efdeportes.com

Estudo comparativo de instrumentos de 

avaliação do equilíbrio corporal de idosos

 

*Fisioterapeuta, graduada pela Universidade Católica de Goiás (UCG)

**Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Saúde

Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás (UFG)

Professora nos cursos de graduação em Fisioterapia da Universidade Católica de Goiás (UCG) 

e Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO)

Professora na Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI/UCG)

***Fisioterapeuta, Mestre em Fisioterapia pelo Centro Universitário do Triângulo (UNITRI)

Professor nos cursos de graduação em Fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) 

e Faculdade Latino Americana (FLA)

Professor em Especialização Profissional em Acupuntura do Center Fisio Imes UNISAÚDE

Amanda Flores Filardi Bomfim*

Hellen Alves Botelho*

Ruth Losada de Menezes**

Thiago Vilela Lemos***

ruthlosada@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A importância da avaliação do equilíbrio corporal se deve ao fato de que identificando o déficit, medidas preventivas fisioterapêuticas poderão ser tomadas o mais precocemente possível. A avaliação funcional do equilíbrio corporal e da mobilidade em idosos é um processo que avalia vários sistemas envolvidos no mecanismo do controle postural. Várias escalas e testes funcionais têm sido desenvolvidos com o propósito de identificar comprometimento do equilíbrio e risco de quedas. No entanto, cabe ressaltar que embora sejam úteis no delineamento do prognóstico funcional, poucos contribuem de fato para o diagnóstico fisioterapêutico quanto aos aspectos relacionados a habilidades para o desempenho de tarefas que exigem o controle do equilíbrio corporal. Objetivos: verificar e correlacionar dois instrumentos de avaliação do equilíbrio corporal: Biofotogrametria Computadorizada e Escala de Equilíbrio Funcional de Berg (EEB) e verificar a possibilidade de quedas em idosos. Métodos: Pesquisa analítica transversal, em que avaliou-se o equilíbrio corporal de 27 alunas matriculadas no programa de extensão da Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI), da Universidade Católica de Goiás (UCG), através dos dois instrumentos de avaliação em questão. O teste estatístico utilizado foi análise de regressão linear. O nível de significância adotado foi de 5% (p<0,05). Resultados: Ao correlacionar um instrumento com o outro observamos que um valor está relacionado ao outro, ou seja houve uma correlação significativa (p<0,01) quanto maior a oscilação corporal menor a pontuação na EEB, sendo que para oscilação látero-lateral obteve-se p=0,002 e para oscilação antero-posterior p=0,001. Conclusão: O aspecto quantitativo imprimido pela biofotogrametria computadorizada vem a somar no amplo espectro das variáveis subjetivas tradicionalmente investigadas com a escala de equilíbrio de Berg, tornando um instrumento complementar a outro e ambos conclusivos, eficazes e confiáveis na detecção de diminuição do equilíbrio funcional e na verificação da ocorrência da possibilidade de quedas.

          Unitermos: Instrumentos de avaliação funcional. Equilíbrio musculoesquelético. Acidentes por quedas.

 

Abstract

          The importance of the evaluation of the corporal balance if must to the fact by that identifying the deficit, writ of prevention physiotherapy they could be taken more precociously possible. The functional evaluation of the corporal balance and mobility in aged is a process that evaluates some systems involved in the mechanism of the postural control. Some functional scales and tests have been developed with the intention to identify to deficit of the balance and risk of falls. However, it fits to stand out that even so they are useful in the delineation of the functional prognostic, few contribute in fact for the physiotherapy diagnosis how much to the related aspects the abilities for the performance of tasks of control of the corporal balance. Objectives: to verify and to correlate two instruments of evaluation of the corporal balance: Computerized Biophotogrammetry and Scale of Functional Balance of Berg (EEB) and to verify the possibility of falls in aged. Methods: Transversal analytical research, the present study evaluated the corporal balance of 27 pupils registered the program of extension of the Universidade Aberta a Terceira Idade (UNATI), of the Universidade Católica de Goiás (UCG) through the two instruments of evaluation in question. The used statistical test was analysis of linear regression.  The adopted level of significance was of 5% (p < 0,05). Results: When correlating an instrument with the other we observe that a value is related to the other, that is had a significant correlation (p > 0,01) how much bigger the lesser corporal oscillation the punctuation in the EEB, being that to oscillation in the frontal plan p=0,002 was gotten and for oscillation in sagittal plan p=0,001. Conclusion: The quantitative aspect printed by the computerized biophotogrammetry, comes to add in the ample specter of the subjective variable traditionally investigated with the scale of balance of Berg, becoming a complementary instrument the other and both conclusive, efficient and trustworthy ones in the detention of reduction of the functional balance and in the verification of the occurrence of the possibility of falls.

          Keywords: Instruments of functional evaluation. Skeletal muscle balance. Accidents for falls.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 125 - Octubre de 2008

1 / 1

Introdução

    Apesar da divergência de opiniões, o envelhecimento é considerado um fenômeno natural, progressivo, não uniforme variando de indivíduo para indivíduo, estando na dependência de alguns fatores como hábito de vida e herança genética (ALEXANDER, 1994; SCHULT, 1998). Este promove uma série de alterações no ser humano, envolvendo aspectos psicológicos, fisiológicos e patológicos (PICKLES, 1998; FUKUDA 1998).

    Algumas destas características que acompanham o processo de envelhecimento são: alterações do sistema hormonal e tegumentar, diminuição de células ciliares do aparelho vestibular, diminuição dos sistemas pulmonar, músculo-esquelético, cardiovascular e também do sistema nervoso central. Alterações funcionais e estruturais variam de um indivíduo a outro, e podem ser encontradas em qualquer idoso, sendo próprias ao envelhecimento normal. A força muscular é diminuída, a marcha é lentificada com a diminuição dos movimentos associados, os reflexos profundos são diminuídos e alterações de sensibilidade são notadas, assim como alterações de memória. Estudos relatam também, sobre perdas de grupos celulares e diminuição da capacidade funcional de muitos sistemas bioquímicos, o que acaba por levar a um prejuízo cognitivo sem que isto signifique doença, loucura ou demência (PAPALEO, 1996).

    O sistema de controle postural é bastante complexo, envolvendo a recepção de informações sensoriais dos sistemas vestibular, visual e proprioceptivo por via aferente, sendo estas decodificadas no Sistema Nervoso Central (SNC) onde são feitas alterações necessárias para manutenção do equilíbrio. A seguir são emitidas respostas, sendo estas conduzidas por via eferente, promovendo a ativação dos músculos antigravitacionais, os responsáveis pela manutenção do controle do equilíbrio corporal (ALEXANDER, 1994; MACHADO, 1998; BLASZCZYK, 2000).

    Um dos principais fatores que limitam hoje a vida do idoso é a instabilidade postural, gerando desequilíbrio. Em 80% dos casos não pode ser atribuído a uma causa específica, mas sim a um comprometimento do sistema de equilíbrio como um todo (RUWER; ROSSI; SIMON, 2005).

    Este comprometimento tem como conseqüência a degeneração estrutural dos três sistemas (vestibular, visual e proprioceptivo) e dos reflexos por eles gerado. O labirinto apresenta redução das células sensoriais e das fibras do nervo vestibular (BALOH; JACOBSON; SOCOTCH, 1993); a visão pode ser comprometida pelo glaucoma e pela catarata freqüente no idoso, observando-se diminuição do ganho do reflexo vestíbulo-ocular (FUKUDA, 1998; BELAL; GLORING, 1986); perda de massa muscular, diminuição da flexibilidade dos ligamentos e tendões, presença de artrite degenerativa e osteoporose, dificultando a realização de movimentos corporais (BELAL; GLORING, 1986; WEINER, 1992).

    Estas interferências são justificadas pelo decréscimo na velocidade de condução das informações, bem como no processamento de respostas, que, por serem lentas e inadequadas, geram situações de instabilidade, colocando em risco a habilidade de mover-se com segurança (MOUNTON; ESPINO, 1999; MOURA, 1999).

    As manifestações dos distúrbios do equilíbrio corporal têm grande impacto para os idosos, podendo levá-los a redução de sua autonomia social, uma vez que acabam reduzindo suas atividades de vida diária, pela predisposição a quedas e fraturas, trazendo sofrimento, imobilidade corporal, medo de cair novamente e altos custos com o tratamento de saúde (RUWER; ROSSI; SIMON, 2005).

    Todos os sistemas de nosso organismo possuem reservas fisiológicas, que no sistema nervoso são caracterizadas pela capacidade de reorganização conhecida como neuroplastidade (BERGADO-ROSADO; ALMAGUER-MELIAN, 2000; PIOVESANA, 2001). Com o envelhecimento, as reservas estão diminuídas, porém não depletadas, portanto, a criação de um ambiente ideal de aprendizado motor poderia determinar uma melhora da função (UMPHRED; LEWIS, 2001).

    Muitas alterações fisiológicas atribuídas ao envelhecimento são semelhantes àquelas induzidas pela inatividade imposta e provavelmente podem ser atenuadas ou até mesmo revertidas pelo exercício (GUCCIONE, 2002). Matsudo (2001) define exercício físico como uma subcategoria da atividade física que é planejada, estruturada e repetitiva; que resulta na melhora ou manutenção de uma ou mais variáveis da aptidão física.

    Às transformações físicas somam-se as transformações psíquicas e sociais, uma vez que o envelhecimento não é apenas um fenômeno biológico, mas sim bio-psico-sócio-cultural e espiritual. Além do receio da senilidade, decrepitude e de não encontrarem um papel para si mesmas na sociedade, as pessoas não aceitam o envelhecimento. O aparecimento de um elevado número de Universidades da Terceira Idade, em várias regiões do país parece ser um reflexo dessa conscientização.

    A Gerontologia e a Psicologia têm numerosos argumentos em favor da promoção da integração e da participação dos idosos na vida social. O principal deles é que as novas aprendizagens, promovidas pela educação formal e informal, são um importante recurso para manter a funcionalidade, a flexibilidade e a possibilidade de adaptação dos idosos. As oportunidades educacionais são apontadas como importantes antecedentes de ganhos evolutivos na velhice, porque se acredita que intensificam os contatos sociais, a troca de vivências e de conhecimentos, e o aperfeiçoamento pessoal.

    No programa da Universidade Aberta a Terceira Idade - Universidade Católica de Goiás é dada grande ênfase à atuação da educação como instrumento de promoção de uma velhice bem sucedida, isto é, com boa qualidade de vida biológica, psicológica e social, pois as disciplinas e as atividades convergem para um maior conhecimento do próprio corpo, para a superação de preconceitos que a sociedade construiu em relação à velhice e para a consciência dos direitos e deveres como cidadãos. As disciplinas abrangem aspectos biológicos e psicológicos do envelhecimento, aspectos sociais, políticos e culturais na terceira idade, espiritualidade, nutrição, socialização, geriatria preventiva, atividade física diferenciada com hidroginástica e fisioterapia; oficinas de artes e seminários sobre temas diversos. (LACERDA; SOUZA, 2001).

    A importância da avaliação do equilíbrio corporal se deve ao fato de que identificando o déficit, medidas preventivas fisioterapêuticas poderão ser tomadas o mais precocemente possível, evitando assim o risco de quedas nesta população.

    A avaliação funcional do equilíbrio corporal e da mobilidade em idosos é um processo que avalia vários sistemas envolvidos no mecanismo do controle postural. Várias escalas e testes funcionais têm sido desenvolvidos com o propósito de identificar comprometimento do equilíbrio e risco de quedas. No entanto, cabe ressaltar que embora sejam úteis no delineamento do prognóstico funcional, poucos contribuem de fato para o diagnóstico fisioterapêutico quanto aos aspectos relacionados a habilidades para o desempenho de tarefas que exigem o controle do equilíbrio corporal.

    Assim como vários outros testes de avaliação do equilíbrio, a Escala de Equilíbrio de Berg vem sendo muito utilizada, principalmente para determinar os fatores de risco para perda da independência e para quedas em idosos. Berg é uma escala que atende várias propostas: descrição quantitativa da habilidade de equilíbrio funcional, pois simula, justamente, as demandas envolvidas na habilidade em controlar o equilíbrio, podendo ser útil para gerar hipóteses quanto aos determinantes da limitação funcional observada (CORDEIRO, 2001); acompanhamento do progresso dos pacientes e avaliação da efetividade das intervenções na prática clínica e em pesquisas.

    A Biofotogrametria Computadorizada desenvolveu-se pela aplicação dos princípios fotogramétricos às imagens fotográficas obtidas em movimentos corporais. A essas imagens foram aplicadas bases de fotointerpretação, gerando-se uma nova ferramenta de estudo da cinemática (RICIERI, 2000). Assim, a Biofotogrametria Computadorizada é um recurso que pode ser usado na avaliação do equilíbrio, para diagnóstico físico funcional pelos fisioterapeutas, sendo que esta já foi utilizada em vários estudos, nos quais foram demonstradas a sua validade (MAGAZONI, 2000).

    Os objetivos deste estudo foram verificar e correlacionar o método de dois instrumentos de avaliação do equilíbrio corporal: Biofotogrametria Computadorizada e Escala de Equilíbrio Funcional de Berg e verificar a possibilidade de quedas em idosos. Percebemos o real valor desta pesquisa devido seu caráter inovador, na qual os resultados serão de grande relevância para a comunidade científica.

Casuística e métodos

    Pesquisa analítica transversal, que se desenvolveu no município de Goiânia, no Laboratório de Cinesiologia da Universidade Católica de Goiás (UCG).

    O presente estudo avaliou 27 alunos matriculados no programa de extensão da Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI), da Universidade Católica de Goiás.

    Participaram deste estudo os indivíduos que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: estar matriculado regularmente no programa de extensão da Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI); ambos os sexos; ter idade igual ou superior a sessenta (60) anos e aceitar/assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

    Foram excluídos da pesquisa os alunos que apresentaram: alguma seqüela neurológica, ortopédica, reumatológica incapacitante, otorrinolaringológica, vasculares, metabólicas, degenerativas ou neoplásicas (que comprovadamente determinam déficit de equilíbrio).

    Antes da coleta dos dados, o estudo foi encaminhado à Direção da Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI/UCG), e posteriormente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UCG que emitiu parecer de concordância para realização da pesquisa.

    Os alunos foram esclarecidos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos e procedimentos e consultados quanto ao aceite em participar do estudo, de acordo com as recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Após esclarecimento, os indivíduos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido concordando em participar do estudo.

    Foram agendados data e horário para as avaliações e coleta de dados que constam de entrevista.

    Um dos instrumentos utilizados para avaliação do equilíbrio foi a Escala de Equilíbrio de Berg (HERDMAN; WHITNEY, 2002) (Anexo 2). Este instrumento é utilizado para avaliar o equilíbrio e o risco de quedas em idosos e leva em conta o efeito do ambiente na função (GILL, 2001). Esta escala avalia através de 14 testes a habilidade do indivíduo de sentar, ficar de pé, alcançar, girar em volta de si mesmo, olhar por cima de seus ombros, ficar sobre apoio unipodal e transpor degraus. A pontuação total é de 56 e índice igual ou menor a 36 está associado a 100% de risco de quedas (BERG et. al., 1992; BERG et. al, 1999).

    Este instrumento mostra excelente confiabilidade (0.96) e de moderada para boa correlação com outros instrumentos de avaliação funcional do equilíbrio (BERG, 1989).

    Os escores absolutos obtidos na Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) foram aplicados para se obter o índice de Possibilidade de Queda (PQ) pela seguinte equação: 100% x exp (10,46 - 0,25 x BBS escore + 2,32 x história de instabilidade) / [1 + exp (10,46 - 0,25 x BBS escore + 2,32 x história de instabilidade)], sendo que BBS escore é o escore obtido pelo indivíduo na EEB. Na história de instabilidade é atribuído o valor 0 quando não há história de instabilidade, e o valor 1, quando há.

    O outro instrumento da avaliação do equilíbrio corporal utilizado para verificar as oscilações do corpo em equilíbrio estático constou de um protocolo de estudo que empregou a Biofotogrametria Computadorizada como instrumento quantificador angular do desvio da linha de equilíbrio, sendo aplicado o Teste de Romberg sensibilizado (BARAÚNA, 1997). Com o capacete alinhado ao fio de prumo, os indivíduos adotavam posição ortostática por 30 segundos (PRESUMIDO et. al., 1995; BARAÚNA, 1997), permanecendo com os olhos fechados e pés paralelos.

    A avaliação do equilíbrio foi mensurada através da observação das oscilações posteriores, anteriores e látero-laterais, calculadas em graus.

    Para observar as oscilações corporais nos planos sagital e frontal na etapa de fotointerpretação das imagens, foi confeccionado um capacete com ponteira, pesando aproximadamente 20g, posicionado com sua ponteira em alinhamento com a glabela, a fim de se avaliarem as oscilações no plano frontal. Para quantificação das oscilações do plano sagital, a referência utilizada foi o pavilhão auditivo direito em todos os indivíduos. A câmera digital Sony DSC S500 6.0 foi posicionada em nível e em prumo, a uma distância de 3,60 metros e a uma altura de 1,40 metro do solo, sendo assim mantida para a filmagem de todos os indivíduos (BARAÚNA, 2006).

    Foi utilizado um fio de prumo preso ao teto a uma distância de 10 cm da parede, coincidindo com a antena do capacete de forma a estarem em 0º para o início da aquisição das imagens (BARAÚNA, 2004). Conforme figura 1.

Figura 1. Postura do paciente e do fio de prumo para aquisição das imagens.

    A fim de se obter o momento de maior oscilação anterior (MOA) ou posterior (MOP) ou lateral para a direita (MOD) ou para esquerda (MOE), as imagens foram analisadas quadro a quadro, e, no instante de maior oscilação a imagem foi gravada no computador. Este processo foi repetido por 3 vezes para maior precisão e confiabilidade do exato momento de maior oscilação (BARAÚNA, 2003).

    As imagens selecionadas foram então analisadas pela Biofotogrametria Computadorizada, no programa e-Ruler 1.1®, determinando-se os valores angulares de maneira precisa (RICIERI, 2000).

    Para o cálculo dos ângulos referentes às oscilações anteriores/posteriores e laterais para direita/laterais para esquerda da amostragem, foram feitas 3 demarcações para formação do ângulo. Constituem-se as demarcações: 1: fio de prumo; 2: ponteira da antena e 3: também no fio de prumo só que ao nível da ponta da antena.

    Através dessas demarcações, foram analisados os ângulos de oscilações anteriores e/ou posteriores, laterais para direita e/ou laterais para esquerda formados na demarcação 1, onde foi evidenciado o distanciamento da antena em relação ao fio de prumo, podendo, assim, quantificarem-se os ângulos (BARAÚNA, 2003; RICIERI, 2000).

    Os procedimentos de avaliação foram realizados pelas pesquisadoras acadêmicas e supervisionados pela professora orientadora fisioterapeuta.

    Para análise dos dados utilizamos testes de análise de regressão linear. Os dados foram tabulados através do Microsoft Excel.

Resultados e discussão

    A amostra estudada incluiu 27 estudantes do sexo feminino, com idade entre 60 e 84 anos (média de 65 anos) submetidos às avaliações do equilíbrio utilizando a Escala de Equilíbrio de Berg e a Biofotogrametria Computadorizada.

    As pontuações obtidas através da Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) encontram-se entre 44 e 56 pontos com média de 52 pontos. De acordo com Shumway-Cook & Woollacott (2003), na amplitude de 56-54, cada ponto a menos é associado a um aumento de 3 a 4% no risco de quedas, de 54-46 a alteração de um ponto é associada a um aumento de 6 a 8% de chances, sendo que abaixo de 36 pontos o risco de quedas é quase 100%.

    Dos resultados obtidos foi possível observar que nenhum dos idosos avaliados apresentou pontuação inferior ou igual a 36. O risco de quedas dos indivíduos avaliados mantiveram entre 86% e 3% com média de 13%. Os escores na EEB com a respectiva possibilidade de queda (PQ) encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1. Escore na escala do equilíbrio de BERG e o respectivo índice de possibilidade de queda

Nº de indivíduos

n=2

n=3

n=4

n=6

n=5

n=3

n=1

n=1

n=1

n=1

Escore na EEB/ histórico queda

56/0

55/0

54/0

53/0

52/0

51/1

50/0

48/1

46/0

44/1

Possibilidade queda

3%

4%

5%

6%

7%

51%

12%

69%

26%

86%

Fonte: Universidade Aberta a Terceira Idade (UNATI – Goiânia, 2007)

    Frágil, incapaz e dependente são alguns dos principais adjetivos atribuídos ao idoso. Esta concepção segundo Okuma (1998) advém dos inúmeros estudos que relatam a incidência de doenças nesta fase da vida, sendo as cinco principais causas de incapacitação e limitações em idosos entre 70 a 80 anos as doenças cérebro-vasculares, perda de força nos membros inferiores, diminuição da visão, artrite e doenças cardíacas.

    No entanto, o envelhecimento pode ser visto de modo mais otimista, não só como um período de degradações, mas de ganhos potenciais dependendo do estilo de vida adotado. É o que justifica a alta média de pontuação na EEB, obtida pela população estudada, em que 74% (20 indivíduos) obtiveram resultado igual ou maior que 52 pontos.

    Segundo Shumway-Cook & Woollacott (2003), o estilo de vida determina a maneira pela qual envelhecemos, o que leva a população buscar medidas preventivas de saúde. Associados a idéia de envelhecer bem, com qualidade de vida e pensando na prevenção da saúde da população geriátrica, muitos programas de atividade física para a terceira idade têm surgido. No programa da Universidade Aberta a Terceira Idade/ Universidade Católica de Goiás - no qual a amostra da pesquisa está inserida - é dada grande ênfase à atuação da educação como instrumento de promoção de uma velhice bem sucedida, oferecendo atividades diversas, como alongamento e relaxamento, visando a promoção do estilo de vida ativa entre os idosos.

    Nenhuma idosa apresentou PQ igual a 100%, o que era de se esperar numa pesquisa com idosos saudáveis e ativos, porém 3 indivíduos (11%) apresentaram índices de PQ elevados variando entre 51% e 86%, isto pela existência de um histórico de quedas nos últimos 6 meses. A ocorrência de queda, aumenta o índice PQ em aproximadamente 48%.

    As conseqüências das quedas são bem conhecidas: fraturas, contusões, aumento da dependência, gastos com o tratamento médico, medo de cair novamente, restrição das atividades e de forma direta ou indireta pode levar até a morte (NEVITT, 1997; TIDEKSAAR, 1996). As quedas, portanto, alteram o desempenho funcional tornando os indivíduos fragilizados de uma forma geral.

    Na avaliação do equilíbrio através da biofotogrametria computadorizada, foram observadas as oscilações corporais no plano frontal e sagital. Os dados angulares referentes aos valores de maior oscilação látero-lateral (MOL) e maior oscilação ântero-posterior (MOAP) estão registrados na Tabela 2.

Tabela 2. Exposição da média, desvio padrão e mediana da quantificação das oscilações corporais látero-laterais e ântero-posteriores.

 

MOL

MOAP

Média

3,55º

3,81º

Desvio Padrão

1,24º

2,07º

Mediana

3,18º

3,69º

Fonte: Universidade Aberta a Terceira Idade (UNATI – Goiânia, 2007)

    Desde que nós humanos adotamos a postura ereta bípede, temos sido desafiados pela força da gravidade para manter o equilíbrio do corpo sobre a pequena área de suporte delimitada pelos pés. Quando permanecemos parados, não permanecemos sem movimento - nós oscilamos, a oscilação do eixo corporal normal do ser humano é de 4º, segundo Marignan (apud GAGEY e WEBER, 2000). Ou seja, estamos sempre em busca da estabilidade postural devido à ativação do sistema postural fino. O ser humano é visto como um pêndulo invertido, com movimentos de anteropulsão, retropulsão e lateropulsão (GAGEY e WEBER, 2000). Somente quando a habilidade de controlar a postura ereta se deteriora, como nos idosos, é que percebemos quão difícil e crucial esta tarefa é.

    Nas idosas em estudo, as oscilações látero-laterais variaram entre 1,97º e 6,81º com média de 3,55º e as oscilações ântero-posteriores variaram entre 1,71º e 12,15º com média de 3,88º. De acordo com a literatura, estes resultados encontram-se dentro do nível de normalidade de oscilações corporais. Estes valores encontrados justificam-se pela qualidade de vida que as participantes deste estudo possuem, como discutido anteriormente.

    Não existem na literatura dados correlacionando possibilidade de quedas e oscilações corporais. Ao analisar os resultados notou-se que as oscilações acima de 6º, tanto em um plano como em outro, pertenciam às mesmas 3 participantes que apresentaram histórico de quedas e maiores índices de PQ.

    A fim de verificarmos a existência de correlação entre a avaliação de equilíbrio de Berg e a biofotogrametria computadorizada, elaborou-se o Gráfico 1 e 2 para ilustrar os resultados obtidos. Podemos observar que um valor está relacionado ao outro, ou seja houve uma correlação significativa (p<0,01) quanto maior a oscilação corporal menor o valor de BERG, sendo que para oscilação látero-lateral obteve-se p=0,002 e para oscilação antero-posterior p=0,001.

Gráfico 1 - Valores da variável Berg de acordo com o valor encontrado de Maior Oscilação Látero-Lateral (MOL).

Fonte: Universidade Aberta a Terceira Idade (UNATI – Goiânia, 2007)

 

Gráfico 2. Valores da variável Berg de acordo com o valor encontrado de Maior Oscilação Ântero-Posterior (MOAP).

Fonte: Universidade Aberta a Terceira Idade (UNATI – Goiânia, 2007)

    Pôde-se observar que através dos dois instrumentos de avaliações utilizados foi possível identificar quais os sujeitos estariam mais propensos à perda do equilíbrio funcional. Além disso, os resultados das avaliações podem fornecer informações referentes ao nível de desempenho do sujeito em relação ao padrão estabelecido por pessoas saudáveis da mesma faixa etária, a necessidade de intervenção e também podem servir de parâmetro para avaliar as mudanças do estado funcional no decorrer de um tratamento.

    Em termos de vantagem, a avaliação clínica Escala de Equilíbrio de Berg é mais simples, geralmente requer pouco espaço e material, avalia tarefas funcionais comuns como sentar-se, andar sem apoio, alongar-se à frente, executar um giro de 360º e mudar da posição sentada para vertical e, por estes motivos, tem um grande valor ecológico.

    A Biofotogrametria Computadorizada demanda maior custo financeiro e tempo, pois utiliza aparelhos sofisticados (câmera digital e computador), porém fornecem resultados de alta precisão e reprodutibilidade metodológica, que não são obtidos através dos testes clínicos.

    Ambas as avaliações apresentam limitações. A primeira em relação à precisão dos resultados e a subjetividade do teste, em que não nos permite a reprodução fidedigna por outro avaliador, como também a realização de comparações durante o tratamento, tornando um instrumento susceptível ao erro. A última, em relação à acessibilidade, cabendo ao avaliador selecioná-los adequadamente.

    Em função dos resultados observados, entendemos que o aspecto quantitativo imprimido pela biofotogrametria computadorizada vem a somar no amplo espectro das variáveis subjetivas tradicionalmente investigadas com a escala de equilíbrio de Berg, tornando um instrumento complementar ao outro e ambos conclusivos na detecção de diminuição do equilíbrio funcional e na possibilidade de quedas.

Considerações finais

    Podemos concluir mediante os resultados obtidos que o sistema de imagens (biofotogrametria computadorizada) pode ser utilizado para a quantificação das oscilações corporais nos planos sagital e frontal do corpo, mostrando-se eficaz e preciso.

    Concluímos ainda que a Escala de Equilíbrio de Berg também se mostrou um excelente exame clínico na avaliação do equilíbrio corporal e na verificação da possibilidade de quedas sendo uma ferramenta útil e eficiente.

    Ambos os instrumentos, portanto, vieram com um propósito e cumpriram-no, apresentando resultados de alta concordância, pois à medida que as oscilações corporais na biofotogrametria computadorizada aumentavam, as pontuações na EEB diminuíam, aumentando, assim, o percentual do risco de quedas.

    Ao realizar o presente estudo, apesar de cumprir os objetivos e correlacionar os instrumentos de avaliações escolhidos confirmando a confiabilidade e eficácia dos mesmos, notamos algumas limitações na literatura quanto ao número de trabalhos que quantifiquem os graus de normalidade das oscilações corporais.

    Sugerimos novas pesquisas que confirmem a melhora do equilíbrio corporal e a diminuição de possibilidade de quedas em idosos ativos, envolvendo uma amostragem mais significativa. Sugerimos ainda, a elaboração de uma pesquisa que correlacione as oscilações corporais e a possibilidade de quedas, pois ao analisar os resultados deste estudo notamos que indivíduos que apresentaram oscilações superiores a 6º relataram histórico de quedas, o que sugere déficit de equilíbrio e conseqüentemente necessidade de cuidados preventivos.

Referências

  • ALEXANDER, N.B. Postural control in older adults. J Am Geriatr Soc, v. 42, p. 93-108, 1994.

  • BALOH, R.W.; JACOBSON, K.M.; SOCOTCH, T.M. Effect of aging on visual-vestibular response. Exp Brain Res, v. 95, p. 509-16, 1993.

  • BARAÚNA, M.A. et al. Avaliação do equilíbrio estático do portador de diabetes mellitus pela biofotogrametria. Diabetes Clínica, São Paulo, v.7, n. 1, 2003.

  • BARAÚNA, M.A. et al. Evaluation of the static balance lower limb amputeers by means of computerized biophotogrammetry. Rev. Bras. Fisioter.,  São Carlos,  v. 10,  n. 1,  2006.

  • BARAÚNA, M.A. et al. Study of elderly static balance and its correlation with falls. Rev. Bras. Fisioter., São Carlos, v. 8, n. 2, 2004.

  • BARAÚNA, M.A. Estudo comparativo entre a avaliação do equilíbrio estático de indivíduos amputados e não amputados [Tese Doutorado em Motricidade Humana]. Lisboa(Portugal): Universidade Técnica de Lisboa; 1997.

  • BELAL, A.; GLORING, A. Dysequilibrium of ageing (presbyastasis). J Laryngol Otol., v. 100, p. 1037-1041, 1986.

  • BERG, K.O. et al. Clinical and laboratory measures of postural balance in an elderly population. Arch Phys Med Rehabil, v. 73, p. 1073-80, 1999.

  • BERG, K.O. et al. Measuring balance in the elderly: validation of an instrument. Can J Public Health, v. 83, Suppl 2, S7-S11, 1992.

  • BERG, K.O. Measuring balance in the elderly: preliminary development of an instrument. Phys Canadá, v. 41, p. 304-8, 1989.

  • BERGADO-ROSADO, J.A.; ALMAGUER-MELIAN, W. Mecanismos celulares de la neuroplasticidad. Rev. Neurol., v. 31, n. 11, p. 1074-95, 2000.

  • BLASZCZYK, J.W. et al. Effect of ageing and vision on limb load asymmetry during queit stance. J. Biomech, v. 33, p. 1243-8, 2000.

  • CORDEIRO, R.C. Caracterização clínico-funcional do equilíbrio em idosos portadores de Diabetes Mellitus do tipo II. [Dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina, 2001.

  • FUKUDA, Y. Distúrbio vestibular no idoso. In: GANANÇA, M.M.; VIEIRA, RM.; CAOVILLA, HH. Princípios de otoneurologia. V. I. São Paulo: Atheneu, 1998.

  • GAGEY, P.M.; WEBER, B. Posturologia regulação e distúrbio da posição ortostática. 2. ed. São Paulo: Manole, 2000.

  • GILL, J. et. al. Trunk Sway Measures of Postural Stability During Clinical Balance Tests: Effects of Age. J Gerontol, v. 56A, n. 7, p. M438-M447, 2001.

  • GUCCIONE, A. A. Fisioterapia Geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

  • HERDMAN, S.J.; WHITNEY, S.L. Tratamento da hipofunção vestibular. In: HERDMAN, S.J. Reabilitação Vestibular. São Paulo: Manole, . p. 381-419, 2002.

  • LACERDA, A.M.G. de M.; SOUZA, J.D.A. de. Por uma Vida Melhor na 3ª Idade. Universidade Católica de Goiás - Curso/Programa Universidade Aberta a 3ª Idade - UNATI/ETG/VAE, p. 30, 2001.

  • MACHADO, A.B.M. Neuroanatomia funcional. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 1998.

  • MAGAZONI; V.S. Estudo correlacional entre a expansibilidade da caixa torácica e a capacidade vital pulmonar nos indivíduos portadores e não-portadores de espondilite anquilosante [Dissertação de Mestrado em Fisioterapia]. Uberlândia: UNITRI-Centro Universitário do Triângulo, 2000.

  • MATSUDO, S.M.; MATSUDO, V.K.R.; NETO, T. L. B. Atividade física e envelhecimento: aspectos epidemiológicos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 7, p. 2-13, 2001.

  • MOUNTON, C.P.; ESPINO, D.V. Health screening in older women. Am Fam Physician, v. 59, p. 1835-43, 1999.

  • MOURA, R.N. et. al. Quedas em idosos: fatores de risco associados. Gerontologia, v. 7, p. 15-21, 1999.

  • NEVITT, M.C. Falls in the elderly: Risk factors and prevention. In: MASDEU, J.C.; SUDARKY, L.; WOLFSON, L. Gait disorder of aging- falls and therapeutic strategies., Philadelphia: Lippincott-Raven Publishers, 1997.

  • OKUMA, S.S. O idoso e a atividade física: fundamentos e pesquisa. Campinas-SP: Papirus, 1998.

  • PAPALEO, N.M. Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo: Atheneu, 1996.

  • PICKLES, B. et al. Fisioterapia na terceira idade. São Paulo: Santos, 1998.

  • PIOVESANA, A.M.S.G. Plasticidade cerebral - aspectos clínicos. Arq Neuropsquiatr; v. 59, Suppl 1, p. 17-9, 2001.

  • PRESUMIDO, L.M.B.; BARAÚNA, M.A.; FERREIRA, C.; SILVA, K.C. Estudo comparativo entre o equilíbrio estágico de indivíduos sedentários e não sedentários do sexo feminino. Ícone, v. 3, n. 2, p. 39-62, 1995.

  • RICIERI, D.V. Validação de um protocolo de fotogrametria computadorizada e quantificação angular do movimento toracoabdominal durante a ventilação tranqüila [Dissertação de Mestrado em Fisioterapia]. Uberlândia: UNITRI - Centro Universitário do Triangulo; 2000.

  • RUWER, Sheelen Larissa; ROSSI, Angela Garcia; SIMON, Larissa Fortunato. Balance in the elderly. Rev. Bras. Otorrinolaringol.,  São Paulo,  v. 71,  n. 3,  2005. 

  • SCHULT, L.J. Motor system changes in the aging brain: What is normal and what is not. Geriatrics, v. 53, p. 16-9, 1998.

  • SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOTT. Controle motor: teoria e aplicações práticas. São Paulo: Manole, 2003.

  • TIDEKSAAR, R. Preventing falls: how to identify risk factors, reduce complications. Geriatrics, v. 51, n. 2, p. 43-53, 1996.

  • UMPHRED, D.; LEWIS, R.W. O envelhecimento e o sistema nervoso central. In: KAUFFMAN, T.L. Manual de reabilitação geriátrica. Tradução de Telma Lúcia de Azevedo Hennemann. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 14-20, 2001.

  • WEINER, D.K. et. al. Functional Reach: a marker of physical frailty. Jags, v. 40, n. 3, p. 203-7, 1992.

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 13 · N° 125 | Buenos Aires, Octubre de 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados