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Pós-graduação Latus Sensu como formação continuada:
perfil e percepções dos participantes do curso de
especialização em Educação Física Escolar

 

*Prefeitura Municipal de São Paulo

Pós graduanda na Universidade de Franca UNIFRAN

**Docente da Universidade de Franca UNIFRAN

Docente do Centro Universitário Claretiano de Batatais

Profa. Camila Silva de Aguiar*

Profa. Dra. Maria Georgina Marques Tonello**

tonellogina@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Um dos interesses por realizar este trabalho provem do debate sobre formação inicial e continuada e sobre a construção dos saberes dos professores de Educação Física no confronto individual e coletivo, no cotidiano da prática educativa em Educação Física. Percebi através de conversas, reflexões que alunos de cursos de especialização apresentavam diferentes expectativas e percepções sobre a formação contínua, e que sua investigação poderia nortear uma melhor compreensão sobre as visões e necessidades desses docentes. O objetivo deste trabalho é analisar o perfil e as percepções dos alunos sobre o curso de pós-graduação em nível de especialização em Educação Física Escolar.

          Unitermos: Formação continuada. Professores. Educação Física.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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1.1.     A formação de professores em Educação Física - construindo o debate

    Segundo Brzezinski (1996) apud Costa et al. (2005) é no período em que no Brasil vivenciou a abertura democrática (final da década de 70 e início dos anos 80) que o tema “formação de professores” passou a ser destaque nos eventos sobre educação. E é no início dos anos 80 que na área da Educação Física são observados/denunciados os problemas relacionados com formação profissional. O estudo de Carmo (1982) alertou que na Educação Física estavam sendo formados profissionais sem consciência política ou competência técnica. O autor então, propõe uma reorganização didático-pedagógica dos currículos de formação de professores de Educação Física. O que para Pimenta (2000) compreenderia a formação de profissionais críticos e em constante processo de formação, investigando sua própria prática para produzir novos conhecimentos.

    Os resultados do estudo de Costa et al. (2005) apontaram que, no período de 1979 a 1992, na Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE)1 não foram publicados artigos que enfocassem a discussão da formação profissional. Já no início dos anos 90 começa a ocorrer um certo crescimento de estudos com enfoques mais voltados para uma análise crítica da área, possibilitando o surgimento de preocupações específicas relacionadas com uma produção científica mais centrada no tema da formação (Silva, 2001).

    Tais estudos sobre a temática intensificam-se a partir de 2000, como reflexo das discussões em âmbito nacional das reestruturações curriculares que começaram a ser discutidas e implementadas nos cursos de formação. Segundo Molina e Molina Neto (2003) o interesse dos pesquisadores na área da EF em investigar a formação profissional cresce no país potencializado com a implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), do Projeto de Regulamentação do Profissional de Educação Física e das normativas que transitam no Conselho Nacional de Educação.

    Com a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Educação Física no ano de 2004 várias instituições passaram ou estão passando por reformulações curriculares. Nos eventos que venho participando ao longo de minha formação percebo que alguns cursos procuraram avançar estabelecendo currículos que buscam superar uma formação estritamente técnico-instrumental.2 Ou seja, uma formação que contemple: a competência técnica e a consciência política (CARMO, 1982); a reconstrução social (PEREZ GÓMEZ, 2002); um professor reflexivo sobre e na ação (SCHÖN, 1992; PIMENTA, 2000); e autonomia (CONTRERAS, 1997).

    No que se refere ao professor reflexivo e autônomo concordamos com Pimenta (2002, p. 22), quando a autora alerta para o cuidado com utilização desses termos, principalmente no processo de formação (inicial ou continuada), como um “mercado de conceitos”. Pois estes podem contribuir para treinar os professores para serem reflexivos de sua própria prática docente, limitando e reduzindo a reflexão a uma ação técnica. Nessa mesma perspectiva, encontramos Contreras (1997), em seu estudo sobre a autonomia do professor, desenvolvendo uma análise crítica sobre a abundância da utilização de termos, convertendo-os, assim, num slogan vazio de conteúdo.

    Levando-se em consideração que a formação é um processo inacabado, com início antes mesmo da formação inicial e ficando em aberto até o final da carreira, percebo que a formação inicial ainda precisa possibilitar meios para atender as demandas da prática profissional e que na formação continuada, segundo Molina e Molina Neto (2003), é necessário uma aprendizagem no processo de escuta e um permanente debate coletivo sobre os problemas de ordem político-pedagógica e questões profissionais.

1.2.     Formação contínua

    Há algumas décadas se acreditava que ao terminar a graduação o profissional estaria apto para atuar na sua área para o resto da vida. Hoje a realidade é diferente, o profissional, principalmente o docente, deve estar consciente que sua formação é permanente e integrada ao seu cotidiano.

    Este processo não ocorreu de uma hora para outra. As exigências do mercado e a adaptação das universidades começaram lentamente na década de 1980 e explodiram nos anos 1990. Houve um progresso das tecnologias de informação e comunicação, nova perspectiva cultural, econômica, novas políticas educacionais, um aumento da escolarização e mudanças no perfil do mundo do trabalho.

    Um aspecto interessante é ressaltado por Cunha (2004) apud (Paula) ao analisar as transformações, sob os aspectos políticos e econômicos, após a década de setenta, que vem surgindo na relação aluno e professor.

    A generalização de diretrizes curriculares e a homogeneização dos conteúdos auxiliam a diminuir o custo social e colocam as escolas/universidades em posição de responsabilidade (culpa?) pelo alcance de objetivos definidos externamente pelas políticas públicas reguladas pelo mercado. (CUNHA, 2004b, p. 127) (Paula, p1)

    Cada vez mais o docente é cobrado individualmente pelo sucesso ou fracasso do aluno no processo de ensino-aprendizagem. Dessa maneira o professor cobrado de modo individual busca também soluções sozinho, procurando cursos de atualização profissional, como as capacitações, especializações lato sensu, participações em congressos e palestras, dentre outros.

    No entanto, essa busca pessoal para atender as necessidades não está dando conta de atender as demandas que surgem na escola, já que nem todas são protagonizadas pelos professores, mantendo assim os conflitos.

    O autor destaca que está situação evidenciou a necessidade de investimentos na área para que as demandas colocadas pelos sistemas públicos de educação fossem atendidas, gerando assim, na historia recente da educação, um movimento de disseminação de cursos de formação contínua de caráter particular ou institucional, presencial ou a distancia, promovidos por vários níveis de poder.

    Contudo, vejo que o crescimento desses cursos de formação contínua deve ser acompanhado por estudos, reflexões sobre as reais necessidades, expectativas dos professores, para que esteja cada vez mais próximo da realidade educacional, superando dicotomias como teoria e prática, professor reprodutor e produtor de saberes.

    Neste sentido Medeiros (2003) nos aponta que a formação continuada se faz necessário para completar a construção de conhecimento, com propostas próprias, formuladas autonomamente e para isto, desafios são postos: Superar a cópia da cópia, levar o conhecimento ao aluno de forma que seja internalizado, preparar o professor para produzir o seu projeto pedagógico para combater o fracasso escolar e motivar o professor para apresentar textos próprios sobre sua especialização.

    Assim, a formação contínua não é um remendo destinado a suprir as falhas da formação inicial, mas um espaço privilegiado onde os professores tenham condições de administrar, com suficiente autonomia, o conflito entre o prático e o teórico, refletir sobre a prática docente.

    “A formação permanente precisa, portanto, conjugar a experiência, a competência técnico-científica, a competência comunicativa e da argumentação a fim de contemplar uma adequação aos avanços tecnológicos e científicos as conquistas sociais, dentro de uma perspectiva de reconstrução permanente da própria prática pedagógica, reconstrução esta que se faz através da reflexão crítica sobre essa prática” (Freire, 1997; Marques, 1992) (p. 89, Gunther e Molina Neto)

    Mediante as discussões apresentadas, pode-se concluir a importância de haver um estudo sobre o perfil de alunos de especialização em Educação Física e suas percepções sobre esse nível de estudo. Assim, o objetivo desse estudo é Analisar o perfil e as percepções dos alunos sobre o curso de pós-graduação em nível de especialização em Educação Física Escolar.

Procedimentos metodológicos

    Esta pesquisa apresenta caráter descritivo, pois teve como objetivo analisar as características dos alunos de pós-graduação em nível de especialização em Educação Física Escolar e suas percepções sobre este.

    Do ponto de vista espacial (geográfico) a pesquisa está delimitada ao setor urbano de uma cidade do interior de São Paulo, que apresenta um curso de graduação em Educação Física e dois cursos de especialização. Abordaremos os alunos do curso de especialização em Educação Física Escolar do ano de 2007.

    A técnica utilizada para coleta de dados foi a de inquirição, cujo instrumento empregado foi o questionário, contendo perguntas fechadas e abertas. O questionário foi entregue pessoalmente e via internet aos estudantes.

    De acordo com a coleta dos questionários e baseado em conhecimentos teóricos previamente adquiridos, analisamos o perfil dos alunos de especialização, ressaltando sua formação acadêmica, atualizações e perspectivas sobre o curso. Sendo assim, o procedimento de análise de dados do tipo quantitativa-qualitativa.

Resultados

    A grande maioria dos alunos que cursaram esse programa de especialização em Educação Física Escolar tem a idade entre 21 a 25 anos.

Idade

21 – 26 anos

87,50%

26 – 31 anos

0 %

31 – 36 anos

0 %

36 – 41 anos

0%

Acima de 41 anos

12,50%

    Em relação ao local de residência dos estudantes verificamos que 62,5% dos alunos moram na mesma cidade onde o curso era oferecido.

Residência

Cidade da Universidade

62,5%

Outras cidades do Estado de São Paulo

25%

Cidades de outros estados

12,5 %

    De acordo com a instituição em que os profissionais se formaram, observa-se que 100% dos entrevistados se formaram na mesma Universidade onde estavam fazendo a sua Pós Graduação.

    Quanto ao ano de conclusão, um aluno não respondeu. Nota-se que 85,71 % formou-se em 2006. E 33,33% dos alunos que concluíram a graduação em 2006, finalizaram apenas o curso de Licenciatura cursando paralelamente a especialização o curso de bacharelado.

Ano de conclusão

2000

14,29%

2006

85,71%

    Questionados sobre o que entendiam sobre formação continuada a grande maioria relacionou a formação continuada com inovação, atualização dos conhecimentos que ocorre a cada dia com novas informações, idéias.

    Em relação à síntese da produção acadêmica questionamos a produção de artigos em periódicos, trabalhos e resumos em anais de congressos, tendo como base o curiculum lattes. Verificamos que 100% dos alunos não apresentam publicações nesses aspectos. Apenas um aluno levantou a questão da realização do Trabalho de Conclusão de Curso, mas não especificou e relatou a publicação deste em algum evento cientifico.

    Questionados sobre as atualizações (participação em cursos de curta duração, seminários, simpósios, congressos) foi constatado que 87,5 % dos estudantes de especialização fazem curso de atualização relacionados a sua prática profissional.

Atualizações

Realiza atualizações

75%

Não realiza

25%

    Quanto à freqüência daqueles que participam de atualizações 33,33% realizam uma vez por ano, e outros 33,33% em outro tempo.

Freqüência das Atualizações

Uma vez por ano

33,33%

Uma vez por semestre

16,67%

Duas vezes por semestre

16,67%

Outro tempo

33,33%

    Os estudantes apontaram alguns cursos/eventos que participaram e o mais freqüentado foram o ENAF e Oficinas oferecidas na própria faculdade. A seguir estão os demais cursos/eventos pontuados: Curso de arbitragem, Curso de ginástica com bola suíça (UFMU), Atividades aquáticas, Atividades aquáticas Adaptadas, 2 Seminário de Ginástica de Academia, Campeonato de natação, recreação, Curso de fisiologia de exercício, exercícios para condicionamento de atletas, palestra educação para o futuro, Enare (Curitiba) .

    Questionados sobre o motivo que procuraram o curso de especialização, encontramos que o principal fator é a melhoria da prática profissional.

Motivo da participação na especialização

Número de vezes pontuado

Melhoria da prática profissional

7

Pontuação no trabalho

2

Teoria para concursos

3

Continuação em pós-graduação. (mestrado)

4

Outros. Especifique

 

    Perguntamos sobre quais os possíveis efeitos da participação nas atividades do curso de Especialização sobre a prática profissional. Todos os alunos, mesmo aqueles que ainda não atuam na área educacional, relataram que se sentem melhor preparados para prática profissional. Contudo, não especificaram quais pontos ou efeitos que os auxiliaram.

    Em relação que conteúdos os alunos consideram importantes para a Especialização orientar adequadamente o exercício profissional e se esses foram abordados no curso em questão, destacaram alguns que foram abordados no curso, como: Abordagens de Ensino da Educação Física Escolar, Planejamento dos conteúdos, Didática, Pedagogia da Aprendizagem. Sugeriram os seguintes temas que não foram tratados: Atividades comemorativas, Preparação do profissional para concursos (legislação, deveres do educador, diretor), Vivencias de dificuldades e problemas.

    Perguntamos se o curso atendeu as expectativas dos alunos e 62,5 % disseram que sim. Os outros 37,5 % atendeu relativamente as suas expectativas, mas mesmo quando questionados não especificaram o porquê.

Conclusão

    Primeiramente lembramos que esta analise é restrita ao contexto do curso que investigamos. De acordo com esse estudo, a especialização em Educação Física Escolar atende principalmente o publico que realizou a graduação nessa mesma instituição e recém formados. Acreditamos que esse resultado é devido ao grande incentivo que estes recebem durante a realização do curso de Educação Física e por ser um curso em uma Instituição que está crescendo consideravelmente.

    Verificamos que os alunos da especialização não possuem produções acadêmicas, como artigos em periódicos, trabalhos e resumos em anais de congressos artigos. Entendemos que o desenvolvimento da pesquisa na graduação é uma oportunidade de descobrir parte do mundo da pesquisa, indispensável a qualquer profissional que não deseja entrar de forma rotineira no cotidiano de suas atividades, como também pode incentivar e facilitar o ingresso na pós-graduação, estimular a melhoria do ensino através do desenvolvimento de novas práticas e experiências pedagógicas e multiplicar as atividades, descobertas com o conjunto de alunos do curso.

    Os estudantes de especialização relataram que os principais motivos que procuram o curso é a melhoria profissional e continuação em programas de mestrado. Em relação ao primeiro motivo entendemos que foram atendidas as expectativas, pois questionados sobre quais os possíveis efeitos da participação nas atividades do curso de Especialização sobre a prática profissional, relataram que se sentem melhor preparados. Contudo, não especificaram os quais pontos ou efeitos que os auxiliaram. No entanto, em relação ao segundo aspecto, como constatado anteriormente, eles não apresentam publicações acadêmicas que poderia os aproximar mais de programas stricto sensu.

    A grande maioria dos estudantes participam de cursos, e eventos como forma de atualização. Verificamos que os mais freqüentados são os voltados para academia em eventos como ENAF e aqueles proporcionados pela própria faculdade. Concluímos também que a Universidade tem grande papel na atualização desses profissionais.

    Portanto, a especialização em Educação Física Escolar trouxe segundo os alunos benefícios a sua formação, destacando o importante papel dessa universidade na atualização desses alunos. No entanto, destacamos uma melhor articulação entre a graduação e a pós no sentido de incentivo a pesquisa e identificação no inicio do curso da realidade dos alunos. Já que a formação docente não é estática, mas um processo constante, permanente.

Notas

  1. Periódico composto por ensaios, resenhas e artigos científicos, vinculado ao Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), sendo o de maior representatividade na área no Brasil. Com 24 anos de existência e considerado uma fonte de significativa importância para a história da Educação Física no país. Classificado com nível “A” na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) e do Ministério do Esporte.

  2. Com esta afirmação não quero concluir que tal mudança aconteceu em muitos cursos. Estou fazendo uma reflexão a partir de minhas participações em eventos significativos e de grande expressividade da área. Ou seja, existe um movimento nacional de grupos de professores/pesquisadores nesta perspectiva.

Referência bibliográficas

Outro artigos em Portugués

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revista digital · Año 13 · N° 124 | Buenos Aires, Setiembre de 2008  
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