efdeportes.com
Equilíbrio corporal de crianças praticantes de futebol

 

*Professor de Educação Física. Laboratório de Biomecânica

da Universidade Federal de Santa Maria

**Professora de Educação Física. Doutoranda Universidade Federal de Santa Catarina

***Professor Doutor de Biomecânica da Universidade Federal de Santa Maria

(Brasil)

Rudi Facco Alves*

rudifacco@yahoo.com.br

Clarissa Stefani Teixeira**

clastefani@gmail.com

Carlos Bolli Mota***

bollimota@gmail.com

 

 

 

Resumo

          O estudo do equilíbrio corporal é importante principalmente em relação a idade, a prática de esportes e aos treinamentos. Esse estudo objetivou analisar a influência do treinamento de futebol (quatro meses com 12 sessões) para a melhora do equilíbrio corporal em crianças de seis a nove anos de idade. Indivíduos do gênero masculino, com idades entre 6 e 9 anos de idade, pertencentes a uma escolinha de futebol do Sul do Brasil, foram avaliados. O equilíbrio foi coletado através da avaliação cinética, sendo utilizada uma plataforma de força OR6-5 AMTI (Advanced Mechanical Technologies, Inc.) a uma freqüência de 100 Hz. As variáveis analisadas foram: a amplitude do deslocamento do centro de força nas direções ântero-posterior e médio-lateral. Para análise estatística utilizou-se a descritiva, teste de Shapiro-Wilk e o teste t com nível de significância utilizado de 5%. Os resultados não mostraram diferença estatisticamente significativa em nenhuma das comparações realizadas. O treinamento de futebol proposto (de quatro meses com 12 sessões) não foi suficiente para modificar significativamente os valores de equilíbrio corporal. Porém, outros estudos devem ser ainda realizados, tentando identificar o real benefício da modalidade para a estabilidade do corpo e entendendo como são modificadas as atribuições de cada sistema sensorial nesta fase de desenvolvimento de crianças.

          Unitermos: Equilíbrio. Crianças. Futebol.

 

Abstract

          The study of the corporal balance is important mainly in relation the age, the practice of sports and trainings. This study aimed to analyze the influence of soccer training (four months with 12 sessions) for the improvement of corporal balance in children of six to nine years old. Individuals of the masculine gender, with ages between 6 and 9 years old, belonging to a school of soccer of the South of Brazil, were appraised. Balance was evaluated through kinetic assessment, using an AMTI OR6-5 force platform (Advanced Mechanical Technologies, Inc.) at a frequency of 100 Hz. The analyzed variables were: the amplitude the force center displacement in the anteroposterior (COPap) and midlateral (COPml) directions. The statistic analysis used the descriptive statistics, the Shapiro-Wilk’s test and the t test with a level of significance of 5%. The results don’t showed statistically significant differences in none of accomplished comparisons. The soccer training proposed (four months with 12 sessions) was not enough to modify the values of corporal balance significantly. Even so, other studies should still be accomplished, trying to identify the real benefit the modality for the stability of the body and understanding as the attributions of each sensorial system are modified in this phase of children's development.

          Keywords: Balance. Children. Soccer.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

1 / 1

Introdução

    O equilíbrio corporal vem sendo investigado tanto com indivíduos que apresentam problemas de saúde quanto com aqueles considerados como tendo ausência de doenças (PRANKE et al., 2007; TEIXEIRA et al., 2007a;TEIXEIRA et al., 2008). As preocupações tanto com crianças, adultos e idosos é tentar relacionar o benefício das atividades exercidas no dia-a-dia, como por exemplo, a prática de algumas modalidades esportivas (HYTONEN et al., 1993), para com a estabilidade do corpo.

    Especificamente tratando-se de crianças, segundo Rowland (1996), a fase pré-pubertária e pubertária podem ser diferidas em relação à maturação biológica pode diferir para a mesma idade cronológica, em função do resultado das modificações ocasionadas pelo crescimento e desenvolvimento. Neste período, observa-se que o nível de desempenho atingido em vários tipos de esportes é mais dependente da idade esquelética do que da idade cronológica.

    Assim, a classificação em função da maturação biológica é fundamental em estudos com crianças e adolescentes envolvidos com a prática de exercício, pois possibilita distinguir de maneira mais clara as adaptações morfo-funcionais decorrentes de um programa de treinamento daquelas determinadas pelo processo maturacional, o qual é intensificado na fase pubertária (BAR-OR, 1983).

    Segundo Hobeika (1999) a manutenção do equilíbrio é um processo automático e inconsistente que permite resistir ao efeito da gravidade. Trata-se de uma função complexa que depende do sistema de informações e reflexos que trabalham em sintonia com a finalidade de obter movimentos coordenados e sincronizados. Compõem esse sistema multissensorial: a visão, o aparelho vestibular e estruturas somatossensoriais. Woollacott (1993) afirma que os fatores que contribuem para o controle do equilíbrio são as habilidades para usar as referências visual, vestibular e somatossensorial, a ativação apropriada das respostas sinérgicas dos músculos posturais, o uso dos mecanismos de adaptação que modificam a aferência sensorial dominante e por fim, a ativação muscular com força suficiente para a correção da postura.

    O equilíbrio corporal é fundamental no relacionamento espacial do homem com o ambiente. É uma complexa interação entre o sensorial e o motor que nos previne de quedas. Porém quando ocorre uma alteração visual, proprioceptiva ou vestibular surgem alterações que caracterizam o desequilíbrio. No futebol não é diferente, a influência do equilíbrio afeta funções como: correr, saltar, chutar ou mesmo manter-se em pé. Principalmente em crianças que estão com o organismo e sentidos em formação, onde um bom aprimoramento da manutenção do equilíbrio pode ser benéfico para as atividades da vida diária e também para as atividades futuras, como as desenvolvidas na vida adulta e até na velhice para evitar quedas e ter uma boa qualidade de vida. Atualmente alguns estudos estão sendo desenvolvidos com crianças, porém ainda há carência de estudos que vislumbrem o reconhecimento da influência da modalidade futebol sob questões relacionadas com o equilíbrio corporal (TAGUSHI, 2005).

    Logo, buscou-se analisar a influência do treinamento de futebol para a manutenção do equilíbrio corporal em crianças de seis a nove anos de idade.

Materiais e métodos

    O público-alvo foi a equipe da escolinha de futebol de campo de uma instituição federal de ensino superior, representada pelos alunos do gênero masculino com idade média de 8,29 ± 0,76 anos, peso corporal de 31,06 ± 6,0 kg e estatura corporal de 1,32 ± 0,06 m, que se caracterizam segundo Filgueira, (2006) pela categoria Fralda.

    Antes das coletas de dados os indivíduos e seus pais tomaram conhecimento do estudo, assim como dos objetivos do mesmo. Após consentimento dos pais foram iniciadas as coletas e as sessões de treinamento. As coletas de dados foram realizadas em duas etapas, sendo a primeira, antes dos alunos iniciarem as atividades propostas pela escolinha e a segunda após pelo menos 14 sessões da prática da modalidade de futebol. No período de quatro meses foram disponibilizadas 19 aulas, mas devido às faltas dos alunos e das condições climáticas no momento das aulas, as quais nos dias de chuva as mesmas eram canceladas, conseguiu-se a realização, por todos os alunos, de 14 aulas.

    Para as avaliações do equilíbrio corporal os mesmos procedimentos para a coleta de dados foram seguidos, realizando-se em ambiente de laboratório mensurações da estatura corporal, por meio de um estadiômetro da marca Welmy com resolução de 1 mm e da massa corporal, por meio de uma balança da marca Welmy com resolução de 0,1 kg.

    Para a aquisição dos dados cinéticos referentes tanto ao equilíbrio foi utilizada uma plataforma de força AMTI (Advanced Mechanical Technologies, Inc.), posicionadas conforme recomendações de Barela e Duarte (2005), com sua superfície superior nivelada com o solo.

    Estas plataformas medem as três componentes de força (força vertical, força médio‑lateral e força ântero-posterior). As forças são medidas por transdutores do tipo strain gauges fixados em células de carga, localizadas nos quatro cantos da plataforma. Estes transdutores são dispostos em circuitos do tipo ponte de wheatstone. Os sinais de saída são proporcionais à deformação mecânica sofrida pelo material devido às forças. Os transdutores suportam forças de 10000 N na direção vertical e 4000 N nas direções horizontais. O sistema de coordenadas cartesianas das plataformas consiste no eixo Z vertical, com os eixos horizontais X no sentido do movimento e Y perpendicular aos eixos X e Z. A origem deste sistema localiza-se no centro geométrico da superfície da plataforma.

    A partir destas coordenadas se obtém uma importante grandeza que indica a estabilidade do corpo, chamada de centro de força (COP). O COP é o ponto de aplicação da resultante das forças verticais agindo sobre a superfície de suporte (plataforma de força) e refere-se à medida de posição definida por duas coordenadas na superfície da plataforma. Estas são identificadas em relação à orientação do indivíduo que se encontra sobre a plataforma: direção ântero-posterior e direção médio-lateral a partir dos sinais mensurados pela plataforma de força. A posição do COP é calculada em cada instante do movimento e esta, no presente estudo, foi dada por:

COPa-p = (My – h . Fx) / Fz

COPm-l = (Mx – h . Fy) / Fz

    Onde:

COPa-p = coordenada do COP na direção ântero-posterior;

COPm-l = coordenada do COP na direção médio-lateral;

Mx = momento em torno do eixo ântero-posterior;

My = momento em torno do eixo médio-lateral;

Fx = componente ântero-posterior da força de reação do solo;

Fy = componente médio-lateral da força de reação do solo;

Fz = componente vertical da força de reação do solo;

h = distância da superfície até o centro geométrico da plataforma de força.

    Logo, a partir destes cálculos as variáveis analisadas neste estudo foram a amplitude ântero-posterior (COPap) e médio-lateral (COPml).

    O posicionamento das crianças sobre o instrumento de avaliação foi padronizado, estando os pés descalços, na largura do quadril, na posição anatômica de referência (posição ortostática), conforme procedimentos de Teixeira et al. (2008). Para isso na primeira tentativa de cada indivíduo a plataforma foi marcada com fita adesiva, no contorno dos pés, com o intuito de que, em todas as tentativas, o fosse mantida a mesma posição (TEIXEIRA et al., 2007a). Para a estabilização do olhar foi localizado, a dois metros, um ponto colocado na parede na altura dos olhos de cada criança, conforme recomendações de Freitas e Duarte (2005). A coleta foi desenvolvida nas condições olhos abertos e olhos fechados, totalizando seis tentativas, sendo três para cada condição. A duração da coleta foi de 30 segundos, após a estabilização visual do COP, a uma freqüência de 100 Hz.

    O treinamento de futebol realizado enfatizou, por meio das atividades em grupo, as características físicas, sociais e psicológicas. As atividades relacionadas aos fatores físicos como: coordenação, equilíbrio, força, velocidade, resistência foram exigidas na prática dos fundamentos do futebol: passe, condução, chutes, dribles, cabeceio, lançamentos, cruzamentos, jogos de diferentes formas e estruturas.

    As atividades realizadas no treinamento proposto iniciavam com uma corrida de aquecimento com ou sem a utilização da bola, seguido de atividades voltadas para o treinamento com o uso de bolas, cones, cordas, goleiras, visando o desenvolvimento das habilidades corporais. Na seqüência, os alunos eram divididos em duas equipes e então era realizado um jogo coletivo de aproximadamente 30 minutos.

    O Quadro 1 ilustra a programação de cada mês e o número de aulas que os treinamentos foram desenvolvidos

Meses

Objetivos

Número de Aulas/ Mês

Março

Formação do grupo, coletas, (início do contato com o básico do futebol).

4

Abril

Início do treinamento específico de futebol (visando desenvolver a técnica esportiva e motora)

6

Maio

Início das coletas, ápice do treinamento de futebol, visando desenvolver a coordenação, equilíbrio e a técnica.

8

Junho

Jogos visando testar o desenvolvimento global

1

Quadro 1. Programação do treinamento em cada mês, objetivo e número de aulas dadas

    Os autores utilizados para a fundamentação teórico-prática das aulas de futebol foram: Melo (1999); Bielinski (1997); Leal (2000); Venlioles (2001); Santos Filho (2002).

    Para a análise dos resultados foi realizada estatística descritiva. Para a verificação da normalidade dos dados foi utilizado o teste Shapiro-Wilk, que mostrou que os dados podem ser considerados como tendo distribuição normal. Para a comparação entre as condições olhos abertos e olhos fechados e para a comparação entre pré (antes do treinamento) e pós-teste (depois do treinamento), tanto na condição olhos abertos quanto com os olhos fechados, foi utilizado o teste t de student para dados pareados. O nível de significância adotado para todos os testes foi de 5%.

Resultados

    Os resultados das comparações entre os olhos abertos e olhos fechados em pré e pós-teste não indicaram diferenças estatisticamente significativas estando o nível de significância com valor de 0,12 para o COPap, 0,30 para o COPml em pré-teste; 0,58 para o COPap e 0,72 para o COp ml em pós-teste.

    A Tabela 1 ilustra os valores da média e desvio padrão das comparações entre o pré e pós-teste, com olhos abertos e fechados, bem como o nível de significância encontrado (p-valor).

Tabela 1. Média e desvio padrão das variáveis COPap e COPml nas condições olhos 

abertos e fechados, comparando o pré e pós-teste e o nível de significância encontrado.

Condições

testagem

Variáveis (cm)

média

desvio padrão

p-valor*

olhos abertos

pré

COPap

2,81

0,96

0,397

pós

COPap

2,71

0,68

pré

COPml

2,06

0,84

0,139

pós

COPml

2,36

0,80

olhos fechados

pré

COPap

3,32

1,07

0,961

pós

COPap

2,82

0,59

pré

COPml

2,31

0,66

0,253

pós

COPml

2,45

0,76

* Nível de significância do teste t de student pareado. Valor menor que 0,05 indica 

diferença estatisticamente significativa entre o pré e pós-teste.

    De acordo com os resultados encontrados pode-se observar que não houve diferença estatisticamente significativa em nenhuma das comparações realizadas.

Discussão

    Para a manutenção do equilíbrio corporal as crianças podem adotar uma preferência de recrutamento de um determinado sistema que dependerá da idade da criança e da natureza do desafio postural (HADDERS-ALGRA et al., 1996; VAN DER FITZ et al., 1999; HEDBERG et al., 2005).

    A partir do momento que a criança se torna bípede até aproximadamente o quinto e o sexto ano de vida, há adaptações posturais para a manutenção do equilíbrio frente à ação da gravidade (YI et al., 2008).

    Depois da idade de desenvolvimento neural principal há uma transição de três meses na capacidade para adaptar a atividade postural aos constrangimentos ambientais emergentes. As adaptações semelhantes aos adultos demoram ainda a ocorrer até pelo menos a adolescência (GRAAF-PETERS et al., 2007). No caso do presente estudo, pode-se inferir que as crianças avaliadas encontram-se na fase de desenvolvimento dos sistemas responsáveis pela estabilidade corporal, logo, a manutenção do equilíbrio corporal das crianças pode ser considerada diferenciada aos dos adultos. Comparando os valores com os resultados da literatura estas afirmações se confirmam.

    Estes achados podem estar relacionados às experiências dos indivíduos as quais muitas vezes mostram-se maiores para indivíduos mais velhos. Durante a infância o que ocorre é um aprimoramento dos padrões de controle postural, para a realização das atividades da vida diária. A função do exercício físico desenvolvido nesta fase de desenvolvimento seria incorporar e automatizar algumas habilidades, devido à estimulação da estrutura neuromuscular que segundo Oliveira et al. (2008) é essencial no controle postural.

    No caso dos idosos, quando comparados aos indivíduos adultos, também há queda na performance. No estudo de Pranke et al. (2007) os valores de oscilação corporal com os olhos abertos e olhos fechados, respectivamente foram de 1,35±0,41cm e 1,47±0,49 cm para a direção ântero-posterior e 1,07 ± 0,39 cm e 1,23 ± 0,53 cm para a direção médio-lateral. Comparando os valores de estudos com idosos, pode-se observar que houve diferença estatisticamente significativa na comparação entre olhos abertos e olhos fechados no COPap. Mais uma vez, o fato de desenvolvimento e amadurecimento de seus sistemas pode ser relacionado. Na verdade, fazendo uma comparação dos valores do estudo de Pranke et al. (2007) e de Teixeira et al. (2007b) que apresentou valores próximos de 1 cm na direção ântero-posterior e de 0,7 cm na direção médio-lateral, pode-se inferir que há maior proximidade dos valores dos idosos. Estas justificativas encontram-se nas considerações feitas por Pranke et al. (2007) que indicam deteriorização nos sistemas relacionados ao equilíbrio, onde o funcionamento do sistema de controle postural não apresenta o mesmo desempenho verificado até então.

    Já no estudo de Teixeira et al., (2008) os valores do equilíbrio de idosos variaram de 1,28 cm a 1,23 cm na direção ântero-posterior e de 0,75 cm a 0,90 cm para a direção médio-lateral, sendo estes menores que os encontrados com as crianças aqui avaliadas.

    De forma geral, os exercícios físicos já vêem sendo indicados como eficazes para a manutenção do equilíbrio corporal (TEIXEIRA, 2008). Para Gallahue e Ozmun (2005) o exercício físico é essencial para desenvolver, manter ou recuperar alterações no controle postural. Segundo os mesmos autores, esta prática age também sobre o crescimento corporal, exceto em casos de nível excessivo de exercícios.

    As práticas adotadas para crianças devem ser pensadas de modo que o tipo de prática de atividade física influencie positivamente a manutenção da estabilidade corporal. Assim como afirmam Oliveira et al. (2008) algumas modalidades esportivas praticadas pelas crianças, como por exemplo, o atletismo e o karatê, podem ou não ter como prioridade o desenvolvimento de habilidades que estimulam o controle postural semi-estático. Já atividades como a ginástica artística e a capoeira, enfatizam a necessidade de corpo estável para o desenvolvimento dos movimentos.

    Na prática de judô houve influências positivas na performance de coordenação motora bilateral em crianças, de 8 a 12 anos de idade. Segundo os resultados conclusivos de Sá e Pereira (2003) a prática de judô, por si só, modifica a variável de equilíbrio, fazendo com que ocorra melhora quanto a este aspecto.

    Especificamente relacionando crianças, equilíbrio e modalidades esportivas alguns estudos foram encontrados (BUCCI et al., 2006; LOPES e PEREIRA, 2004; VUILLERME et al., 2004; FERBER-VIART et al., 2007; GRAAF-PETERS et al., 2007). Alguns destes buscaram avaliar o controle postural de crianças em diversas idades durante a realização de atividades físicas tentando verificar a influência da prática dessas como a natação, ginástica artística, futebol, handebol e/ou efeitos do meio em que vivem como no caso de crianças com algum tipo de lesão como a paralisia cerebral. Porém, há uma tendência de avaliação do equilíbrio corporal em indivíduos que apresentam, por exemplo, síndromes vestibulares uma vez que estas interferem diretamente na manutenção da estabilidade (CAOVILLA e GANANÇA, 1997; CAMPOS, 2003), assim como com indivíduos idosos (D’OTTAVIANO, 2001; PRANKE et al., 2007; TEIXEIRA, 2008), pelo fato tanto do aumento de indivíduos com esta faixa etária quanto pelo fato da estreita relação do equilíbrio corporal e quedas e de se investigar o real benefício de práticas físicas no equilíbrio.

    Suzuki, Gugelmim e Soares (2005) ao observar equilíbrio desfavorável para crianças com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade indicaram intervenção dos profissionais da área da saúde. Logo, o profissional da educação física, enquanto atuante da área das ciências da saúde poderia prestar auxílio para obtenção da melhora destas problemáticas. Por exemplo, o estudo de Allegretti et al. (2007) o treino de equilíbrio promoveu a melhora do ajuste postural em ortostatismo, como também a melhora funcional do equilíbrio em crianças com paralisia cerebral com faixa etária mais avançada (oito anos de idade). No estudo de Campos (2003) também houve melhora do equilíbrio corporal de crianças com perda auditiva após treinamento com mini-trampolim. No caso do estudo de Teixeira (2008) a melhora na estabilidade corporal foi encontrada com a prática de exercícios de hidroginástica.

    Mesmo que para Oliveira et al. (2008) existam poucas evidências que permitam afirmar se as práticas de exercícios físicos regulares durante o processo de maturação e refinamento da estrutura neuro-músculo-esquelética tem maior efeito sobre o desenvolvimento do controle postural, na literatura consultada há indicações de que estas se mostram como benéficas principalmente para o sistema musculoesqueléticas, como no caso de treinamentos resistidos com pesos (BROWN et al., 2000; PANT et al., 2006). Porém, estudos que relacionem as práticas esportivas para crianças ainda precisam ser melhores estudadas.

    Outras atividades foram observadas como passíveis de realização para as crianças. Vuillerme e Nougier (2004) avaliaram 14 adultos jovens com idades de 22,0±3,6 anos, divididas em três grupos com práticas diferenciadas. As modalidades esportivas escolhidas no estudo foram o handebol, o futebol e a ginástica. Os resultados mostraram que os ginastas necessitam de menor atenção para manter o equilíbrio em relação aos outros atletas. Os esportes coletivos, como o handebol e o futebol, tem seus treinamentos voltados à compreensão dinâmica do jogo, adquirindo uma visão lógica da tática e da estrutura técnica. Porém, para o correto desenvolvimento das atividades há necessidade de desenvolvimento motor, como a coordenação, por exemplo, o que conseqüentemente, pode ter influência na manutenção do equilíbrio corporal (DAOLIO e MARQUES, 2003). Para Barbanti (1979); Severgnini e Busto (2002) na ginástica olímpica o equilíbrio tem papel decisivo, pois todos os movimentos dependem da correta manutenção e controle do corpo na posição estática e dinâmica.

    Lopes e Pereira (2004) encontraram melhora do equilíbrio de crianças de três e quatro anos de idade praticantes de natação, quando comparadas a crianças de mesma faixa etária que não praticavam natação ou outra atividade. Como visto neste estudo, há necessidade, para futuras investigações, de um grupo controle que não realize as atividades de futebol, para que assim possa ser vislumbrado o real benefício das práticas esportivas, assim como o que ocorre com o equilíbrio corporal na fase estudada.

    No estudo de Oliveira et al. (2008) foi verificado se o desenvolvimento e a maturação do controle postural são atribuídas às mudanças de crescimento e maturidade normais, ou se a atividade física regular contribui de forma significativa para este processo. O estudo foi realizado com 25 crianças de oito a 11 anos, onde estas praticavam as seguintes atividades: ginástica artística, atletismo, capoeira, karatê e 11 crianças que não praticavam atividade física regular. Este estudo analisou as condições bipodal olhos abertos e fechados e apoio do pé dominante olhos abertos e fechados e apoio sobre o membro não dominante de olhos abertos e fechados e unipodal olhos abertos e fechados. Os resultados mostraram a dependência da informação visual principalmente na condição unipodal e olhos fechados. De forma geral, ocorreu um grande número de quedas na condição unipodal olhos fechados (dominante e não dominante) antes do tempo máximo de aquisição. O maior número de quedas ocorreu entre os praticantes de atletismo e karatê.

    No estudo de Faquin (2005) houve a mesma tendência dos resultados de Oliveira et al (2008), sendo que as diferenças no equilíbrio foram encontradas quando atletas e não atletas, para a posição de apoio bipodal, foram avaliados. Estes resultados permitem reflexões no sentido de se inferir que indivíduos com maiores práticas na modalidade apresentam melhores valores de equilíbrio corporal. Porém, o tempo em que estes indivíduos realizam a modalidade e o tipo de treinamento desenvolvido para os atletas podem ser relacionados.

    Além destas considerações, no estudo de Faquin (2005) também ficou evidente a importância da dependência visual nas crianças estudadas, principalmente na posição unipodal. Para Ferber-Viart et al. (2007) a dependência visual é significativamente maior nas crianças com idade entre seis a quatorze anos quando comparadas a adultos jovens com vinte anos de idade. No presente estudo, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas com a utilização ou falta de informações visuais. Os valores de equilíbrio corporal, tanto para a direção médio-lateral quanto para a direção ântero-posterior não aumentaram com a retirada da visão. Isto remete também a influência dos outros sistemas responsáveis pelo equilíbrio corporal, uma vez que, quando não há possibilidade de utilização da visão, os sistemas somatossensorial e vestibular são mais exigidos (TEIXEIRA, 2008). Para Figueiredo e Iwabe (2007) a visão torna-se fator importante no controle de equilíbrio de crianças pequenas, porém, na ausência da referência visual, os demais sistemas responsáveis pelo equilíbrio (somatossensorial e vestibular) vão refinando sua capacidade de resposta de modo a auxiliar no controle do equilíbrio.

    Para Gallahue e Ozmun (2005) a maturação dos sistemas controladores da postura atinge o estágio final por volta de oito a 12 anos de idade. Mesmo com estas informações parece que as crianças estudadas não mostram problemas com a manipulação dos sistemas sensoriais. Mesmo assim, estudos futuros que busquem investigar intervenções de outras modalidades, comparações com grupo controle de mesma idade e também com indivíduos de diferentes faixas etárias devem ainda ser desenvolvidos para um melhor entendimento destes resultados.

    De maneira geral, a atividade física e a prática esportiva devem fazer parte do estilo de vida de crianças e adolescentes e apresentam-se como positivas através de exercícios, jogos desportivos recreativos e esportes organizados. Seus benefícios físicos, psíquicos e sociais são atingidos com a escolha adequada da atividade motora em relação à faixa etária e as fases de desenvolvimento da criança e do jovem (MALINA e BOUCHARD, 2002).

Conclusão

    Diante dos resultados encontrados no presente estudo pode-se concluir que o treinamento de futebol proposto (de quatro meses com 12 sessões) não foi suficiente para modificar significativamente os valores de equilíbrio corporal. Porém, outros estudos devem ser ainda realizados, tentando identificar o real benefício da modalidade para a estabilidade do corpo e entendendo como são modificadas as atribuições de cada sistema sensorial nesta fase de desenvolvimento (dos seis aos nove anos).

Referências bibliográficas

  • ALEGRETTI, K. M. G.; KANASHIRO, M. S.; MONTEIRO, V. C.; BORGES, H.C.; FONTES, S. V. Os efeitos do treino de equilíbrio em crianças com paralisia cerebral diparética espástica. Revista de Neurociencias, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 108-113, 2007.

  • BARBANTI, V. J. Teoria e Prática do Treinamento Esportivo. São Paulo: Edgard Blucher, 1979.

  • BARELA, A.M.F.; DUARTE, M. Aspectos biomecânicos do andar de adultos e idosos nos ambientes terrestre e aquático. In Congresso Brasileiro de Biomecânica, 2005,João Pessoa. Anais 11. João Pessoa. Sociedade Brasileira de Biomecânica,2005.

  • BAR-OR, O. Pediatric sports medicine for the practioners: from physiological principles to clinical applications. New York: Springer Verlang, 1983.

  • BIELINSKY, R. P. Escolinha de futebol. Rio de Janeiro: Palestra, 133p, 1997.

  • BROWN, M.; SINACORE, D. R.; EHSANI, A. A.; BINDER, E. F.; HOLLOSZY, J. O.; KOHRT, W. M. Low-intensity exercise as a modifier of physical frailty in older adults. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, Chicago, v. 81, n. 7, p. 960-965, 2000.

  • BUCCI, G., MAZZOLI, D., MERLO, A. Effect of physical activity on balance. Gait & Posture, Amsterdam, v. 24, p. S7- S8, 2006.

  • CAMPOS, C. Efeitos de um programa de treinamento com trampolim acrobático sobre o equilíbrio de crianças surdas. Revista Sobama, São Paulo, v. 8, n. 1, p, 21-26, 2003.

  • CAOVILLA, H. H.; GANANÇA, M. M. Rotação cefálica ativa em altas freqüências: método simples e fisiológico para avaliação rápida e precisa da função vestibular. Revista Brasileira de Medicina Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 25-32, 1997.

  • D’OTTAVIANO, E. J. Sistema nervoso e a 3ª idade. Revista das Faculdades de Educação Ciências e Letras e Psicologia Padre Anchieta, Jundiaí, n. 5, p. 29-46, 2001.

  • DAOLIO, J.; MARQUES, R. F. R. Relato de uma experiência com o ensino de futsal para crianças de nove a doze anos. Motriz, Rio Claro, v. 9, n.3, p.169-174, 2003.

  • FAQUIN, A.; MELO, S. I. L.; Características e inter-relação da sensibilidade plantar e do equilíbrio de atletas e não-atletas. 2005. 144f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.

  • FERBER-VIART, C.; IONESCU, VE.; MORLET T.; DUBREUIL, C. Balance in healthy individuals assessed with Equitest: Maturation and normative data for children and young adults. International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology, New York, v. 71, p. 1041 – 1046, 2007.

  • FIGUEIREDO, M. O.; IWABE, C. Análise do equilíbrio com visão normal e com deficiência visual congênita. Revista de Neurociências, São Paulo, v. 15, p. 284-291, 2007.

  • FILGUEIRA, F. M. Aspectos físicos, técnicos e táticos da iniciação ao futebol. (periódico on line). 2006. Disponível em www.efdeportes.com/efd103/iniciaciao-futebol.htm. Acessado em: 20 mai 2008.

  • FREITAS, S. M. S. F.; DUARTE, M. Métodos de análise do controle postural. 2005. Disponível em http://lob.incubadora.fapesp.br/portal.p. Acessado em: 20 set 2005.

  • GALLAHUE, D L.; OZMUN, J C. Compreendendo o desenvolvimento motor:bebes, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005.

  • GRAAF-PETERS, V. B.; BLAUW-HOSPERS, C.H.; DIRKS, T.; BAKKER, H.; BOS, A.F.; HADDERS-ALGRA, M. Development of postural control in typically developing children and children with cerebral palsy: Possibilities for intervention? Neuroscience Bioheavioral Reviews, San Antonio. n. 31, p. 1191-1200, 2007

  • HADDERS-ALGRA, M.; BROGREN, E.; FORRSBERG, H. Ontogeny of postural adjustments during sitting in infancy: variation, selection and modulation. Journal of Physiology, Oxford, n. 493, p. 273–88, 1996.

  • HEDBERG, A.; CARLBERG, E. B.; FORSSBERG, H.; HADDERS-ALGRA M. Development of postural adjustments in sitting position during the first half year of life. Developmental Medicine & Child Neurology, Sheffield, n. 47, p. 312-320, 2005.

  • HOBEIKA, C. P. Equilibrium and balance in the elderly. Ear, Nose, Throat Journal, Cleveland, cap .78, p.558-66, 1999.

  • HYTONEN, M.; PYYKKÖ, I.; AALTO, H.; STARCK, J. Postural Control and Age.

  • Acta Oto-Laryngologica, Canadá, v. 113, n. 2, p. 119-122, 1993.

  • LEAL, J. C. Futebol: arte e ofício: histórico, sistemas, táticas, técnicas, planejamento. Rio de Janeiro:Sprint, 2000. 255p.

  • LOPES, M.G.O.; PEREIRA, J.S. A influência da natação sobre o equilíbrio em crianças. Fitness & Performance, Rio de Janeiro. v. 3, n. 1, p. 1-15, 2004.

  • MALINA, R. M.; BOUCHARD, C. Atividade Física do atleta jovem: do crescimento à maturação. São Paulo: Editora ROCA, 2002.

  • MELO, R. S. Jogos recreativos para futebol. Rio de Janeiro: Sprint. 1999. 361p.

  • OLIVEIRA, T. P.; SANTOS, A. M. C.; ANDRADE, M. C.; ÁVILA, A. O. V. Avaliação do controle postural de crianças praticantes e não praticantes de atividade física regular. Brasilian journal of biomechanics, São Paulo, v.9, n.16, p. 41-46, 2008.

  • PANT, H.; SUKUMAR, K.; SHARMA, H.; KUMAR PANDEY, A.; GOEL, S. N. Correlation between muscles strength in relation to dorsiflexion, planterflexion, eversion e inversion strength with body balance. Journal of Biomechanics, Oxford, v. 39, n.1, p.557-563, 2006.

  • PRANKE, G. I.; Mann L. M.; Lemos, L. F. C.; Pasa, S. S. Corporal balance in elderly people: the relations with the sight. The FIEP Bulletin, Foz do Iguaçu, n. 77, p. 640-643, 2007.

  • ROWLAND, T. W. Developmental exercise physiology. Champaign: Humam Kinetics, 1996.

  • SÀ, V. W.; PEREIRA, J. S. Influência de um programa de treinamento físico específico no equilíbrio e coordenação motora em crianças iniciantes no judô. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília, v. 11, n.1, p. 45-52, 2003.

  • SANTOS FILHO, J. L. A dos. Manual de futebol. Rio de Janeiro: Phorte editora. 2002. 109 p.

  • SEVERGNINI, R.; BUSTO, R. M. A Influência da ginástica olímpica sobre o equilíbrio dinâmico em alunos deficientes mentais. Londrina: UEL, 2002. 921-925p.

  • SUZUKI, S.; GUGELMIM, M. R. G.; SOARES, A. V. O equilíbrio estático em crianças em idade escolar com transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade. Fisioterapia em movimento, Curitiba, v.18, n.3, p.49-54, 2005.

  • TAGUCHI, C. K. Reabilitação vestibular. In: FERREIRA, L. P.; BEFI-LOPES, D. M.;LIMONGI, S. C. O. Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, p. 713-724, 2005.

  • TEIXEIRA, C. S.; ROSSI, A. G.; LOPES, L. F. D.; MOTA C. B. The use of sight for the static balance maintenance in young people. The FIEP Bulletin, v. 77, p. 636-639, 2007a.

  • TEIXEIRA, C. S. Hidroginástica: benefício para idosos. Ciência Hoje, Rio de janeiro, v. 42, p. 58, 2008.

  • TEIXEIRA, C. S.; ROSSI A. G.; LOPES, L. F. D.; MOTA, C. B. Influência da informação visual na amplitude e no deslocamento do centro de força durante o equilíbrio estático. Lecturas Educación Física y Deportes, Buenos Aires. v. 12, p. 112, 2007b.

  • TEIXEIRA, C. S.; LEMOS, L. F. C.; LOPES, L. F.; ROSSI, A. G.; MOTA, C. B. Equilíbrio corporal e exercícios físicos: uma investigação com mulheres idosas praticantes de diferentes modalidades. Acta Fisiatrica, São Paulo. v. 15, n. 3, p. 154 – 157, 2008.

  • VAN DER FITS, I. B. M.; OTTEN, E.; KLIP, A.W. J.; VAN EYKERN, L.A.; HADDERS-ALGRA, M. The development of postural adjustments during reaching in 6- to-18 month old infants evidence for two transitions. Experimental Brain Research. Groningen, v. 126, n. 4, p. 517-528, 1999.

  • VENLIOLES, F. M. Escola de futebol. Rio de Janeiro: Sprint, 2001. 190p.

  • VUILLERME, N.; NOUGUIER, V. Attentional demand for regulating postural sway: the effect of expertise in gymnastics. Brain Research Bulletin, Cardiff. v. 63, p.161-165, 2004.

  • WOOLLACOTT, M.H. Age-related changes in posture in movement. Journals of Gerontololy, Washington, v. 48, p. 56-60, 1993.

  • YI, L. C.; JARDIM, J. R.; INOUE, D. P.; PIGNATARI, S. S. N. The relationship between excursion of the diaphragm and curvatures of the spinal column in mouth breathing children. Jornal de pediatria, Porto Alegre, v. 84, n. 2, p. 171-177, 2008.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 13 · N° 127 | Buenos Aires, Diciembre de 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados