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Desenvolvimento motor em crianças portadoras 

de Síndrome de Down de 4 a 10 anos

 

Universidade Federal de Viçosa

Departamento de Educação Física

(Brasil)

Márcia de Ávila e Lara

Mayra Eugenio Rodrigues

avilaelara@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          O desenvolvimento motor é um processo contínuo e demorado, porém em indivíduos portadores de Síndrome de Down o processo é um pouco mais lento. O presente artigo destaca padrões de movimento, que surgem com o desenvolvimento, em crianças normais e em portadoras de Síndrome de Down em uma faixa etária específica de 4 a 10 anos, sendo possível perceber que as crianças que possuem a síndrome, são capazes de executar os mesmos movimentos porém tardiamente, podendo alcançar estágios avançados de raciocínio e desenvolvimento, necessitando de estimulações coerentes com sua condição e incentivo da família e da sociedade.

          Unitermos: Síndrome de Down. Desenvolvimento motor. Padrões de movimento.

 

Abstract

          The motor development is a continuous and slow process, however in individuals bearers of Syndrome of Down the process is a little slower. The present article detaches movement patterns, that you/they appear with the development, in normal children and in bearers of Syndrome of Down in a specific age group from 4 to 10 years, being possible to notice that the children that possess the syndrome are capable to execute the same movements however subsequent, could reach advanced apprenticeships of reasoning and development, needing coherent stimulations with his/her condition and incentive of the family and of the society.

          Keywords: Syndrome of Down. Motor development. Movement patterns.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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    A síndrome de Down (SD) é um distúrbio genético, e a primeira pessoa a descrever sobre a doença foi o médico John Langdon Down, em 1866. É a forma mais freqüente de retardo psicomotor causada por uma anomalia cromossômica microscopicamente demonstrável. É causada pela ocorrência de três (trissomia) cromossomos 21, na sua totalidade ou de uma porção fundamental dele,  diferente do que muitas pessoas pensam, a Síndrome de Down é uma alteração genética. (ABC da Saúde, 2006). Geralmente pode ser diagnosticada ao nascimento ou logo depois por suas características dismórficas.

    Algumas características físicas, no entanto, são comuns a quase todos: o formato das fendas palpebrais, orelhas pequenas e malformadas, boca entreaberta com protusão de língua, baixa estatura e alterações nos dedos das mãos e pés, mesmo que em proporções diferentes, nas palmas das mãos é comum a existência de uma prega transversal denominada prega simiesca. A pele é flácida determinando o aparecimento de rugas nas frontes e os ligamentos são frouxos causando uma marcha insegura. Há também o atraso no desenvolvimento das funções motoras do corpo e das funções mentais. No que se refere à deficiência mental, embora sempre presente varia bastante quanto ao grau de severidade. E esteja certo: não há relação entre o grau de características físicas e o grau de deficiência mental de cada paciente.

    É essencial que nesta fase, na qual há maior independência motora, a criança tenha espaço para correr e brincar e possa exercitar sua motricidade global. A brincadeira deve estar presente em qualquer proposta de trabalho infantil, pois é a partir dela que a criança explora e internaliza conceitos, sempre aliados inicialmente à movimentação do corpo.

    Conforme Santana apud Wickstram (1977) enfatiza, onde existe vida, existe movimento e onde existem crianças, existe movimento quase que perpétuo. Portanto, não podemos deixar de conceituar desenvolvimento motor, que atualmente tem recebido muita atenção no processo de aquisição de estímulos e desenvolvimento da criança.

    Segundo (Tani et al.,1988), o desenvolvimento motor é um processo contínuo e demorado e, pelo fato das mudanças mais acentuadas ocorrerem nos primeiros anos de vida, existe a tendência em se considerar o estudo do desenvolvimento motor como sendo apenas o estudo da criança, basicamente pela aquisição, estabilização e diversificação das habilidades básicas.

    De acordo com Neweel (1978), refere-se geralmente ao deslocamento do corpo e membros produzido como conseqüência do padrão espacial e temporal da contração muscular. É através de movimentos que o ser humano aprende sobre o meio social em que vive. As primeiras respostas de uma criança recém-nascidas são motoras, o seu progresso é medido através de movimentos.

    A criança que nasceu com Síndrome de Down vai controlar a cabeça, rolar, sentar, arrastar, engatinhar, andar e correr, exceto se houver algum comprometimento além da síndrome. Na verdade, quando ela começa a andar, há necessidade ainda de um trabalho específico para o equilíbrio, a postura e a coordenação de movimentos.
A seqüência de desenvolvimento da criança com Síndrome de Down geralmente é bastante semelhante à de crianças sem a síndrome e as etapas e os grandes marcos são atingidos, embora em um ritmo mais lento.

    Na tabela abaixo é feita uma Comparação dos padrões de movimentos entre crianças normais e com síndrome de down com idade de 4 a 10 anos (HOLLE, 1979).

 

NORMAIS

SÍNDROME DE DOWN

De pé, caminhando e correndo

Não bamboleia; corre bem; sobe e desce escadas

Medo de cair; caminha com pés separados; pernas ligeiramente flexionadas

Equilíbrio e salto

Fica sobre uma perna; salta para frente

Menor número de pontos de apoio; centro de gravidade elevado

Preensão manual

Agarra a bola pequena; come e desenha sozinho

Punho flexionado; sensibilidade dos dedos diminuída

Percepção visual

Focaliza exata e rapidamente; desenvolve conceitos de Totalidade; diz o nome de todas as cores; visão totalmente desenvolvida; reconhece os símbolos numéricos

Dificuldade de fixação; falta de concentração; visão de cores tardia; a cabeça normalmente Acompanhará os Movimentos oculares

 

Percepção auditiva

Pode ser persuadido; obedece instruções orais prontamente; executa três ordens curtas dadas conjuntamente

Não escuta os sons se não se houver concentração para ouvir

Percepção tátil

Reconhece as coisas pelo tato sem vê-los; diz onde dói; prepara seu próprio banho; regula a temperatura

Pode ocorrer perda total ou parcial dos sentidos táteis; não dizer “não toque”; sentidos de dor menos desenvolvidos; orientação para aprender avaliar diferentes temperaturas

Percepção de direção

Palavras: para frente, para trás; começa a usar palavras direcionais

Deve ser encorajado a engatinhas no chão; consciência de direção

Percepção de espaço

Palavras: ao redor da mesa, ao redor de si próprio.

Palavras: atrás, diante

Palavras: no meio

Percepção mais lenta; (trabalhar comparações entre objetos e suas características)

Coordenação olho/ mão

Constrói torres de 9 blocos (cubos de 2,5cm); veste-se parcialmente; sabe usar botões grandes; desenha “um homem”; lava as próprias mãos e o rosto; veste-se sozinha; colore bem as figuras; amarra o cordão dos sapatos

Deve ser estimulada a fazer o mesmo que uma criança normal; encorajar a agarrar objetos com uma e ambas as mão; estender objetos a partir d todos os lados; usar objetos pequenos para estimular a preensão digital.

Fala

Monólogos longos; frases longas; faz perguntas constantes; fala quase correta e claramente

Dificuldade na pronúncia de palavras; frases soltas; dificuldades variadas no desenvolvimento da linguagem atribuída às características físicas ou ambientais

Consciência corporal

Tenta desenhar “um homem”; diz nome de muitas partes do corpo; desenha “um homem”; distingui o pesado/leve; consciência da tensão e da relaxação muscular

Apresenta atraso enorme a ponto de não receber o estimulo de que o normal desfruta ao ser cuidado; método para desenvolvimento; adquiri coordenação de sentidos

Dominância manual direita-esquerda

Conhece seu próprio lado esquerdo e direito

Aprende mais tarde, e alguns não desenvolvem nítida dominância

    Assim, dentro deste processo ordenado e seqüencial, há alguns aspectos da seqüência de desenvolvimento que merecem ser comentadas. Em primeiro lugar está o aspecto de que a seqüência é a mesma para todas as crianças, apenas a velocidade de progressão varia (Kay, 1969). Por isso faz-se indispensável pensarmos e analisarmos com precisão porque a atividade lúdica tornou-se o fenômeno mais eloqüente da unidade do ser humano e elemento indispensável ao desenvolvimento da criança.

    Esta demora para adquirir determinadas habilidades pode prejudicar as expectativas que a família e a sociedade tenham da pessoa com Síndrome de Down. Durante muito tempo estas pessoas foram privadas de experiências fundamentais para o seu desenvolvimento porque não se acreditava que eram capazes. Todavia, atualmente já é comprovado que crianças e jovens com Síndrome de Down podem alcançar estágios muito mais avançados de raciocínio e de desenvolvimento.

    Outras atividades comuns na infância também beneficiam o desenvolvimento psicomotor e global: pular corda, jogar amarelinha, jogos de imitação, brincadeiras de roda, subir em árvores, caminhadas longas, uso de brinquedos de parque como balanço, escorregador e gangorra.

    Posteriormente, a criança deve ter acesso às práticas esportivas, iniciando-se no esporte através da exploração e manuseio dos materiais e participando depois de jogos em grupo com orientação adequada.

    O trabalho psicomotor deve enfatizar aspectos como equilíbrio, coordenação de movimentos, estruturação do esquema corporal, orientação espacial, ritmo, sensibilidade, hábitos posturais e exercícios respiratórios.

    Com os portadores da Síndrome de Down deverão ser desenvolvidos programas de estimulação precoce que propiciem seu desenvolvimento motor e intelectual, iniciando-se com 15 dias após o nascimento.

    Portanto, as pessoas com Síndrome de Down podem executar tarefas rotineiras, sem dificuldade, mas a limitação cognitiva dificulta o raciocínio abstrato, o que torna mais difícil, tarefas que envolvam associação, discriminação, assim como as que envolvam matemática. Deve-se ter uma visão real das necessidades e dificuldades da criança e o que se pode fazer é ajudá-la através de uma estimulação sensível e coerente com as suas condições.

    A deficiência mental está presente no quadro da Síndrome de Down mas os atrasos motores são corrigidos se bem estimulados desde cedo, com um trabalho desenvolvido pela criança de maneira espontânea, criativa e afetiva. Jogos e brincadeiras são instrumentos importantes para ajudar a estimulação da criança e favorecem uma boa relação entre família e a mesma, pois trazem prazer e satisfação.

    Assim, elas se sentirão mais seguras para uma inclusão na sociedade possibilitando um grande êxito, pois em mundo onde as diferenças individuais são pouco respeitadas, a criança portadora de Síndrome de Down, como todas as outras, precisa saber contornar certas situações e ter confiança para poder participar de um grupo social e escolar.

Referências bibliográficas

  • GUEDES, Joana Elisabete Ribeiro Pinto, GUEDES, Dartagnan Pinto. Determinação de valores na área somática e neuro motora em escolares de 6 a 9 anos de ambos os sextos. Revista da Associação dos professores de Educação Física de Londrina. Londrina – PR. Vol 3, nº 6. julho. Semestral-

  • HOLLE, Britta. Desenvolvimento Motor na Criança Normal e Retardada. Editora Manoelle Ltda. São Paulo-SP. 1979

  • MORENO, Garcia. Síndrome de Down: um problema maravilhoso. CORDE/Brasília-DF. 1996

  • PROENÇA. Tani Manoel Kokubum, Educação Física Escolar: Fundamentos de uma Abordagem Desenvolvimentista. São Paulo, E.P.U.1988.

  • Pueschel, Siegfried. Síndrome de Down- Guia para pais e educadores. Papirus/Campina –SP. 2003

  • SANTANA, Carolina Araújo. Importância da Ludicidade no Desenvolvimento Motor de Crianças com Síndrome de Down . Facsul - Faculdade do Sul da Bahia, Itabuna – BA, 2007.

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