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Análise postural comparativa entre bailarinas e sedentárias
através do Software de Avaliação Postural (SAPO)

A comparative postural analysis between ballerinas and sedentary through the Software of Postural Analysis (SAPO)

 

*Fisioterapeuta

**Educador Físico, Fisioterapeuta Especialista, Mestre em Fisioterapia UNITRI

Docente do curso de Fisioterapia da Univ. Católica de Goiás

Coordenador do curso de Fisioterapia da Fac. Montes Belos

Diretor do Instituto de Pesquisa em Ciências da Saúde IPCS.

Patrícia Milhomens Vilasboas*

Renato Alves Sandoval**

rasterapia@ig.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivos, avaliar e comparar a postura de bailarinas clássicas de nível avançado e de mulheres sedentárias. Participaram da pesquisa oito sujeitos do sexo feminino, quatro bailarinas com cinco ou mais anos de prática, que estão utilizando sapatilhas de ponta (grupo A) e quatro mulheres sedentárias (grupo B). Para avaliação postural foi utilizado um software de livre acesso, o SAPO, que a partir de fotografias digitalizadas permite a mensuração do alinhamento dos segmentos corporais dos indivíduos. A análise foi realizada nas vistas anterior, posterior e lateral esquerda, seguindo o protocolo do software, com adaptações, para a demarcação dos pontos. Observou-se nos grupos pesquisados, que é possível minimizar as ações nocivas do treinamento vigoroso do ballet clássico, através de um programa de exercícios adequados, pois o padrão postural encontrado no grupo das bailarinas difere do encontrado em outros estudos, além de que os desalinhamentos são mais suaves quando comparados com os do grupo das sedentárias.

          Unitermos: Avaliação postural. Bailarina. Fotogrametria. Postura clássica.

 

Abstract

          This study aimed to evaluate and compare the stance of advanced level classical ballerinas and sedentary women. Eight females subjects participated to this research. Four are ballerinas that regularly uses slippers-edge with five or more years of practice (Group A) and four are sedentary women (Group B). A free software of postural analysis (SAPO) was used to analyze the measurement of the alignment of body segments of individuals from digital photos. The analysis was made using the front, back and left side views, following the software instructions with a few adjustments for the demarcation of the points. It was observed in this study, that it's possible to minimize the harmful actions of the vigorous training of the classical ballet through a program of appropriate exercises because the standard posture found in the ballerina's group differs from other similar studies, and because the misalignments are softer if compared to the sedentary group.

          Keywords: Postural analysis. Ballerina. Photogrammetry. Classical stance.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008

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Introdução

    Desde os primórdios, o homem busca através de gestos, relações e intenções, transmitir pelo corpo suas ações e comunicabilidade, desenvolvendo a arte da dança como uma manifestação cultural, forma de ritos, diversão e educação (LARA, 1998; FIGUEIREDO, 2002; FÁTIMA, LEMOS & LIMA, 2002).

    No século XVI na França, durante a renascença, a dança era definida em três linhas: as populares, as de corte e as executas em balletos, sendo que estes últimos, eram de privilégio aristocrático, intelectual e financeiro. O Romantismo vem para marcar a transição da dança de diversão aristocrática para uma forma teatral (LARA,1998).

    O século XIX constitui um período marcado pela negação das coisas terrenas, da gravidade, onde se buscava através da dança, representar mesmo que simbolicamente, a leveza e a transposição das coisas materiais, quando alguns passos passam a serem executados com sapatilhas de ponta procurando passar a sensação de vôo. Esse período marca o desenvolvimento do ballet clássico como uma expressão artística de enorme complexidade, onde os movimentos buscam leveza e agilidade extremas (LARA, 1998; CAMINADA, 1999; BARCELLOS & IMBIRIBA, 2002).

    Atualmente o ballet clássico é uma forma de atividade, que além de belo requer um alto desempenho físico de seus praticantes. A prática da dança desenvolve sensibilidade, musicalidade, precisão, coordenação psicomotoras elevadas, flexibilidade, lateralidade, noção espacial, condicionamento físico, além de uma bela expressão corporal (GUIMARÃES & SIMAS, 2001; PRATI & PRATI, 2006).

    A técnica clássica possui uma postura padrão, ereta e alongada, que deve ser mantida durante todos os movimentos, a fim de maximizar as potencialidades do equilíbrio, agilidade e harmonia. Esta postura é caracterizada pela rotação externa “en dehors” de quadris e pés, com os joelhos e coxas acompanhando as pontas dos pés, os pés devem suportar o todo peso corporal, o quadril é mantido em retroversão, as escápulas são direcionadas inferiormente e em adução para levantar a região peitoral, as costelas devem se manter fechadas através da contração dos músculos intercostais, auxiliados pela contração isométrica dos músculos abdominais, os braços adotam formas arredondadas com os cotovelos em semi-flexão e direcionados posteriormente, sendo os mesmos responsáveis pela condução dos movimentos (SIMAS & MELO, 2000; GUIMARÃES & SIMAS, 2001).

    A postura é definida como um arranjo balanceado das estruturas corporais, mantida pelo equilíbrio entre a musculatura e o esqueleto e sendo determinada pelas posições dos segmentos entre si. As estruturas e funções corporais são capazes de promover e manter uma postura adequada, o que contribui para o bem-estar do indivíduo (KENDALL et al., 1995; BARCELLOS & IMBIRIBA, 2002; PENHA et al., 2005). Segundo Gonçalves (1989) apud Simas & Melo (2000) as atividades esportivas cíclicas e repetitivas podem ser desencadeantes de problemas posturais por causa da busca pela automatização dos gestos.

    A avaliação postural é um método de extrema importância tanto para os praticantes de atividade física como para as pessoas sedentárias, pois é a partir dela que somos capazes de analisar as assimetrias, obter uma melhor consciência corporal, bem como identificar as restrições de movimento que estão presentes, afim de que se possa fazer o melhor proveito do físico e evitar futuros problemas (SIMAS & MELO, 2000).

    Existem diferentes formas para avaliação postural, dentre elas a técnica da fotogrametria, que através de uma câmera são capturadas imagens, com os pontos anatômicos previamente demarcados. Posteriormente estas imagens são inseridas no computador para serem analisadas por um software específico (BARCELLOS & IMBIRIBA, 2002).

    A fotogrametria é uma alternativa para avaliação quantitativa das assimetrias encontradas na avaliação postural, realiza medidas tanto lineares quanto angulares, sendo capaz de registrar transformações sutis, além de inter-relacionar diferentes partes do corpo que são difíceis de mensurar, gerando dados mais confiáveis do que aqueles obtidos pela avaliação clássica apenas pela observação (IUNES et al., 2005; SACCO et al., 2007).

    Segundo a American Society of Photogrammetry and Remote Sensing, a fotogrametria é uma arte, ciência tecnológica para obtenção de informação confiável, sobre objetos físicos e o meio ambiente, por meio de armazenamento de dados, medição e interpretação de imagens capturadas por câmeras fotográficas digitais (IUNES et al., 2005; SACCO et al., 2007).

    A falta de estudos significativos sobre essa arte, bem como a vivência das conseqüências pós-prática estimulou-me a realizar esse trabalho, com o intuito de colaborar para a conscientização, dos professores e das alunas, quanto à importância de um trabalho muscular bem elaborado, buscando a simetria e equilíbrio, para minimizar as compensações que ocorrem pelas posturas adotadas durante as aulas.

    Este estudo teve como objetivos, avaliar e comparar a postura de bailarinas clássicas de nível avançado e de mulheres sedentárias.

Casuística e métodos

    Com o intuito de avaliar a influência da prática do ballet clássico sobre o padrão postural das bailarinas, foi realizado um estudo analítico comparativo da postura estática de bailarinas e mulheres sedentárias. Para isso foram selecionadas 4 bailarinas com cinco ou mais anos de prática, que estavam utilizando sapatilhas de ponta (grupo A) e 4 mulheres sedentárias (grupo B), sendo os grupos pareados por idade.

    Este estudo foi realizado com alunas do corpo de baile de uma escola de dança da cidade de Goiânia e com voluntárias que se encaixaram nos critérios de inclusão, sendo estes: apresentar idade entre 15 e 21 anos, estar realizando a prática do ballet clássico há mais de 5 anos e estar dançando com sapatilhas de ponta (grupo A), não estar realizando nenhuma atividade física (grupo B) e concordar em assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

    Para avaliação postural foi utilizado um software de livre acesso, que começou a ser desenvolvido em 2003 com apoio do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento) e da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o SAPO (Software de Avaliação Postural), que a partir de fotografias digitalizadas do indivíduo permite a mensuração do comprimento, posição, ângulo, alinhamento, e outras propriedades dos segmentos corporais dos indivíduos.

    Os materiais necessários para pesquisa, incluíram: uma câmera digital da marca SONY modelo W30, um tripé, um fio de prumo, esferas pequenas de isopor para demarcação dos pontos anatômicos, 1 metro de tecido preto, um computador para a análise das imagens e um espaço mínimo de 4 x 1 m (para posicionamento e enquadramento corretos na fotografia).

    Os procedimentos de coleta da imagem seguiram o protocolo proposto pelo programa SAPO, que é descrito da seguinte maneira: o fio de prumo deve estar preso ao teto e paralelo ao indivíduo e ambos perpendicularmente ao eixo da câmera, sendo que a mesma deve ser posicionada a mais ou menos 3 metros de distância e a uma altura correspondente a metade da estatura do indivíduo. O fio de prumo deve aparecer ao lado do indivíduo na foto. As voluntárias estavam trajando biquíni.

    Os pontos anatômicos demarcados seguiram o protocolo do software SAPO, com adaptações: 1) vista anterior: trago direito e trago esquerdo, acrômio direito e acrômio esquerdo, espinha ilíaca ântero-superior direita e espinha ilíaca ântero-superior esquerda, trocânter maior do fêmur esquerdo e trocânter maior do fêmur direito, linha articular do joelho direito e linha articular do joelho esquerdo, ponto medial da patela direita e ponto medial da patela esquerda, maléolo medial direito e maléolo medial esquerdo; 2) vista lateral esquerda: trago esquerdo, acrômio esquerdo, processo espinhoso de C7, espinha ilíaca ântero-superior esquerda, espinha ilíaca póstero-superior esquerda, trocânter maior do fêmur esquerdo, linha articular do joelho esquerdo, maléolo lateral esquerdo; 3) vista posterior: ângulo inferior da escápula direita e ângulo inferior da escápula esquerda, processo espinhoso de T3.

    Os alinhamentos analisados foram: 1) vista anterior: alinhamento horizontal da cabeça, alinhamento horizontal dos acrômios, alinhamento horizontal das espinhas ilíacas ântero-superiores; 2) vista lateral esquerda: alinhamento horizontal da cabeça (C7), alinhamento vertical da cabeça (acrômios), alinhamento vertical do tronco, ângulo do quadril (tronco e coxa), alinhamento vertical do corpo, alinhamento horizontal da pélvis, ângulo do joelho; 3) vista posterior: assimetria horizontal da escápula em relação à T3 (em porcentagem).

Resultados

    As pessoas analisadas, todas do sexo feminino, apresentaram idade média de 17,75 com desvio padrão de ± 2,5 anos no grupo A e média de 18,75 com desvio padrão de ± 0,96 anos no grupo B, sendo a média geral da amostra de 18,25 com desvio padrão de ± 1,83 anos.

    Para analisar os dados encontrados seguiu-se o protocolo determinado pelo programa SAPO que preconiza: valores positivos, sentido anti-horário e lado direito, valores negativos sentido horário e lado esquerdo.

    Analisando a vista anterior, no grupo A: no alinhamento horizontal da cabeça a média foi de 0,95 e desvio padrão de ± 4,07 graus, o que indica uma rotação para direita da cabeça; em relação ao alinhamento horizontal dos acrômios percebe-se que o acrômio direito encontra-se mais elevado que o esquerdo com média de –2,08 com desvio padrão de ± 1,23 graus; o mesmo ocorre com o alinhamento horizontal das espinhas ilíacas ântero-superiores (EIAS), com média de –1,03 desvio padrão ± 1,33 graus, a EIAS direita apresenta-se elevada em relação à esquerda. Enquanto que no grupo B: também apresenta uma rotação para a direita da cabeça, porém mais acentuada que no grupo A, pois a média foi maior 4,7 desvio padrão de ± 3,04 graus; já em relação ao alinhamento dos acrômios, o que percebemos nesse grupo foi à elevação do acrômio esquerdo, com média 1,68 desvio padrão ± 0,92 graus; a espinha ilíaca ântero-superior direita apresenta-se mais elevada com média -0,18 desvio padrão ± 1,80 graus.

    Na vista posterior verificou-se no grupo das bailarinas na assimetria horizontal da escápula em relação à T3, que a escápula esquerda foi em média –20,5% mais elevada que à direita com desvio padrão de ±13,82, o mesmo foi observado no grupo das sedentárias, porém com uma média percentual menor –5,35% e desvio padrão de ± 39,19 (tabela 1).

Tabela 1. Médias encontradas nos grupos A e B nas vistas anterior e posterior.

Pontos analisados

Média Bailarinas

Média Sedentárias

Alinhamento horizontal da cabeça

0,95 ± 4,07

4,70 ± 3,04

Alinhamento horizontal dos acrômios

-2,08 ± 1,23

1,68 ± 0,92

Alinhamento horizontal das EIAS

-1,03 ± 1,33

-0,18 ± 1,80

Assimetria horizontal da escápula em relação à T3

-20,5% ± 13,82

-5,35% ± 39,19

    Na vista lateral o que observamos no grupo A foi que: no alinhamento horizontal da cabeça (C7) a média foi de 55,55 desvio padrão de ±1,77 graus, o que indica uma menor curvatura da coluna cervical; o alinhamento vertical da cabeça (acrômio) com média de 4,38 desvio padrão de ± 4,97 graus, sugere uma protusão de cabeça; o alinhamento vertical do tronco medido entre o trago, trocânter maior do fêmur e a vertical para verificar a inclinação do tronco, trás uma média de –3,78 desvio padrão de ± 1,94 graus, mostrando um tronco mais extendido; o ângulo do quadril (tronco e coxa) a média foi de –9,25 desvio padrão de ± 5,22 graus sugerindo uma extensão de quadril; no alinhamento vertical do corpo verifica-se que o peso está mais sobre as pontas dos pés, pois a média encontrada foi de 1,2 desvio padrão de ± 0,71 graus; o alinhamento horizontal da pélvis medida entre as espinhas ilíacas ântero-superior, póstero-superior esquerda e a horizontal indica uma retroversão pélvica nesse grupo, pois a média foi de –15,85 com desvio padrão de ± 6,80 graus; o grupo caracteriza-se com uma leve flexão de joelhos, pois a média ângulo do joelho foi de –1,85 desvio padrão de ± 4,07 graus. No grupo B na vista lateral foi encontrado: uma menor curvatura da coluna cervical, média 45,63 desvio padrão ± 5,81 graus; uma protusão de cabeça mais acentuada que no grupo A, média de 15,88 com desvio padrão de ± 8,01 graus; nesse grupo o tronco também se encontra extendido, média –4,23 desvio padrão ± 1,48 graus; assim como o quadril, com média de –17,8 desvio padrão ± 3,21 graus; o peso do corpo está anteriormente, pois a média encontrada foi 3,25 com desvio padrão de ± 2,04 graus; a retificação pélvica também foi constatada nesse grupo com média de –14,5 desvio padrão de ± 4,23 graus; assim como a flexão dos joelhos, média –9,83 desvio padrão de ± 6,40 graus (tabela 2).

Tabela 2. Médias encontradas nos grupos A e B na vista lateral esquerda.

Pontos analisados

Média Bailarinas

Média Sedentárias

Alinhamento horizontal da cabeça (C7)

55,55 ± 1,77

45,63 ± 5,81

Alinhamento vertical da cabeça (acrômio)

4,38 ± 4,97

15,88 ± 8,01

Alinhamento vertical do tronco

-3,78 ± 1,94

-4,23 ± 1,48

Ângulo do quadril (tronco e coxa)

-9,25 ± 5,22

-17,80 ± 3,21

Alinhamento vertical do corpo

1,20 ± 0,71

3,25 ± 2,04

Alinhamento horizontal da pélvis

-15,85 ± 6,80

-14,50 ± 4,23

Ângulo do joelho

-1,85 ± 4,07

-9,83 ± 6,40

Discussão

    O presente estudo foi realizado em oito pessoas, que foram divididas em dois grupos distintos, grupo A das bailarinas e grupo B das sedentárias, com prevalência total do sexo feminino.

    Confrontando os resultados encontrados entre os dois grupos percebe-se que grande parte dos desalinhamentos encontrados nas bailarinas são também encontrados nas sedentárias, porém alguns apresentando maior angulação, como é o caso do alinhamento horizontal da cabeça na vista anterior, alinhamento vertical da cabeça (acrômio), alinhamento vertical do tronco, ângulo do quadril (tronco e coxa), alinhamento vertical do corpo e ângulo do joelho, estes últimos na vista lateral esquerda, sugerem que a atividade física possa ser uma atenuante dos desequilíbrios corporais.

    O grupo das bailarinas neste estudo apresentou um padrão postural diferente do encontrado nas literaturas. De acordo com Prati & Prati (2006); Simas & Melo (2000); Fração et al. (1999) em seus estudos constataram que 86,6%, 80% e 50% respectivamente, das bailarinas apresentam hiperlordose lombar o que contraria o resultado encontrado no presente estudo, onde o que percebemos é o desalinhamento da pelve em retroversão e conseqüente diminuição da curvatura lombar. Sabe-se que a hiperlordose lombar é fruto de um desequilíbrio entre a musculatura do abdômen e da região lombar, portanto se a musculatura abdominal for bem trabalhada essa acentuação da curvatura pode ser minimizada.

    Com relação ao ângulo do joelho mais uma vez o resultado encontrado é diferente do relatado em literatura, pois em 68% dos casos analisados por Simas & Melo (2000) e 85% dos casos analisados por Prati & Prati (2006) caracteriza hiperextensão de joelhos como o padrão postural comum das bailarinas, porém para compensar a diminuição da curvatura da coluna lombar e continuar mantendo um melhor equilíbrio corporal a articulação do joelho deve se manter mais em flexão.

    Outra divergência encontrada na literatura é a inclinação do tronco para frente com maior descarga de peso no antepé, pois de acordo com o estudo realizado por Simas & Melo (2000), 72% das bailarinas analisadas apresentavam inclinação do tronco para trás. Porém o resultado encontrado no presente estudo pode ser justificado pelo fato de a bailarina executar vários movimentos sobre a ponta dos pés, o que sugere um centro de gravidade mais anteriorizado.

    Apesar do ballet clássico visar a bilateralidade corporal, acredita-se que as praticantes treinem mais especificamente o movimento pelo lado dominante, o que pode desencadear um desequilíbrio no desenvolvimento muscular, originando as condições unilaterais, justifica-se, portanto, o desnível encontrado neste estudo, entre os acrômios e entre as EIAS (SIMAS & MELO, 2000).

    O ballet clássico possui fundamentos biomecânicos e físicos cientificamente corretos, porém sabe-se que toda e qualquer atividade física quando não bem orientada e executada pode causar transtornos à saúde (PRATI & PRATI, 2006). O trabalho que tem sido realizado em sala de aula com as bailarinas analisadas mostrou que a aplicação da técnica de forma consciente e respeitando as diferenças estruturais de cada indivíduo pode trazer benefícios ao corpo como qualquer atividade física.

Conclusão

    O ballet clássico pode desenvolver diversos desalinhamentos nas estruturas corporais que podem evoluir ou até mesmo ocasionar lesões, mas sabe-se que é possível minimizar essas ações nocivas através de um treinamento adequado. Esse fato foi observado no presente estudo, pois quando comparamos o grupo das bailarinas com o das sedentárias percebe-se que, no grupo das bailarinas os desalinhamentos encontrados são mais suaves que no grupo das sedentárias, além de o padrão postural das bailarinas ser diferenciado quando comparado ao encontrado em outros estudos.

Referências

  • BARCELLOS, C.; IMBIRIBA, L. A. Alterações Posturais e do Equilíbrio Corporal na Primeira Posição em Ponta do Balé Clássico. Rev. Paulista de Educação Física, v. 16, p. 43-52; São Paulo, 2002.

  • CAMINADA, E. História da Dança: evolução cultural. Rio de Janeiro: Sprint, 1999.

  • FÁTIMA, C. V.; LEMOS, J. R.; LIMA, L. M. Dança em Goiás nos anos 70: memória e identidade, resgate e construção. (Anais) III Congresso Goiano do CBCE, 2002.

  • FIGUEIREDO, V. M. C. Discutindo a Dança na Escola. (Anais) III Congresso Goiano do CBCE, 2002.

  • FRAÇÃO V. B. et al. Efeito do treinamento na aptidão física da bailarina clássica. Rev. Movimento n. 11, 1999.

  • GUIMARÃES, A. C. A.; SIMAS, J. P. N. Lesões no Ballet Clássico. Rev. da Educação Física, v.12, p. 89-96; Maringá, 2001.

  • IUNES, D. H. et al. Confiabilidade Intra e Interexaminadores e Repetibilidade da Avaliação Postural pela Fotogrametria, Rev. Bras. de Fisioterapia, n. 3, v. 9, p. 327-334, 2005.

  • KENDALL, F. P. et al. Músculos Provas e Funções. 4 ed. São Paulo: Manole, 1995.

  • LARA, L. M. A Dança em Construção: das origens históricas ao método de Paulo Freire. Lecturas Educación Física y Deportes, Rev. Digital Buenos Aires, n 11, ano 3, Buenos Aires, 1998. http://www.efdeportes.com

  • PENHA, P. J. et al. Postural Assessment of Girls Between 7 and 10 years of age. Clinics v. 60, p. 9-16; 2005.

  • PRATI, S. R. A.; PRATI, A. R. C. Níveis de Aptidão Física e Análise de Tendências Posturais em Bailarinas Clássicas, Rev. Brasileira Cineantropometria & Desempenho Humano, v.8, p. 80-87; 2006.

  • SACCO, I. C. N. et al. Confiabilidade da Fotogrametria em Relação a Goniometria para Avaliação Postural de Membros Inferiores, Rev. Bras. de Fisioterapia, n. 5, v. 11, p. 411-417 2007.

  • SIMAS, J. P. N.; MELO, S. I. L. Padrão Postural de Bailarinas Clássicas, Rev. da Educação Física, v. 11, n. 1, p. 51-57; Maringá, 2000.

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