40 cm mantida à temperatura de 32 ± 1 Cº, controlada por termostato.

    Antes do inicio programa de treinamento, os animais foram submetidos a uma fase de adaptação, que consistiu de 10 minutos/dia, nos quais foram adicionados 10 minutos por dia, totalizando 50 minutos ao final do 5º dia. A partir da 2ª semana até a 5ª semana, os animais nadaram 50 minutos/dia suportando sobrecargas de 8% do seu peso corporal, fixados ao tronco, logo abaixo das patas traseiras.

Coletas e análises

    Ao final do período de treinamento, 24 horas após a ultima sessão de treinamento, foram coletada duas amostras de sangue, após procedimento de deslocamento cervical, seguido de decapitação. Antes da coleta o grupo TN n=8 foi subdividido em dois grupos: TNC (treinado coleta crônica n=4 ) e TNA (treinado coleta aguda n=4) ou seja previamente a coleta o grupo TNA foi submetido a uma sessão de treinamento de 50 minutos com o intuito de se verificar a resposta aguda do exercício físico sob os parâmetros imunológicos, sendo então coletadas amostras sanguíneas desses animais 20 minutos após a sessão de treinamento.

    Uma amostra foi obtida com pipeta específica para glóbulos brancos,completada e diluída em solução Turk, agitando-se por três minutos. Depois de agitada, a solução foi gotejada na câmara de Neubauer e realizada a contagem total de leucócitos, em microscópio Zeiss ( LIMA et al. 1977).

    Outra amostra de sangue foi coletada em uma lâmina de vidro, e posteriormente feito o esfregaço. Após esse procedimento acrescentou-se corante de Leishman, deixando-o reagir sob a superfície por 15 minutos. Logo em seguida pingou-se 10 gotas de água destilada sob a mesma, sendo essa lâmina lavada após 10 minutos. Esse material foi guardado alguns dias para a secagem. As lâminas foram analisadas no microscópio, com a utilização de óleo de imersão entre a objetiva e o material observado. Foi realizada a contagem diferencial dos leucócitos onde utilizou-se contador mecânico, onde foram registrados os tipos de leucócitos encontrados e posteriormente anotados quando completados o número total de 100 células na lâmina observada.

Análise estatística

    Os resultados foram expressos com média ± e desvio padrão. Foi utilizado o teste de One way para análise de variância e teste de Post Hock de Benferroni para se detectar possíveis diferenças entre os grupos. O nível de significância adotado foi p<0,05.

Resultados

  • No que diz respeito à contagem diferencial de leucócitos ,os resultados apresentados não mostraram alterações significativas para linfócitos entre os grupos (Tabela 1).

  • Diferença significativa foi encontrada na subpopulações de eosinófilos do grupo TNC comparado ao grupo controle (Tabela 1).

  • Para contagem de neutrófilos, linfócitos e neutrófilos não foram encontradas diferenças entre os grupos (Tabela 1).

  • Sobre a contagem total de leucócitos os resultados obtidos mostram alteração significativa do grupo TNA comparado ao grupo CS (Tabela 2).

  • Já para o grupo TNA observa-se uma diminuição destas células quando comparadas ao grupo CS (Tabela 2).

Discussão

    De acordo com os resultados obtidos no nosso experimento e já anteriormente descritos, podemos focar nossas discussões em duas fases distintas:

Resposta imune aguda

    Sobre alterações nas subpopulações de leucócitos (neutrófilos,linfócitos,monócitos e eosinófilos) não foram encontradas alterações significativas no grupo submetido TNA. Esse resultado difere dos resultados encontrado por Müns, 1994, que encontrou uma diminuição dos neutrófilos logo após uma corrida de endurance.

    Com relação à contagem total de leucócitos os resultados apresentados mostraram uma diminuição no grupo treinado submetido a um esforço agudo (TNA), esses resultados diferem do estudo realizado por Bauer e Weisser (2002), onde neste estudo encontram aumento dos leucócitos totais tanto imediatamente quanto 4h depois de terminado o exercício físico. A leucocitose encontrada logo após o exercício, é desencadeada pelas catecolaminas e os glicocorticóides, que provocam alteração tanto na reedistribuição, quanto na diminuição da adesão das células leucocitária nos tecidos, aumentando assim a liberação destas células para a corrente sanguinea (BARRIGA et al. 1993).

Resposta imune crônica

    Os eosinófilos apresentaram diferença significativa entre os grupos TNC e CS. O grupo TNC apresentou um aumento dessas células. Esse resultado está de acordo com Eichner (1995) que aponta para uma elevação dessas células .

    Resultados significativos também foram encontrados no grupo TNC para a contagem diferencial de leucócitos, onde o exercício exerceu um modulação positiva sobre estas células, induzindo aumento no seu número no grupo TNC.Esses resultados parecem ser semelhantes aos encontrados por Hermini et al.(2002).Esses autores apesar de não encontrarem diferenças significativas, observaram um maior número de tais células por ml de sangue no grupo treinado, comparados com os demais grupos.

Conclusão

    Os resultados do estudo indicam que essa intensidade de treinamento induziu alterações favoráveis sob eosinófilos e leucócitos totais no grupo TNC, o que parece ser um indicador de resposta imunológica positiva para estes grupos. No entanto observou-se uma diminuição nos leucócitos totais logo após uma sessão aguda de exercício,sugerindo uma imunossupressão desencadeada por esta sessão.

    No entanto apesar de observarmos uma melhora geral no sistema imunológico dos grupos estudados, diferentes volumes e intensidades de exercícios devem ser experimentados para que tal fato seja confirmado.

Referências

  • BARRIGA, C. et al. Effect of submaximal physical exercise performed by sedentary men and women on some parameters of the immune system. Rev. Esp. Fisol., v. 49, p. 79-86, 1993.

  • BAUER,T.; WEISSER, B. Efect of aerobic endurance exercise on immune function in elderly athletes.Schweizerland Rundsch Med. Prax., v.95, n. 5, p.153-158,2002.

  • Canadian Concil on Animal Care. Guide to the care and use of experimental animals. 2 end. Ottawa Canada : Bradda Printing Services, 1993.

  • EICNHER , E. R. Contagious infections in competitive sports. Sports Science Exchange, v. 3, p. 1-4 1995.

  • GARCIA JÚNIOR, J. R; CURI, T. C. P; CURI, R. Conseqüências do exercício para o metabolismo da glutamina e função imune. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Rio de Janeiro, v. 6, n. 3, p .99-107, 2000.

  • LIMA, A. O; SOARES, J. B; GALIZZI, J; CANÇADO, J. R. Métodos de laboratório aplicados à clínica. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1977.

  • LUCIANO E; MELLO, M.A.R.Atividade física e metabolismo de proteínas em músculo de ratos diabéticos experimentais. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo: , v.12, n.2, p.202 - 209, 1998.

  • MACKINNON, L. T. Cronic exercise training effects on immune function. Medicine Science Sports Medicine, v. 32, p.S369- 376, 2000 (Supl. 7).

  • MAUGHAN, R; GLEESON, M; GREENHAFF, P.L. Bioquímica do Exercício e do Treinamento. São Paulo: Manole, 2000.

  • MÜNS, G. Effect of long-distance running on polymorphonuclear neutrophil phagocytic function of the upper airways. International Journal of Sports Medicine, v. 15, p. 96-99,1994.

  • NEIVA, C. M; MELLO, M. A. R. Análise dos efeitos da desnutrição protéico-calórica sobre as respostas ao exercício agudo (single section)- parâmetros metabólicos.. Motriz. , v.1, n.1, p.32 - 37, 1995.

  • ROBERGS, R. A; ROBERTS, S. O. Princípios fundamentais de fisiologia do exercício: para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: Phorte Editora, 2002.

  • WALSH, N. P.et al. Glutamine, exercise and immune function: links and possible mechanisms. Sports Medicine, v. 26, n. 3, p. 177-191, 1998.

  • WEIKER, H; WERLE, E. Interaction between hormones and immune system. International Journal of Sports Medicine, v. 12, p.S30-37, 1991 (Supl 1).

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