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Análise da organização temporal em 

escolares com dificuldade de aprendizagem

 

*Especialista em Psicopedagogia

**Fisioterapeuta

***Especialista em Atividades Aquáticas

Mestranda em Ciências do Movimento Humano – UDESC

Laboratório de Desenvolvimento Humano (LADEHU) – UDESC

Florianópolis/SC

(Brasil)

Regina Ferrazoli Camargo Xavier*

reginafxavier@hotmail.com

Tatiane Duarte Martins Corazza**

taty_corazza@yahoo.com.br

Sheila Brusamarello**

sheibr@yahoo.com.br

Fernanda Cardoso Guimarães Campos**

fefaguima@hotmail.com

Kassandra Nunes Amaro***

kakitanunes@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Este estudo pretendeu avaliar a Organização Temporal de um grupo de escolares com queixa de dificuldade de aprendizagem. A amostra foi composta por 42 crianças na faixa etária de 6 a 11 anos avaliadas através da Escala de Desenvolvimento Motor -“EDM” (ROSA NETO, 2002), pelo Projeto de Extensão de Psicomotricidade da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), entre março de 2006 e dezembro de 2007. Atravéz do programa SPSS for Windows 13.0, fêz-se análise estatística descritiva. A idade média foi 8,07 anos (DP = 1,52); o quociente motor geral (QMG) foi classificado como INFERIOR (71,07) e o quociente motor referente à organização temporal obteve classificação MUITO INFERIOR (65,36). De acordo com a literatura abordada e com os nossos achados podemos afirmar que crianças com dificuldade de aprendizagem podem apresentar déficits no seu desenvolvimento motor, em especial na organização temporal.

          Unitermos: Desenvolvimento motor. Dificuldades de aprendizagem. Organização temporal.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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Introdução

    Nos últimos anos, houve um crescimento de pesquisas sobre as perturbações do desenvolvimento decorrente de novas descobertas em algumas áreas da neurologia, na genética e nos exames de imagem. De acordo com Cabral (2004), estas pesquisas demonstram não só doenças degenerativas, tumores, epilepsias, entre outros, mas também a compreensão sobre as dificuldades de aprendizagem.

    Entre as causas mais freqüentes das dificuldades de aprendizagem encontram-se: o atraso global do desenvolvimento psicomotor; os déficits sensoriais da visão e audição; doenças crônicas, que obrigam as ausências prolongadas da escola; as resultantes da vivência num meio socioeconômico muito débil; as dificuldades provocadas por situações de perturbação emocional e as perturbações específicas do desenvolvimento (perturbação da atenção e a hiperatividade, perturbações da leitura - dislexia - e do cálculo, atraso específico da linguagem ou a perturbação da coordenação motora). A prevalência dos transtornos de aprendizagem atualmente, segundo Ohlweiler (2006), varia de 2 a 10%, e a importância dada aos transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares se deve ao fato de que o sucesso na vida do individuo está ligado ao bom desempenho escolar.

    Muitas destas crianças com transtornos de aprendizagem, com ou sem hiperatividade, revelam dificuldade de concentração, imaturidade motora e desatenção a estímulos perceptivos. Segundo Beresford, Queiroz, Nogueira (2002), os componentes da aprendizagem motora exercem influência significativa na aquisição das habilidades de aprendizagem cognitiva particularmente da noção de corpo, de tempo e espaço principalmente nos anos que antecedem a idade escolar.

    O desenvolvimento das capacidades motoras, particularmente da noção de tempo e espaço, nos anos que antecedem a idade escolar, revela-se importante principalmente quando tais capacidades são solicitadas posteriormente no processo de aprendizagem escolar da leitura e da linguagem escrita (Medina, Rosa e Marques, 2006).

    Sendo assim o objetivo do estudo foi avaliar a Organização Temporal de um grupo de escolares com queixa de dificuldade de aprendizagem, visando verificar a importância da Organização temporal no aprendizado escolar.

Método

    A amostra foi composta por 42 crianças avaliadas pelo Projeto de Extensão de Psicomotricidade do Laboratório de Desenvolvimento Humano (LADEHU) do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (CEFID) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), entre março de 2006 e dezembro de 2007. As crianças foram encaminhadas por escolas públicas de Florianópolis com queixa de dificuldades na aprendizagem escolar, como: dificuldade na linguagem, no cálculo, na escrita, na leitura e também no relacionamento com os colegas. Todas elas fizeram parte da amostra, que foi composta por 26 meninos e 16 meninas na faixa etária de 6 a 11 anos.

    A avaliação foi realizada utilizando a Escala de Desenvolvimento Motor -“EDM” (Rosa Neto, 2002), mediante a aplicação dos testes de motricidade fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e organização temporal. De acordo com a EDM, é possível identificar o quociente motor geral (QMG) de cada criança a sua idade motora geral (IMG), que permitem classificar o desenvolvimento motor em: Muito Superior, Superior, Normal Alto, Normal Médio, Normal Baixo, Inferior e Muito Inferior.

    As crianças compareceram na avaliação acompanhadas dos pais, ou responsável, sendo submetidas à avaliação individua, em uma sala reservada no LADEHU, com tempo médio de 30 minutos. As crianças permaneceram com suas roupas e calçados.

    Para o tratamento estatístico dos dados, utilizou-se o programa SPSS for Windows 13.0, mediante análise da distribuição de freqüência simples e percentuais, média, variância, desvio-padrão, valor mínimo e valor máximo.

Resultados

    A amostra foi composta por 26 crianças do gênero masculino e 16 do gênero feminino. Quanto à idade cronológica dos escolares, a mínima encontrada foi de 6 anos e a máxima de 11, apresentando média de 8,07 anos (DP = 1,52). A moda correspondeu à idade de 9 anos, representando 23,8% da amostra.

    A média das idades cronológica (IC) foi 102,52 meses (DP = 18,321), entretanto a média das idades motoras gerais (IMG) foi de 72,36 meses(DP =15,827), representando uma idade negativa (IN) de 30,16 meses. Jà a média da IM específica da organização temporal, foi de 65,43 meses (DP = 9,630), caracterizando uma IN de 37,09 meses.

    Quanto aos quocientes motores, o quociente motor geral (QMG) foi classificado como Inferior (71,07; DP = 13,114); já o quociente motor referente à organização temporal obteve classificação Muito Inferior (65,36; DP = 13,425) concordando com o resultado encontrado na avaliação da maioria dos escolares. Pois 81% das crianças com queixa de dificuldade escolar tiveram seu desenvolvimento motor classificado como Muito Inferior e apenas 19% encontraram-se dentro da normalidade. Nota-se que nenhum dos avaliados obteve classificação Normal Alta, Superior, ou Muito Superior, ou seja, acima do esperado.

Discussão

    No atual estudo foi encontrado déficit motor em crianças com dificuldade de aprendizagem, corroborando com vários autores como Ferreira (2007), que encontrou em escolares com dificuldade de aprendizagem, da rede pública de São José/SC, maior déficit na organização espacial e na organização temporal.

    Da mesma maneira, Rosa Neto et al. (2006), avaliando crianças encaminhadas ao Projeto de Psicomotricidade no período entre 2000 e 2005, também encontrou maior déficit nestas duas áreas, entretanto a classificação daquele grupo foi Normal Baixo.

    Ao encontro destes, citamos ainda o estudo de Costa (2001) com crianças com dificuldade de aprendizagem encaminhadas ao Núcleo Desenvolver por escolas públicas de Florianópolis, que encontrou um desenvolvimento motor Inferior nessas crianças sendo a área mais afetada a organização temporal, seguida da motricidade fina e da organização espacial.

    Medina, Rosa e Marques (2006) analisando o desenvolvimento motor em 34 crianças com dificuldade de aprendizagem entre 8 e 10 anos de idade verificaram que a maior parte da amostra (53%) mostraram idade motora inferior à sua idade cronológica, com maior atraso nos testes de organização espacial, seguido pelo esquema corporal e pela organização temporal.

    Para Meur e Staes (1991), a organização temporal é a capacidade de situar-se em função da sucessão dos acontecimentos (antes, após, durante) e da duração dos intervalos (noções de tempo longo e curto; noções de ritmo regular e irregular; noções de cadência rápida e lenta). Os dois grandes componentes da organização temporal são a ordem e a duração que o ritmo reúne. A ordem é a sucessão em que os acontecimentos se produzem e a duração, permite a variação do intervalo que separa dois pontos, ou seja, o princípio e o fim de um acontecimento (Rosa Neto, 2002).

    A escrita exige o desenvolvimento da motricidade fina, da estruturação temporal, definição da lateralidade e adequado desenvolvimento perceptivo, visual e auditivo. Silva et al. (2006), cita que vários autores destacam que os esquemas e as coordenações corporais são a infra-estrutura da aprendizagem e que a alteração da coordenação motora e equilíbrio, da relação espaço-temporal dentre outros aspectos, podem interferir na aprendizagem escolar e na conduta geral da criança, sugerindo um vínculo entre problemas motores e dificuldades de aprendizagem.

Conclusão

    Os resultados do estudo apontam que crianças com dificuldade de aprendizagem apresentam problemas no seu desenvolvimento motor.

    Concordando com a literatura verificou-se que o desenvolvimento motor destas crianças, geralmente, é classificado como Muito Inferior, Inferior ou Normal Baixo, sendo que uma das áreas de maior déficit deste e de outros estudos foi a organização temporal.

    O essencial é verificar o perfil de desenvolvimento motor das crianças, tenham elas dificuldades de aprendizagem ou não, para que se possa acompanhar e analisar o seu ritmo de aprendizagem nas diferentes tarefas.

Referências

  • BERESFORD, H.; QUEIROZ, M.; NOGUEIRA, A. B. Avaliação das relações cognitivas e motoras na aquisição instrucional das habilidades para a aprendizagem da linguagem escrita. Revista ensaio: avaliação política pública educacional, Rio de Janeiro, v. 10, n. 37, p. 493-502, 2002.

  • CABRAL, P. Desenvolvimento psicomotor: variabilidade, perturbações e dificuldades de aprendizagem. Revista Portuguesa Clinica Geral. 2004; 20: 685-99.

  • COSTA, S.H. Perfil motor de escolares de 05 a 14 anos com dificuldades na aprendizagem. Monografia (Graduação em Educação Física) – CEFID/UDESC, Florianópolis, 2001.

  • FERREIRA, J.R.P. Saúde escolar: aspectos biopsicossociais de crianças com dificuldades de aprendizagem. Dissertação de Mestrado em Ciências em Movimento Humano - Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2007; pp.102.

  • OHLWEILEER, L. Transtornos da aprendizagem: Abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006. 477p.

  • MEDINA, Josiane; ROSA, Greisy Kelli Broio; MARQUES, Inara. Desenvolvimento da organização temporal de crianças com dificuldades de aprendizagem. Revista da Educação Física. UEM Maringá, v. 17, n. 1, p. 107-116, 1º. sem. 2006.

  • MEUR, A.; STAES, L. Psicomotricidade: educação e reeducação. São Paulo: Manole Ltda, 1991.

  • ROSA NETO, F. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  • ROSA NETO, F. POETA, L.S. SILVA, J.C. SILVA, M.B.B. Intervenção psicomotora: projeto de extensão universitária. Rev. Iberoamericana de psicomotricidad y técnicas corporales, Montevidéu. v.7(2), n.26, p.197-204. 2006.

  • SILVA, C.A. ROSA NETO, F. ALMEIDA, G.M.F. AMARO, K.M. SILVA, M.B.B. A importância da avaliação motora em escolares. Rev. Iberoamericana de psicomotricidad y técnicas corporales, Montevidéu. v.7, n.26, p.137-146. 2006.

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