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Academias de ginástica: objetivos, nutrição e culto ao corpo

 

*Alunas do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo.
** Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar pelo

Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina – USP

Mestre em Nutrição Humana Aplicada (USP)

Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública (USP)

Docente do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Paulista.

Lucia Fellegger Fernandes Alves*

Thaís Abe*

Marcia Nacif**

lucia_fellegger@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A atividade física proporciona aos indivíduos efeitos benéficos como bem-estar físico e emocional. Além da qualidade de vida, a estética é um dos motivos que levam as pessoas a praticarem exercícios. O objetivo deste estudo foi verificar os objetivos da prática de atividade física, a satisfação com a imagem corporal e a importância do nutricionista desportivo por freqüentadores de uma academia do município de São Paulo. Trata-se de um estudo transversal, realizado com 30 indivíduos que freqüentavam uma academia de São Paulo e praticavam musculação e/ou ginástica. Foi aplicado um questionário que continha informações sobre a freqüência e tipo de atividade física, tempo de prática da modalidade, informações sobre alteração de peso corporal, acompanhamento nutricional e satisfação com a imagem corporal. Os principais motivos da prática de exercícios foram a preocupação com a saúde, estética e perda de peso. Dentre os participantes, 66,7% afirmaram ter alterado hábitos alimentares após início da pratica esportiva, sendo que 45% passaram por acompanhamento nutricional. Apesar da preocupação com a saúde e estética, e consciência sobre alimentação saudável, ainda são poucos os esportistas que procuram auxílio de um nutricionista para uma orientação adequada.

          Unitermos: Imagem corporal. Esportes. Educação alimentar. Nutricionista.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 127 - Diciembre de 2008

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Introdução

    Os benefícios da atividade física regular têm sido reconhecidos pela população e desta forma, tem ocorrido maior aceitação e conscientização pública com conseqüente crescimento desta prática. Essas atividades físicas proporcionam efeitos como bem-estar físico e emocional. Com isso, as academias tornaram-se uma opção para a população urbana, e se proliferaram nas principais cidades brasileiras na década de 1960, tendo o auge de surgimento no início dos anos 70 (TAHARA; SCHWARTZ; SILVA, 2003; DURAN et al, 2004; MARTINS; SANTOS, 2004).

    A crescente aderência às atividades oferecidas nas academias tem motivos e fatores variados. Entre os diversificados motivos que levam as pessoas a procurarem uma academia, destaca-se a preocupação com a qualidade de vida e a estética (TAHARA; SCHWARTZ; SILVA, 2003).

    No entanto, a busca exagerada pela estética e por um corpo perfeito faz com que indivíduos controlem neuroticamente seu peso por meio de dietas restritas, exercitem-se de maneira exaustiva e utilizem laxantes, diuréticos e anorexígenos a fim de alcançar seus objetivos (COSTA et al, 2007)

    O ambiente sociocultural parece ser uma das condições determinantes para o desenvolvimento de distorções e distúrbios subjetivos da imagem corporal. A imagem corporal é um importante componente de identidade pessoal. Seu componente subjetivo refere-se à satisfação de uma pessoa com seu tamanho corporal ou partes específicas de seu corpo (DAMASCENO et al, 2005).

    Destaca-se ainda a mídia que exerce grande influência negativa, uma vez que são várias as revistas, jornais e televisão que divulgam corpos perfeitos (TAHARA; SCHWARTZ; SILVA, 2003; KAKESHITA; ALMEIDA, 2006).

    Desta forma este estudo teve como objetivo avaliar a prática de atividade física, a satisfação com a imagem corporal e a importância do nutricionista desportivo por freqüentadores de uma academia do município de São Paulo.

Material e métodos

    Trata-se de um estudo transversal, realizado com 30 indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 19 e 53 anos, que freqüentavam uma academia de São Paulo e praticavam musculação e/ou ginástica.

    Foi elaborado um instrumento de coleta de dados que continha questões sobre a freqüência e tipo de atividade física, tempo de prática da modalidade, informações sobre alteração de peso corporal, acompanhamento nutricional e satisfação com a imagem corporal.

    Depois de realizadas todas as entrevistas, os dados foram tabulados no programa Excel e posteriormente analisados. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo sob número 047/05.

Resultados e discussão

    Todos os entrevistados foram elegíveis para a pesquisa, portanto os dados obtidos referem-se a 30 indivíduos. A média de idade dos participantes do estudo foi de 37 anos, sendo 16,7% (n=5) do sexo masculino e 83,3% (n=25) do sexo feminino.

    A freqüência semanal com que os indivíduos praticavam exercícios físicos foi em média de 5 vezes por semana. O tempo de prática da modalidade exercida variou de 2 meses a 25 anos, com média de 8 anos.

    A tabela 1 mostra os objetivos da prática de atividade física relatado pelos participantes do estudo.

Tabela 1. Objetivos da prática de exercícios físicos. São Paulo, 2008

  

N* (n=30)

%

Saúde

23

76,7

Estética

12

40,0

Perda de Peso

12

40,0

Hipertrofia

6

20,0

Outros

2

6,7

*Resposta Múltipla

    Pôde-se observar que a maioria dos indivíduos relatou praticar exercícios com o objetivo de saúde. Dados semelhantes foram verificados por Castro (2001) que ao estudar diversas academias do município de São Paulo observou que 67% dos participantes preocupavam-se com a saúde, 11% fizeram menção ao lazer e apenas 12,2% dos praticantes de musculação referiram a estética como objetivo da prática esportiva.

    Dos indivíduos avaliados no presente estudo, 86,7% (n=26) afirmaram ter alcançado seus objetivos em relação à estética, o que justifica 73,3% estarem satisfeitos com sua imagem corporal. Dentre os que ainda não conseguiram atingir sua meta, as principais justificativas foram à prática de atividade física recente e a alimentação inadequada.

    Os desportistas foram questionados sobre o que eles consideravam como sendo um corpo perfeito. Na tabela 2 pôde-se observar que a maioria (36,7%) relatou que uma definição de corpo perfeito se refere a uma “boa saúde”, seguida por “pouca gordura corporal” (30%) e “musculatura definida” (30%).

Tabela 2. Definições de corpo perfeito pelos participantes do estudo. São Paulo, 2008.

   

N* (n=30)

%

Boa Saúde

11

36,7

Musculatura definida

9

30,0

Pouca gordura

9

30,0

Sentir-se bem com o corpo

6

20,0

Estética

2

6,7

Não soube definir

1

3,3

* Resposta Múltipla

    Sabe-se que o processo de formação da imagem corporal pode ser influenciado pelo sexo, idade, meios de comunicação e pela relação do corpo com crenças, valores e atitudes inseridos em uma cultura (DAMASCENO et al, 2005). No presente estudo, 26,7% (n=8) dos desportistas afirmaram não estar satisfeitos com sua imagem corporal, sendo os motivos da insatisfação relacionados à perda de peso e gordura localizada.

    Quando os desportistas foram questionados sobre alteração de peso corporal, verificou-se que após o início da atividade física regular, 9,6% (n=2) dos indivíduos relataram ganho de peso de até 5 kg, 38,1% (n=8) perderam até 5 kg, 23,7% (n=5) perderam mais de 5 kg e 28,6% (n=6) não souberam relatar a alteração de peso, pois justificaram praticar exercícios há muitos anos.

    Mais da metade dos indivíduos entrevistados, 66,7% (n=20), alteraram seus hábitos alimentares após a prática de exercícios físicos. A tabela 3 mostra que apenas 45,0% (n=9) dos desportistas procuraram um nutricionista para receber esse tipo de orientação.

Tabela 3. Indicações para alteração de hábitos alimentares. São Paulo, 2008.

 

N* (n=20)

%

Nutricionista

9

45,0

Sem orientação

5

25,0

Médico

4

20,0

Instrutor

2

10,0

Amigo

1

5,0

* Resposta Múltipla

    Apesar do interesse pela nutrição esportiva, ainda hoje treinadores, desportistas e atletas, não buscam a orientação do nutricionista (COSTA et al, 2007). Estudo realizado por Silva, Giavoni, Melo (2005) em academias de ginástica de Brasília/DF, ao avaliar a importância do nutricionista na área esportiva pelos administradores das academias, observaram que 23,1% reconheciam a orientação alimentar como um serviço para melhorar a qualidade de vida dos alunos, 38,5% acreditavam que a nutrição deveria ser complementar à atividade física, 23,1% relataram que com a alimentação adequada os alunos atingiriam resultados mais eficazes, 7,7% enfatizaram a importância do trabalho entre os profissionais e 7,7% referiram a melhora do rendimento e a importância da educação nutricional.

    No presente estudo a maioria dos participantes nunca foi a uma consulta nutricional, sendo apenas orientados pelo médico, amigo, instrutor ou por eles mesmos. Dos indivíduos que foram a um nutricionista, 33,3% (n= 3) relataram como principal benefício à perda de peso corporal, sendo que apenas 11,1% (n=1) citou a reeducação alimentar.

    A tabela 4 mostra os principais benefícios citados pelos indivíduos que passaram pela consulta nutricional.

Tabela 4. Benefícios obtidos após consulta nutricional. São Paulo, 2008.

  

N (n=9)

%

Perda de Peso

3

33,3

Saúde

2

22,2

Incentivo à prática de atividade física

1

11,1

Condicionamento Físico

1

11,1

Reeducação Alimentar

1

11,1

Não obteve

1

11,1

Conclusão

    A maioria dos praticantes está satisfeito com sua imagem corporal. Há preocupação com a estética, porém a saúde foi o principal motivo para a prática de exercícios físicos. Apesar desta preocupação e consciência sobre a importância de uma alimentação saudável, ainda são poucos os esportistas que procuram auxílio de um nutricionista para uma orientação adequada.

    Desta forma, verifica-se a necessidade da divulgação do trabalho do nutricionista, para que a prática de exercícios seja associada a uma alimentação balanceada e os indivíduos melhorem seu rendimento e alcancem seus objetivos.

Referências

  • BACURAU, R. F. Nutrição e Suplementação esportiva. 3.ed.São Paulo: Phorte, 2005.

  • CASTRO, A. L. de. Culto ao corpo e sociedade: mídia, cultura de consumo e estilos de vida. 183p. Tese (doutorado) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001.

  • COSTA, S. P. V.; GUIDOTO, E. C.; CAMARGO, T. P. P.; UZUNIAN, L. G.; FURLAN, R. V. Distúrbios da imagem corporal e transtornos alimentares em atletas e praticantes de atividade física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, v.12, n. 114, novembro 2007.

  • DAMASCENO, V. O.; LIMA, J. R. P.; VIANNA, J. M.; VIANNA, V. R. Á.; NOVAES, J. S. Tipo físico ideal e satisfação com a imagem corporal de praticantes de caminhada. Revista Brasileira de Medicina e Esporte. v. 11, n.3, mai/jun 2005.

  • DURAN, A. C. F. L.; LATORRE, M. R. D. O., FLORINDO, A. A., JAIME, P. C. Correlação entre consumo alimentar e nível de atividade física habitual de praticantes de exercícios físicos em academia. Revista Brasileira de Cinética e Movimento. Brasília, v.12, n.3, setembro 2004.

  • FIGUEIREDO, F.; MONT ALVÃO, C.. A Ginástica Laboral e Ergonomia. Editora Sprint, 2005.

  • KAKESHITA, I. S.; ALMEIDA, S. S. Relação entre índice de massa corporal e a percepção da auto-imagem em universitários. Revista de Saúde Pública. v. 40, n. 3, 2006.

  • MARTINS, F. R.; SANTOS, J. A. R. Atividade física de lazer, alimentação e composição corporal. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. São Paulo, v.18, n. 2, abr/jun 2004.

  • SILVA, A. M. GIAVONI, A. MELO, G.F.. Analise da importância Atribuída aos Nutricionistas Desportivos pelos Administradores de Academias de Ginástica do Distrito Federal. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires,v.10,n.90, novembro 2005.

  • TAHARA, A. K.; SCHWARTZ, G. M.; SILVA, K. A. Aderência e manutenção da prática de exercícios em academia. Revista Brasileira de Cinética e Movimento. Brasília, v. 11, n. 4, out./dez. 2003.

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