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A prática do futsal como meio de iniciação 

esportiva e suas implicações pedagógicas

 

Licenciados em Educação Física pela

Universidade Luterana do Brasil

(Brasil)

Amilton Rogério Morais Junior

Juciano Gasparotto

amiltonmoraisjr@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          O Futsal é um dos esportes coletivos mais difundidos na Educação Física tanto no âmbito escolar quanto extra-escolar. O presente estudo foi elaborado sob forma de revisão de literatura que vislumbra abordar as implicações pedagógicas envolvidas na prática do Futsal como meio de iniciação esportiva.

          Unitermos: Futsal. Iniciação esportiva. Educação Física.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 128 - Enero de 2009

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Introdução

    Desde a origem do Futsal até hoje, esta prática esportiva passou e ainda passa por diversas mudanças seja nas regras ou em tudo que a envolve, tornando-a grandiosa, atraindo milhares de adeptos indiferentes do sexo ou idade e não poderia ser diferente com crianças e adolescentes. Este esporte além de servir como lazer para quem o pratica, serve como um mecanismo que ensina através do jogo, a disciplina o companheirismo, a coletividade, e ainda o mais importante que é o respeito contra o adversário e os demais envolvidos dentro e fora da quadra.

Discussão

    Hurtado (1996) define Educação Física como um conjunto de atividades físicas, metódicas e racionais que se integram ao processo de educação global e que visa o pleno desenvolvimento normal das grandes funções vitais e ao melhor relacionamento social dos educandos, ou seja, visa levar os mesmos a explicitar as suas virtualidades e a encontrar-se com a realidade para nela atuar de maneira consciente, eficiente e responsável a fim de atender as necessidades e aspirações pessoais e sociais.

    Para Soler (2002), e Educação Física é o principal meio de desenvolver atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si próprio, sem discriminar as pessoas por características física, mentais, sexuais ou sociais.

    Conforme Santana (2008), o ensino do esporte deve estar vinculado ao projeto pedagógico da escola. Deve atender os seus objetivos e, a tarefa do professor é dar um tratamento pedagógico para o esporte de tal forma de que esse possa caminhar na direção de educar e emancipar os educandos.

    O futsal é um dos esportes mais difundidos no Brasil tanto na parte escolar e extra-escolar. Tenroller (2004) corrobora que, o futsal está entre as modalidades de esporte coletivo mais praticadas do Brasil, talvez por isso se encontre tantos profissionais da área de Educação Física exercendo funções ligadas a ele.

    Voser (1999) relata que, para orientar um processo de ensino/aprendizagem dos esportes deve-se ter como pensamento que a atividade esportiva por si só não educa, os seus efeitos educativos dependem da situação na qual se cria especialmente em relação aos aspectos de interação-social ao clima afetivo, emocional e motivacional existentes. Estas condições dependem de diversos fatores, entre os quais o principal seria a intervenção do professor.

    De acordo com os estudos de Shigunov apud Voser (1993), a pratica pedagógica é um problema central de ação educativa para todos os contextos sociais e fatores envolvidos.

    Mutti (2003) descreve que, a educação é um trabalho essencialmente humano, ou seja, é a interferência do homem na formação do homem e nenhum trabalho humano pode ter efeito sem ter uma metodologia consistente, o método didático é um dos mais importantes que o professor dispõe para realizar o ensino.

    Nérice apud Mutti (2003) conceitua método didático como um conjunto de procedimentos escolares lógicos, psicologicamente e pedagogicamente estruturados em que o professor se baseia para orientar a aprendizagem do educando a fim de que este adquira conhecimentos e técnicas ou assuma atitudes ideais.

    Segundo Balbinotti apud Voser (1999), as principais tendências pedagógicas podem ser denominadas e definidas como reprodutivas tradicionais e construtivistas. A concepção reprodutivista é aquela que tem como prioridade as capacidades intelectuais situando-as como primeiro e mais elevado objetivo na formação do indivíduo, seus procedimento didáticos enfatizam processos normativos que objetivam uma disciplina rígida, ou seja, é uma exposição de conhecimentos por parte do professor dirigidos aos educandos ouvintes e passivos.

    Para o mesmo autor supracitado, a concepção construtivista pressupõe estratégias de intervenção pedagógica manifestadas através da integração entre educação intelectual e corporal e de um conceito de autoconstrução, ou seja, o processo de elaboração do conhecimento se da a partir da participação e intervenção ativa do individuo em todos os níveis de aprendizagem. O educador deverá adotar uma postura de agente estimulador destas relações de interação.

    Para Bordenave e Pereira apud Voser (1999), ao abordar a relação entre educador e educando, o problema reside no fato de que não contamos ainda com suficiente conhecimento de teoria e de pesquisa para saber quais são as características pessoais que mais exercem influência sobre a aprendizagem de que maneira o fazem.

    Voser (1999) afirma que, as novas tendências para a educação física visam uma maneira de proporcionar ao educando a experimentação de várias possibilidades de movimentos corporais a partir de sua criatividade e autoconstrução, com essa abordagem o educando participa intensamente das decisões de todo o processo educativo.

    Finger apud Voser (1999) cita que, a educação a ser exercida pelo educador deverá obedecer a uma pedagogia e uma metodologia que devem permitir a solução e a previsão de situações decorrentes da aprendizagem e da pratica do jogo e que também respeite os interesses decorrentes da idade dos educandos.

    Conforme Kunz apud Voser (1999), o conceito de esporte hoje é restrito, pois se refere ao esporte que tem como conteúdo o treino, a competição, o atleta e o rendimento esportivo. Com essas perspectivas fica claro que não é saudável que o esporte entre na vida de uma criança apenas tendo como único referencial o rendimento e a competição a criança mantém uma relação com o esporte muito mais prazerosa e afetiva do que uma relação eficiente e utilitária.

    Segundo o mesmo autor supracitado, o surgimento de uma cultura esportiva é dependente das experiências que a criança teve durante a iniciação esportiva, ou seja, a criança deve ser independente das exigências que o esporte de alto rendimento exige.

    Voser (1999) relata que, a iniciação esportiva é um processo de ensino-aprendizagem mediante o qual o educando adquire e desenvolve as técnicas básicas para o esporte em si. A infância é a melhor fase para a aprendizagem motora, na qual devem ser trabalhados os fundamentos da técnica, mas com a devida moderação, respeitando os limites e as fases de desenvolvimento dos educandos.

    A iniciação esportiva requer conhecimentos e cuidados especiais. Voser (1999) diz que, tudo o que acontece com os educandos neste período vai marcá-los para toda a vida, consciente ou inconscientemente. As crianças vão se lembrar das suas primeiras partidas de futsal, das alegrias e frustrações essa realidade aumenta a responsabilidade do profissional de educação física que irá desenvolver a iniciação dentro do esporte com as crianças.

    Segundo Voser (1999), os profissionais de educação física deverão ter um conhecimento aprofundado ou até mesmo uma vivencia prática no ramo do Futsal, é de extrema importância possuir uma ampla gama de conhecimentos respeito do grupo com qual se trabalhará, sua faixa etária, suas limitações. Isto requer pesquisas e estudos nas áreas diretamente envolvidas com o trabalho de iniciação.

    Conforme o autor supracitado para se desenvolver um trabalho de iniciação com crianças de 06 a 12 anos precisa respeitar algumas diretrizes. O corpo nessa fase é o referencial da percepção do educando, o meio pelo qual a criança absorve o mundo e manifesta sua sensibilidade e até mesmo opiniões.

    De acordo com os estudos de Mutti (2003), o corpo do educando na faixa etária de 02 a 12 anos apresenta um crescimento de diferentes intensidades, de acordo com as idades, isto acarreta em uma modificação das proporções corporais nas características de cada um dos períodos de desenvolvimento.

    Daiuto apud Mutti (2003), concluiu que até os 08 anos o peso e a estatura apresentam um crescimento paralelo, a partir dessa idade é alternado e progressivo.

    Segundo Daiuto apud Mutti (2003), do ponto de vista intelectual o educando apresenta um desejo de saber, equilibrado com a maior atividade motora, possui um pensamento lógico, consciência do futuro, faz planos e projetos, porém não tem controle sobre o que quer e o que pode tem noção de tempo e espaço e espírito de aventura nas atividades das quais participa.

    De acordo com as pesquisas de Voser (1999), o educador físico deve desenvolver com os educandos os aspectos de esquema corporal, equilíbrio, organização do corpo no espaço e no tempo, motricidade ampla, motricidade fina e também não deve esquecer os gestos característicos da idade que é correr, saltar, lançar, transportar, rastejar e rolar.

    Para Voser (1999), o professor de educação física deve oportunizar uma variedade de experiências motoras, bem como um contato com uma variedade de objetos em diferentes espaços, proporcionando, assim, a conscientização do próprio esquema corporal. No período escolar pode-se realizar um trabalho interdisciplinar integrado com as demais disciplinas da escola.

    A atividade de forma recreativa sempre será mais atrativa para a criança. Voser (1999) cita quem deve-se desenvolver atividades que propiciem a sociabilização, a integração e a auto-estima. É de suma importância que o educador estimule as crianças à criação e organização de atividades, sem, é claro perder o controle da turma, devendo manter a motivação dos educandos e o seu interesse pelas atividades sabendo a hora de trocá-las.

    Conforme Rodrigues apud Mutti (2003), existe um processo longo para a criança chegar ao domínio de habilidades complexas e para isso as vivências com os movimentos fundamentais, como andar, correr, saltar, rolar, etc...sao de grande valia e vão servir diretamente de base para a melhoria e aquisição de habilidades das etapas seguintes. À medida que o educando cresce, o mesmo apresenta melhoria e aperfeiçoamento das habilidades já incorporadas, assim como a capacidade de combiná-las com atividades sociais e intelectuais, o tempo de aperfeiçoamento para qualquer habilidade motora esta condicionado à capacidade do organismo de antecipar respostas mediante a adequadas compensações posturais. Assim sendo, as habilidades adquiridas e mecanizadas pelo educando servirão de base para o desenvolvimento de outras etapas mais refinadas.

    De acordo com os estudos de Mutti (2003), quanto maior for a variedade de experiências motoras que a criança vivenciar maior será o desenvolvimento motor. O que não se adquire no tempo hábil do desenvolvimento motor da criança jamais será recuperado totalmente.

    Mutti (2003) cita que, a iniciação ao futsal deve ser uma continuidade do trabalho de desenvolvimento motor, quando são aplicados diversos movimentos e experiências que proporcionam o aumento do acervo motor da criança. Gradativamente, através da combinação de exercícios com bola e pequenos jogos que se tornarão cada vez mais complexos, tanto em regras como em movimentos, o futsal irá se incorporando ao acervo motor da criança.

    Segundo Voser (1999), deve-se incentivar principalmente os educandos que tem dificuldades, elogiando-os a cada conquista, e deixando para aqueles que possuem mais facilidade o compromisso de auxiliar na transmissão da sua experiência. O educador deve respeitar a individualidade de cada criança. Deve também estar atento à progressão dos exercícios, partindo sempre do mais fácil e do simples para o complexo.

    Voser (1999) relata que, é preciso avaliar o desenvolvimento psicomotor das crianças que aparentemente são mais desenvolvidas fisicamente, mas que na realidade possuem a mesma capacidade mental das outras crianças de sua idade. Deve-se estar atento a maturidade motora e mental das crianças.

    Mutti (2003) cita que, um simples trabalho de correção executado durante um período relativamente curto, e a repetição livre e controlada permitirão ao aluno atingir rapidamente uma execução fácil e segura. As correções deverão ser realizadas com o maior cuidado, pois sendo exageradas poderão provocar o desinteresse do educando.

    De acordo com os estudos de Mutti (2003), a aprendizagem do movimento termina com uma nova execução do movimento total, efetuam-se uma ou mais execuções de controle para se constatar o progresso obtido. Quando mais perfeita for a execução do todo, mais perfeita será a execução das partes.

    Conforme Voser (1999) faz necessário dar importância a fatores externos que possam interferir no andamento do trabalho proposto pelo professor. O maior exemplo é a pressão dos pais exercem sobre seus filhos ao tentar satisfazer seus próprios desejos de infância ou ao projetar em seu filho um futuro promissor dentro do esporte. Deve-se conversar com os pais e mostrar o que pode acarretar este tipo de ação na criança.

Conclusão

    De acordo com Mutti (2003), o trabalho de iniciação do Futsal está um pouco distante do ideal, principalmente nos clubes, visto que, por ser uma modalidade esportiva do grande público infantil tem despertado o interesse das federações, que por sua vez tem regulamento e organizado competições para faixas etárias cada vez mais baixas. Por outro lado, os clubes participantes vêem-se na obrigação de se apresentarem satisfatoriamente nessas competições, pretendendo de forma um tanto ambiciosa alcançar resultados relevantes e expressivos, com isso a idéia de utilizar o Futsal como mecanismo educador e incentivador a pratica esportiva saudável fica adormecida nestes períodos de competições.

Referências bibliográficas

  • HURTADO, J.G.; MELCHERTS, G. Educação Física pré-escolar uma abordagem psicomotora. 5ª Ed. Porto Alegre: Edita, 1996.

  • MUTTI, Daniel. Futsal: da Iniciação ao alto nível. 2 ed. São Paulo: Phorte, 2003.

  • SANTANA, Wilton Carlos de. Esporte na escola. Pedagogiadofutsal.com.br.

  • SOLER, R. Brincando e Aprendendo na Educação Física Especial. São Paulo: Sprint, 2002.

  • VOSER, Rogério da Cunha. Iniciação ao Futsal. 2 ed. Canoas: ULBRA, 1999.

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