efdeportes.com

Uso de fármacos com o objetivo de perda
ponderal em frequentadores de academias

The use of medicine with the point of the weight loss on people that uses the gym in the federal district of brazil

 

*Nutricionista, Graduada pela Universidade Católica de Brasília

**Fisioterapeuta, Doutor em Ciências da Saúde – UnB

Docente da Universidade Católica de Brasília

Docente do Programa de Mestrado em Educação Física 

e em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília

Fisioterapeuta da Câmara dos Deputados Federais

***Nutricionista, Mestre em Ciências da Saúde – UnB

Docente do Curso de Nutrição da Universidade Católica de Brasília

Nut. Maria Rosa Rodrigues Marino*

Dr. Gustavo De Azevedo Carvalho**

M.Sc.Muriel Bauermann Gubert***

murielgubert@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Verificar a prevalência de uso de fármacos com o objetivo de perda ponderal e relacionar com a auto-percepção corporal em freqüentadores de academias. Metodologia: Estudo transversal, realizado em 20 academias registradas no CREF 7, amostra aleatória estratificada proporcional de 300 questionários, auto-preenchidos e anônimos. Foi realizado teste piloto. Os indivíduos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Católica de Brasília. Resultados: Dos 167 (55,7%) mulheres e 133 (44,3%) homens, 91 (30,3%) referem já terem utilizado fármacos com o objetivo de perda ponderal, com prevalência do sexo feminino (67%) e 7 (2,3%) referem estarem utilizando esses fármacos. Discussão: Parte dos achados epidemiológicos corroboram com outros estudos científicos, porém alguns estão em desacordo, geralmente por não serem estudos semelhantes. A prevalência de uso de medicamentos pelo sexo feminino está de acordo com estudos já publicados. Conclusão: Os resultados sugerem medidas de prevenção no público estudado, principalmente do sexo feminino e a realização de mais estudos com públicos, localidades e épocas do ano diferentes, para caracterização de grupos de risco.

          Unitermos: Medicamentos. Emagrecimento. Academias.

 

Abstract

          Objective: To verify the persistence on the usage of medicine with the point of the weight loss and relate this body self-perception on people that uses the Gym. Methodology: Transversal study, done in 20 Gyms registered in the CREF 7, random sampling of 300 anonymous and self-filled questionnaires. The individuals signed the Free Consent and Clarification Term and the research was approved by the Ethic and Research Committee in Catolica University of Brasilia. Results: Out of 167 (55,7%) women and 133 (44,3%) men, 91 (30,3%) reveal to have done the usage of medicine in order to lose weight, having most women (67%) gone through this situation over men (2,3%). Discussion: Part of the epidemiological findings agree with some other scientific studies, however, there are some that disagree, generally these studies don’t have much similarity among each other. The result showing the prevalence of women using these medicines is according to studies that have been already published. Conclusion: The results suggest prevention of the studied public considering most likely the feminine sex and the action of doing more studies with public of different kind, in different location and time in order to have a proper characterization of these risk groups.

          Keywords: Medicines. Weight Loss. Gyms.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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Introdução

    A imagem corporal compõe o mecanismo de identidade pessoal.1 Segundo Gardner2 a imagem corporal é “a figura mental que temos das medidas, dos contornos e da forma de nosso corpo; e dos sentimentos concernentes a essas características e às partes do nosso corpo”. Faz parte da imagem corporal a satisfação pessoal com o tamanho e formas do corpo ou de algumas de suas partes.1

    Um dos inúmeros critérios de beleza corporal é a simetria. Existe uma vasta variedade de formas corporais, porém o ser humano tende a estabelecer estereótipos de beleza diferentes para cada cultura. Esses estereótipos geram pressões sobre os seres humanos com o objetivo de adequá-los aos padrões.3

    A insatisfação pessoal e a baixa auto-estima estão intimamente ligadas aos padrões alimentares e de controle de peso errôneos. Essas são freqüentemente expressadas pela insatisfação com o peso corporal.4 Homens e mulheres insatisfeitos com a sua imagem corporal buscam um programa de atividade física. Em geral, mulheres visando à perda de peso e os homens o aumento de massa muscular.5

    Mais significativo que a satisfação econômica, afetiva ou profissional, está sendo a satisfação corporal, tornando-se um fenômeno sociocultural entre os praticantes de atividade física.6 Talvez um dos principais motivos do início da prática de atividade física seja a insatisfação com a imagem corporal. Há a possibilidade de que a percepção dos adultos jovens sobre sua massa corporal, percentual de gordura (G%) e estatura, seja influenciada de acordo com os graus de insatisfação corporal. Essa insatisfação tem relação com a exposição pela mídia de corpos bonitos.5

    Estudos1, 7, 8 apontam uma relação entre o peso e a percepção da imagem corporal. Em estudo realizado, Kakeshita et al1 afirmam que “a tendência de mulheres eutróficas ou com sobrepeso em superestimar seu peso se inverte à medida que aumenta o IMC, chegando à subestimação nas obesas. Esses resultados também justificariam a média geral de IMC real de a amostra masculina situar-se acima daquele considerado desejável (eutrófico), visto que os homens tendem a subestimar suas dimensões corporais, independente do IMC que apresentem”.1 As causas dessa subestimação podem ser as negações do próprio estado nutricional.1, 7, 8

    Esse resultado é reforçado pelo estudo desenvolvido por Branco et al9. Ao correlacionar a auto-percepção com o estado nutricional, detectou “a superestimação feminina, ou seja, aproximadamente 39% das meninas eutróficas se percebiam em sobrepeso e 47% daquelas nessa condição se percebiam obesas. Entre os meninos, também houve uma distorção da realidade, porém, inversamente, 26% daqueles em sobrepeso se acharam eutróficos e 46% dos obesos se acharam somente em sobrepeso ou eutrofia”.

    Esses resultados sugerem uma dificuldade maior em preocupar-se com os cuidados dispensados com o estado nutricional entre os homens, fato este que dificulta ações de prevenção de doenças crônico-degenerativas que tenham associação com o excesso de peso. Em relação às mulheres a superestimação encontrada reflete os aspectos ambientais para a presença de distúrbios alimentares como a anorexia e bulimia nervosas.1

    A mídia apresenta à sociedade conquistas de mudanças corporais, que focam um corpo socialmente aceito que conflita com a necessidade de uma melhor qualidade de vida. Dessa forma, “uma droga é colocada à disposição da cura de alguma anomalia e tem seu efeito desejado, a mesma é adotada inconseqüentemente para a alteração corporal provocando prejuízo à saúde de seu usuário” 3.

    Em estudo realizado de prevalência de uso de drogas entre adolescentes, Tavares et al10 (2001) encontrou que ansiolíticos e anfetamínicos foram, respectivamente, a terceira e a quarta droga mais utilizada, sendo o consumo feminino significativamente maior. Esse resultado é semelhante ao resultado de outro estudo11, em que ansiolíticos, anfetamínicos, solventes e a maconha, ocuparam a quarta posição de drogas mais utilizadas. Um estudo realizado em Pelotas, em 1994, apontou os benzodiazepínicos como os psicofármacos mais utilizados entre os adultos, um alto consumo de anorexígenos, e ainda que as mulheres consomem mais psicofármacos do que os homens12. Esses resultados podem sugerir que esse comportamento pode ser passado de mãe para filha, e ainda acrescido da exigência do corpo socialmente padronizado10.

    Todos os tipos de fármacos utilizados no tratamento da obesidade possuem os mesmos efeitos colaterais, que são: diarréia, poliúria, xerostomia, distúrbios do sono, nervosismo, disfunções sexuais, aumento da pressão arterial, depressão, neurotoxidade, doenças valvulares, hipertensão pulmonar primária, e ainda dependência ou desenvolvimento de tolerância13.

    Esses fármacos utilizados no tratamento da obesidade não podem ser utilizados com objetivos estéticos. Apenas são recomendados se fazem parte que um tratamento em conjunto com uma dieta, atividades físicas, acompanhamento nutricional e psicológico14, pois essas drogas não tem garantia de serem eficazes na perda e/ou no controle do peso quando se encerrar o uso15.

    O uso de fármacos no tratamento da obesidade apenas deve ser indicado se o indivíduo obtiver um Índice de Massa Corporal (IMC) > 30 kg/m2 ou IMC > 25 kg/m2 e possuir patologias associadas ao excesso de peso ou quando a dieta, atividade física (ou seu aumento), e mudanças de comportamento não têm obtido resultados significantes e satisfatórios16.

    Visto o aumento do uso de fármacos para modelagem corporal e o alto índice de distorção da imagem corporal, o objetivo deste trabalho é verificar a prevalência de uso de fármacos com o objetivo de perda ponderal e relacionar com a auto-percepção corporal em freqüentadores de academias.

Material e métodos

    O estudo, do tipo transversal, foi realizado em 20 academias de ginástica do Distrito Federal (DF- Brasil), que estavam registradas no Conselho Regional de Educação Física da 7º Região (CREF 7). Foi realizada uma busca por academias no site do CREF 7 pelas Regiões Administrativas do Distrito Federal, sendo encontradas 268 academias. A partir deste número foi definida, de acordo com a fórmula estatística, uma amostra mínima de 19 academias, sendo definido então a amostra final de 20 academias. A seguir foram divididos 5 estratos por faixa de renda per capita das Regiões Administrativas, segundo estudo17, a cada 2 salários mínimos. As academias de cada estrato foram sorteadas utilizando a tabela de números aleatórios, proporcionalmente à quantidade total de academias de cada estrato. Foi selecionada também uma amostra de substituição, para o caso de alguma academia não ser encontrada ou negar autorização para a realização da pesquisa. Os responsáveis pelas academias foram contatados para solicitação de autorização e nenhum responsável negou autorização, porém 5 academias tiveram que ser substituídas por não terem sido encontradas.

    Foram incluídos no estudo alunos regularmente matriculados nas academias selecionadas, que estavam presentes durante as visitas. E foram excluídos do estudo alunos que não estiveram presentes no momento da visita, apresentaram equívocos no preenchimento do questionário, apresentaram rasuras ou impossibilidade de identificação das respostas, não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, não concordaram em participar do estudo, ou aqueles cujas academias não autorizaram a realização do estudo. Não houveram perdas amostrais.

    Foi realizada uma visita em cada academia, sendo que os horários de cada academia foram variados (manhã, tarde e noite), garantindo uma variedade de público. Em cada academia foi definida uma amostra de 15 questionários, totalizando 300 questionários. Os alunos eram selecionados pela ordem de chegada e saída na academia para garantir uma variedade de modalidades realizadas e para que não houvesse incômodos durante suas atividades físicas. Todos os participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os questionários não eram identificados e os alunos eram avisados de que seu questionário e seu Termo estariam desvinculados em envelopes separados.

    Todos os sujeitos da pesquisa foram submetidos a um questionário de investigação, auto-preenchido, contendo questões sobre dados pessoais (idade, sexo, estado civil, bairro onde reside, nível de escolaridade, ocupação), freqüência de atividade física e modalidade, percepção corporal e imagem corporal desejada, sendo utilizado conjunto de silhuetas desenvolvido em estudo,18 uso de medicamento para perda ponderal, alternativas para emagrecimento utilizadas, opinião acerca de assuntos sobre uso de medicamentos para emagrecimento. O questionário foi validado em teste piloto.

    A coleta de dados foi realizada entre os dias 08 e 19 de Maio de 2008. As academias selecionadas para o estudo estavam localizadas nas seguintes Regiões Administrativas do DF: Gama, Samambaia, Taguatinga, Sobradinho, Candangolândia, Park Way, Asa Norte, Asa Sul, Lago Sul.

    Os dados foram analisados estatisticamente através do programa SPSS 11.0. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Católica de Brasília.

Resultados

    Da amostra de 300 participantes, 100% tiveram seus questionários válidos.

    A amostra foi composta por 55,7% de mulheres e 44,3% homens. A média de idade foi de 28,4 anos (± 10,4 anos).

    De acordo com a faixa de renda per capita da Região Administrativa da academia, a maior parte da amostra (45%) foi coletada em academias localizadas na faixa de renda de 6 a 8 salários mínimos (Tabela 1).

    Em relação à escolaridade (Tabela 1) 0,7% possuíam apenas a educação infantil, enquanto que 46,3% possuíam nível superior ou mais.

Tabela 1. Distribuição da amostra por faixa de renda da Região Administrativa onde estava localizada a academia e escolaridade dos entrevistados. Brasília, 2008.

Renda da Região administrativa

n

%

Até 2 salários

45

15

2 a 4 salários

75

25

4 a 6 salários

15

5

6 a 8 salários

135

45

Mais de 8 salários

30

10

Escolaridade

n

%

Infantil

2

0,7

Fundamental

25

8,3

Médio

134

44,7

Superior

109

36,3

Pós-Graduação

30

10

    Foram coletados dados em relação ao tipo e freqüência de atividade física realizada na academia. A maior prevalência, conforme Tabela 2, é de musculação (89%), seguida de aeróbicas (54,7%).

Tabela 2. Modalidade e freqüência de atividade física realizada na academia

Modalidade

n

%

Freqüência média semanal

Musculação

267

89

4,1

Aeróbicas

173

57,7

3,4

Lutas

19

6,3

2,7

Danças

22

7,3

2

Esportes Aquáticos

19

6,3

2,4

Outras

8

2,7

2

    Dentre os entrevistados, 38,6% afirmaram praticar atividades físicas além das realizadas na academia, com uma média de freqüência de 2,2 vezes por semana. A maior prevalência destas atividades foi de futebol e corrida, conforme Tabela 3.

Tabela 3. Modalidades de atividade física realizada além da academia

Modalidades

n

%

Futebol

29

25

Corrida

24

20,7

Caminhada

19

16,4

Ciclismo

12

10,3

Natação

8

6,9

Lutas

7

6

Basquete

4

3,4

Educação física

3

2,6

Dança

3

2,6

Vôlei

2

1,7

Pilates

1

0,9

Tênis

1

0,9

Musculação

1

0,9

Equitação

1

0,9

Handball

1

0,9

Total

116

100

    De acordo com o conjunto de silhuetas de Stunkard18, houve uma maior prevalência da silhueta 4 atual e da silhueta 3 ideal, como pode ser observado na Tabela 4.

Tabela 4. Distribuição da amostra por silhueta atual e ideal

Silhueta

Atual

Ideal

n

%

n

%

1

2

0,7

7

2,3

2

19

6,3

24

8

3

61

20,3

111

37

4

92

30,7

70

23,3

5

75

25

85

28,3

6

40

13,3

2

0,7

7

3

1

1

0,3

8

6

2

0

0

9

2

0,7

0

0

TOTAL

300

100

300

100

    Ao comparar a silhueta atual com a silhueta desejada, foi encontrado que 153 (51%) dos participantes tem o desejo de perder peso, sendo 112 (73,2%) mulheres e 41 (26,8%) homens, 52 (17,3%) tem o desejo de ganhar peso, sendo 10 (19,2%) mulheres e 41 (80,8%) homens e 95 (31,7%) estão satisfeitos com o seu corpo atual, 45 (47,4%) mulheres e 50 (52,6%) homens, desejando então manter o peso. Há uma prevalência de desejo de diminuição de apenas uma silhueta e de aumento também de uma silhueta, conforme Tabela 5.

Tabela 5. Distribuição da amostra por desejo de modificação da silhueta em número de silhuetas, em relação ao sexo.

Número de

Silhuetas

Feminino

Masculino

TOTAL

n

%

n

%

- 6

1

100

0

0

1

- 4

2

66,7

1

33,3

3

- 3

16

84,2

3

15,8

19

- 2

34

75,5

11

24,4

45

- 1

59

69,4

26

30,6

85

0

45

47,4

50

52,6

95

+ 1

8

23,5

26

76,5

34

+ 2

2

12,5

14

87,5

16

+ 3

0

0

1

100

1

+ 4

0

0

1

100

1

    Quanto ao uso de fármacos com o objetivo de perda ponderal, 91 (30,3%) participantes afirmaram já ter feito uso alguma vez na vida desses medicamentos. Desses, 40,6% fizeram uso apenas uma vez, conforme Tabela 6.

    Conforme pode-se verificar na Tabela 6 há uma prevalência de uso de fármacos por freqüentadores do sexo feminino (67%), solteiros (57,1%), freqüentadores cuja academia pertence a Regiões Administrativas com renda per capita de 4 a 6 salários mínimos (46,7%), freqüentadores com nível superior (42,8%) e praticantes de musculação (86,8%). Houve diferença estatisticamente significativa para as variáveis sexo (p= 0,008) e aeróbicas (p= 0,001).

Tabela 6. Caracterização dos participantes que já fizeram uso de fármacos com o objetivo de perda ponderal

Uso de Fármacos

SIM

p

n

%

Sexo

   

0,008

Feminino

61

67,0

 

Masculino

30

33

 

Estado Civil

 

 

0,145

Solteiro

52

57,1

 

Casado

33

36,3

 

Viúvo

0

0

 

Divorciado

6

6,6

 

Não Declarado

0

0

 

Renda per capita

 

  

0,092

Até 2 salários

6

13,3

 

2 a 4 salários

19

25,3

 

4 a 6 salários

7

46,7

 

6 a 8 salários

48

35,5

 

Mais de 8 salários

11

36,7

 

Nível Escolar

 

  

0,370

Infantil

0

0

 

Fundamental

7

7,7

 

Médio

32

35,2

 

Superior

39

42,8

 

Pós-Graduação

13

14,3

 

Atividade Física

     

Musculação

79

86,8

0,631

Aeróbicas

68

74,7

0,001

Lutas

6

6,6

0,926

Danças

6

6,6

0,88

Esportes Aquáticos

6

6,6

0,926

Número de vezes

     

1 vez

37

40,6

 

2 vezes

26

28,6

 

3 vezes

6

6,6

 

4 vezes

3

3,3

 

Mais de 4 vezes

19

20,9

 

    Quanto ao tipo de medicamento utilizado a maior prevalência, conforme Tabela 7, é de fórmulas manipuladas (53,8%), seguida de anfetaminas (45%). Em relação ao uso de diferentes tipos de dietas ou formas de emagrecimento (Tabela 7), 44,7% afirmaram já terem usado dietas sem orientação médica ou nutricional, enquanto 38,7% afirmaram estarem usando exercícios físicos para consumir gordura.

    Quanto à oferta de fármacos para perda ponderal, 149 (49,7%) afirmaram nunca terem recebido oferta de medicamentos, 122 (40,7%) afirmaram já ter recebido oferta de amigos, 36 (12%) afirmaram já ter recebido oferta de médicos, 14 (4,7%) afirmaram já ter recebido oferta na academia. A respeito do conhecimento dos efeitos do uso de fármacos com o objetivo de perda ponderal, 154 (51,3%) afirmaram não ter conhecimento sobre os efeitos e 146 (48,7%) afirmaram terem conhecimento sobre os efeitos do uso desses fármacos. Porém apenas 111 (76%) demonstraram terem o conhecimento sobre tais efeitos.

Tabela 7. Tipos de medicamentos, dietas e outros mecanismos para perda ponderal utilizados

Mecanismos para

perda ponderal

Já usei

Estou Usando

n

%

n

%

Medicamentos

       

L- Carn

14

15,4

1

1,1

Xenical

14

15,4

0

0

Diuréticos

22

24,2

1

1,1

Fórmulas Manipuladas

49

53,8

3

3,3

Anfetaminas

41

45

0

0

Outros

20

22

2

2,2

Outros mecanismos

       

Mecanismo 1

134

44,7

17

5,7

Mecanismo 2

82

27,3

8

2,7

Mecanismo 3

103

34,3

33

11

Mecanismo 4

58

19,3

3

1

Mecanismo 5

113

37,7

33

11

Mecanismo 6

116

38,7

96

32

Mecanismo 7

77

25,7

116

38,7

Mecanismo 8

3

1

6

2

Mecanismo 1: Dieta sem orientação médica ou nutricional.

Mecanismo 2: Dieta proposta por revistas, jornais, televisão, amigos e etc.

Mecanismo 3: Dieta proposta e orientada por Médicos ou Nutricionistas sem remédios.

Mecanismo 4: Dieta proposta por Médicos com remédios.

Mecanismo 5: Redução do número de refeições.

Mecanismo 6: Redução de doces e refrigerantes.

Mecanismo 7: Exercícios físicos para consumir gorduras.

Mecanismo 8: Outras dietas ou formas de emagrecimento.

    Foi realizada uma pesquisa de opinião acerca de temas correlatos ao estudo (Tabela 8), onde 89,6% concordaram totalmente ou parcialmente que a imagem de corpos na televisão, revistas, internet e outros meios de comunicação favorecem a busca de tais modelos por parte dos freqüentadores das academias.

Tabela 8. Pesquisa de opinião acerca de temas correlatos ao estudo

Afirmativas

Concordo

Totalmente

Concordo

Parcialmente

Discordo

Não tenho

opinião

n

%

n

%

n

%

n

%

Afirmativa 1

127

42,3

142

47,3

9

3

22

7,3

Afirmativa 2

84

28

155

51,7

33

11

28

9,3

Afirmativa 3

33

11

113

37,7

125

41,7

29

9,7

Afirmativa 4

52

17,3

133

44,3

88

29,3

27

9

Afirmativa 5

116

38,7

124

41,3

41

13,7

19

6,3

Afirmativa 6

59

19,7

165

55

41

13,7

35

11,7

Afirmativa 7

21

7

132

44

106

35,3

41

13,7

Afirmativa 1: A imagem de corpos na televisão, revistas, internet e outros meios de comunicação favorecem a busca de tais modelos por parte dos freqüentadores de academias.

Afirmativa 2: Os freqüentadores de academias estão preocupados com sua aparência e condição física a ponto de utilizarem remédios para acelerar modificações em seus corpos

Afirmativa 3: Os freqüentadores de academias do sexo masculino estão mais preocupados com a aparência e condição física que as do sexo feminino.

Afirmativa 4: As freqüentadoras de academias do sexo feminino estão mais preocupadas com a aparência e condição física que os do sexo masculino.

Afirmativa 5: Entre os freqüentadores de academias, homens e mulheres tem igual preocupação com a aparência e condição física.

Afirmativa 6: Os freqüentadores de academias preferem meios mais rápidos para conquistar mudanças nos seus corpos (como fórmulas médicas) do que um processo mais longo e seguro, mesmo sabendo dos riscos à saúde.

Afirmativa 7: Os freqüentadores de academias conhecem, com profundidade, os riscos da utilização de medicamentos para a alteração corporal (peso, massa, silhueta, forma física) a ponto de recusarem sua utilização

Discussão

    O presente estudo realizou-se em uma amostra representativa dos freqüentadores de academias do Distrito Federal registradas no CREF 7, utilizando um questionário auto-aplicado, que, por garantir o anonimato, constitui-se num adequado procedimento para a obtenção de informações sobre comportamentos privados, tais como o teor da referida pesquisa.

    Os achados do estudo epidemiológico que detectou que 30,3% dos participantes já fizeram uso em algum momento da vida de fármacos com o objetivo de perda ponderal e 2,3% afirmam estarem utilizando esses fármacos, estão em contraposição à estudo3 onde 11,18% dos adolescentes da sua amostra utilizaram alternativas medicamentosas para perda ponderal, e a outro estudo10 onde 12,3% da amostra de adolescentes fizeram uso na vida de ansiolíticos e anfetamínicos, além de 1,1% que fizeram uso pesado (usou 20 ou mais vezes no último mês) desses medicamentos. Essa diferença pode ser devido ao fato da amostra e medicamentos pesquisados serem diferentes.

    A alta prevalência de uso de fármacos apenas 1 vez, seguida de uma redução de vezes, pode significar que após a primeira utilização, e com o aparecimento dos sintomas comuns, tenha havido o encerramento do uso e o desaparecimento da vontade de uso. Quanto ao tipo de medicamento fórmulas manipuladas são as mais utilizadas com 53,8% da amostra, seguida das anfetaminas com 45%, porém esse resultado está subestimado, pois sabe-se que grande parte das fórmulas manipuladas contém anfetaminas.

    Quanto à analise das silhuetas, percebe-se um alto índice de desejo de perda de peso (51%), com prevalência entre mulheres que corroboram com estudo4 onde 45,8% das mulheres de 12 a 29 anos desejam pesar menos e outro estudo3 que entre os adolescentes que desejam perder peso 70% são mulheres.

    Avaliando os tipos de dietas e formas de emagrecimento utilizadas, verifica-se um alto índice de participantes que já utilizaram (37,7%) e estão utilizando (11%) dietas com redução do número de refeições, resultados estes que corroboram com estudo3 em adolescentes em que o uso da alternativa citada foi de 41,23%. Quanto ao uso de exercícios físicos observou-se também um alto índice de participantes que já utilizaram (25,7%) e ainda maior que estão utilizando (38,7%), fato este que era esperado, por tratar-se de freqüentadores de academias.

    Quando se trata de oferta de medicamentos, a maior oferta é proveniente de amigos (40,7%), fato preocupante pois, caso a oferta seja aceita, haverá um alto índice de uso de medicamento sem orientação médica. Este fato é reforçado ao comparar-se o uso de medicamento (30,3%) com o uso de dieta proposta por Médicos com medicamentos (19,3%) e ainda uso atual de medicamentos (2,3%) com uso atual de dieta proposta por Médicos com medicamentos (1%), onde a prevalência maior de uso de medicamento em detrimento de dieta proposta por Médicos com medicamentos indica seu uso sem orientação médica.

    Analisando o conhecimento dos efeitos do uso dos referidos fármacos, dos 48,7% que afirmaram ter esse conhecimento apenas 76% demonstraram realmente ter o conhecimento, e somando aos que afirmaram não ter conhecimento (51,3%), 63% não tem conhecimento dos efeitos, o que indica que há uma grande quantidade de pessoas que utilizam os referidos medicamentos inconscientes dos reais efeitos de sua utilização.

    Em pesquisa de opinião, 89,6% concordam totalmente (42,3%) e parcialmente (47,3%) que a mídia influencia a busca por modelos padronizados de corpos, resultado também encontrado em estudo19 realizado nas ilhas Fiji, na qual após exposição prolongada à televisão, adolescentes apresentaram maior prevalência de indicadores de transtornos alimentares além de maior interesse de perda de peso, sugerindo impacto negativo da mídia. 79,7% concordam totalmente (28%) e parcialmente (51,7%) que freqüentadores de academias utilizam remédios para aceleração de modificações corporais por estarem preocupados com a aparência e condição física. Este resultado está em desacordo com o resultado de uso de medicamento encontrado no presente estudo, porém vale ressaltar que deve ser incluído o uso de esteróides anabolizantes, que em estudo20 realizado entre praticantes de musculação em academias da cidade de São Paulo, com incidência de uso de esteróides de 19% (8% uso atual e 11% uso anterior). Esse fato pode ser confirmado por outro achado do presente estudo onde 74,7% concordam totalmente (19,7%) e parcialmente (55%) que freqüentadores de academias preferem meios mais rápidos de modificarem seus corpos mesmo conhecendo os riscos à saúde. E por fim, 80% concordam totalmente (38,7%) e parcialmente (41,3%) que homens e mulheres que freqüentam academias tem igual preocupação com a aparência física, que corroboram com estudo5 em praticantes de caminhada, onde afirma que, na maioria dos casos, indivíduos que buscam um programa de atividade física, tem o objetivo de modificar as formas e proporções do seu corpo, logo, entre freqüentadores de academias, a grande maioria está preocupada com a aparência física.

    Em relação ao uso de medicamentos, dentre os que afirmaram já terem utilizado medicamentos alguma vez na vida, houve uma prevalência de 67% do sexo feminino, aproximadamente o dobro do sexo masculino, estando em acordo com estudos3 ,10 entre adolescentes em que a prevalência do sexo feminino é, da mesma forma, aproximadamente o dobro do sexo masculino.

Conclusão

    Pode-se concluir que há uma prevalência significativa de 30,3% de freqüentadores de academias que fizeram uso de fármacos com o objetivo de perda ponderal, porém há uma prevalência relativamente baixa de 2,3% de freqüentadores que estão fazendo uso desses medicamentos, que não devem ser desprezados. É possível que essa baixa prevalência seja devido à realização das atividades físicas na academia e pela certeza que essas atividades poderão gerar o resultado de perda de peso desejado. Outro fato que deve ser considerado é o período do ano que foi realizada a pesquisa (mês de maio), pois acredita-se que nos meses próximos a grandes feriados festivos e ao verão haja um aumento de freqüência em academias de pessoas buscando resultados rápidos.

    Quanto ao tipo de dieta utilizadas pode-se concluir que ainda há falta de informação acerca de planos alimentares mais adequados à cada individuo que geram resultados mais satisfatórios e com manutenção da saúde, por isso a enorme importância de atividades de educação nutricional para esse público.

    A influência da mídia sobre esse público é também um fato relevante, onde é importante que haja instruções e recomendações além de legislações e fiscalizações para um melhor direcionamento dessa influência transmitindo exemplos mais saudáveis.

    Mais estudos são necessários, em públicos, localidades e épocas do ano diferentes, para uma caracterização de usuários dos fármacos, além de seus grupos de risco para uma maior prevenção de uso, evitando riscos à saúde da população.

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revista digital · Año 13 · N° 124 | Buenos Aires, Setiembre de 2008  
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