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Exercício físico e reabilitação cardiovascular

 

*Fisioterapeuta formada pela Universidade José do Rosário Vellano – Unifenas

**Fisioterapeuta mestranda em Ciência do Movimento Humano

Universidade Estadual de Santa Catarina – UDESC.

(Brasil)

Luisa Pereira Parreiras*

Angélica Cristiane Ovando**

luisalanna@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Reabilitação cardiovascular define-se como processo de restabelecer o indivíduo com problemas cardíacos ao seu nível máximo de atividades, compatível com a capacidade funcional do seu coração. O exercício físico é aceito como parte integrante do tratamento para recuperação de um indivíduo que sofreu algum tipo de doença coronariana e/ou vascular. Este estudo apresenta uma revisão de literatura da anatomia e função do sistema cardiovascular e dos princípios da reabilitação cardiovascular. Foram abordados conceitos e definições incluindo coração e vasos sangüíneos, os efeitos fisiológicos causados pelos exercícios físicos, os princípios da reabilitação cardiovascular, bem como a descrição de cada uma de suas fases e seus objetivos.

          Unitermos: Reabilitação cardiovascular. Exercício físico.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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Introdução

    A reabilitação cardiovascular é designada como o processo de restabelecer o indivíduo com problemas cardíacos ao seu nível máximo de atividades, compatível com a capacidade funcional do seu coração (FARDY e YANOWITZ e WILSON, 2004).

    Atualmente, o treinamento físico é aceito como parte integrante do tratamento utilizado para recuperação de um indivíduo que sofreu algum tipo de doença coronariana. Há evidências científicas significativas de que a atividade física aeróbica regular reduz o risco de doença cardiovascular e de que o estímulo de vida é freqüentemente considerado um dos cinco maiores fatores de risco para doença cardiovascular (MARQUES, 2004).

    O benefício fisiológico mais importante é a melhoria da capacidade funcional. Isto significa que aumenta o limiar para sintomas como a angina de peito, a dispnéia, a fadiga e o esgotamento, e um aumento na capacidade para o trabalho (LONGO, A; FERREIRA, D.; CORREIA, M. J., 1995).

    Este trabalho tem por objetivo realizar uma revisão de literatura sobre a anatomia do sistema cardiovascular, efeitos fisiológicos dos exercícios e descrever as etapas da reabilitação cardiovascular promovida por exercícios físicos em solo.

1.     Anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular

1.1.     Coração

    O coração é uma bomba muscular cônica envolvida por um saco fibroso – o pericárdio. Seu tamanho é associado ao tamanho e massa corporal, com dimensões que se assemelham ao punho fechado do indivíduo. Encontra-se posicionado no centro do peito, atrás da metade inferior do esterno. A maior porção do coração está à esquerda da linha que marca a metade do esterno, com o ápice encontrando-se aproximadamente a nove centímetros à esquerda no quinto espaço intercostal (FROWNFELTER e DEAN, 2004,).

    O coração é dividido em metades direita e esquerda por um septo oblíquo que se coloca verticalmente. Cada metade tem duas câmaras – o átrio, que recebe sangue das veias, e o ventrículo que ejeta sangue nas artérias (FIG. 1). A veia cava superior, veia cava inferior e as veias intrínsecas do coração depositam sangue venoso no átrio direito, que passa para o ventrículo direito. O ventrículo direito projeta o sangue nas artérias pulmonares ( que são as únicas artérias do corpo que contêm sangue desoxigenado). As veias pulmonares devolvem o sangue para o átrio esquerdo e daí para o ventrículo esquerdo. Do ventrículo esquerdo ele é ejetado na principal artéria do corpo – a aorta (FROWNFELTER e DEAN, 2004).

    Cada ventrículo tem duas valvas, uma de entrada e outra de saída que controlam a direção do fluxo do sangue pelo coração. A valva do lado direito do coração é denominada tricúspide e à esquerda, mitral ou bicúspide. As valvas de saída ou semilunares são as pulmonares e aórtica. Todas as valvas apresentam três folhetos, exceto a mitral que possui dois. Elas são formadas pela duplicação do endocárdio reforçado por tecido fibroso e por umas poucas fibras musculares (DOWNIE, 1987).

    O coração é dividido em três camadas – o epicárdio, o miocárdio e o endocárdio. A camada mais externa, o epicárdio, é um pericárdio visceral geralmente infiltrado com gordura. O sangue dos vasos coronarianos que supre o coração corre por esta camada antes de adentrar o miocárdio. O miocárdio consiste em fibras musculares cardíacas. A espessura das camadas de fibras musculares cardíacas é diretamente proporcional com a quantidade de trabalho que elas realizam. Os ventrículos trabalham mais que os átrios, e suas paredes são mais espessas. A pressão na aorta é maior que no tronco pulmonar. Isto requer um esforço maior do ventrículo esquerdo, logo suas paredes são duas vezes mais espessas que as do ventrículo direito. A camada mais interna, o endocárdio, é um fino revestimento do interior do coração (FROWNFELTER e DEAN, 2004, p. 36).


Figura 1. Anatomia do coração

Fonte: http://www.msd-brazil.com/msdbrazil

1.2.     Circulação sangüínea

    Os tipos de circulação abaixo foram descritos por Dângelo e Fattini em 1998:

  • Circulação pulmonar ou pequena circulação, tem início no ventrículo direito, de onde o sangue é bombeado para a rede de capilares dos pulmões. Depois de sofrer hematose, o sangue oxigenado retorna ao átrio esquerdo. Em síntese, é uma circulação coração-pulmão-coração (Fig. 2).

  • Circulação sistêmica ou grande circulação, tem início no ventrículo esquerdo, de onde o sangue é bombeado para a rede de capilares dos tecidos de todo organismo, e após as trocas o sangue retorna pelas veias ao átrio direito. Em resumo, é uma circulação coração-tecidos-coração (Fig. 2).

  • Circulação colateral. Normalmente existem anastomoses (comunicações) entre ramos de artérias ou de veias entre si, e variam de tamanho dependendo da região do corpo. No caso de haver uma obstrução (parcial ou total) de um vaso mais calibroso que participe da rede anastomósica, o sangue passa a circular ativamente por estas variantes, estabelecendo-se uma efetiva circulação colateral.

  • Circulação portal. A veia portal interpõe-se entre duas redes de capilares, sem passar por um órgão intermediário.

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Figura 2. Grande e Pequena Circulação

Fonte: http://agmarrazes.cce,s.pt/agmcna

1.3.     Sistema de condução

    O controle da atividade cardíaca é feito através do nervo vago (atua inibindo) e do nervo simpático (atua estimulando). De acordo com a fig. 3, estes agem sobre uma formação, situada na parede do átrio direito, o nó sino-atrial, considerado como o “marcapasso” do coração. Daí ritmicamente o impulso espalha-se ao miocárdio, resultando em contração. Este impulso chega ao nodo átrio ventricular, localizado na porção inferior do septo-atrial e propaga aos ventrículos através do feixe átrio-ventricular. Este, ao nível da porção superior do septo interventricular, emite os ramos direito e esquerdo, e assim, o estímulo alcança o miocárdio dos ventrículos. Ao conjunto destas estruturas do tecido especial é dada denominação de sistema de condução (BRAUNWALD, 1991).

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Figura 3. Atividade elétrica do coração

Fonte: http://br.geocities.com/equipecv/fisiologia/ativeletrica.htm

1.4.     Vasos sangüíneos

    Há quatro tipos principais de vasos sangüíneos: artérias, arteríolas, capilares e veias (Fig. 4). Com exceção dos capilares, os vasos sangüíneos são descritos como tendo camadas, túnica adventícia (externa), a qual consiste principalmente de tecido fibroso organizado longitudinalmente, a túnica média, ou camada média que consiste de fibras musculares lisas e de fibras elásticas dispostas circularmente, e a túnica íntima, consistindo de uma camada uniforme de células endoteliais planas sobre uma camada subendotelial formada por fibras de elastina e de colágeno (DOWNIE, 1987).

    As grandes artérias que deixam o coração, particularmente a aorta, armazenam o sangue durante a contração dos ventrículos para a distribuição quando não houver mais sangue deixando o coração. Conseqüentemente, suas paredes são finas, e contém mais tecido elástico do que tecido muscular, permitindo que elas se expandam e se retraiam (DOWNIE, 1987).

    Geralmente, as arteríolas abrem-se em uma rede capilar intercomunicante. A este nível ocorre a troca de gases e de substâncias através da parede capilar, a qual consiste de uma só camada de células endoteliais achatadas sobre uma fina membrana basal. Para exercer esta função, o leito capilar está interposto entre as artérias e veias. Entretanto, em vários locais do corpo há direta conexão entre artérias e veias pequenas, que são chamadas de anastomoses arteriovenosas. Se este vaso de conexão estiver aberto, o sangue desvia da rede capilar e se o vaso estiver fechado, o sangue flui através dos capilares. Desta maneira, ocorre a regulação do sangue. As veias transportam o sangue de volta para o coração e como as artérias, as veias são descritas tendo uma parede composta por três camadas. A diferença básica está na túnica média, que contém somente pouco tecido muscular ou elástico resultante em vasos de paredes mais finas. Estes vasos são adequados para conduzir o sangue a uma pressão muito menor (DOWNIE, 1987).

    O retorno do sangue ao coração é realizado por uma série de forças. As veias profundas correm nos planos fasciais entre grupos musculares onde elas estão sujeitas à contração e relaxamento do músculo. Isto é particularmente importante nos membros inferiores, onde as veias profundas da panturrilha encontram-se entre o sóleo e os músculos gastrocnêmicos, freqüentemente referidos como bomba muscular da perna (bomba solear). A fáscia densa, inelástica dos membros inferiores torna a bomba muscular mais eficiente. O sangue da cabeça e do pescoço é auxiliado a voltar para o coração pela força da gravidade. As alterações da pressão intratorácica e da pressão atmosférica para a pressão subatmosférica (negativa) têm efeito de sucção sobre o sangue nas veias próximas ao coração e conseqüentemente auxilia o retorno sangüíneo (NESRALTA, 1994).


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Figura 4. Vasos sangüíneos

Fonte http://agmarrazes.ccems.pt/agmcna

1.5.    Débito cardíaco (DC)

    O DC é o volume de sangue bombeado do ventrículo direito ao ventrículo esquerdo por minuto. Os componentes do DC são o volume de ejeção (VE) e a freqüência cardíaca (FC), que é, DC = VE x FC. O volume de ejeção é a quantidade de sangue ejetado do ventrículo direito durante cada sístole ventricular ou batimento cardíaco e é determinado pela pré-carga, distensibilidade e contratilidade miocárdica e pela pós-carga (FROWNFELTER e DEAN, 2004).

1.5.1.     Pré-carga

    É o comprimento da fibra do músculo ventricular ao final da diástole antes da ejeção sistólica, e reflete o volume diastólico final do ventrículo esquerdo (VDFVE). O VDFVE é dependente do retorno venoso, do volume sangüíneo e da contração atrial esquerda. Um aumento no volume ventricular distende as fibras do miocárdio e aumenta sua força de contração (Efeito Starling) e volume ejetado (FROWNFELTER e DEAN, 2004).

1.5.2.     Pós-carga

    A pós-carga é a resistência à ejeção durante a sístole ventricular. A pós-carga do ventrículo esquerdo é determinada primariamente por quatro fatores: a capacidade de distensão da aorta, resistência vascular, prolapso da válvula aórtica e a viscosidade do sangue (FROWNFELTER e DEAN, 2004).

2.     Princípios do condicionamento cardiovascular

    Treinamento físico é o desempenho de exercício repetitivo para aumentar a capacidade de trabalho físico e para induzir condicionamento físico. Ele deve ser de considerável custo energético em relação ao nível de aptidão do indivíduo e efetuado regularmente durante um período prolongado de tempo (DELISA, 2002).

    A fim de alcançar benefícios, deve-se obedecer aos quatro princípios do condicionamento fisiológico (DELISA, 2002).

Princípio da sobrecarga

    Um exercício, para ser eficaz em aumentar o condicionamento, precisa ser a um nível de trabalho maior do que aquele no qual o indivíduo usualmente desempenha.

Princípio da especificidade

    Cada tipo de exercício produz uma adaptação metabólica e fisiológica específica que resulta em um efeito específico de treinamento. Todos estes tipos de treinamento são importantes em reabilitação para melhorar o desempenho nas atividades de vida diárias e relacionado ao trabalho.

Variação individual

    O treinamento deve ser individualizado de acordo com as capacidades e necessidades da pessoa.

Reversibilidade

    Os efeitos benéficos do treinamento não são permanentes. As melhoras atingidas começam a desaparecer apenas duas semanas depois da cessação do exercício, e a metade dos ganhos pode ser perdida em apenas 5 semanas.

3.     Efeitos fisiológicos do exercício

    Segundo Longo et al (1995), os efeitos fisiológicos do exercício físico podem ser classificados em agudos imediatos, agudos tardios e crônicos. Os efeitos agudos, também denominados respostas, são aqueles que acontecem em associação direta com a sessão de exercício e, os efeitos agudos imediatos, os que ocorrem nos períodos pré e pós-imediato do exercício físico e podem ser exemplificados pelos aumentos de freqüência cardíaca (FC), ventilação pulmonar e sudorese, habitualmente associados ao esforço. Por outro lado, os efeitos agudos tardios são observados ao longo das primeiras 24 horas que se seguem a uma sessão de exercício e podem ser identificados na discreta redução dos níveis tensionais, especialmente nos hipertensos, e no aumento do número de receptores de insulina nas membranas das células musculares. Por último, os efeitos crônicos, também denominados adaptações, são aqueles que resultam da exposição freqüente e regular às sessões de exercício, representando os aspectos morfofuncionais que diferenciam um indivíduo fisicamente treinado de um outro sedentário. Dentre os achados mais comuns dos efeitos crônicos do exercício físico estão a hipertrofia muscular, melhora da aptidão cárdio-pulmonar e o aumento do consumo máximo de oxigênio.

    A atividade física aumenta a capacidade funcional e reduz a demanda de oxigênio pelo miocárdio, diminui a pressão sistólica e diastólica, altera favoravelmente o metabolismo de lipídios e carboidratos. Aumenta a performance física, o limiar da angina em pacientes com doença arterial coronariana sintomáticos e melhora a perfusão miocárdica. Na reabilitação cardíaca de pacientes com doença arterial coronariana, a melhora da perfusão miocárdica tem sido atribuída pela mediação do treinamento com exercício físico na correção da disfunção endotelial coronária (NERY e BARBISAN e MAHMUD, 2007).

    O aumento da perfusão na microcirculação coronariana deve-se ao recrutamento de vasos colaterais durante o exercício (NERY e BARBISAN e MAHMUD, 2007).

4.     Objetivos da reabilitação cardiovascular

    O maior objetivo de um programa de reabilitação cardiovascular amplo é o alcance de uma condição de saúde ótima para cada paciente. Assim como a manutenção dessa condição não somente física e psicológica, mas também social, vocacional e econômica (MARQUES, 2004).

    Os objetivos mais específicos de uma reabilitação cardiovascular incluem tratamento eficiente e efetivo dos sintomas e modificação dos fatores de risco cardíaco, para prevenir o início e progressão da doença cardíaca tanto quanto possível (PRYOR e WEBBER, 1998).

    A chave para conseguir resultados benéficos dos exercícios nos vários sistemas do organismo é o planejamento e implementação de um programa de exercício aeróbico em termos de intensidade, duração e freqüência. O treinamento aeróbico deve proporcionar uma sobrecarga cardiovascular suficientemente capaz de estimular aumentos no volume de ejeção e no débito cardíaco. Essa sobrecarga circulatória central deve ser realizada exercitando os grupos musculares específicos para determinado desporto de forma a aprimorar sua circulação local e seu maquinismo metabólico (O’SULLIVAN e SCHMITZ, 1993).

5.     Descrição e fases

    A reabilitação cardiovascular está, tradicionalmente, dividida em diversas fases, seqüenciadas como FASE I, FASE II e FASES III e IV (MARQUES, 2004).

5.1.     Fase I

    Inclui os exercícios para o paciente internado, que se inicia assim que as condições do paciente tenham sido estabilizadas. O médico responsável deve indicar o melhor momento para iniciar essa fase. Os pacientes são encorajados a movimentar seus membros inferiores e alimentar-se sozinhos com o objetivo de diminuir a estase venosa (MARQUES, 2004).

    Exercícios de baixa intensidade durante a internação hospitalar tem-se mostrado seguros, praticáveis e benéficos, embora não seja observada nenhuma melhora na aptidão cardiovascular com atividades de baixa intensidade (FARDY e YANOWITZ e WILSON, 2004).

    Antes de iniciar um nível mais elevado, o paciente é examinado, mensurando-se a freqüência cardíaca, a pressão arterial, realizando eletrocardiograma e avaliando as limitações músculo-articulares, tonteira, aparência e sintomas (MARQUES, 2004).

    Os objetivos dessa fase incluem reduzir o tempo de permanência hospitalar e diminuir os problemas de descondicionamento associados com o repouso prolongado no leito, como atrofia muscular, hipotensão postural e deterioração circulatória geral (FARDY e YANOWITZ e WILSON, 2004).

5.2.     Fase II

    É um programa de exercícios supervisionado baseado em uma prescrição individualizada, especificando intensidade, duração, freqüência e estilo de atividade. O manuseio e as modificações do estilo de vida devem acompanhar a atividade física, sendo assim, um processo contínuo (MARQUES, 2004).

    Os objetivos dessa fase incluem (FARDY e YANOWITZ e WILSON, 2004):

  • Melhorar a função cardiovascular, a capacidade física de trabalho, força, e flexibilidade;

  • Detectar arritmias e outras alterações durante o exercício que contra indiquem a atividade física;

  • Educar os pacientes quanto a atividade física;

  • Trabalhar com o paciente e seus familiares em um programa adequado de manuseio e modificações do estilo de vida;

  • Melhorar o perfil psicológico dos pacientes

5.2.1.     Prova de esforço máximo limitada por sintomas

    É uma avaliação eletrocardiograficamente monitorizada do consumo máximo de oxigênio de uma pessoa durante trabalho dinâmico (exercício), utilizando grandes grupos musculares. A prova começa com esforço submáximo, dá tempo para adaptações fisiológicas e aumenta progressivamente a carga de trabalho, até que sejam determinados pontos finais de fadiga individualmente determinados ou ocorram sinais ou sintomas limitantes (IRWIN e TECKLIN, 1994).

    Segundo Kappert (1978), essa prova é talvez a avaliação mais definitiva para um paciente antes de entrar em um programa de reabilitação cardíaca. É utilizada na previsão da gravidade da doença. A prova fornece dados importantes na hora de prescrever o plano de reabilitação, porque fornece parte dos dados úteis para a decisão sobre a freqüência das atividades.

5.2.2.     Intensidade

    A intensidade do exercício prescrito tem base nos resultados do teste de esforço. Uma intensidade de treinamento adequada cai dentro de 60 a 80 por cento da absorção máxima de oxigênio pelo paciente, ou da capacidade de trabalho físico (ARAKAKI e MAGALHÃES, 1996).

5.2.3.     Duração

    As sessões de tratamento deverão ter duração total de aproximadamente uma hora e deverão ser realizadas três vezes por semana, em dias alternados (REGENGA, 2000).

5.2.4.     Freqüência

    A freqüência, em parte, é também dependente da intensidade e da duração. São recomendadas três a cinco sessões de exercícios (regularmente espaçadas) por semana. A prescrição do exercício é baseada em atividades físicas com gastos energéticos conhecidos que ficam dentro da capacidade do paciente, determinado pelo teste de esforço máximo (IRWIN e TECKLIN, 1994).

5.2.5.     Etapas de tratamento

    O programa de treinamento físico envolve três etapas, sendo uma de aquecimento, outra de treinamento e uma outra de desaquecimento. Deve-se fazer um registro diário do programa, das respostas de freqüência cardíaca e pressão arterial e dos sinais e sintomas apresentados durante as sessões de tratamento (REGENGA, 2000).

    Após a chegada do paciente ao setor, deverão ser aferidos e registrados os valores pressóricos e de freqüência cardíaca antes da sessão de atendimento. Isso é necessário pois, a partir de um certo período, se pode traçar o perfil de cada paciente, o que permite modificar ou não o protocolo de tratamento previsto, caso percebida alguma alteração da freqüência cardíaca e pressão arterial anteriormente à sessão (REGENGA, 2000).

Aquecimento

    Deverá ter duração de 5 a 10 min, sendo efetuados exercícios de alongamento, dinâmicos aeróbios e de coordenação, associados a exercícios respiratórios. Essa fase tem por objetivo preparar os sistemas musculoesquelético e cardiorrespiratório para a fase de condicionamento propriamente dito. No final, afere-se freqüência cardíaca do paciente (REGENGA, 2000).

    Segundo Oliveira, et al (2002) o aquecimento tem como principais efeitos fisiológicos: promover o aumento da temperatura corporal, proporcionando um maior relaxamento do tecido colágeno, que é o principal componente do tecido conectivo muscular, diminuindo assim os riscos de lesão; diminuir as concentrações de lactato sangüíneo e aumentar o fluxo sangüíneo local, afim de oxigenar os músculos e também remover mais rápido os elementos catabólicos formados pelo metabolismo celular.

Condicionamento

    Tem como objetivo exercitar o paciente a uma freqüência cardíaca programada a fim de obter efeito de treinamento. A intensidade do esforço deve ser aumentada gradualmente até o nível de treino programado. Os exercícios aeróbicos, rítmicos e dinâmicos são enfatizados e planejados de maneira a exercitar os grupos musculares das extremidades superiores e inferiores (MARQUES, 2004).

    Essa etapa poderá ser composta por trotes, caminhadas ou outra modalidade de exercício físico em bicicleta e esteira ergométrica ou em outro tipo de equipamento que permita aferir freqüência cardíaca e pressão arterial sistêmica durante sua realização. A duração total varia até cerca de 40 min (REGENGA, 2000).

Desaquecimento e relaxamento

    A atividade física deve ser mantida com baixa intensidade de esforço, mantendo em atividade particularmente os músculos mais trabalhados durante a sessão, para facilitar a remoção do ácido láctico (produto do metabolismo) desses músculos e beneficiar a circulação sistêmica através de um massageamento. Deve-se manter um débito cardíaco adequado através do aumento do retorno venoso pela ação de massageamento das veias através da contração e relaxamento muscular (MARQUES, 2004).

    Quando exercícios intensos são subitamente interrompidos, principalmente se o indivíduo permanece de pé, há uma tendência do sangue em estasiar nos membros inferiores, resultando em uma diminuição do retorno venoso ao coração. Em conseqüência disso há elevação da freqüência cardíaca e aumento da demanda miocárdica de oxigênio. Hipotensão arterial, hipofluxo cerebral com cefaléia, tonteira ou desmaio também podem ocorrer como conseqüência (FARDY e YANOWITZ e WILSON, 2004).

    Os exercícios de relaxamento podem ser realizados no final do desaquecimento, e reduzir a freqüência cardíaca, a pressão arterial e a incidência de arritmias cardíacas (MARQUES, 2004).

    Se o paciente apresentar hipertensão arterial logo à chegada, deverão ser aplicados somente exercícios de relaxamento por um período de maior duração. Se o quadro persistir, ele deverá ser encaminhado ao médico antes da próxima sessão (REGENGA, 2000).

5.3.     Fase III e IV

    São programas a longo prazo que enfocam a aptidão física e manutenção do ganho funcional. Após o término bem sucedido da fase II, o paciente passa para a III, que pode ser realizada em casa, clínicas especializadas, programas comunitários ou em outro local com supervisão. Durante a fase III a prescrição de exercícios deve ser revista periodicamente, incorporando os ganhos obtidos (MARQUES, 2004).

    Em contraste, a fase IV é geralmente considerada um programa de manutenção, quando a maioria dos parâmetros físicos e fisiológicos estão estagnados. Representa um compromisso com a prática regular de atividade física e controle do estilo de vida, construindo hábitos que necessitam ser levados para toda a vida. Esta fase é também apropriada para indivíduos sedentários sem doença cardíaca, cujo objetivo é melhorar a aptidão física e prevenir problemas de saúde associados à inatividade física. Para estes indivíduos, a fase IV destaca primeiro os ganhos funcionais, o condicionamento e a sua manutenção posteriormente (MARQUES, 2004).

    As duas fases apresentam como objetivos (FARDY e YANOWITZ e WILSON, 2004):

  • Melhorar o condicionamento físico seguido de manutenção

  • Reduzir fatores de risco de doenças coronarianas

  • Aumentar a auto-estima e a confiança quando novas atividades são introduzidas e quando o paciente for adaptado progressivamente fora do ambiente de supervisão

  • Introduzir atividades seguras e diversificadas que possam ser realizadas pelos métodos usuais de aptidão e recreação

  • Melhorar o conhecimento da habilidade de auto monitorizar

6.    Considerações finais

    Não há duvidas que o exercício físico melhora a qualidade de vida, por trazer conseqüências físicas e psíquicas. Previne doenças, otimiza o condicionamento físico e as funções cardíaca e muscular. Por outro lado, é muito importante especialmente para pacientes cardíacos, porque além dos benefícios cardiovasculares diretos, a atividade física alivia a ansiedade o sentimento de desamparo.

    Um programa de reabilitação cardíaca eficaz e seguro precisa ser fundamentado na avaliação contínua e objetiva de suas respostas. Cada alteração no programa de exercício do paciente precisa ser baseada em uma detalhada avaliação objetiva. A chave para conseguir resultados benéficos dos exercícios nos vários sistemas do organismo é o planejamento e implementação de um programa de exercício aeróbico em termos da intensidade, duração e freqüência. O treinamento aeróbico deve proporcionar uma sobrecarga cardiovascular suficientemente capaz de estimular aumentos no volume de ejeção e no débito cardíaco. Essa sobrecarga circulatória central deve ser realizada exercitando os grupos musculares específicos para determinado desporto de forma a aprimorar sua circulação local e seu maquinismo metabólico.

    O exercício atua diminuindo a progressão da aterosclerose coronariana através da redução dos fatores de risco; melhora o equilíbrio entre o suprimento e a demanda de oxigênio miocárdico em parte como resultado do aumento da circulação colateral; diminuição da tendência a formar trombos coronarianos devido ao aumento da atividade fibrolítica e diminui o tônus vasomotor coronariano resultando em menor tendência para espasmo.

Referências bibliográficas

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  • BRAUNWALD, E. Tratado de Medicina Cardiovascular. 3ª ed. São Paulo: Roca, 1991. p. 354

  • DÂNGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Tratado de Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar para Estudantes de Medicina. 2ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1998. p. 132

  • DELISA, J. A. et al. Tratado de Medicina de Reabilitação: Princípios e Prática. 3ª ed. São Paulo: Manole. 2002 1418 p.

  • DOWNIE, P. A. Fisioterapia nas Enfermidades Cardíacas, Torácicas e vasculares. 3ª ed. São Paulo: Panamericanas, 1987. p. 102

  • FARDY, P. S.; YANOWITZ, F. G.; WILSON, P. K. Reabilitação Cardiovascular: Aptidão Física do Adulto e Teste de Esforço. Rio de Janeiro: Revinter, 1998 287 p.

  • FROWNFELTER, D. ; DEAN, E. Fisioterapia Cardiopulmonar: Princípios e Prática. 3ª ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2004. 10-37 p.

  • IRWIN, S.; TECKLIN, J. S. Fisioterapia Cardiopulmonar. 2ª ed. São Paulo: Manole, 1994. 50-160 p.

  • LONGO, A; FERREIRA, D.; CORREIA, M. J. Variabilidade da Freqüência Cardíaca. Revista Portuguesa de Cardiologia. v.14, n.3, 1995. 241-262 p.

  • MARQUES, Karine da Silva. A Interação dos Profissionais de Educação Física e Fisioterapia na Reabilitação Cardiovascular. 2004. 61 f. Universidade Federal de Santa Catarina.

  • NERY, R. M.; BARBISAN, J. N.; MAHMUD, M. I. Influência da Prática da Atividade Física no Resultado da Cirurgia de Revascularização Miocárdica. Rev. Bras. Cir. Cardiovasc., p. 297-302, 2007.

  • NESRALTA, I. Cardiologia Cirúrgica: Perspectiva para o Ano 2000. São Paulo: Byk, 1994. p. 243

  • OLIVEIRA, A. L. B.; VANDERLEI, L. C. M. A Importância da Fase de Aquecimento em Programas Ambulatoriais de Exercícios Físicos para Pacientes Cardíacos. Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. v.12, n.5. Supl a Set/out, 2002. 184 p.

  • O’SULLIVAN, S. B.; SCHMITZ, T. J. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento. 2ª ed, São Paulo: Manole, 1993. 110-120 p.

  • PRYOR, J. A.; WEBBER, B. A. Fisioterapia para Problemas Respiratórios e Cardíacos. 2ª ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 276 p.

  • REGENGA, M. M. Fisioterapia em Cardiologia: Da U.T.I. à Reabilitação. São Paulo: Roca, 2000. 292 p.

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