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A Educação Física na escola e
o resgate da cultura popular no Brasil

 

*Graduado em Educação Física Universidade de Franca UNIFRAN.

Aluno da Especialização em Educação Física Escolar UNIFRAN.

** Docente da Universidade de Franca UNIFRAN

Coordenadora do curso de Especialização

Educação Física Escolar UNIFRAN.

Prof. Waldemar Cruz Neto*

Profa. Dra. Maria Georgina Marques Tonello**

tonellogina@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O presente artigo traz uma reflexão sobre a Educação Física no contexto escolar e os benefícios da cultura popular quando inseridas nas aulas. O texto possibilita o diálogo com a literatura, através de um levantamento da história da Educação Física no Brasil, suas perspectivas. E como o trabalho pedagógico com jogos e brincadeiras da cultura popular permite um olhar crítico nas aulas de Educação Física e no ambiente escolar. O resgate de jogos e brincadeiras folclóricas dentro do ambiente escolar pode trazer uma maior participação dos alunos auxiliando na auto-estima, na criatividade, na coordenação viso-motora, na linguagem escrita, oral, musical e corporal. Valorizando o elo entre o presente e o passado, e desperta no aluno o estimulo pelo estudo, desenvolvendo hábitos de brincadeiras, músicas, poemas, versos, dramatizações e enfim, toda a riqueza cultural que se encontra ora adormecida e desconhecida pela nova geração. Por fim, vale ressaltar a importância da realização de projetos sobre o tema tanto pela escola como pelos profissionais de Educação Física, o que possibilita um novo olhar e novas contribuições da desta, afastando-se dos modelos predominantes para que se possa obter uma reflexão crítica acerca da cultura corporal e da formação humana do aluno.

          Unitermos: Educação Física. Cultura popular. Ensino. Aprendizagem.

 

Abstract

          The present article brings a reflection on the Physical Education in the pertaining to school context and the benefits of popular culture when inserted in the classroom. The text allows the dialogue with the literature, through a survey of the history of Physical Education in the country, its prospects, and how to work with educational games and popular culture can play a critical eye on the lessons of Physical Education and the school environment. The rescue games and folk games within the school environment can bring greater participation of students in helping self-esteem, creativity, in coordination viso-motor, language in written, oral, musical and body, which values the link between present and past, and awakens in the student stimulate the study, developing habits of games, songs, poems, verses, role play and finally, the whole cultural wealth that is now dormant and unknown by the new generation. Finally, it emphasized the importance of carrying out projects on the subject by both the school and the professionals of Physical Education, which allows a new look and new contributions of this, distancing themselves from the prevailing models so we can get a critical reflection on Body of culture and training of human student.

          Keywords: Physical Education. Popular culture. Teaching. Learning.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

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Introdução

    A Educação Física no Brasil teve sua origem vinculada às instituições militares e à classe médica, fundamentando-se nas concepções de corpo e movimento. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997. v.7) apontam as restrições de conceitos de corpo e movimento aos seus aspectos sociológico e técnicos no passado, realizando na atualidade uma análise crítica e a busca dessa superação. Uma nova concepção considera a necessidade também das dimensões cultural, social, política e afetiva. Dimensões estas presente no corpo das pessoas que interagem e movimenta como sujeitos sociais e como cidadãos.

    Este artigo possibilita o diálogo com a literatura, através de um levantamento da história da Educação Física no país, suas perspectivas e como o trabalho pedagógico com jogos e brincadeiras da cultura popular permite um olhar crítico nas aulas de Educação Física, visando o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno.

    É importante reestrutura o papel da Educação Física, no espaço escolar, uma vez que ela teve seus nexos hegemonicamente ligados às instituições médicas e militares desde o século XIX. A partir da segunda metade do século XX, a Educação Física sofreu influências do esporte e da psicomotricidade, o que é visto por Costa (2006, p. 190) como um obstáculo para a estruturação desta como “área de identidade e status próprio”. São essas influências históricas que incluíram a Educação Física como uma atividade curricular, nas escolas.

    Na busca de uma melhor compreensão do papel da Educação Física na escola, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) adotaram uma proposta entre o organismo – fisiológico – e corpo – que se relaciona dentro de um contexto sociocultural – e abordam os conteúdos da Educação Física como expressões de produções culturais, com conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos. Portanto, esta proposta entende a Educação Física como uma cultura corporal, que também é embasada na cultura popular.

    Para Darido (2003) o corpo é a expressão da cultura. Gestos e movimentos corporais são criados e recriados pela cultura, passíveis de serem transmitidos através das gerações e imbuídos de significados. Dentre as produções da cultura corporal algumas foram incorporadas pela Educação Física em seus conteúdos; o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e a luta. Sendo assim, a área da Educação Física atualmente contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento.

    As aulas de Educação Física, no contexto escolar podem sistematizar situações de ensino e aprendizagem que garantam aos alunos o acesso a conhecimentos práticos e conceituais. Sendo que a concepção de cultura corporal amplia as contribuições da Educação Física para o pleno exercício da cidadania, na medida em que se afirma como direito de todos os acessos a ela. Por sua vez, a escola deve estar comprometida com a cultura, resgatando os valores, tradições e costumes, através de atividades que podem levar os seus atores a refletirem sobre como a cultura corporal e popular, e que podem e devem ser utilizadas na aprendizagem.

A Educação Física escolar: trajetória e novos rumos

    É importante retomar as influências históricas da Educação Física para entender como se estrutura o contexto presente na Educação Física escolar.

    A Educação Física se justificou enquanto área de conhecimento relacionada às entidades médicas e militares, sendo que estas foram as mais influenciadas pela perspectiva positivista. É nesse processo que a Educação Física se torna uma atividade curricular que significa “ação não expressiva de uma reflexão teórica, caracterizando-se, dessa forma, no fazer pelo fazer” (COSTA, 2006, p.191; CASTELLANI FILHO, 1994, p.108). Sendo assim, é possível perceber a redução da Educação Física ao físico e ao biológico, bem adequado aos pressupostos de racionalidade e cientificidade da filosofia positivista.

    Segundo Castellani Filho (1994), na década de 1990, o que se constata é que são muitas as iniciativas para sistematizar o trabalho da Educação Física a partir de diferentes referenciais. Embora todos estivessem preocupados em negar o que a Educação Física tinha representado até aquele momento histórico, se encontrou, nas escolas, como salienta Darido (2001) a continuidade de uma prática eminentemente esportiva e de recreação.

    O que se tem como intuito na atualidade é expor e refletir acerca de uma experiência em Educação Física escolar construída no cotidiano da escola. E assim analisar as possibilidades educativas, caminhando para a sua legitimação enquanto componente curricular. Para a superação do estigma de mera atividade, caracterizada somente pelo simples fazer sem significado (SOUZA JUNIOR, 2001). Faz-se necessário que a Educação Física promova uma reflexão sobre a cultura corporal e possibilite a formação humana do aluno, e é nesse meio que a cultura popular surge como proposta de trabalho.

    A possibilidade de vivência de situações de socialização e desfrute de atividades lúdicas, sem caráter utilitário, são essencias para a saúde e contribuem para o bem estar coletivo.

    De acordo com Weisz (apud COSTA, 2006), por traz da prática de qualquer professor há uma perspectiva que o orienta. Existe, por traz da organização e do encaminhamento de qualquer trabalho pedagógico, uma percepção de conteúdo, de ensino e de aprendizagem. É importante que se tenha claramente uma concepção de Educação Física, já que, no atual contexto, são muitas as abordagens metodológicas sugeridas por diferentes pesquisadores para a área. O conteúdo é entendido, tal como explica Darido (2001), por conhecimentos, hábitos, valores e atitudes que orientam a ação social e que são organizados e sistematizados pedagogicamente para que sejam apreendidos pelos alunos.

    Dentro desse pressuposto, o ensino é tomado como uma atividade mediadora que coloca o aluno em contato com conhecimentos elaborados pelo ser humano, e esse conhecimento é transportado de maneira didática e problematizado de foram intencional. Sendo a aprendizagem a apreensão desses saberes, com a perspectiva de autonomia e crítica, dando aos alunos a possibilidade de leitura de sua realidade (COSTA, 2006, p. 192).

    Soares et al (1992) analisa que a Educação Física é então entendida como área do conhecimento que trata pedagogicamente os conteúdos da cultura corporal de forma intencional, para que o aluno seja capaz de observar e analisar criticamente não só o conhecimento, mas também a totalidade de relações que o envolve. E, a cultura corporal, por sua vez, é entendida como prática social, imprescindível para a ação transformadora do homem, privilegiando o movimento, a reflexão e a analise crítica do mesmo.

    Para Castellani Filho (1998), a Educação Física, enquanto disciplina curricular tem o objetivo de tratar pedagogicamente os conteúdos da cultura corporal e permitir aos alunos o conhecimento e a análise crítica desses conteúdos.

    A partir desses parâmetros, pode-se observar que há uma abertura da Educação Física para que se trabalhe o corpo, o movimento, através do que é social e cultural, visando a construção de um fazer participativo e que traga envolvimento e conhecimento para os alunos. É ai que os jogos e brincadeiras populares entram nas aulas de Educação Física, uma vez que eles já fazem parte do cotidiano das crianças e esse fato pode beneficiar a aprendizagem. Sendo que este trabalho traz uma participação ativa dos alunos, aspecto que gera mobilização e autonomia havendo uma maior possibilidade de aprendizagem significativa.

    Os jogos populares, que são muitas vezes negligenciados nas aulas de Educação Física, podem ser bem aproveitados e seus significados, na vida das crianças, resgatados. É importante que as escolas executem projetos de jogos populares, o que pode ser trabalhado não somente nas aulas de Educação Física, mas também de maneira interdisciplinar, valorizando a cultura e a sociedade em que se vive.

O folclore, cultura popular e a escola

    Segundo Giffoni (1973) a palavra folclore (folklore), foi publicada pela primeira fez em agosto de 1846, sendo derivada da palavra folk que quer dizer povo e lore que significa saber, sendo assim, no sentido tradicional do saber do povo. Verderi (2000) refere que folclore é o estudo de temas ligados às raízes de um povo, seus costumes e tradições.

    Para Pereira (1986) o folclore é uma ciência sociocultural que estuda a cultura espontânea do homem da sociedade letrada. Pinto (apud IZUMI & MATINS JUNIOR 2006) considera que o folclore é de saber ilimitado e nas mãos do professor pode ser uma arma potente de cultura, que proporciona ensinar recreando.

    O folclore é entendido como expressão cultural de algum povo ou agrupamento étnico. Na educação o folclore é um conteúdo a ser considerado nos propósitos e práticas educacionais, por representar um componente importante dentro da escola (LIMA, 2003). Pois esta é o lugar onde se vive o saber popular e se transmite conhecimentos tradicionais, seja no desenvolvimento de um jogo, de uma dança, de uma técnica, de uma atitude, seja na definição de um dado comportamento.

    Pinto (apud MARTINS JUNIOR, 2006) revela que o aproveitamento do folclore nas escolas é uma das mais válidas contribuições pela intenção formativa e pelo caráter de nacionalidade que imprime, pois a cultura é manifestada através da linguagem, da criação e da expressão do povo, o autor conta que o incentivo ao folclore na escola foi fortalecido pela Lei 5.692 de 11/08/1971, que sugere a inserção do folclore brasileiro em todos os graus.

    A prática da Educação Física na escola completa e equilibra o processo educativo, e a inserção das manifestações folclóricas, como a dança, os jogos e brincadeiras, podem ser bem utilizados por essa disciplina (e por outras também) devido ao seu forte teor cultural. Aliando a uma cultura corporal própria que promova uma melhora no desenvolvimento e na aprendizagem dos alunos.

    As crianças apreendem o saber popular, a cultura, os códigos da sociedade em que vivem. Os jogos e brincadeiras têm grande potencial educativo quando se pensa no sentido da reflexão sobre a cultura (VAGO apud COSTA, 2006). Os jogos da cultura popular representam à preservação de valores sociais de uma classe, e é através dessas vivências que as crianças aprendem o significado das atividades grupais, experimentam diferentes papeis e adquirem experiências sociais que terão significados para a formação da personalidade (FRIENDMANN, 1996).

    Para a autora acima citada, o jogo é um patrimônio social infantil e faz parte da identidade social da criança. No entanto, há fatores que promovem o afastamento da criança dessa cultura, como por exemplo, o crescimento das cidades, a diminuição do tempo de brincar, novos brinquedos com novas tecnologias e o incentivo ao consumo através da propaganda. Com o desenvolvimento tecnológico, todo esse aparato substituiu os jogos e brincadeiras populares.

Considerações finais

    A gama de esportes, jogos, lutas, danças, brincadeiras e ginásticas existentes no Brasil é imensa. Cada região, cada cidade, cada escola tem uma realidade e um contexto que possibilita a aprendizagem e o desenvolvimento de atividades variadas.

    É por meio dessa variedade cultural que os alunos poderão conhecer as qualidades do movimento expressivo, a intensidade, duração, direção, capacidade de construção, autonomia. A história da cultura popular permite que tais atividades possam ser difundidas e trabalhadas pela escola o que acarreta uma série de benefícios a seus participantes.

    As atividades folclóricas podem ser empregadas no conteúdo de Educação Física no ambiente escolar, como um recurso auxiliar a fim de desenvolvera auto-estima, a criatividade, a coordenação viso-motora, a linguagem escrita, oral, musical e corporal, resgatando o elo entre o presente e o passado, despertando no aluno o estimulo pelo estudo, desenvolvendo hábitos de brincadeiras, musicas, poemas, versos, dramatizações e enfim, toda a riqueza cultural que se encontra ora adormecida e desconhecida pela nova geração.

    Como aponta Souza (S/D) é importante que o educador leia, estude e conheça o folclore, pra que possa despertar no aluno um maior interesse, tornando as aulas e os temas mais atrativos e estimulantes. O resgate da sabedoria popular se faz necessária, pois ajuda a aproximar o aluno da sua própria história, levando-o a conhecer o passado, e entender e valorizar o presente.

    Com a cultura popular, o pluralismo cultural, o aluno passa a reconhecer a importância das várias raças, identificando suas influências na vida de cada um.

    Faria Junior (1996) afirma que os modelos predominantes na Educação Física Brasileira, juntamente com fatores próprios à estruturação da nossa sociedade, fizeram que os jogos populares passassem a ser negligenciados pela Educação Física e pela escola. Segundo o autor, a forma como a sociedade capitalista se estrutura, gera um contexto de intolerância com o diferente, o que faz com que esses jogos e brincadeira percam seu significado na vida das crianças.

    Pode-se concluir que o folclore contribui para o desenvolvimento da criança de várias formas, como na socialização, no resgate da cultura e na melhoria dos aspectos cognitivo, afetivo e motor, e que a inclusão e o incentivo às manifestações folclóricas nas escolas incentivam cada vez mais a educação e a cultura, que são os pilares que constituem o ponto de partida para a formação do individuo.

Referências

  • BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: 1a a 4a série. Brasília: SEF/MEC, 1997, v.7.

  • CASTELLANI FILHO, Lino. Educação Física no Brasil: história que não se conta. 4 ed. Campinas, Papirus, 1994.

  • COSTA, M. B. Refletindo sobre a Educação Física escolar. Diálogos possíveis. Ano 5, n.1 (jan/jun. 2006) p.189 – 198.

  • DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física escolar: influencias, tendências dificuldades e possibilidades. Perspectiva em educação física escolar, v2, n.1, Niterói, 2001.

  • DARIDO, S. C. Educação Física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 2003.

  • FARIA JUNIOR, Alfredo G. A reinserção dos jogos populares nos programas escolares. Motrivivêcia. Ano VIII n.9, Dezembro, 1996.

  • FRIENDMANN, Adriana. Brincar: crescer e aprender – o resgate do jogo. São Paulo: Moderna, 1996.

  • GIFFONI, Maria Amália Corrêa. Danças Folclóricas Brasileiras. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1973.

  • IZUMI, Carolina Miyuki; MARTINS JUNIOR Joaquim. A relevância do folclore nas escolas municipais: estudo sobre a dança folclórica. Iniciação Científica CESUMAR jul./dez, v. 08, n.02, p.111-117.

  • LIMA, Rossini Tavares de . Abecê do Folclore. 5 ed. São Paulo: Ricordi, 2003.

  • PEREIRA, Niomar de Souza. Folclore teorias, conceitos. São Paulo: Nacional, 1986.

  • SOARES, Carmem L. et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • SOUZA, Patrícia da Silveira . Resgatando o Folclore Brasileiro. Disponível em: http://www.virtu.ufjf.br/artigo%202a1.pdf. Acessado em: 04/05/2008.

  • SOUZA JUNIOR, Marcílio. O saber e o Fazer Pedagógico da Educação Física na cultura escolar: o que é um componente curricular? In: CAPARROS, Francisco Eduardo (org.). Educação física escolar: política, investigação e intervenção. V.1. Vitória: PROTEORIA, 2001. p.81-92.

  • VERDERI, Erica Beatriz L. P. Dança na Escola. 2 Ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.

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