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Níveis de atividade física e indícios depressivos 

em idosos. Um estudo transversal

 

*Graduado em Educação Física-UNICRUZ
e Colaborador do Grupo de Estudos em Envelhecimento Humano-GIEEH/UNICRUZ

** Doutoranda em Ciências Sociais e Aplicadas-UNISINOS
Professora Titular da Universidade de Cruz Alta-UNICRUZ e

Coordenadora do Grupo de Estudos em Envelhecimento Humano-GIEEH/UNICRUZ.

Giovane Pereira Balbé*

Solange Beatriz Billig Garces**

gbalbe@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Estudos vêm apontando a atividade física como um dos caminhos, para o bem estar e prevenção de doenças, principalmente em se tratando no combate da depressão no idoso. Este estudo buscou, correlacionar os níveis de atividade física com os indícios depressivos em idosos integrantes do COREDE Alto da Serra do Botucaraí – RS. Amostra constitui-se de 131 idosos. Instrumentos utilizados na coleta de dados foram IPAQ versão curta e a Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15). Os dados foram tratados através da correlação de Sperman e teste Kruskal-Wallis na comparação entre os grupos. Concluiu-se que não houve correlação significativa entre níveis de atividade física e indícios depressivos na amostra pesquisada. Cabe salientar que o sexo feminino apresentou nível significativo de indícios depressivos na correlação entre o sexo.

          Unitermos: Idoso. Depressão. Atividade física.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 125 - Octubre de 2008

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Introdução

    O aumento no índice populacional de indivíduos acima de 60 anos se configura de forma assustadora, pois, a cada ano que passa a nação brasileira que antigamente era conhecida como um país de jovens se parece mais e mais com os países europeus tidos como bem mais velhos (FERSTE, 2006). Conforme, dados do Instituto brasileiro de geografia e estatística (2002), o número de idosos no Brasil é de aproximadamente 15 milhões, o que deverá ser elevado para cerca de 30 milhões até 2020, colocando o Brasil entre os dez paises do mundo com maior contingente de idosos.

    Essa maior longevidade contribui para um aparecimento ainda mais significativo de idosos que sofrem de depressão. Uma doença tão conhecida e cada vez mais comum nessa fase da vida. A depressão segundo Nieman (1999), por ser uma doença de fundo psíquico pode estar associada a diversas outras patologias como complicações gastrointestinais, cefaléias, lombalgia, infecção, maior risco de doença cardíaca, imunidade baixa, câncer, crises de asma, insonia e fadiga crônica.

    Segundo Zaslavsky e Gus (2001) o idoso torna-se mais vulnerável a doenças de fundo insidioso, principalmente, em se tratando de doenças crônicas degenerativas, contribuindo para um estado patológico o qual vem a interferir suas atividades do dia a dia.

    A necessidade da adoção de um estilo de vida ativo é uma das formas de prevenção mais eficazes em se tratando de doenças na população idosa. Para Mazo et al. (2005) a atividade física é uma fonte preciosa que deve ser descoberta e praticada não só na fase adulta ou na velhice, mas sim o mais cedo possível. Já que é apontada como uma das responsáveis pela boa saúde mental de indivíduos idosos, principalmente, em indivíduos fisicamente ativos (NIEMAN, 1999).

    A prática da atividade física promove um desenvolvimento integral do idoso, para Lorda e Sanchez (2001), a mesma trabalha a saúde física, socialização, relações sociais, o convívio e a sensibilidade, tornando-se um processo terapêutico de restauração e bem estar.

Metodologia

    O estudo caracterizou-se como descritivo transversal, com técnica de seleção aleatória, visando correlacionar os níveis de atividade física com os indícios depressivos em idosos integrantes do COREDE Alto da Serra do Botucaraí – RS.

    Participou do estudo a população de idosos integrantes do COREDE Alto da Serra do Botucaraí num total de 1.540 idosos correspondentes a 16 municípios, conforme dados do DATASUS referente ao ano de 2005. Amostra foi constituída de 131 idosos, sendo 59 do sexo masculino e 72 do sexo feminino. Adotou-se como critério de inclusão indivíduos com idade entre 60 a 79 anos que tinham condições de responder as perguntas feitas, pessoas com nenhum tipo de invalidez e usuários dos serviços públicos de saúde dos municípios selecionados.

    Foram aplicados para a coleta de dados a Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15) (YESAVAGE et al., 1983) e o Questionário Internacional de Atividade Física versão curta - IPAQ (MATSUDO et al., 2001).

    Na correlação entre os níveis de atividade física e indícios depressivos utilizou-se a correlação de Spearman, e na comparação entre grupos o teste Kruskal-Wallis. Para análise estatística usou-se o programa estatístico SPSS. Os dados foram tratados conforme a estatística descritiva e inferencial através da média, percentual e desvio padrão. Adotou-se nível de significância de p<0,05.

Resultados 

    A média de idade apresentada pelos pesquisados foi de 69,76(±5,21), sendo 60 anos a mínima e 79 anos a máxima. 

    Na tabela 1 estão apresentados os dados da correlação entre sexo (masculino e feminino), níveis de atividade física (ativo, insuficientemente ativo, ativo e muito ativo), indícios depressivos (sem índicos e com indícios depressivos) além do extrato etário (60-69 anos e 70-79 anos).

Tabela 1. Correlações entre os grupos através da correlação de Sperman.

* p<0,05.

    Na correlação entre os indivíduos pesquisados, pode observar significância entre sexo e indícios depressivos, apesar de uma fraca intensidade. As demais correlações não apresentaram níveis significativos, já que, os dados apontaram tendência similar entre os diferentes grupos.

    Os dados mostraram que 74,2% do sexo feminino e 25,8% do sexo masculino apresentaram indícios depressivos com escore do GDS entre 6 e 13 pontos. Por outro lado, 51% do sexo masculino e 49% do sexo feminino não apresentaram indícios depressivos.

    Quanto ao extrato etário 77,8% entre 60-69 anos e 75% com idades 70-79 anos não apresentaram indícios depressivos. Em contrapartida 22,2% dos idosos com 60-69 anos e 25% entre 70-79 anos apresentaram com indícios depressivos.

    A correlação entre sexo e extrato etário apesar de não ser significativa, apontou sexo feminino com 55,9% e masculino 44,1% com 70-79 anos. Na faixa dos 60-69 anos encontrou-se 54% sexo feminino e 46% masculino.

    Na tabela 2 estão apresentados os dados da comparação entre os níveis de atividade física dos diferentes grupos conforme sexo, indicio depressivo e extrato etário.

Tabela 2. Comparação entre os grupos através do teste Kruskal-Wallis com o nível de significância (p), percentuais(%) e freqüência (f).

Variáveis

Níveis de Atividade Física

p

Sedentário

Insuf.

Ativo

Ativo

Muito Ativo

f

%

f

%

f

%

f

%

Sexo

Masculino

6

10,2

15

25,4

27

45,8

11

18,6

p=0,47

Feminino

12

16,7

13

18,1

37

51,4

10

13,9

Indício Depressivo

S/indícios

10

10

22

22

51

51

17

17

p=0,17

C/indícios

8

25,8

6

19,4

13

41,9

4

12,9

Extrato etário

60-69 anos

7

11,1

12

19

34

54

10

15,9

p=0,38

70-79 anos

11

16,2

16

23,5

30

44,1

11

16,2

* p<0,05.

    Entre os indivíduos pesquisados 23,7% apresentaram tendência a indícios depressivos. Nas demais comparações entre os grupos não se observou nenhuma relação significativa, já que os pesquisados apresentaram uma tendência similar nos dados.

Discussões

    Na correlação entre o sexo e indícios depressivos as mulheres apresentaram maior índico de depressão do que os homens. Achados de Duarte e Rego (2007) em estudo realizado na Bahia em um ambulatório com idosos com média de idade de 75,4 anos, onde a presença de depressão foi maior no sexo feminino. O alto predomínio da depressão no sexo feminino segundo achados por (OLIVEIRA, 2005). Segundo a autora os transtornos depressivos estão ligados a falta no trabalho, elevados riscos de suicídio, maior utilização dos serviços de saúde, se tornando em muitos casos mais resistente ao tratamento. A autora destaca que adoção de um estilo de vida ativo contribui na melhoria da depressão do individuo.

    Pesquisa feita por Breton (2000) aponta para um relato da literatura que mostra prevalência de depressão no gênero feminino duas a cinco vezes maior do que o masculino. Isso se justifica pelas limitações físicas que são acrescidas pelas impostas pela sociedade, fruto de preconceitos e estereótipos sociais.

    A Organização Mundial da Saúde destaca que a depressão afeta em torno de 20% das mulheres contra 15% dos homens no decorrer de sua vida (GREVET; KNIJNIK, 2001). Ballone (2002) lembra que a prevalência de transtornos depressivos na população de idosos em geral é entre 23 a 40%.

    Os distúrbios mentais que afetam o idoso, em especial a depressão, é uma doença, e não uma alteração do processo fisiológico, merecendo ser diagnosticada e tratada o mais breve possível (DUARTE; REGO, 2007).

    Além disso, o estudo mostrou que o sexo feminino representou maior freqüência no grupo dos idosos longevos. Esses dados corroboram com os achados por Xavier (2001), em estudo com octogenários onde a prevalência de mulheres foi maior do que homens. A presença cada vez maior de idosos na sociedade leva-nos a refletir quanto ao aumento da expectativa de vida, pois, conforme Zaslavsky e Gus (2001) a média de idade esperada para 2020 é de aproximadamente 73 anos, para ambos os sexos. Ferste (2006) salienta ainda que esse aumento da longevidade do brasileiro esta cada vez mais próximo da média apresentada em paises mais desenvolvidos, o que se torna um desafio para saúde, já que este número tende a aumentar.

    Zaslavsky e Gus (2001), destacam que as modificações decorrentes do processo de envelhecimento dificultam a adaptação do idoso no seu convívio social. Além disso, essas mudanças do declínio funcional se tornam cada vez mais aparentes, como perda de dentes, elasticidade da pele, atrofia muscular, distúrbios de locomoção, entre outras disfunções as quais propicia uma maior vulnerabilidade a doenças degenerativas como a depressão.

    Outro agravante da depressão no idoso é devido à falta ou demora de seu diagnostico, já que muitas instituições ainda carecem em sistemas para diagnóstico de casos de demência e depressão, assim como também seu acompanhamento (FERSTE, 2006).

    Quanto aos níveis de atividade físicos e índicos depressivos não se encontrou correlação, corroborando com o estudo realizado com idosos iniciantes de um programa de atividade física em Centros de Saúde em Santa Catarina, onde se constou à presença de 17,4% de suspeita de depressão conforme escore do GDS acima de 6 pontos (BORGES; BENEDETTI; MAZO, 2007). A depressão quando relacionada a outras doenças, como, por exemplo, o sedentarismo, podendo agravar os sintomas e desencadear outras patologias (TENG, HUMES, DEMETRIO, 2005).

    O aumento da idade é outro fator que merece atenção, principalmente, em indivíduos que apresentam níveis baixos de atividade física, já que quanto mais longevo maior a propensão de doenças crônicas degenerativas (ZASLAVSKY; GUS, 2001).

    Apesar de não haver uma prevalência de depressão nos idosos mais velhos, estudos tem apontado uma notória relação entre os indícios depressivos e idade avançada, já que a polemica sobre o fato da depressão no idoso ser considerada, ou não, um tipo diferente das demais depressões (BALLONE, 2002).

    Ao decorrer dos anos o idoso, sofre devido às alterações do tecido muscular e da taxa metabólica basal, somados à diminuição da atividade física, resultando na redução das necessidades energéticas e aumento do tecido adiposo. Pesquisa realizada para verificar o nível de atividade física na população de São Paulo, tendo entre os participantes idosos, onde não encontrou relação entre idade cronológica e nível de atividade física, porém, com exceção do nível muito ativo em que claramente os valores foram diminuindo à medida que aumentava a faixa etária (MATSUDO et al., 2002).

    Para Jacob Filho (2006), aproximadamente 90% da população idosa sofre do sedentarismo e essa faixa da população corre o risco de sofrer ainda mais as conseqüências que o sedentarismo favorece quanto à mobilidade e dificuldades na realização de atividade diárias.

    A atividade física vem sendo cada vez mais utilizada no tratamento da depressão do idoso devido seu baixo custo, além de propiciar poucas reações adversas e não utilização de medicamentos.

    Carvalho e Barbosa (2006) em estudo realizado com idosas entre 60 e 69 anos de idade praticantes de atividade física, concluíram que quanto maior sua independência. Sua saúde melhora reduzindo o quadro de ansiedade e depressão aumentando sua auto-estima, autoconceito e imagem corporal.

    Conforme o National Institute of Mental Helth (NIEMANN, 1999), estima-se que a depressão esta entre os três principais distúrbios de saúde mental, que acometem a população americana, seguida de distúrbio de ansiedade e abuso de substâncias.

    Weineck (2003) destaca que a pratica regular de atividade física como a de resistência em estado moderado, auxilia na produção de derivados da morfina corporal. Entre os derivados destaca-se a endorfina, um poderoso hormônio regulador do sistema psíquico. Assim, indivíduos que realizam atividades de resistência, apresentam maior disposição e tranqüilidade, concomitantemente, uma redução linear do sistema nervoso autônomo. Essa produção de endorfina, poderá surtir resultado a curto ou a longo prazo, tornando a atividade física como um dos mecanismos associados a redução, ou até mesmo, a eliminação da depressão dependendo do grau vinculado ao indivíduo.

    Pesquisa realizada no Japão com indivíduos acima de 65 anos de idade praticantes de exercícios físicos diários demonstrou redução dos índices de depressão (NOVAIS, 2004).

    Marchand (2003), a necessidade de uma vida ativa, a qual influencia no tratamento e prevenção não só da depressão, mas também de demais doenças, proporciona melhoria do bem estar geral de quem envelhece.

    A atividade física é uma das ferramentas que pode promover uma melhora da diminuição de dores articulares, da composição corporal, aumento de força, flexibilidade e densidade óssea, além do alivio da depressão e aumento da auto-estima (FRANCHI; MONTENEGRO JUNIOR, 2005).

Conclusão

    Conclui-se que não houve correlação significativa entre os níveis de atividade física e indícios depressivos nos idosos pesquisados. Além disso, a atividade física não é único fator influenciador da depressão, lembrando que os dados apresentaram uma tendência similar em ambos os grupos.

    Cabe salientar que somente na comparação entre sexo e índicos depressivos houve significância, sendo o sexo feminino com maior propensão para o estado depressivo.

Referências

Outro artigos em Portugués

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revista digital · Año 13 · N° 125 | Buenos Aires, Octubre de 2008  
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