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Exercício físico: mais saúde para o idoso. Uma revisão

 

*Mestrando em Cineantropometria e Desempenho Humano - Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

**Graduando em Educação Física - Centro de Educação Física e Desportos

Laboratório de Biomecânica – Universidade Federal de Santa Maria. UFSM – Santa Maria.

***Fisioterapeuta – Especialista em Acupuntura Universidade Federal de Santa Maria – UFSM – Santa Maria.

****Doutora em Ciência do Movimento Humano Centro de Educação Física e Desportos - UFSM – Santa Maria.

(Brasil)

Julio Francisco Kleinpaul*

juliofk@gmail.com

Luiz Fernando Cuozzo Lemos**

luizcanoagem@yahoo.com.br

Luana Mann**

luanamann@gmail.com

Janes Tereza Kleinpaul***

janestk@yahoo.com.br

Luciane Sanchotene Etchepare Daronco****

luetchepare@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Com o aumento da expectativa de vida da população, estudos apontam importantes benefícios da prática de exercícios físicos para os idosos considerando sua qualidade de vida. Várias modalidades esportivas têm surgido como uma alternativa para inserção dos idosos nas práticas corporais e consequentemente, para promoção de um estilo de vida mais ativo e saudável. Desta forma esta pesquisa bibliográfica objetivou realizar uma busca de estudos sobre o papel do exercício físico para a o idoso, discutindo e apresentando seus resultados, bem como apontar suas relações com a promoção da saúde e qualidade de vida dessa população. As leituras nos permitiram identificar que a prática de exercícios físicos regularmente favorece o desenvolvimento de algumas importantes qualidades físicas como resistência cardiorrespiratória, força, flexibilidade, e o equilíbrio, diminuindo o risco de quedas e conseqüentes fraturas. Estas capacidades garantem uma independência nas atividades da vida diária e diminuem os efeitos degenerativos do envelhecimento. No entanto alguns pontos devem ser observados, deve-se evitar: altas intensidades de exercícios, solicitação do sistema anaeróbico, exercícios isométricos, e movimentos rápidos e bruscos, cuidando para não ultrapassar a amplitude máxima dos movimentos e para o uso de medicamentos.

          Unitermos: Envelhecimento. Exercício físico. Qualidade de vida.

 

Abstract

          With the increase of the expectation of life of the population, studies point out the important benefits of the practice of physical activity for elderly, considering your quality of life. Various sporting modalities they have been pointed as an alternative for elderly insert in the corporal practices and for promotion of a more active and healthy lifestyle. Thus, this bibliographic research was aimed to search studies about physical exercise for the elderly people, discussing and presenting the results, at the same time, establishing relations with the promotion of health and quality of life of this population. The readings allowed us to understand that the practice of physical exercises regularly is favorable to the development of important physical aspects, such as cardio-respiratory resistance, force, flexibility, and the balance, reducing the risk of falls and consequent fractures, and what guarantees an independence in the activities of the daily life and it delays or it reduces the degenerative effects of the aging. However some points should be observed, it should be avoided: high intensities of exercises, solicitation of the anaerobic system, isometric exercises, and fast and abrupt movements, taking care for not surpassing the maximum width of the movements and for the use of medicines.

          Keywords: Aging. Physical exercise. Quality of life.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008

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Introdução

    O aumento da expectativa de vida é um dos fenômenos populacionais que ocorrem atualmente (Freitas Jr. e Barela20, 2006). O avançar da ciência aliado a melhorias nas condições gerais de vida da população contribuíram para elevar a expectativa de vida dos brasileiros, que aumentou 17 anos entre 1940 e 1980 (de 45,5 para 62,6 anos, respectivamente). Esse indicador chegou aos 70,4 anos em 2000, e deverá atingir os 81,3 anos em 2050, nível semelhante ao atual do Japão (81,6 anos), o primeiro colocado no ranking. O Brasil está em 89º lugar entre os 192 países ou áreas estudados pela ONU. A média mundial para a esperança de vida ao nascer em 2000, era de 65 anos, e deverá atingir os 74,3 anos entre 2045 e 2050 (IBGE25, 2004). Dados da ONU estimam que, em 50 anos, a população idosa brasileira deve chegar a 32 milhões, tornando-se a sexta maior do mundo. Esse fenômeno traz como conseqüência uma maior com o bem estar geral, com a manutenção de um estilo de vida independente/e autônomo assim como uma boa qualidade de vida. Com o crescente aumento de idosos, torna-se necessário determinar a amplitude e os mecanismos em que o exercício físico e um estilo de vida mais saudável podem melhorar a saúde, qualidade de vida e independência nesta população.

    O processo de envelhecimento é acompanhado por uma série de alterações biomecânicas e fisiológicas ocorridas no organismo (Faro Jr., Lourenço e Barros Neto14, 1996a), bem como pelo surgimento de doenças crônico-degenerativas advindas maus hábitos de vida (tabagismo, ingestão alimentar incorreta, tipo de atividade laboral, sedentarismo, etc.).

    Em virtude desses aspectos, estima-se que a participação do idoso em programas de exercício físico regular, possam influenciar no processo de envelhecimento, com melhora na qualidade e expectativa de vida, garantia de maior independência pessoal e um efeito benéfico no controle, tratamento e prevenção de doenças como diabetes, enfermidades cardíacas, hipertensão, arteriosclerose, varizes, enfermidades respiratórias, artrose, distúrbios mentais, artrite e dor crônica (Matsudo e Matsudo29, 1992a). Ao se favorecer a prática do exercício físico para o idoso, pode-se, igualmente, ajudar a mudar o seu estilo de vida, muitas vezes inativo e sedentário. Dessa forma, propõe-se evidenciar a importância do exercício físico regular no processo de envelhecimento como meio de promoção de uma melhora da qualidade de vida. Dessa forma a presente investigação procura evidenciar os benefícios do exercício físico para o idoso relacionando os aspectos físicos, psicológicos e sociais.

Papel do exercício físico

    Qualidade de vida tem sido um tema de grande destaque em vários meios. Dependendo do público alvo, muitas vezes, é adotado como sinônimo de saúde, bem estar e felicidade. Para o público da terceira idade acredita-se que o bem estar e a autonomia sejam importantes variáveis de análise. Estilos de vida mais saudáveis podem permitir que um número cada vez maior de jovens e adultos de meia-idade da atualidade mantenham um nível elevado de funcionamento físico em boa parte da terceira idade (Papalia e Olds39, 2000).

    Ninguém é velho demais para fazer exercícios. O exercício físico é tão valioso na terceira idade quanto em períodos anteriores da vida. Infelizmente, somente cerca de um a cada quatro adultos idosos colhe os benefícios dos exercícios regulares (Nia, 1995 apud Papalia e Olds39, 2000).

    Um programa vitalício de exercícios pode prevenir muitas mudanças físicas anteriormente associadas com o “envelhecimento normal”. As pessoas que se exercitam tendem a viver mais (Rakowski e Mor41, 1992). Os exercícios regulares podem fortalecer o coração e os pulmões e diminuir o estresse, além de proteger contra hipertensão, endurecimento das artérias, doença cardíaca, osteoporose e diabetes, ajudar a manter a velocidade, resistência e força, e funções básicas como circulação e respiração, assim como melhorar a vigilância mental e o desempenho cognitivo, ajudando a aliviar a ansiedade e depressão leve, e o ânimo (Nia, 1995 apud Papalia e Olds39, 2000).

    As pessoas mais velhas podem fazer a maioria dos exercícios físicos que os jovens são capazes, porém mais lentamente (Park40, 1992). Elas têm menos força do que tinham antes e são limitadas em atividades que requerem resistência ou capacidade de carregar cargas pesadas. Os adultos geralmente perdem cerca de 10 a 20% de sua força até os 70 anos, principalmente nos músculos da parte inferior do corpo, e mais, depois dessa idade; algumas pessoas aos 70 ou 80 anos têm apenas a metade da força que tinham aos 30 (Spirduso e MacRae44, 1990).

    Segundo Néri35 (2001), baixos níveis de saúde na velhice associam-se com altos níveis de depressão e angústia e com baixos níveis de satisfação de vida e bem estar. Também afirma que as dificuldades do idoso em realizar as atividades da vida diária, devido a problemas físicos, ocasionam dificuldades nas relações sociais e na manutenção da autonomia, trazendo prejuízos à sua saúde emocional. Novas pesquisas constatam que essas perdas podem ser reversíveis, mesmo muito tarde na vida.

A importância dos exercícios de força para a manutenção do equilíbrio, agilidade e da capacidade funcional dos idosos

    Para manter a força muscular e o equilíbrio, é importante realizar exercícios resistivos com pesos, de 2 a 4 vezes por semana, que estimulem a musculatura e auxiliem na manutenção da postura e do equilíbrio. Após oito semanas de levantamento de peso, idosas aumentaram sua força muscular em uma média de 174% (Hallal24, 2005). Descobertas preliminares de um estudo mostram evidências sem precedentes de crescimento de novas fibras musculares (Fiatarone17 et al., 1994). Essa constatação de plasticidade ou possibilidade de modificar o desempenho dos indivíduos muito velhos é importante porque as pessoas com músculos atrofiados são mais propensas a sofrer quedas e fraturas e a precisar de ajuda em tarefas da vida cotidiana (Papalia e Olds39, 2000).

    Embora o treinamento possa não tornar adultos idosos tão rápidos quanto os jovens que recebem o mesmo tratamento, ele pode permitir que adultos mais velhos trabalhem e realizem as atividades cotidianas com mais rapidez do que poderiam sem treinamento (Park40, 1992).

    Mantendo-se em boa forma física e comendo com sensatez, muitos idosos podem e efetivamente afastam os efeitos secundários do envelhecimento, que muitas vezes são evitáveis e dentro do controle das pessoas. A obesidade, por exemplo, afeta o aparelho circulatório, os rins e o metabolismo do açúcar, contribui para os distúrbios degenerativos, e tende a encurtar a vida (Papalia e Olds39, 2000).

    O treinamento de força é importante para a redução de peso no idoso, com aumento significante na taxa metabólica basal, e na ingestão energética necessária para manter o peso corporal (Campbell6 et al., 1994). Dessa forma o treinamento de força é um meio efetivo para aumentar os requerimentos energéticos, diminuir a massa de gordura corporal e manter a massa de tecido metabolicamente ativa em indivíduos idosos saudáveis (Miller32 et al., 1994).

    Com o incremento da força muscular, níveis aumentados de atividade espontânea têm sido observados em mulheres e homens frágeis e muitos idosos saudáveis e independentes. Por estes efeitos positivos sobre a ação da insulina, densidade óssea, metabolismo energético e estado funcional, o treinamento de força é também uma forma importante para aumentar os níveis de atividade física no idoso (Papalia e Olds39, 2000).

    As maiores evidências para os benefícios existem com programas que incluem treinamento de força, e o treinamento de alta intensidade é mais benéfico e seguro do que o treinamento de baixa intensidade. Por isto, todos os programas de exercício para o idoso frágil devem incluir treinamento de resistência progressiva dos grandes grupamentos musculares das extremidades inferiores e superiores e do tronco. Programas de no mínimo duas, mas preferivelmente, três vezes por semana são recomendados, com duas ou três séries de cada exercício desempenhado em cada dia de treinamento. Recomenda-se também algumas posturas em pé com pesos livres, utilizadas para incrementar simultaneamente o equilíbrio e a coordenação muscular. O treinamento do equilíbrio pode também ser incorporado, como parte do treinamento de força ou como uma modalidade separada. O treinamento e supervisão, especialmente para os muito frágeis são obrigatórios para a segurança e progressão ocorrerem (Papalia e Olds39, 2000).

    Evidentemente, as pessoas de mais idade precisam estar mais cientes sobre o que podem e devem fazer. Pessoas sedentárias devem começar com pequenas quantidades de exercícios físicos diários (leves), sozinhas ou com amigos, e acompanhadas por um profissional de Educação Física, e, parar e procurar um médico caso sintam-se mal ou com falta de ar, ou ainda se sentirem alguma dor repentina (Nia, 1995, apud Papalia e Olds39, 2000).

A prescrição de exercícios aeróbicos

    A prescrição mais difícil para o idoso frágil é o treinamento aeróbico. Desordens de caminhada graves, artrite, demência, doença cardiovascular, problemas ortopédicos e pediátricos, debilidade visual e incontinência são somente algumas das condições que fazem a recomendação usual de caminhada para a aptidão aeróbica ser difícil, ou mesmo impossível, no idoso frágil. Antes de alguém caminhar, é necessária a habilidade de se levantar de uma cadeira, necessitando de potência muscular e a manutenção de uma postura ereta enquanto se movimenta através de um espaço, necessitando de equilíbrio. Segundo Drinkwater12 et al. (1998), o condicionamento aeróbico pode seguir o treinamento de força e equilíbrio, que é, geralmente o que não ocorre atualmente. A tolerância à atividade de sustentação do peso corporal, tais como caminhada, pode ser significativamente melhorada pela otimização da força muscular, estabilidade articular e equilíbrio. Neste ponto, o exercício aeróbico de intensidade moderada pode iniciar, primeiro por alcançar uma meta de freqüência (no mínimo três vezes por semana), com duração (no mínimo 20 minutos), finalmente, e intensidade apropriada (40 a 60% da freqüência cardíaca de reserva ou 11 a 13 na escala de Borg). A intensidade da caminhada deve ser incrementada pela adição de subidas, steps e escadas, ou adicionando movimentos dos braços e de dança, preferivelmente a incrementos na velocidade. As maiores intensidades são improváveis para serem executadas nesta população. Os instrumentos de assistência aumentam a segurança assim como o custo energético de uma atividade, deste modo existem poucos benefícios na tentativa de fazer exercício sem eles. Embora a caminhada seja um tipo preferido de atividade por sua natureza funcional direta, em alguns indivíduos somente a ergometria de braço e perna, máquinas de step sentado e exercícios aquáticos podem ser possíveis devido uma variedade de desabilidades, e estas são alternativas adequadas se disponíveis (Drinkwater12 et al. 1998).

    Muitos estudos confirmam a influência da gordura localizada e interna no abdômen, em relação aos fatores de risco para a saúde (Visser45 et al., 1998; Abbasi1 et al., 1998; Monteiro33 et al., 1999). Assim sendo, essas constatações reforçam a necessidade de atenção quanto ao acúmulo da gordura centralizada durante o processo de envelhecimento (Drinkwater12 et al., 1998). Resultados positivos também foram evidenciados por Després11 (1997); Gubiani21 et al. (1997) e Visser45 et al. (1998), quando constataram que o exercício físico praticado periodicamente reduziu o acúmulo de gordura localizada na região central do corpo.

    A participação em programas de exercício físico regular (exercícios aeróbicos e de força) fornecem respostas favoráveis que contribuem para o envelhecimento saudável. Muito estuda-se em relação à adaptabilidade dos vários sistemas biológicos, assim como os meios em que o exercício regular pode influenciá-los (Drinkwater12 et al., 1998). O treinamento de intensidade leve a moderada pode ser efetivo para reduzir a pressão arterial em indivíduos idosos hipertensos. A composição corporal também melhora com o treinamento de endurance de modo similar no indivíduo idoso e adulto jovem. A modificação mais frequentemente observada é uma redução de 1 a 4% na porcentagem de gordura corporal total com o exercício em sujeitos idosos, mesmo mantendo-se o peso corporal (Hagberg23 et al., 1989). Além disso, um estudo registrou que a gordura intra-abdominal decresceu 25% no homem idoso que perdeu apenas 2,5kg de peso corporal com a prática do exercício (Schwartz43 et al., 1991). Isto é especialmente importante para o idoso pelo fato da gordura intra-abdominal ser o depósito de gordura corporal que mais incrementa com o avanço da idade e relacionar-se com fatores de risco para doenças cardiovasculares.

    Caminhada, corrida, natação e ciclismo são formas de exercícios aeróbicos rítmicos que utilizam os grandes grupamentos musculares, que são parte integral do início dos anos de vida de muitos adultos. A otimização da qualidade e da quantidade de vida nos idosos é mais completa pela inserção destas atividades como um estilo de vida. Enquanto o recente manual do American College of Sports Medicine recomenda um estilo de vida com atividades de intensidade leve a moderada para otimizar a saúde, estas mesmas intensidades podem ser necessárias para promover adaptações no sistema cardiovascular e nos fatores de risco para doenças cardiovasculares. Contudo, o início e a manutenção de um programa de atividade física de intensidade leve a moderada durante um longo período em pessoas idosas pode diminuir a taxa de deterioração associada à idade em numerosas funções fisiológicas, mesmo se elas não resultarem em incrementos absolutos nestas medidas, o que a longo prazo, pode beneficiar tanto a quantidade quanto a qualidade de vida (Drinkwater12 et al., 1998).

    O exercício físico tem sido preconizado, também, para doenças neurológicas, como esclerose múltipla e mal de Alzheimer. O exercício físico regular nos idosos – particularmente os exercícios nos quais se sustenta o próprio peso e exercícios de melhorar a força e a endurance musculares, o equilíbrio e a flexibilidade, com a conseqüente diminuição da incidência de quedas, fraturas e suas decorrentes complicações (Nóbrega36 et al., 1999).

    Estudos epidemiológicos vêm demonstrando expressiva associação entre estilo de vida ativo, menor possibilidade de infermidade e melhor qualidade de vida. Os malefícios do sedentarismo superam em muito as eventuais complicações decorrentes da prática de exercícios físicos, os quais, portanto, apresentam uma interessantíssima relação risco/benefício. Considerando a alta prevalência, aliada ao significativo risco relativo do sedentarismo referente às doenças crônico-degenerativas, o incremento da atividade física de uma população contribui decisivamente para a saúde pública, com forte impacto na redução dos custos com tratamentos, inclusive hospitalares, uma das razões de seus consideráveis benefícios sociais (Mcardle, Katch e Katch31, 1998). Pesquisas recentes têm comprovado que os indivíduos fisicamente ativos tendem a apresentar menor incidência doenças crônico-degenerativas, em função de uma série de benefícios fisiológicos e psicológicos, decorrentes da prática regular da atividade física (Carvalho7 et al., 1996).

    A hidroginástica está sendo apontada por vários autores (Etchepare13 et al., 2004; Alves2 et al., 2004), como um excelente exercício para a população idosa, devido às propriedades físicas da água que auxiliam, ainda mais os idosos, na movimentação das articulações, na flexibilidade, na diminuição da tensão articular, devido ao baixo impacto, na força, na resistência, nos sistemas cardiovascular e respiratório, no relaxamento, entre outros.

Atividade física, exercício físico e densidade mineral óssea

    Os exercícios físicos estão, atualmente, entre as melhores estratégias de intervenção em Saúde Pública, devido a sua ação direta na prevenção de várias doenças crônico-degenerativas. A osteoporose é um dos grandes problemas de saúde de pessoas idosas em diversos países. Esta doença tem como um dos maiores fatores determinantes a massa óssea.

    Em relação a associação entre exercícios físicos habituais e densidade mineral óssea, os estudos encontrados na literatura têm indicado que a perda de densidade mineral óssea que acontece com o processo de envelhecimento, é o maior risco para fraturas quando a osteoporose já se encontra estabelecida, podendo ser amenizados com a prática de exercícios físicos regulares (American College of Sports Medicine12 1995; Matsudo e Matsudo29 1992a). Pesquisas recentes indicam que atividades de impacto e deslocamento do peso contra-gravidade são mais eficazes para produzir aumento na densidade mineral óssea (Nunes e Fernandes37 1997; Coupland9 et al., 1999).

    Os exercícios físicos ideais para preservação da densidade mineral óssea, prevenção da osteoporose e diminuição no risco de fraturas que têm sido indicadas nos estudos para adultos e idosos são as atividades de impacto que envolvem a musculatura do quadríceps como caminhadas rápidas para locomoção, caminhadas em subidas, subidas de degraus, atividades domésticas, atividades de jardinagem e tempo permanecido em pé (Florindo18, 2000).

    O exercício aeróbico praticado regularmente tem efeito positivo sobre a saúde óssea em mulheres saudáveis pós-menopausa (Gutin e Kasper22, 1992). Os efeitos de um programa de treinamento de força intenso sobre a densidade óssea em indivíduos idosos pode compensar o declínio típico relacionado com o envelhecimento sobre a saúde óssea pela manutenção ou até mesmo incremento na densidade mineral óssea ou no conteúdo mineral corporal total (Nelson34, 1994). Contudo, o treinamento de força também aumenta este efeito no osso. Todos estes benefícios podem resultar na diminuição do risco de fraturas ósseas. Ao contrário, as terapias farmacológicas e nutricionais tradicionais para o tratamento da osteoporose têm a capacidade de manter ou reduzir a diminuição óssea, mas não à habilidade para melhorar o equilíbrio, força e massa muscular ou atividade física.

    O exercício físico regular incrementa o pico de massa óssea, ajudando na manutenção da massa óssea existente e diminuindo sua perda associada ao envelhecimento (Okuma38, 1998), preserva a massa óssea, tanto por ação direta do impacto sobre o esqueleto, como por ação indireta, pelo aumento da força muscular, já que há uma tendência da massa óssea ser proporcional à força muscular, pois a maior tração, exercida por músculos mais fortes, serve como estímulo à mineração dos ossos (Santarém42, 2005).

    Os exercícios com peso são os mais eficientes para aumentar a massa óssea, e também os que mais estimulam os hormônios anabolizantes. A relação Testosterona/Cortisol reflete o estado anabólico e está aumentando significativamente nos exercícios com peso, contribuindo para o aumento da massa óssea e muscular (Santarém42, 2005). Evidências têm sugerido que o osso em desenvolvimento é mais repulsivo à carga mecânica e ao exercício físico do que os ossos maduros, destacando então que o exercício regular na infância pode ser um importante fator na prevenção da osteoporose; treinamento excessivo de exercício de longa duração (endurance) pode induzir alterações hormonais, distúrbios mentais e até efeitos adversos na estrutura óssea. Exercícios não podem ser recomendados como um substituto da reposição hormonal; atividades que promovem um aumento da força, flexibilidade e coordenação podem indiretamente e efetivamente diminuir a incidência de fraturas por osteoporose, través da diminuição da possibilidade de quedas (Cohen8, 1998).

Cuidados a serem tomados

    Há sérias restrições relacionadas à prática de exercício nas seguintes condições: história familiar de morte súbita numa idade precoce; história de desmaio ou de dor torácica com o exercício; exercício vigoroso com o qual não se está acostumado; exercício realizado com estresse psicológico concomitante; extremos de temperatura ambiental; exercício envolvendo um esforço significativo ou um componente de contração muscular estática; exercitar-se durante uma infecção viral ou quando a pessoa não está se sentindo bem (Vuori53, 1995).

    Existem indicações de que os exercícios estáticos (Marques28, 1996) e utilização da manobra de valsalva (Matsudo e Matsudo30, 1992b) são contra indicados em programas dirigidos para idosos, devido as suas implicações sobre a elevação da pressão arterial. Da mesma maneira, movimentos abruptos, transições entre altas e baixas intensidades, mudanças bruscas de posição e movimentos rápidos da cabeça são atividades que podem representar um risco desnecessário em programas destinados a esse tipo de público (McArdle, Katch e Katch31, 1998).

    Os movimentos podem ser realizados com extensão completa, mas a amplitude máxima de uma articulação não deve ser ultrapassada, pois os movimentos de hiper-extensão afetam a estabilidade das articulações e podem ter como conseqüência, danos e dores mais ou menos permanentes (Marques28, 1996).

Conclusão

    A participação em um programa de exercício regular é uma excelente opção para reduzir/prevenir um número de declínios funcionais associados ao envelhecimento.

    O treinamento de endurance pode ajudar a manter e melhorar vários aspectos da função cardiovascular e incrementar a performance submáxima. Muito importante, as reduções nos fatores de risco associados com doenças (doença cardíaca, diabetes, etc.) melhoram a condição de saúde e contribuem para o incremento na expectativa de vida. O treinamento de força ajuda a compensar a redução na massa e força muscular tipicamente associada ao envelhecimento normal.

    Simultaneamente, estas adaptações ao treinamento melhoram muito a capacidade funcional das pessoas idosas, desse modo interferindo na qualidade de vida desta população. Benefícios adicionais do exercício físico regular incluem melhora da saúde óssea, e consequentemente, diminuição no risco de osteoporose; melhora da estabilidade postural, minimizando assim o risco de quedas, lesões e fraturas associadas; e incremento da flexibilidade e amplitude de movimento. Enquanto que algumas evidências sugerem que o envolvimento em exercícios regulares também pode fornecer vários benefícios psicológicos relacionados à preservação da função cognitiva, alívio dos sintomas de depressão e comportamento, e uma melhora no conceito de controle pessoal e auto-eficácia.

    Da mesma forma, os benefícios associados ao exercício regular contribuem para um estilo de vida independente e saudável, melhorando muito a capacidade funcional e a qualidade de vida para nesta população.

    No entanto alguns aspectos devem ser observados, evitando: altas intensidades de exercícios, solicitação do sistema anaeróbico, exercícios isométricos, e movimentos rápidos e bruscos, cuidando para não ultrapassar a amplitude máxima dos movimentos e para o uso de medicamentos.

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