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Compreendendo a trajetória histórica do judô em Santa Catarina

 

*Professor da Rede Estadual de Ensino do Estado de Santa Catarina

**Professor Doutor do Departamento de Educação Física do

Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina

(Brasil)

Carlos Augusto Vieira de Campos*

carlosjudoca@yahoo.com.br

Edison Roberto de Souza**

edsonroberto@cds.ufsc.br

 

 

 

Resumo

          Este estudo de caráter descritivo-exploratório teve como objetivo resgatar e re-significar historicamente o Judô em Santa Catarina. Participaram deste estudo sete professores de Judô de vários locais do Estado de SC, sendo que todos eram do sexo masculino e com graduação judoística acima de 6º Dan (vermelha/branca). Na análise dos dados, inicialmente, utilizou-se os procedimentos necessários para a técnica de história oral, e neste sentido, realizou-se a entrevista semi-estruturada e posteriormente transcrita para análise através da técnica de conteúdo, que segundo Rocha e Deusdará (2005) tem por objetivo as análises de comunicações, e, mais especificamente, a utilização de frases como unidades de registro. Os resultados indicam que a introdução e a difusão do Judô no Estado de Santa Catarina (Brasil), aconteceu no dia 5 de maio de 1962, no Município de Joinville (SC), mais especificamente, na Sociedade Ginástica de Joinville, por iniciativa do sensei Kenzo Minami, Sua introdução ocorreu de forma tranqüila, sem resistência e sua divulgação se deu pelos curiosos, adeptos em conhecer esta manifestação das artes marciais. Depois dessa data, sua ordem cronológica de introdução, aconteceu em 1965 na cidade de Itajaí, em 1966 em Videira e Florianópolis e, em 1968 nas cidades de Caçador, Joaçaba, Concórdia, Xanxerê, Chapecó e São Miguel D’Oeste. Nesse processo, uma das maiores dificuldades segundo os sensei participantes do estudo, foi com relação ao idioma e conhecimento da arte, já que o Judô é uma arte marcial Japonesa e seus introdutores eram de origem japonesa.

          Unitermos: Judô. História. Educação Física.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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Introdução

    Para compreendermos melhor o surgimento do Judô, faz-se necessário retroceder alguns anos para falar um pouco sobre a origem das artes marciais, para depois chegar ao Judô praticado atualmente.

    Nesta perspectiva, este estudo qualitativo, de natureza aplicada, fundamentou-se a partir de levantamento de fatos recordatórios, com o objetivo central de investigar a história de introdução do judô em Santa Catarina a partir de entrevistas semi-estruturadas com sete sensei.

    Tal iniciativa surgiu ao constatar-se lacunas e ausência de literatura específica que apontasse sobre a introdução do Judô em Santa Catarina. Assim, o re-visitar as memórias e lembranças dos sensei entrevistados, nos permitiu compreender um universo de significados e valores, fundamentais na composição e consolidação da trajetória histórica desta modalidade.

    Os sete sensei entrevistados, com média de idade 58,14 ± 7,83 anos e média de tempo de atuação na modalidade de 22,71 ± 12,75 anos, são naturais de Joinville (dois sujeitos), Água Doce, Joaçaba, Camboriú, cidades de Santa Catarina, além de um representante de Mirandópolis, em São Paulo, e outro de Niigata, no Japão.

    Quanto à graduação, cinco sensei são 7º Dan (vermelha/branca) e dois 6º Dan (vermelha/branca), tendo todos obtido a graduação aqui no Estado de Santa Catarina. Todos foram atletas, porém em diferentes épocas, tendo o mais antigo iniciado em 1953 e os demais depois de 1964, sendo que um ainda compete na categoria master.

    Na análise dos dados, inicialmente, utilizou-se os procedimentos necessários para a técnica de história oral, e neste sentido, realizou-se entrevistas gravadas e, posteriormente transcritas para análise através da técnica de conteúdo, que segundo Rocha e Deusdará (2005) tem por objetivo as análises de comunicações, e, mais especificamente, a utilização de frases como unidades de registro.

A origem de tudo: as lendas...

    Várias são as conjecturas sobre o desenvolvimento histórico do Ju-jitsu, mas há fortes indícios de que sejam meras suposições baseadas em três lendas, que guardam uma íntima relação com o aparecimento de certas academias.

    A primeira conta que um médico filósofo chamado Shirobei-Akyama estava convencido que a origem dos males humanos seria a má utilização do corpo e do espírito. Deste modo partiu para estudos de técnicas terapêuticas chinesas, estudou o princípio do taoísmo, acupuntura e algumas técnicas de wu-chu, luta chinesa que usava as projeções, as luxações e os golpes (SANTOS, 2004).

    Voltando ao Japão, Shirobei ensinou a alguns discípulos algumas técnicas de reanimação e de ataques, visando determinados pontos vitais. Depois de compreender o princípio positivo da filosofia taoísta e suas aplicações práticas querem na medicina, quer na luta. Ao mal, ele opunha o mal; à força, a força (ROBERT, s/d). No entanto, esse princípio só se aplicava a doenças menos complexas, como em situações fáceis de lutas, porém ao enfrentar um oponente mais forte não dava resultados. Assim, seus discípulos o abandonaram, e ele, perplexo, retirou-se para um pequeno templo e por cem dias meditou (SANTOS, 2004). Durante esse tempo ele meditou e colocou em questão, a filosofia chinesa ying e yang, a acupuntura e por fim todos os métodos de combate, na medida em que “opor uma ação à outra ação não é vantajoso a não ser que a minha força seja superior à força adversa”. Em uma manhã, quando passeava no jardim do templo, enquanto nevava, ele escutou o estalido dos ramos das cerejeiras quebrando sob o peso da neve. Em seguida avistou um salgueiro, que ficava na margem do rio, onde seus galhos se curvavam com a quantidade de neve, já que eram flexíveis. A neve caia completamente ao solo, após os galhos se curvarem até o chão. Desta observação, Shirobei concluiu que ao positivo devia opor-se o seu complemento: o negativo, a força devia reagir com flexibilidade, e, a partir desta observação montou uma escola chamada Coração do Salgueiro, para a aplicação do seu achado (ROBERT, s/d; SANTOS, 2004).

    A segunda lenda, conta que por volta de 1650, um monge chinês, Chen Yung Ping, teria idealizado terríveis golpes denominados "tes", com o objetivo de matar ou ferir gravemente um ou mais adversários, mesmos armados (CALLEJA, 1989).

    Alguns anos depois, quando vivia no Japão, Chen Yung Ping, instalou-se no templo Kokushoji, na região do Edo (Tóquio), e propôs a ensinar os japoneses, cultos, caligrafias e filosofia chinesa. Naquela época a cidade era visitada pelos samurais, os quais eram excelentes guerreiros. Numa noite, Chen Yung Ping conheceu e tornou-se amigo de três samurais inferiores, os chamados kachis (classe inferior). Naquela noite, depois que Yung Ping havia ministrado lições para um alto funcionário do Shogun, aceitou a escolta dos kachis acima referidos. Quando o pequeno grupo cruzava as muralhas da cidade, foram atacados por bandidos armados, oportunidade em que os três kachis com rapidez desembainharam os sabres e rodearam o monge. Após uma grande batalha, foram desarmados e se lançaram num combate corpo-a-corpo. Foi então que Chen, com uma rapidez enorme, atirou-se aos agressores e com habilidade incrível derrubou um bandido, depois outro e mais outro, e o resto correu aterrorizado (ROBERT, s/d; SANTOS, 2004).

    Espantados, e ao mesmo tempo cheios de admiração pelo monge, reconduziram-no ao templo e pediram-lhe para lhe confiar o segredo da sua força. Mas durante o caminho Chen Yung Ping, manteve-se em silêncio, e, chegando ao destino, saldou os seus guardiões e retirou-se. Os kachis permaneceram na porta do templo, e no dia seguinte fizeram o pedido de novo ao monge. O sábio sorriu e disse que a sua arte não era para espíritos simples, mas para aqueles com alma forte. No entanto os kachis insistiram e vendo o entusiasmo destes, Chen decidiu aceitá-los como discípulos. O chinês ensinou-lhes todos os "tes" que sabia, sendo que cada um estudou um método diferente: um especializou-se nas projeções, o outro nas luxações e estrangulamento e o terceiro em golpes aplicados em pontos vitais (ROBERT, s/d; SANTOS, 2004).

    A última história versa sobre Takenuchi Hisamori que era excelente na arte do Jo-jitsu (varapau). Na gana de se aperfeiçoar, retirou-se para um templo perdido nas montanhas, onde se dedicou a estudar a arte. De pé, em frente a uma árvore, concentrava-se e deslocava-se com ligeireza e a atacava. Ficava horas fazendo Uchi-komi, um exercício físico e mental. Uma tarde, completamente exausto, deixou-se cair perto da árvore e adormeceu. Foi então que, saído não se sabe de onde, um misterioso monge explicou a Takenuchi que ele deveria reduzir o tamanho do varapau para ganhar rapidez e precisão, e mostrou-lhe como se deslocar mais facilmente, aproveitando os erros dos adversários e empregando ou um varapau curto ou uma espada pequena. Por fim, ensinou-lhe cinco formas de imobilizar o adversário. Takenuchi aplicou o seu saber, criando o Gokusoku – arte de combater sem armadura, mesmo tendo o seu cérebro acabado de sintetizar todos os reflexos acumulados pela experiência (ROBERT, s/d; SANTOS, 2004).

    Advindo dos conceitos do Jiu-jitsu, Jigoro Kano fez uma síntese das melhores técnicas, escolheu os golpes mais eficazes, os mais racionais e eliminou as práticas perigosas do Jiu-jitsu, que não eram compatíveis com o crescimento moral e espiritual do praticante. Contudo, Kano aperfeiçoou a maneira de cair e inventou o princípio das quedas de amortecimento (Ukemis), além de criar uma vestimenta especial para o treino – o Judogui, pois o antigo traje provocava assiduamente ferimentos (SANTOS, 2004).

A introdução e os precursores no Estado

    Na busca de conhecer com mais profundidade a introdução desta arte marcial em solo catarinense, foi fundamental recorrer às memórias dos sete sensei entrevistados. Na direção de compor a história com detalhes, questionou-se, inicialmente, aos entrevistados, quem, onde e quando foi introduzido o Judô em Santa Catarina.

    O sensei 1, respondeu que foi o professor Kenzo Minami, oriundo do Japão, o qual teria se fixado na cidade de Joinville, no ano de 1962, e mais tarde se naturalizado brasileiro.

    Em consenso, o sensei 2 afirmou também ter sido o professor Kenzo Minami, no dia 5 de maio de 1962, na cidade de Joinville, Santa Catarina.

    Embora o sensei 3 também tenha afirmado que foi Minami o introdutor do Judô em SC, na cidade de Joinville, ele ainda acrescentou que Kazuo Konishi introduziu o Judô em Curitibanos, assim afirmando, “... eu lembro que tinha 13 anos...”

    O sensei 4, em dúvida, disse que foi o Sensei Pedro Nagagake, em Criciúma, e o sensei Kenzo Minami, em Joinville, pois quando Minami o convidou, para o campeonato em 1962 ou 1963, sensei Minami já estava dando aula em Joinville.

    Também em dúvida, o sensei 5 disse que “... pelo que o pessoal fala, eu não estava aqui nessa época, estava em São Paulo, (...) foram Kenzo Minami e o Professor Konishi.”

    O sensei 6, afirmou com propriedade que foi Kenzo Minami, no ano de 1962, em Joinville, o introdutor do Judô no Estado, pois “...eu fui aluno dele...”

    E por fim, o sensei 7 relatou ter sido ele próprio o introdutor do Judô em Santa Catarina, na cidade de Joinville, em 1962, afirmando que “...fui convidado como instrutor de Judô da Sociedade Ginástica de Joinville.”

    Todos os sensei, exceto o sensei 5, estavam nesse período em Santa Catarina. A grande maioria afirmou que foi o sensei Kenzo Minami que introduziu o Judô aqui no estado, ficando a data de 5 de maio de 1962, na cidade de Joinville, um marco para o Judô catarinense. Este consenso vai ao encontro de Costa (1994, p.19) e Virgílio (2002, p.118) ao fazer essa mesma afirmação.

    Os sensei 3 e 5 falaram que o sensei Kazuo Konishi introduziu o Judô em Curitibanos, mas não souberam especificar a época; da mesma forma, o sensei 4 comentou que o sensei Nagagake fundou o Judô em Criciúma, mas não recordava a data.

    Embora o Judô tenha surgido no Brasil em 1908, existem relatos que divergem em pontos cruciais, principalmente em datas de introdução (COSTA, 1994; SILVA, 2004). Assim, Shinorrara (1986) apud VIRGÍLIO (1996 p.9), afirma que o Judô foi implantado no Brasil por volta do ano de 1908 ou pouco mais, com a imigração japonesa, cujo primeiro contingente chegou ao porto de Santos em 18 de junho de 1908, a bordo do navio Kasato Maru, porém inexistem registros de nomes, datas e locais.

    Silva (2004) aponta que a efetivação do Judô no Brasil, se deu em 1938 pelo mestre Ryuko Ogawa, 8º Dan, separando em definitivo o Judô do Jiu-Jitsu.

    Tambucci (s/d) apud DRIGO (2006, p.8), afirma que nessa época (1934 a 1938) os imigrantes japoneses se espalharam pelo país, formando academias em Lins, Mogi das Cruzes, Suzano e Bastos, todas cidades do interior de São Paulo, possuidoras de uma pujante agricultura. E para Mubarac (s/d) apud DRIGO (2006, p.9), as primeiras cidades que receberam o Judô foram Campinas, Rio Claro, Araçatuba, Marília e Avaré.

    Assim, pode-se ratificar com base nas colocações dos entrevistados, que o introdutor do Judô em Santa Catarina foi o sensei Kenzo Minami, nascido no Japão, mas naturalizado brasileiro. Deve-se a ele a introdução no Estado de Santa Catarina, no dia 5 de maio de 1962, na cidade de Joinville, na Sociedade Ginástica de Joinville.

    Ainda, pertinente ao primeiro objetivo específico do estudo, questionou-se aos entrevistados sobre a forma como se deu essa introdução, e se ocorreu algum tipo de resistência.  

    O Sensei 1, afirmou que não houve em absoluto, algum tipo de resistência, tendo a introdução se dado com a vinda do Japão, do professor Kenzo Minami, que veio com a recomendação de introduzir o Judô em algumas localidades do Brasil.

    Ainda o sensei 1 afirmou que Minami não veio sozinho para o Brasil, mas acompanhado de 4 ou 5 japoneses num navio mercantil, tendo o navio primeiro aportado nos EUA, onde ficaram alguns deles, depois aportado na América Central, para deixar um ou dois japoneses. De lá rumaram para o Brasil, vindo o navio a atracar em Santos, São Paulo. Conforme orientação recebida, seguiu para a cidade de Curitiba, porém ao chegar naquela cidade ficou sabendo que o Judô ainda não havia sido difundido em Santa Catarina. Resolveu viajar para Joinville, tendo em vista a proximidade com a capital paranaense. Naquela cidade foi bem recebido por uma família influente, que o acolheu muito bem. Teve, também, o valioso apoio do Banco do Brasil. Afirma o sensei que os primeiros certificados de graduação de faixas roxa e marrom, dados a ele pelo sensei Minami, têm o título da Associação Atlética Banco do Brasil, em Joinville.

    Os Sensei 2, 3, 4, 5 e 6 em consenso afirmaram que não houve nenhum tipo de resistência, tendo a introdução ocorrido normalmente, sem nenhum problema.

    O Sensei 7 afirmou que “no início é tudo difícil, mas como a comunidade tinha curiosidade de conhecer a cultura oriental, houve uma boa recepção” e conseqüentemente não houve nenhum tipo de resistência. Porém ele articula que houve dificuldade no início com a seguinte colocação “... alunos no início é difícil, mas conseguimos”.

    Todos os sensei, exceto o sensei 7, comentaram que a difusão do Judô no Estado foi harmoniosa e de fácil acesso. O sensei 7, apesar de ter comentado que no início tudo foi difícil, comentou que a curiosidade da comunidade em conhecer a cultura oriental ajudou na difusão do Judô ainda mais.

    Então, pode-se considerar que a difusão da arte ocorreu tranqüilamente, sem maiores resistências, na medida em que mesmo não tendo na época, um auxílio da mídia (jornais, televisão e rádios) a propaganda foi feita naturalmente pelos curiosos, que no desejo de conhecerem coisas novas, acabaram se deparando com a prática do Judô.

    Ainda inerente ao primeiro objetivo do estudo, questionou-se aos participantes sobre as maiores dificuldades encontradas pelo Judô em Santa Catarina.

    Para o sensei 1, as maiores dificuldades que o sensei Kazuo Konishi encontrou para realizar a implantação do Judô no Estado, foram: as localizações das várias cidades e o precário estado das estradas. Quanto à implantação no Oeste e Planalto Serrano, devido ao estado precário das estradas, ele disse, “... acredito que foi maior a dificuldade do professor Kazuo, onde nada se conhecia de Judô pelo oeste afora...” e “... quando ia competir no oeste, só pra enfrentar as estradas já era uma batalha danada...”. Ainda ele complementa que alguns atletas principiantes já eram deslocados para introduzir o Judô em outras cidades, como forma de expansão pelo Estado.

    Com relação à introdução do Judô por parte do sensei Minami no Estado, o sensei 1 argumentou que não houve nenhum tipo de dificuldade, pois o atual Governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira, foi o padrinho de naturalização do sensei naquela época. Então ele afirmou, “... Luiz Henrique, na 1ª gestão, foi padrinho do sensei Minami, havendo com o pessoal que governava o município uma afinidade...”.

    Em consenso os sensei 2 e 6 falaram que não houve nenhum tipo de dificuldade nas cidades que se introduziu o Judô, por outro lado o sensei 2 diz que a maior dificuldade seria a língua, “... porque o que conversei com ele (Sensei Kenzo Minami), o problema maior seria o idioma, porque ele era japonês”.

    Embora o sensei 4 afirme que “... a única dificuldade era que estávamos começando a dar aulas em Florianópolis”.

    Para o sensei 5, a maior dificuldade foi filiar a Federação Catarinense de Judô com o Conselho de Pugilismo, CBL.

    O sensei 7 afirmou que a maior dificuldade foi unir as cidades para realização de campeonatos. Enfatizou que na época, no Oeste e litoral, se encontrava o sensei Kazuo Konishi e na cidade de Blumenau, o sensei Shimazaki. Ainda afirmou que “... faltou conhecimento entre os sensei que davam aula, pois nunca havia intercâmbio”.

    O sensei 1 comentou que a difusão do Judô pelo Oeste foi feita por Kazuo Konishi, um desbravador. Que se instalou mais precisamente em Videira e, mais tarde, enviou seus alunos iniciantes para outras cidades, para começarem a ensinar e disseminar o Judô pelo Estado. O sensei 7 comentou que um dos problemas também foi unir o pessoal do litoral, do Oeste com Kazuo, Blumenau, com sensei Shimazaki, e sensei Sogo nos Jogos Abertos. Comenta ainda que faltou conhecimento pessoal dos professores.

    O sensei 2 falou que, no início, a maior das dificuldades foi à língua falada pelo sensei Minami. Para os brasileiros entenderem foi complicado, mas com o tempo essa dificuldade foi desaparecendo.

    Mas o sensei 3 falou algo muito importante: que a principal dificuldade foi o conhecimento da modalidade. Só depois que os primeiros alunos começaram a freqüentar as aulas é que puderam fazer a propaganda dentro da comunidade.

    O sensei 4 afirmou “...a única dificuldade como sempre acontece no começo, porém mais tarde a fixação ocorreu tranqüilamente...”.

    De uma maneira geral as dificuldades encontradas para a implantação do Judô em Santa Catarina foram semelhantes às encontradas nos outros Estados, haja vista a colocação de Calleja (1979) ao afirmar que ocorrem dificuldades em determinar as formas de introdução e divulgação do Judô em outras cidades.

    Deste modo, com base nas colocações dos entrevistados pode-se concluir que houve dificuldades na implantação do Judô aqui no Estado. As principais foram: dificuldades com a união das cidades e professores - Florianópolis sensei Takehisa e Sogo, Oeste sensei Kazuo Konishi, Blumenau sensei Shimazaki e Joinville sensei Minami. Houve, também, problemas em relação ao idioma e conhecimento da arte, já que o Judô é uma arte marcial japonesa e seus introdutores eram japoneses.

    Com o intuito de contemplar o primeiro objetivo específico do estudo, questionou-se aos entrevistados se eles poderiam apresentar uma ordem cronológica sobre a introdução do Judô em outras cidades catarinenses.

    O sensei 1 soube relatar que apenas no ano de 1969, no Clube Doze de Agosto, em Florianópolis, onde já se praticava o Judô, foi realizado pelo sensei Takehisa um campeonato, com a participação das cidades de Joinville, Blumenau, Criciúma, Florianópolis e Brusque. Naquela época a troca de experiência se dava com Curitiba, local de várias competições, e São Paulo, onde ocorriam períodos de treinamento. Em meados de outubro de 1969, ocorreram os Jogos Abertos de SC (JASC), em Joinville, onde David da Graça e Kenzo Minami procuraram a CCO da organização, para saber como poderiam incluir o Judô como extra-oficial. Apenas em 1971, o Judô foi introduzido como modalidade nos Jogos Abertos realizados na cidade de Rio do Sul.

    Os sensei 2 e 3 responderam que a introdução do Judô no Oeste de Santa Catarina se deu nas cidades de Videira, Joaçaba, Campos Novos, Concórdia e Chapecó. Mas não souberam responder as datas de introdução.

    O sensei 4 disse que a introdução do Judô no Oeste foi nos anos de 69 e 70, quando Kazuo Konishi fundou a Federação Catarinense de Judô.

    Para o sensei 5, a introdução do Judô em Itajaí se deu no ano de 1964 e de Balneário Camboriú, em 1977.

    Embora o sensei 6 soubesse relacionar as várias cidades onde ocorreram as devidas introduções e seus fundadores, não soube informar as datas. Ele disse: “... olha, fica difícil falar as datas porque eu posso te falar só os nomes dos mestres a quem eu vi...”. Na cidade de Florianópolis, com sensei Takehisa e Sogo. No litoral e posteriormente no oeste com Kazuo Konishi. Depois Blumenau com o sensei Shimazaki, em Rio do Sul, com o sensei Ferrari e na cidade de Criciúma, com o sensei Pedro Nagagake.

    O sensei 7 falou que se dedicou apenas ao Judô, na cidade de Joinville. Não soube informar nada sobre a introdução no território catarinense.

    Embora haja várias controvérsias em relação às datas, Virgílio (2002) informa que no ano de 1962, na cidade de Joinville, foi introduzido o Judô; posteriormente, em 1965, na cidade de Itajaí, e em 1966, nas cidades de Videira e Florianópolis. Em 1968 ocorreu a introdução nas cidades de Caçador, Joaçaba, Concórdia, Xanxerê, Chapecó e São Miguel D’Oeste (COSTA, 1994).

    Segundo Costa (1994), no ano de 1971, ocorreu a introdução nas cidades de Rio das Antas, Fraiburgo, São Bento do Sul e São Francisco do Sul. Em 1972, nas cidades de Araranguá e Tubarão. No ano de 1977 ocorreu a introdução, na cidade de Balneário Camboriú.

    O sensei 1 afirmou que conheceu 5 cidades em 1969: Florianópolis, Criciúma, Joinville, Blumenau e Brusque, mas não soube afirmar as datas de introdução. Aqui só pode-se afirmar com segurança que o Judô foi introduzido em 1962, em Joinville, e 1966, em Florianópolis, já que Criciúma, Blumenau e Brusque não temos relatos sobre as devidas datas.

    Informaram os sensei 4 e 6 que, em Criciúma, o professor era Pedro Nagagake, em Joinville, Minami, em Florianópolis, Takehisa, e em Blumenau, o professor Shimazaki. E ainda o sensei 6 fala sobre a cidade de Rio do Sul, onde o professor atendia pelo nome de Ferrari.

    Por outro lado, o sensei 5 citou com convicção que o Judô foi introduzido, em 1964, em Itajaí e em 1977, foi à vez da cidade de Balneário Camboriú, no entanto, esta afirmação vai de encontro à de Virgílio (2002), que dá conta de ter Itajaí já conhecido o Judô em 1965.

    Os sensei 2, 3 e 4 mencionaram que a introdução do Judô no Oeste de Santa Catarina se deu na década de 70, nas cidades de Videira, Joaçaba, Campos Novos, Concórdia, Chapecó e Curitibanos. Contudo, Virgílio (2002) afirma que no ano de 1966, foi introduzido o Judô em Videira e Florianópolis. Por sua vez, Costa (1994) aponta que no ano de 1968, se deu a introdução nas cidades de Caçador, Joaçaba, Concórdia, Xanxerê, Chapecó e São Miguel D’Oeste.

    Ao verificar-se os relatos dos entrevistados e confrontando com a escassa literatura, vale ressaltar a importância de registros, pois a memória do ser humano é vulnerável, haja vista que os sensei que passaram pelo processo já o esqueceram.

    Assim, com os devidos relatos e o referencial obtido, pode-se apontar cronologicamente que o Judô catarinense apareceu em: 1962, na cidade de Joinville; 1965, na cidade de Itajaí; 1966, em Videira e Florianópolis; 1968, nas cidades de Caçador, Joaçaba, Concórdia, Xanxerê, Chapecó e São Miguel D’Oeste.

Considerações finais

    De acordo com os objetivos do estudo e respondendo a questão problema pode-se chegar as seguintes considerações:

    Com relação ao período de introdução, o precursor do Judô em Santa Catarina foi o sensei Kenzo Minami, nascido no Japão, mas naturalizado brasileiro. Fundou o Judô no estado, no dia 5 de maio de 1962, na cidade de Joinville, na Sociedade Ginástica de Joinville.

    A introdução ocorreu tranqüilamente, sem maiores resistência, na medida em que mesmo não tendo na época, um auxílio da mídia (jornais, televisão e rádios) a propaganda foi feita naturalmente pelos curiosos, que eram adeptos a conhecer coisas novas e uma delas foi á prática do Judô.

    Com relação as maiores dificuldades encontradas para a introdução do Judô em Santa Catarina, encontrou-se a dificuldade de se unir às cidades deste Estado e seus professores. Naquela época, em Florianópolis, só atuavam o sensei Takehisa e o sensei Sogo, no Oeste, sensei Kazuo Konishi, em Blumenau, o sensei Shimazaki e, em Joinville, o sensei Minami. Ainda, segundo os sensei participantes do estudo, outras dificuldades encontradas foram à compreensão do idioma japonês e o conhecimento da arte, já que o Judô é uma arte marcial japonesa e seus introdutores eram japoneses.

    E sobre a ordem cronológica da introdução do Judô em outras cidades catarinenses, primeiro, em 1962 na cidade de Joinville; em 1965 na cidade de Itajaí; em 1966 Videira e Florianópolis; e, em 1968 nas cidades de Caçador, Joaçaba, Concórdia, Xanxerê, Chapecó e São Miguel D’Oeste.

Referências

  • CALLEJA, C. Caderno Técnico-Didático de Judô. Brasília: MEC, Secretaria de Educação Física e Desportes, 1989.

  • COSTA, L. Universidade Federal de Santa Catarina. Curso de Educação Física. Importação de atletas: levantamento dos motivos que levaram à contratação de atletas de alto nível na modalidade de Judô em cidades catarinenses no período de 1980 a 1990. Florianópolis, 1994. 47p. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal de Santa Catarina. Curso de Educação Física. Centro de Desporto.

  • DRIGO, A. J. Reflexões sobre a História do Judô no Brasil: a contribuição dos sensei Uadi Mubarac (8º Dan) e Luis Tambucci (9º Dan). JUDOBRASIL.

  • ROBERT, L. O Judô. 7.ed.Lisboa: Editorial Notícias, [198?]. 509p.

  • SANTOS, S. G. dos. Judô: material didático – Universidade Federal de Santa Catarina – Curso de Educação Física Apostila, 2004.

  • SANTOS, S. G. dos et al. Estudo sobre a aplicação dos princípios judoísticos na aprendizagem do Judô. Revista da Educação Física/UEM, n.1. p.11-14, 1999.

  • SHINOHARA, M. Manual de Judô. São Paulo, 2000.

  • SILVA, D. Universidade Federal de Santa Catarina. Conhecimento do Histórico e Princípios Filosóficos do Judô, dos judocas de Florianópolis. Florianópolis, 2004. 49p. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal de Santa Catarina. Curso de Educação Física. Centro de Desporto.

  • VIRGÍLIO, S. A arte do Judô. Campinas: papirus, 1986. 162p.

  • VIRGÍLIO, S. Personagens e histórias do Judô brasileiro. Campinas, SP: Editora Átomo, 2002. 299p.

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