efdeportes.com
Comparação da memória e da atenção em crianças de 4 a 5 anos

 

*Aluna do Curso de Educação Física – Licenciatura Plena

** Mestranda do PPGEF

*** Profa. Dra. da Universidade Católica de Brasília / UCB-DF

Daniela Lucio de Oliveira*

Cíntia Mota Cardeal**

Nancí Maria de França***

daniela.oliveira@pop.com.br

 

 

 

Resumo

          Este estudo procurou mostrar os conceitos de memória e atenção, bem como, sua importância para a aprendizagem. Objetivo: comparar o perfil da memória e da atenção de crianças controlando idade e sexo. Método: participaram meninos e meninas da pré-escola, compondo uma amostra de 79 crianças. Foi utilizado o teste de Hanói e o Teva que são teste de memória executiva e tempo de reação respectivamente. Para análise dos dados estatísticos foi utilizado o teste “t” de Student para amostra independente, com o nível de significância de p<0,05. Após ter analisado os dados referentes aos testes utilizados, observamos uma superioridade significativa com crianças de 5 anos. Com relação a análise em função do gênero, meninas tiveram desempenho significativamente superior ao dos meninos. Para análise dos dados estatísticos foi utilizado o teste “t” de Student para amostra independente, com o nível de significância de p<0,05.

          Unitermos: Memória executiva. Tempo de reação. Pré-escolares.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

1 / 1

Introdução

    A memória é um processo psicológico de grande importância para o ser humano, sendo requisito importante para a leitura, escrita, fatos, eventos e atividades diárias entre outras coisas. Outro fator importante no processo de aquisição de memória é a atenção, uma pessoa, com falta de atenção pode apresentar dificuldade no armazenamento da memória, sendo seu aprendizado prejudicado.

    Neste sentido, a memória constitui um atributo humano baseado em acontecimentos que as pessoas são capazes de armazenar, retendo essas informações para utilizá-las posteriormente3. Já a atenção é uma função mental complexa que corresponde a capacidade do indivíduo de focalizar a mente em algum aspecto do ambiente ou em algum conteúdo da própria mente.5

    Sabe-se que crianças mais jovens são menos proficientes na utilização de estratégias mentais, pois a sua velocidade de processamento informativo é mais lenta.1

    Atenção e memória são dois fatores proeminentes no indivíduo quer no âmbito escolar, quer na realização de uma atividade desportiva. Sendo assim, a velocidade de processamento, o controle da atenção e a memória de trabalho são importantes variáveis a serem consideradas tanto na compreensão, quanto na aprendizagem e na resolução de problemas. Demetriou et cols.1

    No seu conjunto, os resultados das investigações têm mostrado, de forma consistente, a existência de correlações negativas e estatisticamente significativas entre os parâmetros derivados de tarefas simples de tempo de reação e de resultados em provas de inteligência geral8. Estes resultados foram confirmados em diferentes amostras: crianças normais (Jensen & Munro, 1979)8, adolescentes superdotados (Cohn, Carlson & Jensen, 1985)8, crianças com atraso mental severo (Jensen, Schafer & Crinella, 1981)8 ou com atraso moderado (Vermon, 1981)8, trabalhadores manuais não qualificados (Sen, Jensen, Sem & Arora, 1983)8, alunos universitários (Vernon, 1983a, 1983b)8 ou adultos (Barrett, Eysenck & Lucking, 1986)8. Mais recentemente, Deary e cols. (2001)8 verificaram que a magnitude do efeito não se alterava quando se considera o sexo, a classe social e o nível de instrução escolar dos sujeitos.

    Assim o objetivo deste estudo foi verificar o perfil da memória e da atenção em crianças de 4 a 5 anos de idade.

Metodologia

Amostra

    Participaram dos testes 79 crianças com idades entre 4 e 5 anos, sendo 19 meninos e 20 meninas de 4 anos e 20 meninas e 20 meninos de 5 anos cursando o jardim I e II da educação infantil de duas escolas particulares de Taguatinga.

Instrumento

    Para avaliar os processos de memória e de atenção foram aplicados dois testes que são descritos a seguir:

  • Torre de Hanói: tem o objetivo de avaliar a função executiva constituindo-se em três pinos com três discos. O aluno deverá transportar os discos construindo a mesma torre inicial em outro pino, não poderá colocar o disco maior sobre o disco menor.2

  • Teste de Atenção Visual (TEVA) idealizado para crianças não alfabetizadas, tem o objetivo de avaliar a reação do indivíduo a um estímulo. A criança senta-se em frente do microcomputador com o dedo sobre a tecla “espaço do teclado”. A criança deverá manter na memória as imagens alvo/não-alvo e responder o mais rápido possível sempre que o estímulo alvo for apresentado. A tela fica branca e todas as vezes que aparecer um quadrado grande na tela ela deve apertar a tecla espaço até o final do teste. Em determinado momento aparece alguns quadrados pequenos, mas a crianças só poderá apertar a tecla espaço do teclado quando o quadrado grande aparecer4.

Coleta de dados

    Foi realizada pela pesquisadora na escola em que a criança freqüentava. Os testes só foram aplicados àquelas crianças que apresentaram autorização assinada pelo pai ou responsável legal. Um termo de consentimento livre e esclarecido foi encaminhado ao responsável da criança. A coleta foi realizada no período de abril/maio de 2006. A escola forneceu o computador para a realização do teste Teva. Ficou faltando uma amostra de meninos de 4 anos pois faltou o consentimento dos pais.

Analise Estatística

    Para analise dos dados foi utilizado o teste “t” de Student para amostras independentes, com nível de significância de p<0,05.

Resultados e discussão

    Participaram deste estudo, 79 crianças do Jardim I e II, sendo avaliado à memória executiva e o tempo de reação. Com base nestes dois testes foram feitos as comparações em função da idade e do gênero.

    Como é possível observar na tabela 1, foi feito uma análise em relação a idade. São apresentados os valores de x (média), s (desvio-padrão) e n (numero da amostra) tanto para o teste de Hanói como para o teste Teva. Pode-se observar os resultados do número de acertos ao alvo (% acerto), FA (falso alarmes) e TR (tempo de reação), distribuídos em função da idade cronológica com diferenças significativas para p<0,05.

Tabela 1. Valores de media e desvio padrão da memória e da atenção analisados em função da idade cronológica

*p<0,05

    O presente estudo buscou analisar a memória e a atenção, verificou que em relação à idade, as crianças de 5 anos tiveram um desempenho no teste da memória maior em relação as crianças de 4 anos, obtendo um menor tempo.

    Resultados obtidos por Wood9 mostram também que os escores variam em função da faixa etária, mostrando melhora da performance quando os adolescentes são comparados com os adultos. Sugere ainda que velocidade e processamento aumentam muito entre a adolescência e a idade adulta, mas diminui proporcionalmente menos entre a idade adulta e a velhice.

    Diversos autores têm sugerido que a velocidade de processamento é o fator mais importante no esclarecimento das diferenças de variância relacionadas a idade, em diferentes tipos de tarefas cognitivas, mas principalmente na memória de trabalho Neste sentido, a velocidade de processamento de informação constitui um componente básico das diferenças individuais na inteligência8

    Segundo Richardson(1996), Miller, Galanter e Pribam, os primeiros a utilizar o termo “memória operacional” considerando o lobo frontal como responsável pela “memória operacional”. Neste sentido, para estes autores os planos podem ser retidos temporariamente quando estão sendo formados, transformados ou executados. Neste contexto é o sistema de processamento da informação que atua no controle executivo da cognição e do comportamento, sendo um tipo de memória de curto prazo. Denominamos memória operacional, nesse estudo, aquela que coordena atividades que estão sendo realizadas numa atividade complexa e que requer primordialmente recursos atencionais7.

    Para além dos estudos centrados no tempo de reação, algumas investigações recorrem a tarefas que requerem o acesso à informação retida na memória a curto prazo. O tempo que o sujeito demora a carregar no botão correspondente a cada resposta (tempo de decisão) é tomada como um indicador de velocidade de procura na memória a curto prazo8. Para Riccio e cols(2001)4, o tempo de reação tem se destacado como um índice de eficiência cognitiva e de capacidade de processamento.

    Em relação ao teste Teva que avalia a função tempo de reação, a análise em relação a idade, mostrou que as crianças de 4 anos tiveram um desempenho significativamente inferior em relação às crianças 5 anos. Isso quer dizer, que as crianças de 5 anos responderam mais aos alvos. Além disso, tiveram menos falsos alarmes. O tempo de reação das crianças de 4 anos foram mais rápido, ou seja, elas apertaram mais rapidamente quando o alvo apareceu na tela.

    A tabela 2 mostra os resultados dos testes analisados em relação ao gênero. No teste de Hanói, as meninas tiveram desempenho significativamente superior ao dos meninos [t (77) = 5,09; p = 0,05]. No teste Teva os resultados para porcentagem de acertos (%acerto), tempo de reação (TR) e falso alarme (FA) não foram significativamente diferente entre meninos e meninas.

Tabela 2. Valores de media e desvio padrão da memória e da atenção comparados em função do gênero

p<0,05

    Para além dos estudos centrados no tempo de reação, algumas investigações recorrem a tarefas que exigem o acesso à informação retida na memória de curto prazo. O tempo que o sujeito demora corresponde ao tempo de decisão, que é tomado como um indicador de velocidade de procura na memória de curto prazo8. Para Riccio e cols4, o tempo de reação se destaca como um índice de eficiência cognitiva e de capacidade de processamento.

    Neste sentido a literatura tem, consistentemente, demostrado um dimorfismo sexual em dois domínios da habilidade cognitiva: no teste viso-espacial (rotação mental, percepção espacial) com valores superiores para o grupo masculino e no teste de habilidade verbal (fluência verbal), no qual, o grupo feminino apresenta melhor desempenho10.

    O presente estudo buscou comparar as crianças e verificar se este dimorfismo já esta presente na infância. No teste Teva (atenção visual) os resultados dos meninos foram superiores; eles acertaram mais ao alvo; mostrando também ele foram melhores no tempo de reação (foram mais rápidos) quando o alvo apareceu na tela. Por outro lado as meninas tiveram menos falsos alarmes, apesar do resultado não apresentar diferença significativa.

    Em relação a torre de Hanói, as meninas tiveram desempenho significativamente superiores, elas responderam em menor tempo ao problema proposto.

Conclusão

    A memória e a atenção são funções cognitivas de grande importância para a criança na idade escolar, pois lhe permite obter um aprendizado melhor, vimos na pesquisa algumas diferenças entre meninos e meninas e em função da idade. As crianças de 4 anos não param para analisar, ao resolver uma tarefa a tendência é apertar o teclado, testando até conseguir finalizar a tarefa, á medida que vão crescendo vão adquirindo mais maturidade e já tem mais necessidade de solucionar o problema; é o que pode ser observado com as crianças de 5 anos, por isso seu tempo de reação é mais lento fazendo com que o índice de acerto seja maior em relação aos de quatro anos. Assim, com relação a idade existem diferenças significativas, apontando que as crianças mais velhas tiveram melhores resultados.

    No teste teva, com relação aos sexos, os meninos tiveram melhores resultados do que as meninas, mostrando neste estudo que os meninos tiveram um tempo de reação menor e acertaram mais o alvo, entretanto, as meninas tiveram menos falsos alarmes elas não iam apertando toda hora a tecla, evidenciando talvez uma estratégia diferenciada nesta função no grupo feminino. No teste Hanói as meninas tiveram melhores resultados, resolveram em menor tempo.

    Neste estudo ficou comprovada a existência de diferenças entre a idade e o sexo. Porém, pensamos que estes resultados constituem apenas um bom ponto de partida, para futuras investigações, deixando em aberto a possibilidade da elaboração de um estudo de maiores dimensões como o estudo em relação a atividade com praticantes e não praticantes de atividades desportivas.

Referência bibliográfica

  1. Botelho, Manuel e Braga, Daniel Diferenças entre rapazes e raparigas nos processos cognitivos. Estudo em crianças do 1º. Ciclo Universidade do Porto, FCDEF.

  2. Bull, Rebecca; Espy, Kimberly Andrews e Senn, Theresa E. A Comparison of Performance on the Towers of London and Hanoi in Young Children Jounal of child Psychology and Psychiatry, v. 45, n 4, (2004), pp 743-754.

  3. Colom, Roberto; Mendoza, Carmen Flores Inteligência y Memória de trabalho: La Relación entre Factor G, complejidad Cognitiva y Capacidad de Procesamiento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, Jan-Abr 2001, vol. 17 n.1, pp.037-047.

  4. Córdova, Cláudio; Bravin, André Amaral e Barros, Jônatas de França. TEVA: programa computadorizado para registro e processamento da atenção visual em investigações com retardados mentais leves. EFDeportes.com, revista digital, Buenos Aires, v 10 v 82 , mar. 2005.

  5. Engelhardt, Eliasz; Rozenthal, Márcia e Laks, Jerson. Neuropsicologia VIII – Atenção. Aspectos neuropsicológicos. Rer. Brás. Neurol, 32(3): 101-106, 1996.

  6. Nunes, Maria Vânia Rocha da Silva A Aprendizagem da Leitura e o “Loop” fonológico RFML 2001; Série III; 6(1): 21-28 ensaio de mestrado.

  7. Parente, Maria Alice de Mattos Pimenta; Sparta, Mônica; Palmini, André Luiz. Distúrbio e Percepção Temporal e sua Influência na Memória: Estudo de Caso de Paciente com Lesão Frontal. Psicologia: reflexão e Crítica, 2001, 14(2), pp. 343-352.

  8. Ribeiro, Iolanda S. e Almeida, Leandro S. Velocidade de Processamento da Informação na Definição e Avaliação da Inteligência Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, jan-Abr 2005, Vol. 21n. 1, pp. 001-005.

  9. Wood, Guilherme Maia de Oliveira; Carvalho, Maria Raquel Santos, Rothe-Neves, Rui, Haase, Vitor Geraldi. Validação da Bateria de Avaliação da memória de Trabalho (BAMT-UFMG) Psicologia: Reflexão e Crítica, 2001, v 14(2), pp. 325-341.

  10. Bell, Emily C.; Wilsson, Morgan C. ; Wilman, Alan H. Dave, Sanjay and Silverstone, Peter H. Males and females differ in brain activation during cognitive tasks. NeuroImage, 2006, 30: 529-538.

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 13 · N° 124 | Buenos Aires, Setiembre de 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados