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Determinantes da qualidade de vida em idosos diabéticos

Determinants of the quality of life in elderly diabetics

 

*Fisioterapeuta, Mestre em Gerontologia pela Universidade Católica de Brasília

Professor Adjunto da Fesurv Universidade de Rio Verde, Rio Verde, GO

** Fisioterapeuta graduado pela Fesurv - Universidade de Rio Verde, Rio Verde, GO.

***Fisioterapeuta Doutor em Ciências da Saúde – UnB

Docente da Universidade Católica de Brasília

Docente do Programa de Mestrado em Educação Física e em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília

Fisioterapeuta da Câmara dos Deputados Federais

Ms. Ferdinando Agostinho*

Ft. Thalles Resende Vilela**

Dr. Gustavo Azevedo Carvalho***

ferdinando@fesurv.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Através de um estudo transversal objetivou-se avaliar a qualidade de vida de idosos portadores de Diabetes Mellitus Tipo 2 (DMT2). Participaram do grupo de estudo um total de 70 idosos, sendo 35 idosos com DMT2, idade média de 65,08±3,25 anos, a maioria mulheres (74,5%), e 35 idosos não-diabéticos com idade média de 65,06±3,14 anos também sendo a maioria do sexo feminino (60%). A qualidade de vida foi avaliada pelo Questionário SF-36, contendo oito domínios: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. No geral as médias de escores do SF-36 no grupo de idosos diabéticos foram significativamente menores do que a média do grupo de idosos não-diabéticos em todos os domínios do questionário. A diferença entre os sexos se deu na capacidade funcional, com a vantagem significativa para os homens. O não uso de tabaco influenciou de forma positiva os aspectos físicos. Idosos sem complicações crônicas e idosos que realizavam atividades físicas regularmente apresentaram escores maiores em vitalidade e aspectos emocionais respectivamente, em contraste com os idosos que apresentavam doenças associadas, que apresentaram piora nos aspectos sociais. Pode-se concluir que a qualidade de vida no grupo de idosos diabéticos mostrou-se comprometida em todos os componentes do SF-36.

          Unitermos: Geriatria. Gerontologia. SF-36. Diabetes Mellitus.

 

Abstract

          The cross-sectional study was aimed at evaluating the life quality of elderly suffering from Type 2 Diabetes Mellitus (DMT2). A total of 70 elderly participated of the study, being 35 elderly with DMT2, medium age 65,08±3,25 years old, most female (74,5%), and 35 non-diabetic elderly with medium age 65,06±3,14 years old (DP=3,14) also being most female (60%). Quality of life was evaluated by SF-36 questionnaire, contents eight components: functional capacity, physical aspects, pain, health general state, vitality, social aspects, emotional aspects and mental health. Overall, the average scores of SF-36 in the diabetics group were significant lower than in the non-diabetic group in all the aspects of the questionnaire. Gender difference was found in functional capacity, with significant advantage for men. The non-use of tobacco influenced positively the physical aspects. Elderly without chronic complications and elderly that practiced physical activities regularly showed higher scores in vitality and emotional aspects, respectively, in contrast with the elderly who presented associated diseases, which showed worsening in the social aspects. We can conclude that quality of life in the diabetics elderly group showed impairment in all SF-36's components.

          Keywords: Geriatrics. Gerontology. SF-36. Diabetes Mellitus.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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Introdução

    O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial e recente que se processa de forma gradual, contínua e irreversível afetando todos os setores da vida humana[1].Os determinantes da boa qualidade de vida na velhice variam de sujeito para sujeito e para idosos, é possível que qualidade negativa de vida seja equivalente à perda da saúde [2].

    A Organização mundial de Saúde-OMS define que qualidade de vida é a percepção do indivíduo quanto à sua posição na vida e ao contexto da cultura e do sistema de valores em que vive, levando em conta suas metas, expectativas, padrões e preocupações. Pode ser afetada pela interação entre a saúde, o estado mental, a espiritualidade, os relacionamentos do indivíduo e os elementos do ambiente [3].

    Um dos modelos mais conhecidos sobre a qualidade de vida na velhice foi desenvolvido por Lawton [4], que a define como resultado de uma avaliação multidimensional, baseada principalmente em critérios pessoais e sociais .

    Na avaliação da qualidade de vida são utilizados instrumentos específicos e genéricos, um dos modelos mais utilizados atualmente no Brasil é o SF-36, sendo este um instrumento genérico traduzido e validado por Ciconelli et al. [5]. Trata-se de um questionário multidimensional, formado por 36 itens englobados em 8 escalas ou componentes: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Seus resultados são apresentados em um escore final que vai de 0 a 100, sendo que zero corresponde a pior qualidade de vida e 100 a melhor qualidade de vida [5].

    As pesquisas que descrevem o impacto de uma doença na qualidade de vida de um indivíduo ou de uma população são de grande importância para nortear a distribuição do dinheiro público aplicado em saúde [5], bem como para proporcionar subsídios para a eleição de metas de políticas púbicas condizentes com a atual visão sobre saúde.

    O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica muito comum na população idosa [6]. É considerado um importante problema de saúde, uma vez que freqüentemente está associado a complicações que comprometem a produtividade, a sobrevida dos pacientes e a qualidade de vida [7].

    Sabendo que as doenças crônicas afetam de forma significativa a saúde do idoso, acarretando comprometimento financeiro, emocional e social dentre outros, o presente estudo teve como objetivo geral avaliar se a qualidade de vida em idosos portadores de Diabetes Mellitus Tipo 2 (DMT2) é prejudicada em decorrência da doença.

Material e métodos

    Participaram deste estudo, do tipo transversal [8] um total de 70 idosos. O grupo de estudo foi constituído por 35 idosos com idades entre 60 a 70 anos, portadores de Diabetes Mellitus Tipo 2, atendidos no serviço público de saúde do município de Rio Verde – GO. O grupo controle foi constituído de 35 idosos com idades entre 60 a 70 anos, não-diabéticos, participantes do “Centro de Convivência para a 3ª idade” mantido pela Prefeitura Municipal de Rio Verde-GO.

    Todos os idosos foram selecionados aleatoriamente para a alocação nos grupos por ordem de chegada aos serviços citados, caracterizando uma amostra formada por conveniência, quando foram convidados a participar deste trabalho e responderam a um primeiro questionário geral, no qual, além das informações sócio-econômicas eram também analisados alguns critérios de inclusão e exclusão, conforme tabela I.

Tabela I. Critérios de inclusão e exclusão para o grupo de estudo e controle

Grupo de “estudo”

Grupo controle

· Apresentar o diagnóstico clínico de DMT2.

· Não possuir diagnóstico clínico de DMT2.

· Possuir de 60 a 70 anos de idade, comprovados por documentação legal.

· Possuir de 60 a 70 anos de idade, comprovados por documentação legal.

· Ter sido ou estar sendo atendido em qualquer unidade de saúde do município de Rio Verde – GO e possuir prontuário médico no serviço público de saúde para o fim de confirmação das informações prestadas.

· Ter sido ou estar sendo atendido em qualquer unidade de saúde do município de Rio Verde – GO e possuir prontuário médico no serviço público de saúde para o fim de confirmação das informações prestadas.

· Aceitar participar da pesquisa.

· Aceitar participar da pesquisa.

· Os pacientes que não apresentaram algum dos critérios acima descritos não foram aceitos para participar desta pesquisa

· Os pacientes que não apresentaram algum dos critérios acima descritos não foram aceitos para participar desta pesquisa

    Após esta primeira etapa, os idosos selecionados para constituir os grupos estudo e controle, foram submetidos à aplicação do Questionário SF-36. Este questionário foi aplicado por meio de entrevista direta, realizada em um ambiente privativo e silencioso sendo o tempo de sua aplicação aferido. O pesquisador, único a aplicar o questionário, esclareceu possíveis dúvidas que apareceram com relação às questões do SF-36, sendo que o cronômetro utilizado para aferição do tempo da entrevista não foi parado, a fim de quantificar o tempo real de aplicação do referido questionário. Interrupções externas no andamento da entrevista provocaram a parada do cronômetro, e na posterior retomada da mesma, o cronômetro era liberado.

    Os procedimentos desenvolvidos e executados nesse estudo foram submetidos à aprovação do Comitê de Ética na Pesquisa de Estudos Humanos da Universidade Católica de Brasília, tendo seu parecer aprovado nº 03/2005 de acordo com as Diretrizes e Normas, do Conselho Nacional de Saúde [9].

    A análise estatística descritiva foi utilizada na caracterização socioeconômica dos pacientes avaliados nas diferentes etapas do estudo. Foi utilizado o Teste Mann-Whitney (Teste U) para verificação de diferenças significativas entre as médias dos Scores obtidas com a aplicação do SF-36 nos grupos estudo e controle. Na verificação de possíveis correlações das variáveis, anos de estudo, idade, renda mensal, tempo de diagnóstico, número de complicações crônicas, número de doenças associadas e número de medicamentos em uso com os scores do SF-36, foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson. Na verificação de diferenças significativas entre as médias dos scores do SF-36 nas variáveis, sexo, condições de moradia, tabagismo, prática de atividades físicas, presença de complicações crônicas e presença de doenças associadas, foi utilizado o Teste t-Student.

    Para todas as correlações fixou-se em 0,05 o nível de rejeição da hipótese de nulidade. As análises estatísticas foram realizadas por meio do software SPSS 12.0 para Windows.

Resultados

    As principais características sócio-econômicas bem como outras informações sobre os dois grupos que constituíram a amostra desta pesquisa estão expostas na Tabela II.

Tabela II. Caracterização da amostra

 

Grupo de “estudo”

Grupo “controle”

Sexo

Masculino: 9 (25,7%)

Feminino: 26 (74,3%)

Masculino: 14 (40,0%)

Feminino: 21 (60,0%)

Idade

65,08 ± 3,25 anos

65,06 ± 3,14 anos

Estado Civil

54,3% casados

25,7% viúvos

20,1% outros

45,7% casados

40% viúvos

14,3% outros

Escolaridade (Anos)

2,51 ± 2,77

4,94 ± 4,18

Número de filhos

5,94 ± 4,19

3,69 ± 1,86

Rendimento

(em salários mínimos)

80% até 2 salários

17,14% 3 a 4 salários

2,86% sem rendimentos

68,67% até 2 salários

20% 3 a 4 salários

8,57% de acima de 5 salários.

2,86% sem rendimentos

Nº de Doenças Associadas

1,8 ± 1,11

1,83 ±1,27

Nº de Medicamentos em uso contínuo

2,94 ± 1,70

2,03 ± 1,58 

Tempo de Diagnóstico

8,81 ± 6,67 anos

_

Tempo para aplicação do SF-36

10 minutos e 27 segundos

9 minutos e 45 segundos

    Com relação às complicações crônicas do Diabetes Mellitus, 27 pacientes (77%) apresentavam complicações crônicas em decorrência da doença, destas a que mais prevaleceu foi a Doença Arterial Periférica, encontrada em 24 pacientes (68,6%), seguida por Retinopatia Diabéticas encontrada em 5 (14,3%) pacientes.

    A primeira pergunta do questionário SF-36 referia-se à percepção do idoso quanto à sua saúde. Nenhum idoso do grupo de “estudo” referiu uma condição excelente de percepção da saúde enquanto que nenhum indivíduo do grupo “controle” fez referência sobre considerar sua condição de saúde muito ruim, conforme pode ser observado na tabela III.

Tabela III. Percepção do idoso quanto a sua doença

 

Muito Ruim

Ruim

Boa

Muito Boa

Excelente

Grupo de “estudo”

4 (11,43 %)

25 (71,43%)

5 (14,28%)

1 (2,86%)

-

Grupo “controle”

-

9 (25,71%)

17 (48,57%)

7 (20,0%)

2 (5,72%)

    Quando comparados por meio do Teste Mann-Whitney (Teste U), os scores obtidos com a aplicação do SF-36 no grupo de estudo com os scores obtidos com a aplicação do mesmo questionário no grupo de controle, constatou-se diferença estatisticamente significativa dos scores dos dois grupos, sendo isto traduzido como baixa da qualidade de vida do grupo de estudo em todos os componentes comparados, como mostra a tabela IV.

Tabela IV. Resultados da Aplicação do Teste Mann-Whitney (Teste U)

Variável

Grupo

Soma dos Ranks

Mann-Whitney (U)

Z

p

Capacidade Funcional

Controle

1615,00

240,000

-4,388

(0,000)

Estudo

870,00

     

Aspectos Físicos

Controle

1687,50

167,500

-5,406

(0,000)

Estudo

797,50

     

Dor

Controle

1509,50

345,500

-3,162

(0,002)

Estudo

975,50

     

Estado Geral de Saúde

Controle

1669,50

185,500

-5,031

(0,000)

Estudo

815,50

     

Vitalidade

Controle

1704,00

151,000

-5,438

(0,000)

Estudo

781,00

     

Aspectos Sociais

Controle

1615,50

239,500

-4,439

(0,000)

Estudo

869,50

     

Aspectos Emocionais

Controle

1563,00

292,000

-3,924

(0,000)

Estudo

922,00

     

Saúde Mental

Controle

1666,50

188,500

-4,994

(0,000)

Estudo

818,50

     

    No grupo de estudo os componentes do SF-36 onde foram observados os piores e melhores escores foram, respectivamente as limitações por aspectos físicos com score médio de 17,86±26,82 e capacidade funcional com score médio de 54,43±21,58. No grupo “controle” o pior e o melhor score foram respectivamente no componente aspectos sociais com score médio de 61,43±26,67 e limitações por aspectos físicos com score médio de 79,64±21,02. Todos os scores médios obtidos com a aplicação do SF-36 no grupo de estudo e no grupo “controle” estão expressos na Figura 1.

 

    Foi encontrada diferença estatiticamente significativa entre as médias dos scores no componente capacidade funcional (p=0,018) quando analisada a variável sexo. Diferença significativa também foi constatada quando comparadas as médias dos scores no componente aspectos físicos e a variável tabagista (p=0,003), no componente aspectos emocionais e a variável prática de atividades físicas (p=0,020), no componente vitalidade e a variável presença de complicações crônicas (p=0,004) e no componente aspectos sociais e a variável presença de doenças associadas (p=0,002), como pode ser observado na tabela V.

Tabela V. Médias dos Scores de algumas variáveis em cada componente do SF-36 e resultados da Aplicação do Teste t-Student. (grupo de estudo).

   

Capacidade Funcional

Aspectos Físicos

Dor

EGS*

Vitalidade

Aspectos Sociais

Aspectos Emocionais

Saúde Mental

Sexo

Masc

63,21

25,00

54,29

49,86

52,50

57,14

45,23

55,71

Fem

48,57

13,10

36,48

44,48

38,57

50,57

31,74

44,19

p

0,018**

0,225

0,221

0,460

0,269

0,212

0,159

0,991

Condições de Moradia

Própria

53,87

16,94

40,81

46,45

43,39

52,81

35,48

47,10

Alugada

58,75

25,00

65,25

48,00

50,00

56,25

41,00

62,00

p

0,976

0,195

0,081

0,640

0,955

0,134

0,842

0,065

Tabagismo

Sim

35,00

16,66

41,00

44,25

35,00

53,13

16,66

45,00

Não

56,94

20,16

43,94

46,94

45,32

53,21

39,78

49,29

p

0,611

0,003**

0,194

0,085

0,166

0,559

0,087

0,114

Prática de Atividades

Sim

53,96

19,79

44,96

46,71

45,83

56,77

43,05

48,00

Não

55,45

13,64

40,64

46,45

40,45

51,56

24,24

50,55

p

0,244

0,545

0,664

0,610

0,954

0,137

0,020**

0,786

Presença de Complicações Crônicas

Sim

49,07

13,89

38,89

45,22

40,37

49,54

29,63

45,78

Não

72,50

31,25

59,50

51,38

56,88

65,56

62,49

59,00

p

0,815

0,777

0,231

0,782

0,004**

0,719

0,844

0,752

Presença de Doenças Associadas

Sim

50,97

12,10

38,23

43,68

40,65

50,39

32,26

46,32

Não

81,25

62,50

85,25

69,50

71,25

75,00

75,00

68,00

p

0,247

0,809

0,457

0,131

0,777

0,002**

0,720

0,691

*EGS – Estado Geral de Saúde

    Quando analisada a variável anos de estudo foram encontradas correlações positivas com os componentes capacidade funcional (r=0,425 e p=0,011), vitalidade (r=0,359 e p=0,034) e saúde mental (r=0,386 e p=0,022) do SF-36. Para a variável idade foi encontrada correlação negativa com o componente capacidade funcional (r=-0,425 e p=0,015) do SF-36.

    Correlação positiva foi encontrada entre a variável renda mensal e os componentes capacidade funcional (r=0,368 e p=0,030), limitação por aspectos físicos (r=0,383 e p=0,023) e aspectos emocionais (r=0,482 e p=0,003) do SF-36.

    Correlações negativas foram encontradas entre a variável “tempo de diagnóstico” e o componente aspectos emocionais (r=-0,373 e p=0,027) do SF-36; entre a variável “número de doenças associadas ao Diabetes” e os componentes capacidade funcional (r=-0,471 e p=0,004), limitação por aspectos físicos (r=-0,352 e p=0,038), dor (r=-0,473 e p=0,004), estado geral de saúde (r=-0,380 e p=0,024), vitalidade (r=-0,516 e p=0,001) e saúde mental (r=-0,374 e p=0,027) do SF-36 e entre a variável “número de medicamentos em uso contínuo” e os componentes capacidade funcional (r=-0,479 e p=0,004), limitação por aspectos físicos (r=-0,381 e p=0,024), dor (r=-0,459 e p=0,006), estado geral de saúde (r=-0,421 e p=0,012), vitalidade (r=-0,424 e p=0,011) e aspectos emocionais (r=-0,356 e p=0,036) do SF-36.

Discussão

    Na caracterização da amostra, foi observado predomínio de indivíduos do sexo feminino (74,3%). As mulheres constituem a maioria da população idosa em todas as regiões do mundo [1]. De acordo com o IBGE [10] na população idosa o número de indivíduos do sexo feminino superou o do sexo masculino; em 1991 as mulheres correspondiam a 54% da população de idosos, passando para 55,1% em 2000, significando que para cada 100 mulheres idosas existem 85,2 homens idosos.

    No componente capacidade funcional, os idosos diabéticos do sexo masculino apresentaram melhores scores, ou seja, melhor qualidade de vida se comparados às pacientes do sexo feminino. Camarano [11], afirma que embora as mulheres vivam mais do que os homens, na velhice, elas estão mais sujeitas á problemas físicos e mentais.

    Correlação negativa foi observada entre a variável idade e o componente capacidade funcional do SF-36, mostrando que quanto maior a idade do idoso diabético, pior a sua qualidade de vida com relação ao componente citado. A capacidade funcional é um importante marcador de saúde em idosos e o decréscimo desta capacidade está associada à idade do indivíduo [12]. Para Freitas et al.[13] o envelhecimento determina alterações funcionais e estas tornam o idoso mais vulnerável a quaisquer estímulos, sejam traumático, infeccioso, ou até mesmo, psicológico.

    No que tange à renda do grupo de estudo, atentamos para o fato de que a maioria dos indivíduos do grupo (80%) relataram possuir rendimento mensal de 1 a 2 salários mínimos. Este resultado está de acordo com a atual realidade brasileira. Segundo dados do IBGE [10], entre os idosos brasileiros responsáveis pelo seu domicílio, residentes na zona urbana, 40% recebem até um salário mínimo, 15,2% de 1 a 2 salários mínimos, 8,5% de 2 a 3 salários mínimos, 10,6% de 3 a 5 salários mínimos, 20,9% mais de 5 salários mínimos e 5% relataram não possuírem rendimentos.

    Neste trabalho foi encontrada correlação positiva entre a variável renda e os componentes capacidade funcional, aspectos físicos e aspectos emocionais do SF-36, este dado leva a reflexão sobre o impacto dos baixos salários e aposentadorias na qualidade de vida do idoso Diabético. É importante lembrar que a grande maioria do grupo possui rendimentos variando de um a dois salários mínimos, e que o resultado nos mostra que quanto maior a renda mensal do idoso Diabético melhor a sua qualidade de vida nos componentes citados. Políticas públicas que visem melhoria dos rendimentos principalmente dos idosos aposentados, poderiam contribuir consideravelmente com a sua qualidade de vida.

    A comorbidade é uma condição que se faz presente em uma boa parcela da população idosa. Nesta população, as doenças crônicas são prevalentes e se caracterizam pelo longo tempo de tratamento e pela limitação no estilo de vida do portador [14]. A média de 2,8 doenças associadas ao Diabetes Mellitus encontrada neste estudo corrobora com resultados descritos por Costa, Barreto e Giatti [15] os autores descreveram que 70% dos idosos entrevistados em sua pesquisa relataram pelo menos uma condição crônica, sendo que a proporção daqueles com problemas de saúde aumentou com a idade.

    Neste estudo, os pacientes diabéticos que apresentaram alguma doença associada, obtiveram médias de scores significativamente menores no componente aspectos sociais do SF-36. Este dado retrata a contribuição da presença de outra doença associada ao DM para a deteriorização da qualidade de vida destes idosos. A inclusão do idoso na sociedade, bem como a manutenção de seus ciclos de relacionamento, é importante ponto a ser analisado pelos responsáveis por implantar Políticas Públicas de saúde, que visem melhorar a qualidade de vida destes idosos. Para Ciconelli [5] a presença de uma doença crônica está associada à piora da qualidade de vida de uma população.

    O número de doenças associadas ao DM mostrou correlação negativa com os componentes capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade e saúde mental do SF-36. Neste aspecto, podemos notar que quanto mais doenças associadas o idoso diabético apresenta, pior é a sua qualidade de vida com relação aos componentes citados. De todas variáveis analisadas, esta foi a que apresentou maior número de correlações com os componentes do SF-36. Como notado, o número de doenças crônicas associadas é importante determinante na qualidade de vida do paciente idoso diabético. Campanhas que buscam o diagnóstico precoce, bem como o oferecimento gratuito de medicamentos, associados ao acompanhamento rigoroso do tratamento para várias doenças crônicas que afligem a população idosa são de fundamental importância para uma melhor qualidade de vida nesta população.

    A elevada prevalência de doenças crônico-degenerativas na população idosa é acompanha freqüentemente do uso simultâneo de vários medicamentos [16]. Neste estudo não foi realizado levantamento de quais medicamentos eram utilizados pelos idosos diabéticos, identificando apenas o número de medicamentos em uso diário. No grupo de estudo, apenas 1 indivíduo relatou não estar fazendo uso de nenhum medicamento, sendo a média de 2,94 ± 1,79 medicamentos. Esta média alta, analisada no âmbito econômico, nos faz refletir sobre o alto custo do tratamento para o idoso e sua família, bem como para o governo com suas Políticas Públicas de saúde voltadas à cura e não à prevenção.

    De acordo com as correlações negativas encontradas entre a variável, número de medicamentos em uso e os componentes: capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde e aspectos emocionais, podemos afirmar que quanto maior o número de medicamentos de uso contínuo o idoso diabético fizer uso concomitantemente, pior será a qualidade de vida nos componentes citados acima. Por mais esperado que fosse este dado, não podemos obscurecer o fato de que quando uma pessoa está fazendo o uso de medicamentos, ou seja, de tratamento, também poderíamos esperar uma melhora na sua qualidade de vida. Sobre esta afirmação surgem alguns questionamentos que não puderam ser esclarecidos neste estudo: O idoso diabético está fazendo o uso de um número grande de medicamentos em decorrência da doença ou de outras patologias associadas? A qualidade de vida está comprometida devido a tratamentos inadequados? Todos os medicamentos utilizados foram receitados por um profissional habilitado?

    Com relação ao tempo de aplicação do SF-36, em outro estudo realizado por Ciconeli [5], o tempo médio de aplicação do referido questionário foi de 7 minutos. O maior tempo gasto para a aplicação do SF-36 nesta investigação (11 minutos) foi um resultado previsível e esperado, em se tratando de uma de indivíduos idosos, para os quais a repetição de várias questões se fez necessária, ora pela baixa escolaridade, ora por outros problemas como audição diminuída e deficiências cognitivas.

    Moreira [17] chama a atenção sobre as principais diferenças em realizar entrevistas com idosos. A autora enfatiza que o tempo de um idoso para analisar a pergunta e respondê-la, por mais simples que seja, é diferente do tempo do entrevistador, existindo muitas dificuldades principalmente pela quantidade de emoções e sentimentos envolvidos.

    Os resultados obtidos sobre o grau de escolaridade corroboram a média nacional, que é de 3,4 anos de estudo para esta população [10]. Neste estudo, correlações positivas foram encontradas entre a variável, anos de estudo e os componentes capacidade funcional, vitalidade e saúde mental do SF-36. Estas correlações mostram o impacto de uma melhor educação sobre a qualidade de vida do paciente idoso diabético. No que tange à saúde, o grau de escolaridade deve ser bastante considerado, pois o entendimento da própria doença e principalmente do tratamento, para que o mesmo seja realizado de forma correta, depende diretamente do nível educacional e da capacidade cognitiva do paciente.

    Quando analisada, a correlação positiva encontrada entre os anos de estudo e os componentes saúde mental do SF-36, podemos refletir sobre o efeito preventivo da utilização mental sobre as perdas características do processo de envelhecimento. Yassuda [18] afirma que alguns fatores determinam a magnitude dos efeitos do envelhecimento sobre a memória, dentre eles podem ser citados o nível educacional, a composição genética da pessoa, o nível socioeconômico, o estilo de vida, a acuidade visual e auditiva, e as relações sociais.

    A obtenção de médias significativamente maiores de scores no componente aspectos emocionais pelos praticantes de atividade física nos mostra a importância da mesma na vida e na saúde do paciente idoso. Embora outras correlações fossem esperadas, cabe aqui a discussão de alguns resultados. Apenas 31,42% dos indivíduos, pertencentes ao grupo de estudo, relataram realizar algum tipo de atividade física durante a semana, sendo a caminhada a atividade física escolhida por 72,73% dos idosos. A alta porcentagem de idosos que relaram não realizar nenhum tipo de atividade física é preocupante, visto se tratar de idosos diabéticos e que muitas vezes apresentam outras patologias associadas. É importante ressaltar que, neste grupo, a pior média de scores do SF-36 foi obtida no componente limitação por aspectos físicos, o que ressalta a qualidade do questionário referido.

    Os estudos sobre qualidade de vida na população idosa são escassos e com metodologias diferentes. Em estudo realizado por Dantas et al. [19] foi feito o levantamento da produção científica sobre o tema qualidade de vida, produzidas pelas Universidades Públicas do Estado de São Paulo. Como resultado preliminar, foram encontradas 84 pesquisas, sendo que 71,4% destas eram dissertações de mestrado, 23,8% teses de doutorado e 4,7% teses de livre-docência, produzidas entre 1993 e 2001, após estes dados preliminares e após a aplicação de alguns critérios de inclusão e exclusão, os autores ficaram com 53 estudos para serem analisados, destes apenas quatro tratavam do tema qualidade de vida e idoso.

    Neste trabalho, em todos os componentes do SF-36 no grupo de estudo, os scores se apresentaram significativamente menores do que os scores do grupo de controle. Isto mostra o impacto direto do DM2, na qualidade de vida dos idosos. De todos os componentes do SF-36, os que apresentaram menores scores foram os componentes limitação por aspectos físicos e aspectos emocionais. Nesta perspectiva, devemos analisar o quanto o DM, em se tratando de uma patologia crônica, compromete o idoso com relação a sua saúde em âmbito físico e emocional, isto reforça a importância de uma equipe multidisciplinar na realização da avaliação e tratamento deste paciente com o finalidade de prestar uma assistência ampla, eficaz e de qualidade.

    Castro et al. [20] utilizaram o SF-36 para avaliar a qualidade de vida de pacientes com Insuficiência Renal Crônica em hemodiálise, dentro de sua amostra total (n=184), os autores contaram com 27 pacientes diabéticos com idade média de 54 anos, nestes pacientes, a média dos scores de todos os componentes do SF-36, foi menor do que o restante da amostra. Em concordância com os resultados encontrados neste trabalho, na pesquisa citada, os componentes do SF-36 onde foram encontrados os piores scores foram limitação por aspectos físicos e aspectos emocionais.

    Em estudo conduzido por Santos et al. [21], os autores analisaram a qualidade de vida em idosos de diferentes comunidades da cidade de João Pessoa, relatando que os dados coletados revelaram a existência de qualidade de vida regular nas diversas variáveis analisadas.

    Não foi observada correlação significativa entre o número de complicações crônicas com os dos componentes do SF-36. Este fato pode estar relacionado com o número e tipos de complicações crônicas relatadas pelos pacientes. Destas, a que prevaleceu foi a Doença Arterial Periférica. Cabe aqui uma afirmação pertinente, a única paciente que relatou apresentar diagnóstico de nefropatia em decorrência do Diabetes Mellitus, apresentou scores menores do que a média do grupo em cinco dos oito componentes do SF-36.

    Em se tratando da presença de uma complicação crônica do DM, nos pacientes que relataram apresentar as mesmas, a média de scores no componente vitalidade do SF-36 mostrou-se significativamente menor. Este resultado ilustra o quanto a presença de uma complicação crônica do DM pode alterar a qualidade de vida destes pacientes com relação a sua percepção sobre quantidade de vigor, vontade e força para realizar atividades normais do seu dia, além de sua percepção sobre o estado de cansaço e esgotamento.

    Nos pacientes que relataram apresentar diagnóstico de Retinopatia Diabética, o tempo de diagnóstico do DM era em média de 16,7 anos, sendo que estes pacientes possuíam o maior tempo de conhecimento da doença. Para Boelter et al. [22], a retinopatia diabética é um grave problema de saúde pública e deve ser entendida como uma doença de abordagem multidisciplinar. O autor afirma que após 20 anos de duração de DM, a retinopatia é encontrada em 60% dos pacientes.

    Como a média do grupo em relação ao tempo de diagnóstico foi de 8,81 anos, podemos suspeitar que o número de relatos sobre a presença de complicações crônicas não foi elevado, justamente pelo pequeno tempo de diagnóstico da doença. Não podemos deixar de citar aqui, que o controle dos fatores de risco e o tratamento adequado são de fundamental importância no retardo do aparecimento das complicações crônicas associadas ao DM e que todos os sujeitos desta pesquisa recebem além de orientações, tratamento gratuito na rede pública.

    Gross e Nehme [7] sugerem que as complicações crônicas decorrentes do DM, possuem impacto direto sobre a qualidade de vida dos pacientes portadores desta patologia. Os mesmos autores alertam para no fato que provavelmente apenas uma pequena fração da população dos pacientes diabéticos é avaliada regularmente para a presença de complicações nas suas fases iniciais e recebe orientação terapêutica apropriada.

Conclusão

    Depois de realizadas todas as etapas do trabalho, pode-se concluir que:

    A qualidade de vida no grupo de idosos Diabéticos mostrou-se comprometida em todos os componentes do SF-36. Neste grupo, os melhores e piores scores foram encontrados, respectivamente nos componentes capacidade funcional e aspectos físicos.

    O número de doenças associadas ao Diabetes Mellitus e o número de medicamentos em uso mostraram-se variáveis importantes e determinantes na piora da qualidade de vida do idoso diabético.

    O tempo de aplicação do questionário foi superior ao gasto em outras pesquisas com populações diferentes, sugerindo a hipótese de maior dificuldade do idoso que compôs esta amostra no entendimento das questões.

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