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Avaliação da aptidão física de atletas jovens 

de beach soccer (futebol de areia)

Physical fitness assessment of young beach soccer athletes

 

*Especialista em “Bases Fisiológicas do Exercício Físico e Treinamento Desportivo”

Universidade Federal do Espírito Santo. Aluno do curso de Especialização em Futebol

Universidade Federal de Viçosa

**Doutorando em Ciências Fisiológicas pelo Programa de Pós-Graduação

em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal do Espírito Santo

***Coordenador do curso de Educação Física da Faculdade Estácio de Sá de Vitória (FESV).

Leonardo Perin Ribeiro*

Wellington Lunz**

Fabian Tadeu do Amaral***

leoperin1@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O beach soccer, mesmo difundido mundialmente para pelo menos 170 das 207 associações nacionais que compõem a FIFA, não tem sido desporto alvo de estudos, principalmente sobre a aptidão física de atletas jovens. O objetivo deste estudo foi comparar a aptidão física de atletas jovens de beach soccer. Três equipes de diferentes categorias de idade foram avaliadas. Jovens com no máximo 13 (S13; n=10), 15 (S15; n=11) e 17 anos de idade (S17; n=9) foram avaliados através de uma bateria de testes para obtenção de medidas: a) peso; b) estatura; c) shuttle run (SR); d) impulsão vertical com (IVC) e sem o auxílio dos braços (IVS), e horizontal (IH); e) corridas de 1000 e 2400 metros; f) corrida de 40 segundos (40s); g) corrida de 50 metros (50m); e h) sentar e alcançar. A categoria S15 apresentou diferença estatística (p<0,05) vs S13 somente em 40s (S15 vs S13; 248,8±4,5 vs 231,3±6,0 m; média±EPM). S17 apresentou diferença estatística vs S15 em IH (S17 vs S15; 230,8±8,0 vs 194,6±7,1 cm), IVC (S17 vs S15; 48,8±1,6 vs 39,0±2,2 cm), IVS (S17 vs S15; 39,1±1,8 vs 31,2±1,5 cm) e 50m (S17 vs S15; 6,7±0,1 vs 7,5±0,2 s). S17 apresentou diferença estatística vs S13 em SR (S17 vs S13; 10,0±0,2 vs 11,0±0,1 s), IVC (S17 vs S13; 48,8±1,6 vs 38,0±1,6 cm), IVS (S17 vs S13; 39,1±1,8 vs 32,8±1,4 cm), 40s (S17 vs S13; 263,4±2,5 vs 231,3±6,0 m) e 50m (S17 vs S13; 6,7±0,1 vs 7,8±0,2 s). A exemplo de outros esportes coletivos, a aptidão física tendeu a ser superior na categoria S17. S17 teve aptidão física superior vs S13, mas não totalmente vs S15, que foi similar em algumas variáveis de aptidão. S13 e S15 tiveram aptidão física similar. Estudos adicionais são necessários para enriquecer o conhecimento acerca desta modalidade, ainda carente de literatura científica.

          Unitermos: Futebol. Adolescentes. Desempenho atlético.

 

Abstract

          Although beach soccer was spread out world-wide to at least 170 of the 207 national associations that compose FIFA, it has not been a commonly studied sport, specially the physical fitness of young athletes. The objective of this study was to compare the physical fitness of beach soccer young athletes. Three teams of different age categories were evaluated. Boys with maximum 13 (S13; n=10), 15 (S15; n=11) and 17 years old (S17; n=9) were evaluated through a battery of tests to get measures: a) weight; b) stature; c) shuttle run (SR.); d) vertical jump with (IVC) and without the aid of the arms (IVS), and horizontal jump (IH); e) 1000 and 2400 meters-run; f) 40 seconds-run (40s); g) 50 meters-run (50m); and h) sit and reach. The S15 category presented statistical difference (p<0,05) vs S13 only in 40s (S15 vs S13; 248,8±4,5 vs 231,3±6,0 m; average±SEM). S17 presented statistical difference vs S15 in IH (S17 vs S15; 230,8±8,0 vs 194,6±7,1 cm), IVC (S17 vs S15; 48,8±1,6 vs 39,0±2,2 cm), IVS (S17 vs S15; 39,1±1,8 vs 31,2±1,5 cm) and 50m (S17 vs S15; 6,7±0,1 vs 7,5±0,2 s). S17 presented statistical difference vs S13 in SR (S17 vs S13; 10,0±0,2 vs 11,0±0,1 s), IVC (S17 vs S13; 48,8±1,6 vs 38,0±1,6 cm), IVS (S17 vs S13; 39,1±1,8 vs 32,8±1,4 cm), 40s (S17 vs S13; 263,4±2,5 vs 231,3±6,0 m) and 50m (S17 vs S13; 6,7±0,1 vs 7,8±0,2 s). Such as in other team sports, the physical fitness tended to be superior in the S17 category. S17 had superior physical fitness vs S13, but not totally vs S15, that was similar in some physical fitness variables. S13 and S15 had similar physical fitness. Additional studies are necessary to provide knowledge enrichment concerning this modality, still devoid of scientific literature.

          Keywords: Soccer. Adolescent. Athletic performance.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 125 - Octubre de 2008

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Introdução

    O futebol de areia tem sido praticado ao redor do mundo de maneira recreacional há muitos anos e de diversas formas. Somente no ano de 1992, num evento piloto realizado em solo norte-americano, na cidade de Los Angeles, é que foram implementadas as regras que formataram e oficializaram a prática do beach soccer. No ano seguinte a primeira competição profissional foi realizada em Miami, também nos Estados Unidos. Mas foi em 1994, em território brasileiro, na praia de Copacabana, que a primeira competição com cobertura televisiva foi realizada1. A expansão da prática do beach soccer continuou, tanto que em 1996 foi criada a Euroliga, que hoje conta com a participação efetiva de 19 países do continente europeu2. A partir de 2005 o esporte passou a ser gerido e organizado pela FIFA2, que já o difundiu para pelo menos 170 das 207 associações nacionais que compõem essa federação3.

    Oficialmente, uma partida é jogada por duas equipes, com cinco jogadores em cada time, sendo obrigatoriamente um desses o goleiro. São permitidos cinco atletas substitutos para o banco de reservas, sendo ilimitado o número de substituições. A partida deve ter três tempos de doze minutos, com intervalos de três minutos entre esses tempos, saindo vencedora a equipe que marcar mais gols4.

    Atualmente no Brasil há aproximadamente dez mil atletas praticantes de beach soccer, em dezessete federações estaduais filiadas à Confederação Brasileira de Beach Soccer2. O campeonato nacional adulto de seleções já teve onze edições5, sendo que para jogadores jovens (sub-15, sub-17 e sub-20 anos) um campeonato nacional6 já foi realizado em 2006, demonstrando a abrangência deste esporte junto às diversas faixas etárias.

    O beach soccer não é um desporto alvo de muitos estudos. Uma busca no Pubmed com o termo beach soccer resultou em três achados, sendo que somente um deles versa sobre a modalidade, o qual investigou problemas dermatológicos em um praticante deste desporto7. Os estudos que investigam a aptidão física de atletas usualmente utilizam indivíduos adultos8,9. Há estudos identificando a aptidão física de atletas jovens de outras modalidades esportivas10,11,12,13,14. No entanto, há pouca literatura sobre o beach soccer. Estudos que comparem atletas de diversas categorias de idade são escassos, assim como pesquisas que avaliem a aptidão física dos praticantes deste desporto. Então, o objetivo deste estudo foi avaliar e comparar a aptidão física de atletas de beach soccer de diferentes categorias de idade.

Métodos

Características da amostra

    A amostra foi composta de atletas do sexo masculino de três categorias de idade diferentes, todos participantes do campeonato municipal da cidade de Vitória (ES, Brasil) do ano de 2007. As categorias de idade escolhidas foram as seguintes: 

  1. atletas com, no máximo, treze anos de idade (S13); 

  2. atletas com, no máximo, quinze anos de idade (S15); e 

  3. atletas com, no máximo, dezessete anos de idade (S17). 

    Foram incluídos na amostra todos os atletas convocados – pertencentes a um mesmo centro de treinamento de beach soccer – para a disputa da competição nas categorias citadas, totalizando 34 indivíduos. Todos treinavam duas vezes por semana. A não conclusão de qualquer um dos testes foi estabelecida como critério de exclusão dos sujeitos. A Tabela 1 mostra as diferentes categorias de idade, o número de atletas por posição tática de jogo, e o número total de atletas por categoria.

Avaliação antropométrica

    Para avaliar as características antropométricas dos sujeitos, utilizamos as medidas de peso corporal, estatura e índice de massa corporal (IMC). O peso corporal (kg) e a estatura (m) dos indivíduos foram medidos com uma balança com estadiômetro (R-110, WELMY, Brasil), com precisão de 0,1 kg e 0,5 cm, conforme protocolo descrito em Matsudo15 (2005). O IMC (kg/m2) foi obtido pela divisão do peso corporal (kg) pela estatura (m) elevada à segunda potência.

Avaliação da aptidão física

    A aptidão física foi avaliada através de testes que mediram variáveis metabólicas e neuromotoras dos sujeitos, segundo protocolos descritos em Matsudo15 (2005). A única exceção protocolar foi o teste de corrida de 2400 m de Cooper, em que o protocolo utilizado aparece descrito em Marins e Giannichi16 (2003).

    Para estimar a potência aeróbica foram utilizados dois testes distintos: 

  1. teste de corrida de 1000 m; e 

  2. teste de corrida de 2400 m. 

    O teste de corrida de 1000 m foi aplicado a S13, pois se trata de um teste direcionado a crianças de 8 a 13 anos15. Para as demais categorias de idade utilizamos o teste de corrida de 2400 m de Cooper. A potência anaeróbica total foi medida através do teste de corrida de 40 segundos (40s). A distância percorrida foi medida com uma trena de 30,0 m (GWF-3006, The Great Wall, China) com precisão de 1 mm, em uma pista de atletismo de 400 m, demarcada a cada 25 m a partir dos 200 m.

    Para determinar a flexibilidade do tronco dos atletas utilizamos o teste de sentar e alcançar em um banco de Wells (BW 2002, Sanny, Brasil), com precisão de 1 mm. A força muscular de membros inferiores foi medida através dos testes de impulsão vertical (IVC) com e (IVS) sem auxílio dos braços, além do teste de impulsão horizontal (IH). Para medir as distâncias de IVC e IVS foi utilizada uma fita métrica de 1,5 m (EasyRead, CATEB, Brasil) com precisão de 0,5 cm. A IH foi medida com uma trena metálica de 7,5 m (Weston, Estados Unidos) com precisão de 1 mm.

    Com o teste de corrida de 50 m medimos a velocidade dos sujeitos. A agilidade foi medida através do teste de shuttle run (SR). Para medir o tempo nos testes de agilidade, velocidade, potência aeróbia e anaeróbia lática total, foi utilizado um cronômetro (YP2151/8P, Technos, Brasil) com precisão de centésimos de segundo.

Procedimento experimental

    Os testes foram realizados em dias consecutivos, entre 17 e 20 horas. No primeiro dia de testes foram obtidas as seguintes medidas: 

  1. peso corporal e estatura total; 

  2. flexibilidade; 

  3. IH; e 

  4. IVS e IVC; 

    nessa ordem e em ambiente interno. No segundo dia de testes foram obtidas as seguintes medidas: a) SR; e b) 50m; nessa ordem e em ambiente externo. No último dia de testes foram obtidas as medidas das corridas de 40s e de 1000 (S13) ou 2400 m (S15 e S17), nessa ordem, numa pista de atletismo de 400 m, descoberta. Um intervalo de 25 minutos foi dado após o término do teste de corrida de 40s para a realização do teste de corrida de 1000 ou 2400 m. Foram auto-descritas pelos atletas as informações referentes à data de nascimento, assim como o tempo de prática do desporto, a freqüência de treinamentos por semana e a posição tática de jogo que cada um exercia em suas equipes.

Análise estatística

    Para a análise estatística foram usados os testes t de Student, para comparar dois grupos, e para comparação de três grupos foram usados os testes one way ANOVA, quando os dados apresentavam distribuição normal pelo teste Smirnov-Kolmogorov e igualdade de variâncias pelo teste de Levene, ou o teste Kruskal-Wallis quando os dados não apresentavam distribuição normal. Para comparações que resultavam em diferença estatística foram usados os post-hoc de Tukey, após one way ANOVA, e Dunn's, após Kruskal-Wallis. Todos os testes foram bicaudais e o máximo de erro tolerado foi 5% (P<0,05). As análises foram realizadas com auxílio do software SigmaStat (versão 3.1).

Resultados

    Foram excluídos do estudo dois atletas S13 (pivôs), um atleta S15 (fixo) e um atleta S17 (ala), todos por não completarem os testes. Assim, foram considerados os resultados dos atletas restantes (10 na S13; 11 na S15; 9 na S17). A idade mínima em indivíduos S13 foi de 11 anos.

    A Tabela 2 apresenta as características da amostra e as medidas das diferentes categorias estudadas. A estatura e o peso corporal foram maiores na S17 somente quando comparados a S13. Quando comparadas em S15 e S13 as variáveis peso corporal e estatura não se distinguiram significativamente. Não foi encontrada diferença significativa entre os tempos de prática (anos) das categorias. O tempo (min) de execução do teste de potência aeróbica de S13 (4,6; 4,5±0,2; mediana; média±erro padrão da média) não foi comparado com os demais pois o teste para medir esse parâmetro foi diferente nessa categoria. O tempo (min) de execução do teste de potência aeróbica não se mostrou diferente de maneira significativa entre S15 (11,3; 11,5±0,3; min) e S17 (11,1; 11,3±0,5; min).

    As Figuras 1 e 2 mostram que S17 (40,5; 39,1±1,8 e 48,5; 48,8±1,6; cm) teve desempenho superior nos testes de IVS e IVC quando comparada com as demais categorias. Em ambos os testes não houve diferença significativa entre S13 (31,5; 32,8±1,4 e 37,1; 38,0±1,6; cm) e S15 (32,0; 31,2±1,5 e 38,5; 39,0±2,2; cm). Em todas as categorias as médias de IVC foram superiores às de IVS, como mostra a Figura 3.

    A IH de S17 (230,0; 230,8±8,0; cm) foi superior somente a de S15 (196,0; 194,6±7,1; cm), como mostra a Figura 4. Em relação à S13 (204,5; 202,0±9,6; cm), S17 apresentou uma tendência (p=0,059) a uma superioridade de desempenho. Mais uma vez S13 e S15 não apresentaram diferença significativa.

    Não houve diferença significativa na flexibilidade do tronco quando comparadas S13 (28,3; 29,0±2,4; cm), S15 (29,0; 27,4±2,7; cm) e S17 (29,0; 30,6±1,4; cm), como mostra a Figura 5. A agilidade de S17 (9,9; 10,0±0,2; s) foi significativamente superior somente à de S13 (11,0; 11,0±0,1; s). S15 (10,6; 10,7±0,2; s) teve desempenho similar às outras categorias, não sendo diferente de maneira significativa a ambas, como mostra a Figura 6.

    O tempo gasto no teste 50m foi inferior em S17 (6,7; 6,7±0,1; s) em relação à S13 (7,9; 7,8±0,2; s) e S15 (7,5; 7,5±0,2; s). Como mostra a Figura 7, o desempenho dos mais velhos se mostrou significativamente maior do que o dos mais jovens. Essa diferença não foi encontrada quando comparamos S13 e S15.

    A distância percorrida no teste 40s foi superior em S17 (266,0; 263,4±2,5; m) e S15 (250,0; 248,8±4,5; m) quando comparadas à S13 (228,0; 231,3±6,0; m). Como visto na Figura 8, não houve diferença significativa entre os atletas da S15 e S17.

Discussão

    A falta de estudos específicos sobre o beach soccer foi atestada após buscas em bases de dados nacionais e internacionais (Scielo, Lilacs; Sportdiscus; Pubmed/Medline; Pedro; Physical Education Index) com os seguintes termos: 

  1. beach soccer;

  2. futebol de areia; 

  3. futebol de praia; 

  4. beach football

  5. sand football; e 

  6. fútbol playa

    Os poucos estudos resultantes das buscas investigaram problemas dermatológicos7, características físicas de atletas brasileiros adultos17, os gols da primeira Copa do Mundo da modalidade18 e diferenças de habilidades de movimento em superfícies distintas de atletas italianos adultos19. Não foram encontrados estudos sobre a aptidão física de jovens praticantes de beach soccer. Em virtude dessa carência de literatura científica, a base para a discussão do presente estudo foi composta de literatura sobre o futebol jogado em outras superfícies (futebol de campo e futsal), além de literatura sobre a aptidão física de jovens escolares.

    O tempo de prática da modalidade não foi estatisticamente diferente entre as categorias, o que indica que a experiência específica em beach soccer não deve ter influenciado os resultados. O mesmo não foi encontrado em futebolistas S15 vs S17 que apresentaram resultados distintos de maneira significativa, mas não foi investigada a influência dessa diferença de tempo de prática esportiva nessas duas categorias20.

    Com relação as variáveis antropométricas, os resultados mostram que todas as categorias apresentam médias de IMC entre os percentis 25 e 75 do padrão de normalidade21. O peso e a estatura foram significativamente superiores em S17 vs S13, resultado já esperado, dado o processo de crescimento corporal e o estádio de desenvolvimento maturacional de futebolistas desta idade22,23,24. Não houve diferença significativa entre S13 vs S15 e S15 vs S17, o que pode, em parte, ser explicado pelos tamanhos amostrais das categorias, pois em estudos com amostras maiores S17 foi maior nas duas variáveis frente S15, assim como S15 foi superior frente S1323,24,25.

    A flexibilidade não se mostrou estatisticamente diferente entre as categorias estudadas. Diferentemente de Vaeyens et al26 (2006) que encontraram futebolistas com idade até 13 anos que apresentaram menor flexibilidade que seus pares com menos de 15 e menos de 16 anos de idade. Resultado similar ao encontrado em escolares brasileiros de 14 anos, que foram mais flexíveis que os de 12 anos de idade27.

    Somente os valores de potência aeróbica não foram comparados entre todas as categorias, pois foram utilizados testes de estimativa distintos. Portanto, foram comparadas somente S15 e S17, que fizeram o mesmo teste. A potência aeróbica (ml/kg/min) não foi diferente entre essas categorias, resultado também encontrado em praticantes de futsal25 e de futebol20,28,29,30,31, por meio de diferentes métodos de estimativa, concordando com Tourinho Filho e Tourinho32 (1998) que apontam que o consumo de oxigênio em termos relativos (ml/kg/min) não se modifica, virtualmente, da infância até a idade adulta.

    Quanto aos resultados de IVS e IVC, S15 obteve desempenho similar a S13. Diferente do visto em 50 jovens futebolistas brasileiros33 que realizaram o salto com contramovimento sem e com o auxílio dos braços (SCM e SCMA), assim como em 93 futebolistas portugueses22 que realizaram o SCM. A partir da diferenciação entre os testes SCM e SCMA feita por Rocha et al34 (2005), observamos que estes têm padrões de execução biomecânica similares aos testes de IVS e IVC respectivamente. A possível presença de jovens em estádios maturacionais similares em S13 e S15 pode ter resultado na similaridade de desempenho dessas categorias. Nos 93 jovens jogadores portugueses avaliados por Seabra et al22 (2001) S13 era composta majoritariamente de indivíduos em estádios maturacionais iniciais, ao passo que S15 era composta por indivíduos em estádios mais avançados, o que em parte justifica o resultado encontrado pelos autores. Como a presença de indivíduos S13 e S17 em estádios similares de maturação é menos comum22,23,24, a superioridade da S17 vs S13 em IVS e IVC já era esperada dadas as diferenças expostas por Malina e Bouchard (1991) apud Malina23 (2000). A não avaliação dos estádios maturacionais pode ser apontada como uma limitação deste estudo. Em estudos futuros, sugere-se a avaliação da maturação sexual dos sujeitos, já que a diferença de desempenho entre jovens que têm a mesma idade, mas diferentes estados de maturidade, são mais aparentes de 13 a 16 anos de idade35, justamente o intervalo etário entre as categorias aqui estudadas.

    S17 obteve desempenho significativamente superior a S15, em IVS e IVC. Embora Comas et al20 (1992) e Eliotério33 (2004) tenham encontrado similaridade de resultados de IVS e SCM respectivamente, a superioridade de S17 vs S15 encontrada no presente estudo também foi encontrada em 93 jovens futebolistas portugueses22 que realizaram o SCM. E, como Eliotério33 (2004) também encontrou resultados de IVC superiores em 19 futebolistas S17 vs 25 futebolistas S15, acreditamos que o resultado encontrado em nosso estudo esteja de acordo com a literatura. Todas as categorias apresentaram resultados de IVC estatisticamente maiores que os de IVS, dada a influência dos membros superiores no desempenho em salto vertical36.

    Não houve diferença significativa entre os resultados de IH em S13 vs S17, e S13 vs S15. A similaridade de IH de S13 e S15 também foi encontrada em 136 escolares entre 12 e 14 anos de idade27. Diferentemente do encontrado em jogadores de futsal25,37 e de futebol22, onde S13 foi inferior significativamente perante S15 e S17. Em nosso estudo houve apenas uma tendência de superioridade do resultado de IH de S17 vs S13 (p=0,059). É possível que em amostras mais homogêneas essa superioridade passe a ser estatisticamente significante. O resultado de IH de S17 foi estatisticamente superior a S15, diferentemente do visto tanto em 2437 quanto em 6425 atletas de futsal onde os resultados foram similares. Concordando com o presente estudo a IH de S17 foi estatisticamente superior a S15 em 36 futebolistas brasileiros20 e 93 portugueses22. Mesmo com os testes referentes à força muscular (IVS, IVC e IH) indicando algumas similaridades entre as categorias, num estudo em que se utilizou aparelho isocinético para mensuração da força de membros inferiores em 49 jovens futebolistas, verificou-se que a força muscular aumentou significativamente com o avançar da idade (S13<S15<S17)38.

    A superioridade de S17 frente às demais categorias no tempo gasto no teste de 50m indica maior velocidade desses atletas, assim como em futebolistas portugueses22,39. A superioridade de desempenho em velocidade de S15 vs S13 foi observada na literatura39,40, mas não no presente estudo. É possível que em amostras menos heterogêneas essa similaridade não apareça, já que a potência anaeróbica (alática e lática) de jovens progride com o avançar da idade32.

    O tempo gasto no teste SR de S13 foi similar ao de S15 e inferior ao de S17, concordando com o encontrado em 139 futebolistas portugueses22. Diferentemente do encontrado em amostras menores, de 47 jovens futebolistas brasileiros40 e de 24 jovens jogadores de futsal37, onde S15 foi superior a S13. A exemplo do ocorrido nos resultados dos testes de força muscular deste estudo, acreditamos que a similaridade entre S13 e S15 possa ser creditada a fatores maturacionais. Por mais similares que pareçam em agilidade20,37, S15 e S17 quando avaliadas em estudos mais representativos, como em Seabra et al22 (2001), apresentam valores distintos quanto ao tempo gasto no teste de SR, concordando com nosso estudo.

    O desempenho no teste de 40s foi significativamente superior em S15 e S17 quando comparadas à S13. Já S17 apresentou resultado superior a S15 de maneira não significativa. É possível que em amostras maiores a superioridade estatística apareça. A superioridade de potência anaeróbica lática de futebolistas S17 vs S15 foi encontrada em estudos com amostras maiores que fizeram o mesmo teste diagnóstico do presente estudo20, como também em outros estudos que utilizaram o RAST test41,42. O RAST test substitui satisfatoriamente o teste de Wingate43, que é indicado para avaliar o metabolismo anaeróbico tanto de jovens atletas44 como de jogadores de futebol45. Cremos que o aumento da potência anaeróbica (alática e lática) com o avançar da idade, já citado32, justifique em parte os resultados desta variável estudada.

    Em resumo, S13 teve na maioria das vezes desempenho inferior a S17. S15 e S17 foram categorias que apresentaram igual número de semelhanças e diferenças de desempenho. Já S15 e S13 apresentaram quase sempre resultados similares, indicando não haver diferenças significativas de aptidão física entre essas categorias. A exemplo do que ocorre em outros esportes coletivos, a aptidão física tendeu a ser superior na categoria S17. Esse foi um dos primeiros estudos que investigaram a aptidão física de jovens atletas de beach soccer. Estudos adicionais são necessários para enriquecer o conhecimento acerca desta modalidade, ainda carente de literatura científica.

Agradecimentos

    Agradecemos a Faculdade Estácio de Sá de Vitória pelo apoio ao estudo, com a liberação de materiais e da estrutura do Laboratório de Fisiologia do Exercício do curso de Educação Física, para a coleta de grande parte dos dados. Agradecemos também ao Prof. Fernando Brunoro Motta, proprietário do Centro de Treinamento Beach Soccer Geração, e seus atletas, fundamentais para a realização deste estudo.

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revista digital · Año 13 · N° 125 | Buenos Aires, Octubre de 2008  
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