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Estratégia da saúde da família: um enfoque 

sobre os programas de prevenção, capacidade 

funcional e qualidade de vida dos usuários

 

*Profª do curso de Educação Física da UNICRZ

**Acadêmica do Curso de Educação física da UNICRUZ

***Profª do curso de Enfermagem da UNICRUZ

****Acadêmico do Curso de Enfermagem da UNICRUZ

*****Profª do curso de Nutrição da UNICRUZ

******Acadêmica do Curso de Nutrição da UNICRUZ

Integrantes do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Atividade Física

e Saúde da UNICRUZ– GIPAFS. Financiamento PIBIC/UNICRUZ

(Brasil)

Marilia de Roso Krug*

mkrug@unicruz.edu.br

Fabiane Wagner**

f.wagner@bol.com.br

Ethel Bastos da Silva***

ethel@comnet.com.br

Mateus Caino Giordaqni****

mateus_ck@yahoo.com.br

Neida Maria da Luz de Jesus*****

neidaj@superig.com.br

Célia Elenara Missio******

elemissio@ibest.com.br

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo analisar os programas de prevenção propostos pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) com Estratégias de Saúde da Família (ESF) da cidade de Cruz Alta/RS e o impacto destas na capacidade funcional e qualidade de vida dos usuários. Participaram do mesmo, a enfermeira responsável por cada uma das ESF de Cruz Alta – RS, sendo seis ao total e 10% das famílias usuárias de cada uma das ESF, ou seja 447 usuários. Para identificar as estratégias de prevenção que são propostas aos usuários utilizou-se uma entrevista que foi realizada com a enfermeira chefe de cada ESF. A capacidade funcional foi determinada através do desempenho referido na realização das atividades instrumentais da vida diária (AIVD) e dos níveis de atividade física (IPQ). Para verificar a qualidade de vida foi utilizado o questionário WHOQOL-Bref. Os dados foram tratados através da estatística descritiva, a correlação linear de Pearson e o teste “t” de Studente (p ≤ 0,05). Foram entrevistados 447 usuários, destes a maioria eram adultos, casados e com baixo nível de instrução (ensino fundamental incompleto), sendo a maioria da classe social média e média baixa, recebendo apenas um salário mínimo. As estratégias de prevenção que são realizadas em todas as ESF são de educação nutricional, educação em saúde e imunização. A maioria não apresentou nenhum tipo de dependência, entretanto foram considerados sedentários sendo os usuários sedentários mais dependentes em relação aos ativos. A qualidade de vida foi significativamente melhor para os usuários ativos em relação aos sedentários e para os autônomos em relação aos dependentes. Desta forma foi possível concluir que o nível de atividade física influi significativamente na independência funcional e na qualidade de vida dos usuários das ESF de Cruz Alta RS, devendo esta ser implementada como estratégia de prevenção.

          Palabras clave: Saúde da família. Programas de prevenção. Qualidade de vida.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 126 - Noviembre de 2008

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Caracterização e relevãncia do tema

    Nos últimos anos o perfil dos agravos à saúde em nosso estado tornou-se semelhante ao dos países desenvolvidos, assumindo destaque a incidência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), principalmente as cardiovasculares que estão entre as principais causas de mortes e de limitações da capacidade física dos adultos e idosos.

    As DCNT não têm cura, porém, atualmente sabe-se que muitas delas podem ser controladas de forma a evitar complicações. Para manter esse controle, segundo Krusche (2004), a pessoa precisa mudar seus hábitos alimentares, manter o peso ideal, praticar exercícios físicos e consultar o médico regularmente. Fatores como obesidade, tabagismo, vida sedentária, má alimentação, estresse e álcool favorecem o aparecimento destas doenças.

    Dentre as ações relacionadas com a promoção da saúde destaca-se a prática regular de exercícios físicos. De acordo com Krusche (2004) a atividade física é um dos principais fatores de prevenção, pois, fortalece o músculo do coração, auxilia a circulação do sangue nas artérias e a capacidade respiratória dos pulmões além de consumir as calorias ingeridas em excesso.

    Além da atividade física é fundamental, para evitar as DCD, ações voltadas para a educação nutricional. Reis (2001) salienta que o conhecimento da inter-relação da obesidade, hipertensão arterial e infarto com o comer e beber excessivamente existe há inúmeros anos.

    Assim uma mudança nos hábitos alimentares, na atividade física e no controle do fumo e do álcool resultaria num impacto substancial para a redução das taxas dessas doenças muitas vezes num período de tempo relativamente curto.

    Desta forma, em consonância com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde (MS) desenvolve um programa de a Atenção Básica (AB) que é definida, por este mesmo órgão, como já foi salientado anteriormente, como sendo “um conjunto de ações, de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção nos sistemas de saúde, voltadas para a promoção de saúde, prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação” (BRASIL, 2001).

    Segundo Mendonça e Heimann (2006) o Programa de Saúde da Família (PSF), hoje conhecido como ESF (Estratégia de Saúde da Família) do MS é um caso exemplar na estruturação da atenção básica, por duas razões: primeiro por destacar-se na agenda nacional de saúde como instrumento de reforma da política de saúde brasileira que envolve mudanças no modelo de atenção, na organização do sistema de saúde e nas modalidades de alocação de recursos e de remuneração das ações básicas de saúde e segundo por acompanhar o recente foco das políticas sociais na família, que passa a ser sujeito de atenção, sobre o qual deve se ter pleno conhecimento de seus problemas. De que família se está falando? Quais suas necessidades de saúde? Em que contexto sócio-político-econômico se inserem?

    De acordo com Mendonça e Heimann (2006) na trajetória da Saúde da Família desde 1994 até hoje observa-se forte associação à política de municipalização induzida pelo MS em consonância com a diretriz do SUS e o rumo que a expansão da atenção básica em saúde segue, atualmente, acompanha as alterações efetivamente ocorridas na forma de prestar assistência.

    Estudos conduzidos pelo MS sugerem a existência de uma grande variedade de situações de implantação e de modelos de ESF nos municípios do país. Entretanto, Mendonça e Heimann (2006) sugerem que, ainda existe uma lacuna no que concerne à avaliação de sua efetividade como política de conversão do modelo de atenção, redução de desigualdades e melhoria da situação de saúde da população, que devem ser objeto de esforços para avaliar e monitorar o processo.

    Partindo deste contexto justificou-se este estudo que teve como objetivo “analisar os programas de prevenção propostos pelas ESF da cidade de Cruz Alta/RS e o impacto destas na capacidade funcional e qualidade de vida dos usuários.

Metodologia

    Participaram deste estudo, de caráter descritivo diagnóstico, as enfermeiras responsáveis por cada uma das UBS com ESF de Cruz Alta – RS, sendo seis ao total e 10% das famílias usuárias de cada uma das referidas UBS (Quadro 1).

Quadro 1. UBS com ESF da cidade de Cruz Alta/RS

ESF

Famílias cadastradas

Amostra

1. Turíbio Veríssimo

710

1 enfermeira e 70 usuários

2. Abegai

800

1 enfermeira e 79 usuários

3. DNER

820

1 enfermeira e 81 usuários

4. Alvorada

610

1 enfermeira e 60 usuários

5. Santo Antônio

840

1 enfermeira e 83 usuários

6. Santa Terezinha

750

1 enfermeira e 74 usuários

    Quanto à escolha dos usuários, houve a preocupação de se obter uma representatividade proporcional a população considerada, tendo como referência para essa proporcionalidade o número de famílias cadastradas em cada uma das ESF. Assim, a primeira etapa foi determinar o número de famílias, depois a representatividade do número de usuários que tinham utilizado a ESF nos últimos seis meses.

    Na seleção dos usuários, tendo em vista que a aleatoriedade simples poderia acarretar uma série de dificuldades operacionais, selecionaram-se os primeiros usuários encontrados em suas residências.

    Somente excluíram-se do estudo os usuários que: 

  1. se recusaram em participar; 

  2. os que não estavam em sua residência no dia da entrevista e 

  3. os que eram incapazes de fornecer as informações.

    A pesquisa foi conduzida segundo a resolução específica do Conselho Nacional de Saúde (196/96). Todos os indivíduos foram informados detalhadamente sobre os procedimentos utilizados e foram entrevistados somente os que concordaram em participar de maneira voluntária do estudo, não foi utilizado termo de consentimento informado, pois os procedimentos de coleta de dados não apresentavam riscos e desta forma, segundo a mesma resolução citada acima, a informação pode ser verbal.

    Para identificar as estratégias de prevenção que eram propostas aos usuários utilizou-se uma entrevista que foi realizada com a enfermeira responsável por cada ESF.

    A capacidade funcional foi determinada através do desempenho referido na realização das atividades instrumentais da vida diária (AIVD). As AIVDs foram obtidas através da Escala de Lawton (LAWTON; BRODY; 1969) e estão relacionadas com a participação efetiva da pessoa na comunidade, onde a presença de dificuldades implica mais em uma redistribuição de tarefas entre os membros familiares (como alguém para ir fazer compras ou auxiliar nas tarefas domésticas) e menos em cuidado direto.

    Os níveis de atividade física foram obtidos através do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) que foi proposto pelo Grupo Internacional para Consenso em Medidas da Atividade Física, constituído sob a chancela da Organização Mundial da Saúde (CRAIG et al.,, 2003), na versão curta. Essa versão é composta por oito questões abertas e suas informações permitem estimar o tempo despendido por semana em diferentes dimensões de atividade física (caminhadas, esforço físico de intensidades moderada e vigorosa) e de inatividade física. Para tanto, realizou-se o produto entre a duração (minutos/dia) e a freqüência (dias/semana) relatadas pelos usuários nas respostas das questões apresentadas no IPAQ.

    Para verificar a qualidade de vida foi utilizado o questionário WHOQOL-Bref. O mesmo consta de 26 questões, sendo duas questões gerais de e as demais 24 representam cada uma das 24 facetas que compõe o instrumento original (WHOQOL-100) (FLECK et al., 1998).

    Os dados foram tratados através da estatística descritiva (média, desvio padrão e freqüência simples) e a correlação linear de Pearson para determinação da existência de correlação entre a capacidade funcional, níveis de atividade física e a qualidade de vida dos Usuários.

Resultados e discussões

    Foram entrevistados 447 usuários. Destes 67,45% eram adultos (25 á 59 anos), 22,1% idosos (+ de 60 anos) e os demais, 10,55%, adolescentes (12 a 24 anos).

    Dos usuários entrevistados 57,7% eram casados e tinham de 1 a 3 filhos, com nível de instrução bastante baixo, 39,6% tinham somente o ensino fundamental incompleto. A maioria, 41,4% eram pertencentes a classe social média e 43,4% da classe média baixa. 69,8% recebiam apenas um salário mínimo mensal.

    As estratégias de prevenção foram investigadas, através de entrevista realizada com a enfermeira responsável por cada uma das seis ESF (ESF 1 – Turíbio Veríssimo, ESF 2 – Abegai, ESF 3 - Alvorada, ESF 4 - DNER, ESF 5 - Santo Antônio e ESF 6 - Santa Terezinha II).

    Educação em Saúde e Imunização eram as estratégias de prevenção realizadas em todas as ESF e em algumas delas já está implantada a Educação Nutricional e os programas de exercícios físicos. O conceito de prevenção aqui aplicado utiliza o modelo multicausal da doença de Leavell e Clarck (1976) na qual há uma classificação de níveis de prevenção, o primário, o secundário e o terciário em que as ações são realizadas no sentido de prevenir a evolução da doença no homem a partir da história natural da doença. A educação em saúde está presente em todos os níveis, já a imunização, a educação nutricional e o exercício físico estão no nível primário.

    O Programa Nacional de Imunização (PNI), ocorre mensalmente em todas as ESF, sendo realizado pelo grupo epidemiológico, tendo um número elevado de participantes.

    A Educação em Saúde, que ocorre em todas as ESF, é realizada na Alvorada com grupos de hipertensos, diabéticos, planejamento familiar e grupo de mães, nas demais é somente para o grupo de diabéticos, hipertensos e gestantes. Esta estratégia é conduzida, em todas as ESF, por profissionais da área (médico, enfermeira e dentista) e consta de palestras informativas, sobre temas que envolvem a saúde e que são de interesse da comunidade e visitas domiciliar. Nas ESF Alvorada, Santa Terezinha e Santo Antônio tem aproximadamente 40 participantes, Abegai 70, DNER 104 e Turíbio 300 participantes.

    Para Pereira (2005) a educação em saúde é uma estratégia a ser utilizada pelos profissionais das ESF, cujo foco das ações são a promoção, a proteção, a restauração, a redução de riscos e a prevenção das doenças e, principalmente incentivar os sujeitos a adoção de hábitos saudáveis através de uma metodologia participativa e democrática que se encaminhe para o debate, para a discussão e para a tomada de decisão consciente na busca de melhores condições de saúde.

    A Educação Nutricional, que acontecia somente em três ESF era realizada por nutricionistas e os encontros aconteciam semanalmente, com grupos de hipertensos diabéticos e gestantes. Nas ESF Abegai e Turíbio participavam desta estratégia aproximadamente 60 pessoas, nas ESF DNER somente 30 pessoas e nas demais esta estratégia está em fase de implantação.

    A atuação do nutricionista na atenção básica em saúde deve orientar-se pelos princípios da ESF e, neste sentido, o atendimento individual em nutrição tem se organizado a partir dos marcadores preconizados pelo Ministério da Saúde. Tal orientação tem permitido ao nutricionista a aproximação de suas ações profissionais específicas à realidade do processo de trabalho dos demais profissionais que atuam nas Unidades de Saúde. Segundo Althoff; Elsen, e Nitschke (2004) isto possibilita maior visibilidade das informações sobre alimentação e nutrição na atenção à saúde, oriundas do atendimento individual em nutrição.

    A Atividade Física era realizada, somente em duas ESF (Abegai e Turíbio), entretanto a mesma não é realizada dentro dos princípios necessários para promover benefícios a saúde, pois a mesma ocorre uma vez por mês e consta de caminhadas sem controle nenhum de freqüência, intensidade e duração sendo que somente em uma delas (Turíbio) esta atividade é orientada por profissional da área.

    A prática regular de exercícios físicos devem estar dentre as ações relacionadas com a promoção da saúde. De acordo com Krusche (2004) a atividade física é um dos principais fatores de prevenção, pois, fortalece o músculo do coração, auxilia a circulação do sangue nas artérias e a capacidade respiratória dos pulmões além de consumir as calorias ingeridas em excesso.

    Segundo Santos et al. (2008) a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) direciona os programas a serem implantados nos governos e entre eles estão alimentação saudável, prática corporal/atividade física, prevenção e controle do Tabagismo, redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito, prevenção da violência e estímulo à cultura de paz e promoção do desenvolvimento sustentável. Observa-se neste estudo que as UBS com ESF desenvolvem ações relacionadas em apenas três dos programas citados, e ainda assim são algumas das inúmeras possibilidades que estão incluídos nos programas da PNPS.

    Entre as ações que constituem práticas de promoção da saúde Santos et al (2008) ressaltam que os médicos e Agentes comunitários de saúde (ACS) identificam as ações de promoção como sendo: a visita domiciliar, o grupo educativo, a intersetorialidade e mobilização da comunidade. O exercício físico, o acolhimento, o diagnóstico de saúde e atividades manuais são citadas como ações apenas por uma parcela de ACS. Os enfermeiros consideram ações de promoção o grupo educativo, a visita domiciliar e consulta, corroborando os achados deste estudo no que se refere as ações com grupos de hipertensos e diabéticos, planejamento familiar e grupo de mães citadas pelos enfermeiros.

    Ressalta-se que conceitualmente ações de promoção diferem de ações de prevenção, enquanto a promoção preocupa-se com aspectos de vida geral das comunidades a prevenção preocupa-se com ações voltadas a interrupção do processo saúde-doença. Assim para Santos et al (2008, p. 51-52):

    as ações de prevenção geralmente tem como meta a ausência da doença, de modo que suas estratégias voltam-se para o controle dos riscos específicos [...] Promover constitui um processo contínuo e dinâmico que parte do pressuposto de que sempre haverá possibilidade de melhorar as condições de saúde

    Para identificar a importância da pratica regular de exercícios físicos para a capacidade funcional e qualidade de vida, os usuários das ESF foram classificados em ativos e sedentários e dependentes e independentes através da dicotomização das referidas variáveis.

    Os níveis de atividade física foram dicotomizados em sedentários e ativos, ou seja, foram considerados sedentários os usuários sedentários e insuficientemente ativos e ativos os ativos e muito ativos da classificação do IPAQ. As AIVDs foram dicotomizadas em autônomos e dependentes, sendo considerados autônomos os usurários que não apresentaram nenhuma dependência nas atividades propostas pela Escala de Lawton e os demais foram considerados dependentes.

    Dos 447 usuários das ESF, analisados, a maioria não apresentou nenhum tipo de dependência entretanto foram considerados sedentários (Tab. 1).

Tabela 1. Níveis de atividade física Capacidade funcional

Variáveis

Indicador

N (447)

F%

Níveis de atividade física

Sedentários

295

66,0

Ativos

152

34,0

AIVD

Dependentes

52

11.6

Autônomos

373

83,5

 

Não responderam

22

4,9

    Apesar de o sedentarismo ser reconhecido com um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças e das evidências científicas e informações disponíveis em relação aos benefícios da prática regular de atividade física para a saúde e qualidade de vida a maioria da população adulta, ainda, continua sedentária.

    Desta forma deve-se incentivar a inserção do profissional de Educação Física, junto à equipe da saúde das ESF para que se possa estimular mudança e manutenção de determinado comportamento, segundo Bray (Apud WAITZBERG, 2004) esta mudança e manutenção de comportamento não depende exclusivamente do nível de conhecimento, mas da associação de fatores pessoais e ambientais.

    A atividade física além de facilitar a realização das atividades da vida diária (capacidade funcional), também, segundo Neri (2000) influencia no tratamento e prevenção de doenças, proporcionando assim uma melhoria do bem estar geral de todos.

    Esta relação pode ser vista, também, nos resultados deste estudo, que mostrou que os usuários sedentários são mais dependentes em relação aos ativos (Tab. 2).

Tabela 2. Níveis de atividade física e autonomia

Autonomia

Sedentários

Ativos

TOTAL

Dependentes

Autônomos

46

226

15

125

61

351

TOTAL

272

140

412

    Papaléo Netto (2002), explica que o indivíduo desenvolve suas capacidades até os 20 ou 31 anos, e após esta idade, o seu desempenho funcional vai declinando até atingir patamares indesejáveis, comprometendo a capacidade de realização de tarefas cotidianas. Vários são os fatores que podem contribuir para este processo natural do individuo, e certamente grande parte desse declínio, ocorre devido a um aumento da inatividade física em vez das próprias mudanças ocasionadas pelo envelhecimento.

    È evidente que a prática da atividade física regular e bem orientada não deve ser estimulada apenas quando o individuo percebe os primeiros indícios de sedentarismo, mas a idéia deve ser sempre reforçada na expectativa de que cada vez sejam menores os problemas de afastamento e reclusão social que as pessoas sofrem com o aumentar da idade.

    Em um estudo recente realizado pelo Instituto Karolinska que acompanhou hábitos de vida de mais de mil e quatrocentas pessoas por quase trinta e cinco anos, foi comprovado que um estilo de vida ativo com exercícios físicos regulares ao longo da vida pode ser fator decisivo no bem estar e na autonomia (MOLINA, 2008).

    Segundo Rosenthal (apud MOLINA 2008), se um indivíduo adota um estilo de vida ativo na juventude e na meia idade, isso pode elevar a sua probabilidade de usufruir anos física e cognitivamente vigorosos em um período posterior da vida.  

    A variável qualidade de vida (QV), dos usuários das ESF foi analisada através do questionário WHOQOL-Bref que avalia a mesma em quatro domínios (ambiental, físico, afetivo e social) e atribuí valores de zero (0%) péssima QV a 100% excelente QV.

    Observando os resultados expostos na Tabela 3 pode-se perceber diferenças estatisticamente significativas (p ≤ 0,05) em todos os domínios da qualidade de vida, com exceção do domínio social, sendo esta diferença superior para os usurários ativos, ou seja, os usuários das ESF considerados ativos apresentaram uma melhor qualidade de vida em relação aos sedentários.

Tabela 3. Qualidade de vida dos usuários ativos e sedentários das ESF

Domínios da qualidade de vida

Sedentários

Ativos

X ± s

X ± s

Ambiental

Físico

Psicológico

Social

Qualidade de vida Geral

63,18 ± 12,45

68,26 ± 16,28

69,02 ± 14,70

72,39 ± 15,85

67,24 ± 12,32

66,00 ± 11,60*

74,18 ± 14,43*

71,87 ± 13,84*

74,10 ± 16,20

70,63 ± 11,61*

* p ≤ 0,05

    Os resultados deste estudo vem comprovar o valor da atividade física para obtenção de uma melhora na qualidade de vida. Esta contribuição ocorre, pois a mesma minimiza a degeneração que é provocada pelo envelhecimento e estimula as funções essenciais do organismo. Segundo Nahas (2003), Matsudo et al. (2000) e Pickles et al. (2002) sua prática regular retém níveis mais altos de capacidade funcional, fundamentalmente, na função cardiovascular.

    Ocorreu, também, diferenças estatisticamente significativas em todos os domínios da qualidade de vida, entre os usuários autônomos e dependentes sendo a percepção de QV melhor para os usuários autônomos em relação aos dependentes (Tabela 4).

Tabela 4. Qualidade de vida dos usuários das ESF dependentes e autônomos

Domínios da qualidade de vida

Dependentes (61)

Autônomos (351)

X ± s

X ± s

Ambiental

Físico

Psicológico

Social

Qualidade de vida Geral

58,35 ±14,08

59,83 ± 19,51

62,70 ± 18,13

67,75 ± 17,77

60,98 ± 14,89

65,15 ± 11,60*

72,08 ± 14,48*

71,26 ± 13,35*

73,88 ± 15,48*

69,68 ± 11,17*

* = Existem diferenças estatisticamente significativas ao nível de p ≤ 0,05

    Segundo Leibing (1997) a manutenção da qualidade de vida está intimamente ligada à autonomia. Uma questão muito presente nos estudos, mas pouco abordada pelos demógrafos, até porque foge um pouco da sua área de atuação, é a qualidade de vida ou sobrevida de cada individuo, em termos de saúde. Existem doenças crônicas que, antes de representar um risco de vida, constituem uma ameaça à autonomia e independência do indivíduo. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1984 estimam que numa corte na qual 75% dos indivíduos sobrevivem aos 70 anos, cerca de 1/3 deles serão portadores de doenças crônicas e pelo menos 20% terão algum grau de incapacidade associada (RAMOS; SAAD, 1990). Essa constatação leva à preocupação imediata com o aumento da demanda por serviços de saúde e os custos que isto acarreta. Espera-se que o aumento na duração da vida seja acompanhado por uma compressão da morbidade em todas as faixas etárias.

    Segundo o Ministério da Saúde (2002), a expansão e a qualificação da atenção básica, organizadas pela estratégia Saúde da Família, compõem parte do conjunto de prioridades políticas apresentadas pelo Ministério da Saúde e aprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde. Esta concepção supera a antiga proposição de caráter exclusivamente centrado na doença, desenvolvendo-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipes, dirigidas às populações de territórios delimitados, pelos quais assumem responsabilidade.

    Segundo Sousa (2000), as famílias passam a ser o objeto fundamental da atenção à saúde, entendida como a unidade básica de organização social e contextualizada a partir do meio em que ela vive, que mais do que delimitação geográfica é o espaço onde se constroem as relações sociais e se desenvolvem as lutas pelas melhorias das condições de vida.

Conclusão

    Após a analise dos dados foi possível concluir que as estratégias de saúde proposta aos usuários das ESF, ainda são bastante restritas. São realizadas atividades de Educação Nutricional, por nutricionistas entretanto a mesma não acontece em todas as ESF.

    A Educação em Saúde, outra estratégia de saúde, proposta aos usuários, é realizada através de palestras educativas e visita as famílias a equipe responsável é formada por médicos, enfermeiras e agentes comunitários, entretanto restringe-se somente aos grupos organizados como: grupo dos hipertensos, diabéticos, planejamento familiar e grupo de mães.

    A educação em saúde deveria estar atingindo todas as famílias da abrangência das ESF, pois a mesma se constitui um conjunto de saberes e práticas orientadas para a prevenção de doenças e promoção da saúde.

    A imunização ocorre através do programa nacional de vacinação, mensalmente em todas as ESF, sendo realizado pelo grupo epidemiológico, tendo um número elevado de participantes.

    A Atividade Física é realizada, somente em duas ESF Entretanto a mesma não é realizada dentro dos princípios necessários para promover benefícios a saúde.

    A estratégia da Saúde da Família, surge como uma forma de reorganização do modelo de atenção à saúde, ou seja, como substituição do modelo vigente, sintonizada com os princípios do SUS, com novas práticas de atenção à saúde e afirmando a indissociabilidade entre o atendimento clínico e a promoção da saúde.

    Estas novas práticas devem atender aos princípios de estabelecimento de vínculo, compromisso e uma abordagem humanizada à população adstrita. O objetivo geral da estratégia da Saúde da Família é reorientar o modelo assistencial de saúde, imprimindo uma nova dinâmica de atuação e de relacionamento entre os serviços de saúde e a população, dentro de um contexto utilizando os diversos profissionais da área da saúde.

    Para dar conta das diversas demandas, será necessária a inclusão de equipes multiprofissionais e a interação com outros setores, como os profissionais de Educação Física. Pois a inatividade física e o baixo nível de condicionamento têm sido considerados fatores de risco para a mortalidade prematura tão importantes quanto fumo, dislipidemia, diabetes e hipertensão arterial dentro das ESF. A adoção de um estilo de vida não sedentário, calçado na pratica regular de atividade física, é sistematicamente aplicada pelas ESF minimiza a possibilidade de desenvolvimento da maior parte das doenças crônicas degenerativas, além de servir como elemento promotor de mudanças com relação a fatores de risco para inúmeras outras doenças.

    Os resultados demonstraram que a população estudada reconhece a importância e os benefícios específicos do exercício, apesar do alto número de entrevistados sedentários, o aconselhamento sobre as vantagens de uma vida ativa é uma prática comum entre médico e enfermeira da unidade indicando profissionais da área da Educação Física; porém observou-se um certo desconhecimento em relação a prática de exercícios.

    Mesmo com o alto índice de sedentarismo, os entrevistados apresentaram pequena dependência, provavelmente em função da idade. Entretanto se permanecerem sedentários a probabilidade e que com o avanço da idade as limitações aumentem.

    Concluí-se, também, que existe uma forte associação entre atividade física, dependência e qualidade de vida.

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revista digital · Año 13 · N° 126 | Buenos Aires, Noviembre de 2008  
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