efdeportes.com

A primeira linha de defesa no voleibol: o bloqueio

La primera línea de defensa en el voleibol: el bloqueo

 

*Aluno do Curso de Especialização em Educação Física Escolar

**Professor Adjunto do Departamento de Desportos Coletivos

Universidade Federal de Santa Maria, RS

(Brasil)

Pablo Aires Araujo*

pab_aires@yahoo.com.br

João Francisco Magno Ribas**

ribasjfm@uol.com.br

 

 

 

Resumo

          A literatura no âmbito do ensino dos esportes coletivos tem sido caracterizada por descrições de técnicas das referidas modalidades, praticamente desprezando a dinâmica de interação (cooperação e oposição) peculiar a esse grupo de esportes e jogos. O presente artigo tem como objetivo apresentar este recente olhar sobre os esportes coletivos que insere a técnica nas referidas interações de jogo, apresentando assim elementos referentes ao Processo de Leitura de Jogo e o desenvolvimento do Processo de Tomada de Decisão a partir do bloqueio no voleibol. Assim, apresentamos uma forma de caracterizar o voleibol, onde as ações técnicas estão combinadas com as ações táticas, indicando que o ensino dessa modalidade deverá seguir a referida orientação.

          Unitermos: Ensino. Esportes. Voleibol.

 

Resumen

          La literatura del ámbito de la enseñanza de los deportes colectivos se ha caracterizado por las descripciones técnicas de las referidas modalidades, prácticamente ignorando la dinámica de la interacción (cooperación y oposición) peculiar a ese grupo de deportes y juegos. Este articulo tiene como objetivo presentar esta reciente mirada sobre los deportes colectivos que incluye la técnica en las referidas interacciones de juego, enseñando así elementos referentes al proceso de Lectura del Juego y el desarrollo del Proceso de Toma de Decisión partiendo del bloqueo en el voleibol. Así, vamos a presentar una forma de caracterizar al voleibol, donde las acciones técnicas estan combinadas con las acciones tácticas, indicando que la enseñanza de la referida modalidad deberá seguir esta orientación.

          Palabras clave: Enseñanza. Deportes. Voleibol.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

1 / 1

    O bloqueio é uma ação técnico-tática defensiva e ao mesmo tempo ofensiva do voleibol que consiste em interceptar ou amortecer o ataque da equipe adversária. Ação defensiva é a de buscar interceptar a passagem da bola em sua própria quadra ou amortecer o ataque, facilitando a defesa. Há também a ação ofensiva já que outro objetivo é rebatê-la na quadra adversária através da invasão do espaço adversário (bloqueio ofensivo). Esta característica é mais observada em jogadores mais treinados, que possuem maior estatura e impulsão vertical mais desenvolvida.

    Devemos enfatizar desde a iniciação até o alto rendimento, que logo após o jogador participar do bloqueio, este irá realizar uma ação subseqüente. Caso o bloqueio ou a defesa consiga evitar o ponto, os jogadores que participaram desta ação devem recuar para a possibilidade de um contra-ataque.

    Tanto para o aprendiz como para o jogador experiente entende-se que o participante deverá realizar a ação de bloqueio com consciência e após uma criteriosa leitura e análise da situação de jogo, elementos esses que serão apresentados no presente artigo.

    É importante destacar que apresentaremos o sentido do bloqueio em uma estrutura de Voleibol esportivo institucionalizado, ou seja, as regras e o próprio sistema desportivo dão a conotação final para essas ações de jogo, no caso, a vitória. Porém o bloqueio fora desse contexto poderá dar novos sentidos a essa ação como, por exemplo, em um jogo com aprendizes é muito comum a ação de bloqueio não existir. Certamente que, dependendo da estatura dos mesmos nem seria possível e em muitos casos também não haveria necessidade, porém o aprendiz deve compreender qual o objetivo da ação de bloquear e a sua importância na composição do sistema defensivo. Em nosso entendimento essa é uma das relações que devem estar presentes já nas primeiras intervenções do professor.

    A literatura atual vem tratando o ensino dos esportes coletivos de forma isolada e desconexa do jogo, sem mostrar os elementos de leitura e muito menos as interações de oposição que se estabelecem, impossibilitando o ensino e a compreensão técnica no contexto do jogo (tática). É muito freqüente que as metodologias de ensino do voleibol não respondam questões como: Qual o sentido do bloqueio no voleibol? Quais as percepções necessárias para realizar um bloqueio eficiente? Quais as interações que se estabelecem neste momento do jogo?

    Estes elementos só têm sido considerados de forma sistemática a partir dos estudos do francês Pierre Parlebas que há quase 40 anos vem construindo instrumentos de análise da lógica interna de jogos e esportes. O referido autor, que possui vários livros publicados sobre o tema, em 1999 lançou o léxico dos jogos e esportes (“Jeux, Sports et Sociétés”) onde reúne as principais idéias da área, assim como descreve os instrumentos de análise (PARLEBAS, 1999).

    Este conhecimento vem orientando discussões e sustenta os principais autores que produzem conhecimento acerca dos esportes coletivos nos últimos anos na Europa e no Brasil. Autores como Claude Bayer (1994) na França, Graça e Oliveira (1995) que coordenaram uma importante obra sobre o tema em Portugal, Hernández Moreno (1994) e Riera na Espanha têm sistematizado este conhecimento em forma de livros, onde vêm apresentando novas e importantes contribuições para o processo de Ensino-Aprendizagem dos esportes coletivos. No Brasil, o professor Pablo Juan Greco da Universidade Federal de Minas Gerais com forte influência desses autores e da produção alemã, principalmente do professor Klauss Roth, escreveu, junto com um grupo de colaboradores, a obra Iniciação Esportiva Universal em 1998 (GRECO, 1998). Todos os autores acima citados, direta ou indiretamente, são influenciados pelo conhecimento praxiológico.

    O presente estudo surgiu de um projeto de ensino denominado “Princípios Orientadores para o Ensino do Voleibol”, coordenado pelos professores João Francisco Magno Ribas e Mauro Cesar Ribeiro Baldicera que aconteceu no primeiro semestre de 2005 e contou com a colaboração dos seguintes acadêmicos do curso de Educação Física da Universidade Federal de Santa Maria: Marcelo Tiecher Zimmermann, Evandro Togni, Everson Mateus Kayser Camargo e Pablo Aires Araujo. O objetivo deste projeto foi propor um olhar do processo de ensino-aprendizagem que remontasse a realidade mais próxima do jogo com base nas características do jogo (cooperação/oposição), e que subsidiasse as leituras do jogo como forma de antecipação das ações. O parâmetro utilizado para esta análise está calcado nos elementos de análise de jogo da praxiologia motriz do sistema de classificação (PARLEBAS, 1999), e na proposta da Iniciação Esportiva Universal de Greco (1998), mais precisamente no que tange a oposição. Para isso, dividimos o jogo de voleibol em seis momentos: saque, recepção/passe, levantamento, ataque, bloqueio e defesa.

    Neste artigo apresentaremos esta reflexão do grupo em relação à ação do bloqueio. Em um primeiro momento descreveremos a estrutura que foi utilizada neste estudo. Em seguida, detalharemos as ações de oposição e cooperação que se dão no momento do bloqueio. Em um terceiro momento apresentaremos as principais técnicas de bloqueio. As possibilidades e o desenvolvimento dos processos de tomada de decisão aparecem na última etapa deste artigo. Finalizamos o material tecendo algumas considerações referentes ao estudo e possibilidades de desdobramentos.

Apresentando a estrutura utilizada

    Após termos identificado as principais características do esporte de cooperação/oposição (sistema de classificação e universais dos esportes coletivos) de Pierre Parlebas e o estudo descritivo de Iniciação Esportiva Universal de Greco, chegamos a seguinte estrutura para descrever os momentos do saque, recepção-passe, levantamento, ataque, bloqueio e defesa: ações de oposição e cooperação, principais técnicas, possibilidades técnico-táticas do processo de tomada de decisão e desenvolvendo o processo de tomada de decisão. Na sequência apresentaremos uma breve explicação de cada elemento desenvolvido neste estudo.

1.     Ações de oposição e cooperação

    Neste item, cita-se a relação de oposição e cooperação que acontece em cada fundamento abordado, e faz-se uma análise crítica do quadro de Serenine, Noce e Freire (1998, p. 254) da obra Iniciação Esportiva Universal, primeiro, em relação à oposição e a seguir, em relação à cooperação.

Elementos relativos à oposição

    O foco, neste momento, será direcionado ao outro lado da quadra, ou seja, descrevemos as leituras de jogo em relação ao adversário (análise antecipada e situacional), necessárias para a ação técnico-tática do jogo, assim como o conhecimento prévio que se deve ter da equipe adversária.

Leitura de jogo do adversário

  • Análise antecipada: Se refere às percepções do adversário que acontecem um pouco antes da ação técnico-tática, ou seja, é o primeiro nível de análise da disposição no espaço de jogo da equipe adversária e as respectivas funções de cada jogador oponente.

  • Análise situacional: Constitui-se em uma leitura quase que simultânea da disposição final da equipe adversária e/ou na leitura da ação técnico-tática dos jogadores adversários. Diferencia-se da análise anterior por ser uma orientação mais concreta da ação ou disposição do adversário, ou seja, a última leitura dos oponentes antes de executar determinada ação de jogo. São leituras de jogo do adversário que acontecem um pouco antes da ação que indicam a melhor opção para a ação técnico-tática do jogo. Por exemplo, no momento da ação de bloqueio o praticante deverá observar o posicionamento dos atacantes da equipe adversária (saber quantos estão na rede, se há a possibilidade de ataque de fundo de quadra, etc).

  • Conhecimento técnico-tático prévio do adversário: Refere-se ao conhecimento que se tem das ações técnicas e táticas da equipe adversária que poderão ser adquiridas a partir da observação direta ou vídeos. Estas informações poderão precisar ainda mais o processo de leitura da equipe adversária, ou seja, saber das limitações e qualidades de um jogador focalizará ainda mais o processo de leitura de jogo.

  • Elementos de cooperação. Características técnico-táticas e ações combinadas previamente da própria equipe: Neste momento iremos indicar e descrever os processos de comunicações que deverão ser estabelecidos em cada momento do jogo. Apresentaremos assim os referenciais para construir o entrosamento do grupo, tanto em situações de defesa como ataque. No caso do bloqueio, iremos apontar para as combinações entre bloqueadores e demais defensores.

2.     Principais técnicas: 

    Neste momento descrevemos algumas técnicas mais utilizadas pelos jogadores na execução dos fundamentos desenvolvidos durante as ações do jogo, usando como referencial teórico literaturas atualizadas e conceituadas, e com isso dando uma orientação das principais formas de atuação na realização dos fundamentos.

3.     Possibilidades técnico-táticas do processo de tomada de decisão

    Neste momento fizemos um exercício de apresentar, em um primeiro nível de análise, as alternativas que o jogador terá para utilizar em cada momento de jogo em função de situações que irão surgir no jogo. Não apresentaremos todas, e tão pouco aprofundaremos, apenas mostraremos a necessidade de desenvolver este caminho no processo de ensino-aprendizagem no voleibol.

4.     Desenvolvendo o processo de tomada de decisão: 

    Desenvolvemos os elementos de tomada de decisão a serem observados a partir das idéias de Serenine, Noce e Freire (1998, p. 254), bem como, e de elementos que o grupo de trabalho considerou relevantes. Este desenvolvimento e evolução no processo de tomada de decisão foram elaborados também, a partir de situações de jogo, onde trabalhamos a partir de objetivos concretos.

Figura 01. Durante a ação de Bloqueio haverá uma oposição contra o ataque adversário ao mesmo tempo em que haverá uma combinação com a defesa de nossa equipe objetivando cobrir os espaços e articular as ações nos bloqueios coletivos (duplo, triplo). Na figura temos uma rotação onde o levantador está infiltrando.

As ações técnico-táticas e a leitura de jogo no bloqueio

1.     Caracterizando as ações de oposição e cooperação

    No voleibol devido ao fato da ação de bloquear ser realizada com pouco deslocamento ou até mesmo nenhum, o ataque tende a ter maior êxito, porque o atacante executa este fundamento deslocando-se mais facilmente. Para tentar diminuir esta superioridade do ataque, o jogador/bloqueador, deve realizar uma série de percepções relativas ao adversário (oposição) e considerar outras relacionadas à própria equipe (cooperação). Segundo Serenine, Freire e Noce (1998), o que o iniciante deve perceber, em relação à equipe adversária, são as características dos atacantes (altura, estilo, tendência/direção), possibilidade de ataque de fundo, características e tendências do levantador na distribuição, posicionamento do levantador, movimentação dos atacantes e tipo de levantamento efetuado. No debate junto ao grupo de trabalho achamos relevante inserir outra percepção, no caso, quem e quantos são os atacantes.

    Em relação à própria equipe o grupo achou pertinente uma observação, não citada pelos autores, referente à armação do bloqueio, ou seja, se há possibilidade de bloqueio duplo ou em algumas circunstâncias o triplo (alto rendimento).

Elementos relativos à oposição

    Os elementos que devem ser levados em consideração pelo bloqueador, referente à equipe adversária, possuem o objetivo de interceptar o ataque oponente ou facilitar as ações de seus companheiros no momento de defender. Estas observações relativas à equipe adversária são fundamentais para o êxito desta ação (bloquear). A compreensão desses elementos facilitará em muito a ação do bloqueio bem como a melhora do entrosamento por parte do bloqueio e da defesa que devem ter uma boa comunicação para obter um maior grau de sucesso nas ações de defesa da equipe.

Leitura do jogo adversário

Análise antecipada

  • Característica dos atacantes (altura): a visualização da estatura dos atacantes torna-se relevante para a realização do bloqueio. Considerando esta característica, o aluno/bloqueador, poderá optar por um bloqueio visando interceptar o ataque ou amortece-lo, facilitando o trabalho dos jogadores de defesa.

  • Possibilidade do ataque de fundo: na iniciação dificilmente teremos um aluno/jogador capaz de executar este tipo de ataque, devido ao alto grau de exigência técnico/tática. Já em equipes mais preparadas técnico-taticamente, é comum ter atacantes de fundo para surpreender o bloqueio. Quando o levantador estiver na zona de defesa este deverá infiltrar. Desta forma, terá a opção de três atacantes na zona de ataque e a possibilidade do ataque dos três metros. Quando o levantador estiver na zona de ataque possui além de dois atacantes da rede, mais o ataque de fundo. Cabe ao bloqueador identificar a existência ou não deste jogador, considerando este elemento no Processo de Tomada de Decisão.

  • Posicionamento do levantador: nesta situação, o bloqueador deve observar se o levantador adversário encontra-se na zona de defesa ou ataque, condição que irá implicar no número de atacantes na rede (2 ou 3). Caso o levantador encontre-se na zona de ataque, existirá a possibilidade da bola ser passada de segunda, além dos ataques de rede e de trás da linha dos três metros. Caso ele encontre-se na zona de defesa, a opção de ataque da bola de segunda pelo levantador é ineficiente já que este não poderá atacá-la acima do bordo superior da rede. Por outro lado, nesta situação haverão três atacantes na rede. Na iniciação dificilmente ocorre o caso infiltração do levantador, o jogador que se encontra no meio da rede geralmente executa a função de levantador.

  • Quem são e quantos são os atacantes: Antes de começar o rali, os jogadores que farão parte do bloqueio deverão observar quais são os atacantes da rede e onde eles executarão o ataque, bem como, quantos estão na zona de ataque. Na iniciação o ataque contará apenas com os atacantes de ponta entrada e saída, dificilmente existirá o ataque de fundo devido ao grau de dificuldade dessa ação.

Análise Situacional

  • Movimentação dos atacantes: O aluno deverá observar a movimentação dos atacantes para marcar a região onde possivelmente ocorrerá o ataque. Isso fará com que o bloqueador não “caia” na finta do atacante. Na iniciação a movimentação normalmente é mais simples não envolvendo finta.

  • Características dos atacantes: essa questão refere-se às características técnicas. Através desta percepção, o bloqueador tentará interceptar o ataque pelo movimento de tronco, braço e palma da mão do atacante. Na iniciação os recursos dos atacantes são menos variados, mas devemos salientar que a leitura no momento da ação deve ser realizada para o êxito do bloqueio.

  • Características do levantador: neste ponto, o aluno deve observar se o levantador adversário possui a capacidade de executar o levantamento em diversas direções, pois na iniciação, o levantamento geralmente é executado para frente devido à limitação técnico-tática. Quando os recursos do levantador são maiores, no caso de categorias superiores, há a possibilidade de levantamentos de frente, de costas, de trajetórias diferentes (baixa, média e alta), distâncias diferentes em relação à rede (perto e longe) e de diferentes velocidades (de tempo e chutada).

  • Tipo de levantamento: esta é uma observação muito difícil de ser feita, pois ocorre em frações de segundo. O bloqueador deve estar concentrado observando o levantador no momento da ação e somente depois do toque dele na bola, é que poderá identificar o tipo de levantamento executado (alto, médio, chutado, perto ou longe da rede, entrada ou saída...). Através da observação dos movimentos corporais, pode-se perceber a intenção do levantador, mas esta percepção ocorre somente com a evolução técnico-tática do aluno e o aprimoramento da capacidade de leitura do jogo. Existe ainda a possibilidade do levantador, quando encontrar-se na zona de ataque, abrir mão do levantamento e executar um ataque de segunda.

Conhecimento técnico-tático prévio do adversário

  • Características dos atacantes: neste ponto, toda a equipe deve observar as características dos atacantes adversários, através de jogos gravados ou outros meios disponíveis, pois todos os jogadores executarão o bloqueio durante a partida. As características que devem ser observadas são: tipo de ataque mais executado e os recursos técnico / táticos empregados durante o jogo. Estas observações são importantes para saber se o jogador adversário possui habilidade para atacar na diagonal e paralela, se usa a largada, etc.

  • Atacantes mais requisitados: saber quem são os jogadores mais requisitados, ou os que possuem maior porcentagem de acerto durante o jogo, facilitará a ação do bloqueio. Com esta observação, a equipe pode optar em fazer uma marcação do bloqueio mais atenta a estes jogadores. Tanto na iniciação como no alto rendimento, existem jogadores que chamamos de atacantes de segurança, que na hora de decidir o lance, a bola é levantada para este jogador. Cabe aos jogadores identificar quem são os jogadores com essa competência.

Elementos de cooperação: características técnico-táticas e ações combinadas previamente da própria equipe

  • Armação do bloqueio: existem três possibilidades de ações do bloqueio: simples, duplo e triplo.

    Na iniciação o bloqueio simples e duplo são mais utilizados, o bloqueio triplo é mais difícil para os aprendizes pelo alto grau de aprendizado técnico / tático necessário e por envolver também grandes deslocamentos. O bloqueio triplo pode ser ensinado só que sua aplicação é mais complexa, sendo difícil de acontecer por causa das jogadas serem com bolas médias na ponta, mas é interessante como desafio aos alunos.

    Se não houver a possibilidade de bloqueio duplo, cabe ao aluno decidir se deixa à paralela ou diagonal como opção para o ataque. Neste caso, o conhecimento das tendências do atacante é muito importante, e também a disposição de sua defesa. No caso da possibilidade do bloqueio duplo, cada jogador tem uma função, um marca a diagonal e o outro a paralela.

    Independente da função os bloqueadores devem estar entrosados para não ocorrer erro de armação do bloqueio (bloqueio quebrado, espaços entre os bloqueadores, etc) ou até choques entre companheiros de equipe.

2.     Principais técnicas

    A técnica do bloqueio consiste em posição de expectativa, execução e queda (Bojikian, 1999).

  • Posição de expectativa: junto à rede, o bloqueador está em semiflexão dos joelhos. Os braços semiflexionados à frente do corpo com as palmas voltadas para frente.

  • Execução: o bloqueador estende o joelho dando impulsão para cima e os braços também são estendidos, as mãos podem invadir ou não o espaço aéreo adversário formando um obstáculo a passagem da bola. Quando a bola tocar nas mãos deverá flexionar os punhos para enviar a bola à quadra adversária.

  • Queda: amortecer a queda com os joelhos flexionados, primeiro contato na ponta do pé e depois distribuir o peso em todo o pé.

Técnica de deslocamentos

  • Passada lateral: com os ombros paralelos a rede deslocar com passadas laterais.

  • Passada de frente e giro: desloca correndo, gira e salta no momento do ataque.

  • Passadas cruzadas e ajuste com passada lateral: desloca em passada cruzada e faz o ajuste (momento de equilíbrio do bloqueador para realizar a impulsão) em passada lateral.

    O importante da passada na fase de aprendizagem é que o aluno experimente várias formas de deslocar para encontrar qual passada é a mais rápida para seus deslocamentos principalmente aos bloqueadores centrais que dependem da velocidade de deslocamento para bloquear os ataques. O bloqueio por ser uma ação executada muito próxima à rede, deverá ser bem treinada a fim de evitar o contato com esta e também a invasão da quadra adversária durante a queda, o que pode favorecer o adversário, na iniciação ocorrem muitos saltos com pequenos deslocamentos à frente o que provoca este tipo de infração.

3.     Processo de tomada de decisão no bloqueio: possibilidades e o desenvolvimento dessas ações

    Depois do bloqueador perceber a equipe adversária e sua própria equipe é chegada a hora de entrar em ação. Segundo Serenine, Freire e Noce (1998) o processo de tomada de decisão são bloquear ou defender, momento do salto, tipo de bloqueio e direção a bloquear, mas entendemos que todas essas questões dependem da trajetória da bola.

  • Bloquear ou defender: Na iniciação devemos enfatizar que como o bloqueio mais usado é o duplo, então sempre o aluno da ponta onde não esta ocorrendo o ataque deverá descer para defender a diagonal curta ou a largada em diagonal, mas isso depende da estratégia utilizada.

    Na iniciação muitas vezes a bola é levantada longe da rede então os dois bloqueadores das pontas terão que perceber a ação do atacante que geralmente irá apenas colocar a bola em jogo, então deverão tomar atitude de recuar, porque a bola geralmente vem de “graça”. No alto nível quanto a bloquear ou defender o jogador que não participa do bloqueio desce para defender a diagonal curta ou participa do bloqueio formando um bloqueio triplo, mas isso depende da trajetória da bola levantada.

    Os treinadores de alto nível definem estratégias levando em conta as características do grupo chegando a ponto de não optar pelo bloqueio triplo confiando na sua defesa, mas grande parte opta pelo bloqueio triplo sempre que possível.

  • Momento do salto: Esse momento é fundamental ao êxito do bloqueio. O momento depende da trajetória da bola e impulsão do atacante.

    A direção da bola, na iniciação, ocorrem erros no levantamento estando à bola mais para o bloqueador do que para o atacante, sendo que o momento do salto não vai depender do atacante, mas se a bola estiver em disputa neste momento os dois deverão saltar juntos. Altura da bola influenciará o momento do salto. Para bolas altas usadas geralmente na ponta, o bloqueador deverá saltar frações de segundos depois do atacante.

    Na bola de meio (rápida) onde a altura da bola é pequena, o bloqueador deverá saltar junto com o atacante.

    No ataque de fundo, onde a bola está um pouco mais longe da rede e altura de média para alta, o bloqueador saltará depois do atacante.

    Quanto à impulsão do atacante a literatura da área vem recomendando que o bloqueador salte junto ou depois do atacante levando em conta sua impulsão. Entretanto entendemos que o bloqueador deverá sempre que possível fazer com que coincida o ápice de sua impulsão com o ápice da impulsão do adversário, considerando as características de cada atacante.

  • Tipo de bloqueio: Refere-se ao bloqueio defensivo e ofensivo. O praticante deverá analisar as diversas situações de jogo e optar por uma dessas formas de efetuar a ação de bloqueio. A forma defensiva se caracteriza pela tentativa de amortecer a bola facilitando a ação da defesa enquanto que na ofensiva o principal objetivo é fazer com que a bola caia na quadra do adversário. Na iniciação o bloqueio defensivo é predominante devido à limitação da estatura dos praticantes. Vencida essa barreira da estatura o bloqueio ofensivo se torna predominante, pois sua ação é mais eficaz na ação de neutralizar o ataque adversário.

  • Direção a bloquear: Depende da trajetória da bola comentada anteriormente e da leitura do adversário, sendo importante salientar o braço de ataque.

    A região marcada pode ser paralela ou diagonal em relação às linhas laterais da quadra. O bloqueio simples deve acontecer com menor freqüência já que possibilita ao atacante diversas possibilidades de ataque, assim como dificulta a ação da defesa que deverá estar atenta a região da quadra que não foi coberta pelo bloqueio. O bloqueio duplo, que se constitui na forma mais utilizada, cobre geralmente a paralela e a diagonal deixando uma pequena região da quadra (diagonal curta) que será coberta pela defesa. No bloqueio triplo a idéia principal é tirar a possibilidade de um ataque mais potente fazendo com que o atacante ou explore o bloqueio ou coloque a bola. É importante destacar que todas essas formações de bloqueio poderão ser modificadas a partir de combinações entre bloqueadores e defensores (tática defensiva).

4.     Desenvolvendo o processo de tomada de decisão

    Devemos enfatizar que ações pensadas são tão, ou até, mais importantes no processo de ensino-aprendizagem, quanto o gesto automatizado, os professores terão que desenvolver o raciocínio de seus jogadores para não ficarem presos somente a ações previamente condicionadas. Agora que o aluno desenvolveu ou está em fase de desenvolvimento do processo, devemos aprimorar os elementos do bloqueio com base na sua experiência e orientação do professor.

    Quando o nível do jogo aumenta, os atacantes e o levantador terão maiores variações de ataque e de levantamentos dificultando o bloqueio, onde o êxito dependerá de questões físicas, técnico-táticas e psicológicas. No alto rendimento, a capacidade física e técnico-tática dos jogadores são mais desenvolvidas e o bloqueio será a maneira mais eficaz de interceptar um ataque potente.

Posicionamento dos jogadores

    Esclarecer ao jogador para observar a posição dos jogadores / atacantes e do levantador, pois com estas observações, estará ciente das possibilidades de ataque, tanto na rede como de fundo. Uma forma de desenvolver esta tomada de decisão é construir atividades onde os jogadores tenham de identificar quantas possibilidades de ataque existe naquele rali, quem são os atacantes da rede, se existe a possibilidade de ataque de fundo e se o levantador se encontra na zona de ataque. A cada rodízio, mudará as características da equipe adversária referente ao ataque e cabe ao professor induzir o aluno a perceber estas características a fim de facilitar o bloqueio. É importante que o aprendiz reconheça que o bloqueio, a princípio, é uma ação coletiva e a informação que ele obteve em relação à equipe adversária deve ser repassada aos demais colegas.

    Com a evolução técnico-tática as ações serão mais complexas apresentando mais variações de ataque e o bloqueio terá que sofrer a mesma evolução para contrapô-las.

Movimentação dos atacantes

    O aluno deve estar atento não somente à bola, mas também a movimentação dos atacantes da sua região (trajetórias de deslocamentos e fintas). Em função dessa movimentação do atacante é que o bloqueio poderá ajustar a região da quadra que será coberta assim como o tempo da sua impulsão em relação à impulsão do atacante. O desenvolvimento da percepção da movimentação dos atacantes poderá ser realizado a partir de exercícios que enfatizem a variação de trajetórias e fintas dos atacantes.

Tipo de levantamento

    A percepção do aluno deve estar atenta para o gesto do levantador e na análise prévia da distribuição do levantador. Na iniciação geralmente o levantador faz a jogada para a sua frente. A partir da evolução técnico-tática estas ações variam, como por exemplo: o levantamento de costas. Deve ficar claro que a leitura do gesto vai facilitar as ações do bloqueador que poderá antecipar sua ação. Desenvolver exercícios onde o bloqueador perceba os gestos de vários levantadores para antecipar sua ação pela leitura da técnica utilizada. Quanto à análise prévia na iniciação, não acarretará em grandes problemas, mas quando o nível aumenta poderá causar grandes problemas, pois o levantador analisa o bloqueio para depois realizar sua ação.

Considerações finais

    O presente estudo, em linhas gerais, mostrou, de forma objetiva, que a ação técnica em Jogos Esportivos Coletivos (JEC) se constitui em uma ação tática, que são orientadas pelos elementos de interação do jogo (cooperação e oposição). No caso do bloqueio, mais do que realizar uma boa execução técnica o participante deverá considerar os elementos de oposição, ou seja, uma ação técnica orientada pela leitura da ação do adversário (tática), bem como uma ação de cooperação junta ao restante da defesa, onde, quanto melhor a comunicação (elemento que media a cooperação) entre os companheiros, melhor será a possibilidade de êxito do grupo.

    Com a proposta que discutimos no presente estudo, não implica em ignorar os elementos da técnica de execução, pelo contrário, entendemos que os parâmetros aqui discutidos dão ao participante condições de situar-se no jogo e dar sentido para as suas ações. Para efetuar o bloqueio, o bloqueador deve orientar-se a partir das ações de leitura do adversário e dominar algumas técnicas mínimas (deslocamentos, saltos, etc). Sem isso, pouco adianta realizar o processo de leitura se não houver condições técnicas de resolver o problema. Ademais, quanto maior o repertório técnico melhor será a sua condição de resolver os problemas do jogo, dificultando inclusive a leitura e opções táticas dos levantadores e atacantes adversários. Assim, é importante que as orientações pedagógicas de ensino do voleibol considerem estes elementos, assim como os espaços do jogo.

    O presente estudo também parte do pressuposto que no momento em que se desvela, de forma objetiva e consistente como buscamos desenvolver no presente texto os elementos de leitura do bloqueio (ou de qualquer outra ação de jogo), o participante, principalmente o iniciante, entenderá o sentido da referida ação no contexto do jogo.

    Na prática entendemos que o processo de ensino aprendizagem deverá seguir a referida orientação, ou seja, não enfatizar somente a execução técnica nas aulas ou sessões de treinamento, mas sim, realizar atividades que desenvolvam a leitura de jogo assim como o processo de tomada de decisão, dentro das situações do jogo de voleibol, no caso, saque, recepção/passe, levantamento, ataque, bloqueio e defesa, e não mais, toque, manchete, bloqueio, fora das respectivas situações de jogo. Em relação a esse aspecto sugerimos a metodologia da iniciação esportiva universal organizada por Greco (1998) que propõe o desenvolvimento do ensino dos Jogos Esportivos Coletivos incluindo os momentos posicionais, dentro das posições e espaços de jogo, e situacionais, reproduzindo algumas situações do jogo no sentido de desenvolver o processo de tomada de decisão.

    Esperamos com esse texto fornecer subsídios para que o leitor problematize as metodologias de ensinos dos jogos esportivos coletivos que tem predominado na literatura atual, e, como proposta de reflexão, elencamos as seguintes questões: a mera descrição de técnicas de execução leva a alguma alteração significativa nas metodologias do ensino do voleibol? Com base nas reflexões propostas no texto, o ensino e o treinamento devem ser organizados de forma diferenciada? Como? Existem outras formas de compreensão da essência do jogo? Até onde as reflexões levantadas neste texto poderão expressar novas formas de ensinar?

Referências

  • BAYER, Claud (1994). O ensino dos desportos colectivos. Lisboa, Dina livro.

  • GRAÇA, Amândio; OLIVEIRA, José (org.) (1995). O ensino dos jogos desportivos. 2ed. Porto: Universidade do Porto, Faculdade de Ciências do Desporto e da Educação Física.

  • GRECO, Pablo Juan (org.) (1998). Iniciação esportiva universal: Metodologia da iniciação esportiva na escola e no clube. Vol 2. Belo Horizonte: Editora da UFMG.

  • HERNÁNDEZ MORENO, José (1994). Fundamentos del Deporte: Análisis de las estructuras del juego deportivo. Primera Edición. Barcelona, Espanha: INDE Publicaciones.

  • KRÖGER, Cristian e ROTH, Klaus (2006). Escola da Bola. Um ABC para iniciantes nos jogos esportivos. 2ª edição. Traduzido por Pablo Juan Greco. São Paulo: Phorte Editora, 2ª edição.

  • PARLEBAS, Pierre (1988). Elementos de Sociologia del Deporte. Málaga, Espanha: Junta de Andalucia/Universidad Internacional Deportiva de Andalucia.

  • PARLEBAS, Pierre (1999). Jeux, Sports et sociétés: lexique de praxéolgie motrice. Paris, França, Institut du sport et de l´éducation physique.

  • SERENINE, Antônio Luiz Prado; NOCE, Franco; FREIRE, Auro (1998). Voleibol. In: GRECO, Pablo Juan (org.). Iniciação esportiva universal: Metodologia da iniciação esportiva na escola e no clube. Vol 2. Belo Horizonte: Editora da UFMG.

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 13 · N° 124 | Buenos Aires, Setiembre de 2008  
© 1997-2008 Derechos reservados