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Consumo de alimentos pós-treino por atletas adolescentes
de voleibol de um clube do município de São Paulo

 

*Graduandas do curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo

** Educador Físico, Técnico de Voleibol

*** Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da 

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Mestre em Nutrição Humana Aplicada, PRONUT/Universidade de São Paulo

Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Publica da Universidade de São Paulo, 

docente do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Paulista.

Mariana Barillari* | Lúcia Meyer*

Ana Carolina Assad*

Cezar Benatti**

Marcia Nacif***

mariana.barillari@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A alimentação saudável, com adequado consumo energético e protéico no pós-treino é um fator imprescindível para um ótimo desempenho no esporte e para a manutenção ou promoção da saúde de jovens atletas. O objetivo deste estudo foi avaliar o consumo alimentar pós-treino de adolescentes atletas de voleibol de um clube do município de São Paulo, por meio de um questionário sobre o consumo de alimentos no período pós-treino. Assim verificou-se que a alimentação neste período estava inadequada, uma vez que foi visto um alto consumo de alimentos calóricos, ricos em lipídios e carboidratos simples e pobres em micronutrientes, o que demonstra a necessidade de orientação nutricional para os participantes do estudo, treinadores e seus familiares a fim de corrigir as inadequações dietéticas observadas, com o intuito de melhorar o desempenho físico e qualidade de vida destas atletas.

          Unitermos: Atividade física. Alimentação. Adolescente. Atleta. Voleibol.

 

Abstract

          A healthy diet, with an adequate energetic and proteic consumption after the training, is an essential factor to a great performance in the sport and the maintenance or promotion of health in young athletes. The purpose of this study was to evaluate the food intake of adolescent post-training athletes from volleyball, from a club of Sao Paulo city, through a questionnaire about the consumption of food post training. Though, it was checked that food in this period was inadequate, since it observed a high consumption of caloric foods and low-nutrient, which shows a necessity of a nutritional orientation for the participants of the study, coaches and their families to correct mismatches dietary, in order to improve the physical performance and quality of life of these athletes.

          Keywords: Physical activity. Diet. Adolescent. Athlete.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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Introdução

    O voleibol foi inventado em 1895 por William Morgan. Em 1916, ele chegou ao Brasil pela Associação Cristã de Moços (ACM) e em 1944 foi realizado o 1° Campeonato Brasileiro. A participação feminina neste esporte somente foi aceita em 1928 (BORSARI 1989). Nos últimos anos, o voleibol se tornou um dos esportes mais populares no país, acredita-se que as conquistas realizadas pelas seleções brasileiras feminina e masculina, em todas as categorias podem ter contribuído para o aumento da popularidade do voleibol (SOARES e PAULA 2006).

    O voleibol é um esporte que alterna atividade aeróbica e anaeróbica, requerendo desempenho físico com força muscular e boa capacidade de energia. O atleta tem que possuir flexibilidade, força, potência, agilidade e condicionamento aeróbio para a realização do esporte (SCHUTZ 1999).

    O ingresso do atleta, tanto no voleibol, como na maioria dos esportes, é realizado muitas vezes durante a infância, mas principalmente na fase da adolescência, período este, que vai dos 10 aos 19 anos, segundo critérios cronológicos propostos pela Organização Mundial de Saúde (World Health Organization 1995), e se caracteriza por profundas transformações somáticas, psicológicas e sociais. Durante a adolescência, especialmente na puberdade, ocorre acentuado crescimento físico, período em que aumenta 50% do peso e 15% da estatura final do adulto. O crescimento acelerado, acompanhado pelo desenvolvimento psicossocial e estimulação cognitiva intensa, torna as necessidades de energia e nutrientes elevadas (CARVALHO et al 2001).

    Como atletas adolescentes apresentam necessidades energéticas diferentes das de atletas adultos, deve-se dar mais atenção não só à adequação energética, mas também à recomendação protéica e à ingestão de fluídos antes, durante e após o exercício (THOMPSON 1998).

    Estudos demonstram uma baixa ingestão calórica e desequilíbrio nutricional nas dietas de atletas profissionais ou amadores, há uma grande resistência quando o consumo se trata de carboidratos. O balanço calórico negativo pode ocasionar sérios problemas, levando a um overtraining. A recomendação energética varia de acordo com faixa etária, sexo, peso corporal e outros fatores. No geral, pode variar de 30 à 50Kcal/Kg de peso/dia (CARVALHO 2003).

    Já foi comprovado o efeito ergogênico da ingestão de carboidratos durante o exercício físico, porém, o consumo do mesmo ainda continua baixo pelos atletas. Quanto maior a intensidade da atividade física, maior a participação do carboidrato. Sua ingestão varia de 60 à 70% do aporte calórico; para otimizar a recuperação recomenda-se o consumo de 5 à 8g/Kg de peso/dia (CARVALHO 2003).

    A recomendação de proteínas para indivíduos sedentários varia de 0,8 à 1,2g/Kg de peso/dia. Já para atletas de endurance pode variar de 1,2 à 1,6g/Kg de peso/dia e para atletas de força, de 1,4 à 1,8g/Kg de peso/dia (CARVALHO 2003).

    Os lipídios devem representar 30% do aporte calórico, sendo 10% de saturados, 10% de poliinsaturados e 10% de monoinsaturados. Quando for hipocalórica esses valores podem reduzir para 8% de cada um e até 10% dos poliinsaturados (CARVALHO 2003).

    A alimentação pós-treino é uma das refeições mais importantes para a recuperação do atleta. Seu objetivo principal é restabelecer reservas hepáticas e musculares de glicose, e, otimizar a recuperação muscular, portanto é fundamental a manutenção da glicemia durante e após o exercício. A recomendação de carboidratos pós-treino exaustivo ou competição, é de 0,7 a 1,5g/Kg de peso corporal, tornando-se suficientes para a ressíntese de glicogênio, num ritmo de 5% a 7% por hora, nas 4 primeiras horas pós exercício. A ingestão de 5 a 9g de proteína simultaneamente à ingestão de carboidratos, potencializa a ressíntese de glicogênio, aumentando a resposta à insulina e estimulando a produção da enzima Glicogênio Sintetase (VIEBIG e NACIF, 2007).

    Desta forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar o consumo de alimentos após o treino de voleibol de atletas do gênero feminino com idade entre 14 e 15 anos de um clube do município de São Paulo.

Metodologia

    Trata-se de um estudo transversal, com coleta de dados primários, realizado com atletas de voleibol, do sexo feminino de um clube de classe social média alta, localizado na cidade de São Paulo-SP. As atletas pertenciam à categoria infantil (14-15 anos).

    Participaram da pesquisa dez atletas, que responderam a um questionário, que contemplava questões sobre dados pessoais e sobre o consumo alimentar pós-treino.

    Para a caracterização da população estudada foram coletados os dados de peso, utilizando uma balança digital da marca Techline com capacidade para 180Kg. Elas foram pesadas descalças e com o mínimo de roupa possível.

    A estatura foi determinada utilizando uma fita inelástica milimetrada. As atletas permaneceram em pé, descalças, com os pés unidos e em apnéia inspiratória, a cabeça orientada segundo o plano Frankfurt.

    Calculou-se o IMC por meio da relação entre o peso e a estatura ao quadrado (P/E2) que foi avaliado de acordo com as curvas do Ministério da Saúde (2007).

    As pregas cutâneas foram aferidas utilizando-se adipômetro da marca Sanny, com pressão constante de 10g/mm2 e precisão de 1mm, no lado direito do corpo. A porcentagem de gordura foi calculada por Slaughter (1988) e classificada por Durenberg (1990).

    Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo pelo documento Coep 047/05.

Resultados e discussão

    A população foi constituída por 10 atletas de voleibol, com idade média de 14,4 anos. A média de IMC foi de 20,70 kg/m², sendo a maioria das atletas eutróficas. A média de porcentagem de gordura avaliada por Slaughter (1988) entre as participantes foi de 21,1% (sendo apenas uma classificada com a porcentagem de gordura excessivamente baixa).

    Em relação ao consumo alimentar, após a prática de atividade física, a maioria das participantes relataram realizar o jantar (uma hora após o término do treino). Os alimentos mais consumidos pelas atletas podem ser verificados na Tabela 1.

Tabela 1. Alimentos consumidos pelos participantes do estudo após o treino de voleibol. São Paulo, 2008.

Alimentos

N*

%

Arroz branco

4

13,3

Feijão

4

13,3

Carne Bovina

3

10

Suco industrializado

3

10

Bolacha

3

10

Frango

2

6,7

Fruta

2

6,7

Barra de cereais

2

6,7

Macarrão

1

3,3

Ovo

1

3,3

Salada

1

3,3

Sopa

1

3,3

Leite

1

3,3

Pipoca

1

3,3

Pão francês

1

3,3

*Resposta múltipla

    Como se pôde observar na Tabela 1, apenas duas participantes relataram ingerir frutas ou barra de cereais logo após o treino. Os alimentos mais consumidos no pós-treino de voleibol foram arroz, feijão e um alimento de origem protéica, como carne vermelha, frango ou ovo. O consumo destes alimentos se deve a esta refeição corresponder ao jantar das atletas, que é feito pelo menos uma hora após o término do treino. Outras atletas avaliadas preferiam substituir o jantar por um lanche rico em gorduras e pobre em micronutrientes. Porém, segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2003), após a prática de atividade física o principal objetivo é o restabelecimento das reservas de glicose hepática e musculares, portanto o consumo de carboidrato deveria ser imediato, dando preferência aos de alto índice glicêmico. Neste estudo tal hábito não foi visualizado podendo comprometer a manutenção glicêmica dos participantes.

    Fontes et al. (2008) relatou prática alimentar semelhante ao presente estudo. Foi observado que crianças e adolescentes praticantes de tênis tinham baixo consumo de alimentos fonte de carboidratos pós-treino, assim como nossas atletas.

    Esta inadequação, além de comprometer a manutenção glicêmica e síntese de glicogênio muscular e hepático, pode refletir negativamente no consumo de vitaminas e minerais, que são importantes nutrientes participantes de processos celulares relacionados ao metabolismo energético; contração, reparação e crescimento muscular; defesa antioxidante e resposta imune (LUKASKI 2004).

    Para tanto a dieta destas atletas deveria ser variada e balanceada para atender o incremento nas necessidades de micronutrientes gerado pelo treinamento (American Dietetic Association, Dietitians of Canada, American College of Sports Medicine. Position of American Dietitic Association, Dietitians of Canada, and American College of Sports Medicine, 2001).

Conclusão

    Por meio do estudo, foi possível verificar que o consumo pós-treino das atletas de voleibol encontra-se inadequado.

    Estes dados mostram que atletas jovens devem ser orientados sobre a importância da adequação nutricional para melhora da saúde e do desempenho físico, pois muitos jovens são influenciados por informações erradas, fornecidas por familiares, amigos, treinador e até por alguns meios de comunicação.

    Desta forma, é necessário demonstrar aos atletas, treinadores e familiares o valor de uma nutrição adequada e seus benefícios.

Referências bibliográficas

  • American Dietetic Association, Dietitians of Canada, American College of Sports Medicine. Position of American Dietitic Association, Dietitians of Canada, and American College of Sports Medicine: nutritrion and athletic performance. J Am Diet Assoc. 2001; 100(12):1543-56.

  • BORSARI JR. História e regras. In: Voleibol: aprendizagem e treinamento, um desafio constante. 1a ed. São Paulo: Editora EPU, 1989; 3-4.

  • CARVALHO CMRG, NOGUEIRA AMT, TELES JBM, PAZ SMR, SOUSA RML. Consumo alimentar de adolescentes matriculados em um colégio particular de Teresina, Piauí, Brasil. Rev. Nutr.2001;14(2): 85-93.

  • CARVALHO T. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Rev. Bras. Med. Esporte. 2003, 9(2):42-54.

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  • LUKASKI HC. Vitamin and mineral status: effects on physical performance. Nutrition.2004;20 (7-8):632-44.         

  • SCHUTZ LK. Volleyball. Phys Med Rehabil Clin N Am 1999; 10:19-34.

  • VIEBIG RF, NACIF M. Nutrição Aplicada à atividade física e ao esporte. In. SILVA, S.M.C.S; MURA, J.D.P. Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia. São Paulo: Roca, 2007.

  • SOARES CA, PAULA AH. Análise do perfil cineantropométrico de jovens praticantes de voleibol na faixa etária de 12 a 15 anos. MOVIMENTUM - Revista Digital de Educação Física - Ipatinga: Unileste-MG. 2006; 1.

  • THOMPSON JL. Energy balance in young athletes. Int J Sport Nutr 1998; 8:160-74.

  • WORLD HEALTH ORGANIZATION. Physical status: the use and interpretation of anthropometry, Genebra, 1995. p. 263-311.

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