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Correlação entre a potencia de membros superiores e a coordenação óculo-manual em atletas de basquetebol em cadeira de rodas

 

Ipatinga - Minas Gerais

(Brasil)

Prof. Gláucio Duarte Andrade

Prof. Alexandre Henriques de Paula

Prof. Lácio César Gomes da Silva

ahptar@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O basquetebol em cadeira de rodas é um esporte que exige dos atletas muita potência nos membros superiores e uma boa coordenação óculo-manual para realização de passes, arremessos e fintas em deslocamentos, o objetivo deste estudo foi verificar a existência de uma correlação entre a potência de membros superiores e a coordenação óculo-manual em atletas de basquetebol em cadeira de rodas. Para tanto, 8 atletas com tempo mínimo de prática de 6 meses foram submetidos à mensuração de estatura crânio-caudal, perímetro de braço e dobras cutâneas para mensuração do percentual de gordura corporal. Também foi executado um teste de arremesso com uma bola de medicineball, a fim de se verificar a potência de membros superiores. Por fim, foi executado o teste de precisão para verificar a coordenação óculo-manual. Os resultados indicaram que, quando analisado o grupo a correlação entre a potência de membros superiores e a coordenação óculo-manual é bastante significativa (r=0,924), porém quando se analisa individualmente os atletas essa correlação não é tão percebida, pois os atletas que obtiveram os melhores resultados em um dos testes não obtiveram o mesmo desempenho no outro.

          Unitermos: Esporte adaptado. Basquetebol em cadeira de rodas. Potência de membros superiores.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 122 - Julio de 2008

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Introdução

    No Brasil, o esporte adaptado surgiu em 1958 com a fundação de dois clubes esportivos, um no Rio e outro em São Paulo. Nos últimos cinco anos, o Esporte Adaptado brasileiro vem evoluindo, mas por falta de informação e, principalmente, de condições específicas para a sua prática, muitos portadores de deficiência ainda não têm acesso a ele.

    O basquetebol em cadeira de rodas por tratar-se de uma modalidade que requer grande velocidade de deslocamento associada a mudanças rápidas de direção, exige por parte dos atletas nas cadeiras de rodas, além de uma boa coordenação, agilidade e um bom nível de força rápida (potência) de membros superiores, especialmente porque a musculatura dos membros superiores são as mais envolvida na propulsão em cadeira de rodas (Winnick, 1995) citado por Gorgatti e Böhme (2002).

    De acordo com Potrich e Diehl (s.d.) citados por Netto e Gonzáles (1996) o basquete é um esporte que exige do atleta uma técnica apurada e um bom condicionamento físico, além de raciocínio e reflexos muito rápidos; já o basquete em cadeira de rodas exige do atleta deficiente, além desses aspectos, uma grande habilidade no manejo de sua cadeira.

    O deficiente físico deve encarar a cadeira de rodas como uma extensão do seu próprio corpo, pois, no jogo de basquetebol sobre rodas, esse equipamento passa a ter uma conotação, não apenas de transportar o deficiente, mas sim para, contribuir na melhoria de suas habilidades em quadra. Dessa forma, para que haja uma perfeita integração entre cadeira e jogador, tendo conseqüentemente um aproveitamento técnico durante o jogo, é necessário que se verifique a adaptação individual da cadeira de rodas ao tipo de deficiência do atleta, e sempre que possível, ela deverá ser feita sob medida, levando em consideração a limitação física e a característica do jogador, de acordo com seus requisitos musculares, bem como sua colocação na quadra de jogo.

    No basquetebol em cadeira de rodas, a potência muscular é uma importante variável a ser trabalhada, pois, neste esporte os deslocamentos (realizados movimentando o peso do próprio corpo e o da cadeira de rodas) e arremessos, são constantes e necessitam principalmente que seus atletas tenham uma grande potência muscular nos membros superiores.

    Segundo Weineck, (1999), a potência muscular compreende a capacidade do sistema neuromuscular de movimentar o corpo ou parte do corpo (braços, pernas) ou ainda objetos (bolas, pesos, esferas, discos, etc.) com uma velocidade máxima.

    Porém, neste esporte, não só a potência muscular deve ser trabalhada, a coordenação óculo-manual também deve ser encarada com um fator importante para esta modalidade esportiva.

    A coordenação óculo-manual representa a atividade mais freqüente e mais comum no homem, ela inclui uma fase de transporte da mão, seguida de uma fase de agarre e manipulação, resultando em um conjunto com seus três componentes: objeto/olho/mão Neto (2002).

    A junção da potência de membros superiores e a coordenação óculo-manual são representadas pela precisão que segundo Meinel (1987), se refere à concordância do plano (meta) e ao efeito (resultado) em tais pontos de metas parciais e rendimentos parciais, que são decisivos para o rendimento global do movimento.

    Uma forma de precisão de movimento no basquetebol em cadeira de rodas está em lançar ao alvo (passe para um companheiro), arremessar ao alvo (arremessar a cesta), o quicar de uma bola por tempo (drible). A precisão manifesta-se aqui apenas depois da fase de vôo da bola, por certa distância. A precisão de acerto no alvo propriamente dito, no entanto, é alcançada quando a batida, o arremesso, o lançamento etc. empresta o impulso de movimento necessário ao instrumento de jogo, isto requer uma precisão muito alta. A precisão é uma habilidade motora, portanto, ela é adquirida, desenvolvida com o treinamento. Com o iniciante ou mesmo com o atleta pouco qualificado, torna-se claro que a precisão só é conseguida, como fruto de um longo processo treinamento.

    Contudo, o objetivo deste estudo foi verificar a existência de uma correlação entre a potência de membros superiores e a coordenação óculo-manual em atletas de basquetebol em cadeira de rodas.

Materiais e métodos

    A amostra para a realização deste estudo, foi composta por 8 atletas de basquetebol em cadeira de rodas do sexo masculino com o tempo mínimo de 6 meses de prática dessa modalidade.

    Como instrumento para realização do cálculo do percentual de gordura corporal foi utilizado o protocolo de Pollock, Schmidt & Jackson (1980), 3 (três) dobras cutâneas e para o teste de potência de membros superiores foi utilizado o teste de arremesso da bola medicinal proposto por Johnson & Nelson (1979) e para o teste da coordenação óculo-manual foi realizado o teste de prescisão de passe com ambas as mãos proposto por Daiuto (1991).

    Para verificar se há correlação existente entre a potência de membros superiores e a coordenação óculo-manual foi utilizado a correlação linear de Pearson.

    Para a caracterização da amostra foi coletada em data predeterminada a coleta de dobras cutâneas dos atletas para obtenção do percentual de gordura, foi coletada a estatura crânio-caudal dos atletas com os mesmos na posição assentado, por os atletas não poderem ficar de pé devido a sua deficiência física.

    O teste de potência foi realizado com o testando na posição assentada em uma cadeira, o testando segura a bola medicinal com as duas mãos contra o peito e logo abaixo do queixo, com os cotovelos o mais próximo do tronco. A corda é colocada na altura do peito do testando para mantê-lo seguro à cadeira e eliminar a ação do embalo durante o arremesso. No resultado é computada a distância, em centímetros, da melhor das três tentativas executadas pelo testando, dando a ele a oportunidade de realizar um arremesso para que ocorra uma familiarização com o teste.

    Para a realização do teste de coordenação óculo-manual foi necessária uma bola oficial de basquetebol, uma parede de superfície lisa na qual foram traçados três círculos concêntricos com 50 centímetros, 1 metro e 1,50 metro de diâmetro, cujo centro está a 1,75 metro do solo; uma linha paralela ao alvo, a 5 metros do mesmo.

    Colocado atrás da linha paralela ao alvo, o jogador executa dez passes com uma das mãos.

    A contagem é feita da seguinte forma: anotam-se três pontos para cada passe que atingir o círculo central, dois pontos, o circulo médio e um ponto, o externo, sendo considerada a contagem menor quando a bola tocar a linha. O resultado de cada passe será anotado, mas no final será feita a soma dos pontos obtidos.

    Para a análise dos dados foi utilizado o pacote estatístico Microsoft Office Excel 2003, para realização da estatística descritiva, média e desvio padrão e também para realizar o calculo da correlação linear de Pearson.

    Para a classificação dos resultados do teste de potência de membros superiores, foi utilizada como referência a tabela de classificação proposta por Johnson & Nelson (1979). Já para a classificação dos resultados do teste de coordenação óculo-manual, foi utilizada como referência a tabela de classificação da coordenação óculo-manual calculada com a equação estatística do intervalo de classe. Que seguem abaixo.

 

Resultados

 

Discussão

    Nota-se, na tabela 01, que o valor médio obtido na variável potência de membros superiores, foi de 482cm e um valor máximo de 636cm, um estudo feito por Gorgatti e Böhme (2002) mostra que os atletas de basquetebol em cadeira de rodas participantes obtiveram como resultado médio para potencia de membros superiores 520cm, e um valor máximo de 700cm. Contudo, estes autores também afirmam que o treinamento da potência dos membros superiores para os atletas de basquetebol em cadeira de rodas é de grande importância para a melhora dos movimentos de agilidade na cadeira, fundamentais para a modalidade.

    Analisando a variável percentual de gordura na tabela 01 e tomando como referência a Tabela de Normalidade para o Percentual de Gordura Corporal proposta por Pollock e Wilmore (1993), tendo como parâmetros a média da idade e a média do percentual de gordura corporal, os atletas de basquetebol em cadeira de rodas avaliados se encontram no nível de classificação correspondente a BOM, assim, relembramos a citação de Marins e Giannichi (2003), no qual afirmam que um nível de gordura relativamente baixo é desejável para otimizar a performance física em esportes. Uma grande massa muscular melhora a performance em atividades de força e potência.

    Com relação aos valores encontrados no teste de potência de membros superiores observados no tabela 02, torna-se importante evidenciar que, um bom nível de coordenação é alcançado com horas de prática, a repetição aumenta a precisão do movimento praticado e tornando o movimento automático (Sharkey, 1998), melhorando cada vez mais a performance dos atletas. Portanto, é importante praticar adequadamente a repetição do movimento.

    Já com relação aos resultados obtidos no teste coordenação óculo-manual (excelente, 63%) observados no tabela 03, só vem a confirmar a afirmativa de Carnaval (1995) que, a coordenação nos esportes que utilizam bola, raquete, aros, tacos e outros, caracterizada pela coordenação óculo-manual e/ou coordenação óculo-pedal constituem elementos importantíssimos na performance específica de cada modalidade.

    Na tabela 04, observa-se os resultados obtidos pelo cálculo da correlação linear de Pearson entre as variáveis estudadas, porém o valor mais significativo (r=0,924), foi entre as variáveis que mais interessa para este estudo (potência de membros superiores e coordenação óculo-manual) o que indicou que, entre essas duas variáveis, existente uma correlação significativa, no qual é chamada de “correlação linear forte”, isso só confirma a colocação de Weineck (1999) no qual afirma que, o aumento de força não influencia negativamente na coordenação, porém deve-se tomar cuidado para que o treinamento da força não seja executado sem a formação da coordenação específica da modalidade.

    Entretanto a tabela 05 compara os valores individuais obtidos pelos atletas nos teste de coordenação e potência, onde: o atleta (nº. 7) que obteve a melhor pontuação no teste de coordenação (30 pontos), obteve apenas o 4º (quarto) melhor resultado no teste de potência (522cm) e o atleta (nº. 4) que obteve o melhor resultado no teste de potência, (636cm), obteve apenas o 3º (terceiro) melhor resultado no teste de coordenação (28 pontos).

Conclusão e recomendações

    De acordo com a amostra do estudo, da metodologia aplicada e com os resultados obtidos, conclui-se que:

    Existe uma correlação significativa entre as variáveis pesquisadas, potência de membros superiores estimada no arremesso de “medicineball” e a coordenação óculo-manual mensurada no teste de “prescisão” quando analisada em grupo os resultados obtidos são estatisticamente significativos, de acordo com o cálculo da correlação linear de Pearson (r = 0,924); Porém quando se analisa os resultados obtidos individualmente essa relação não é tão percebida, pois, o atleta que obteve o melhor resultado no teste de potência de membros superiores não obteve o melhor resultado no teste de coordenação óculo-manual e reciprocamente.

    O presente estudo possui limitações, no que diz respeito à amostra onde o número de participantes não foi tão representativo e também à classificação funcional dos atletas que, devido ao pequeno número de voluntários da amostra não foi considerada. Diante do exposto, sugere-se que mais estudos sejam realizados com outros protocolos de avaliação e com amostras maiores, a fim de que os resultados obtidos possam ser comparados com outros estudos.

Referências bibliográficas

  • CARNAVAL, Paulo Eduardo. Medidas e Avaliação em ciências do esporte. s.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1995. p.113.

  • DAIUTO, Moacir. Basquete: Metodologia do Ensino. 1. ed. São Paulo: Hemus. 1991.

  • GORGATTI, Márcia G. e Böhme, Maria T. S. Potência de Membros Superiores e Agilidade em Jogadores de Basquetebol em Cadeira de Rodas. Revista Sobama. São Paulo, v. 7, n. 1. dez, 2002. 9-14 p.

  • MARINS, João C. B. & GIANNICHI, Ronaldo S. Avaliação e Prescrição de Atividade Física: Guia Prático. 3ª ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003. 123 p.

  • NETTO, Francisco C. e GONZALES, Jane da S. Desporto Adaptado a Portadores de Deficiência. 1. ed. Porto Alegre: INDESP, 1996. 7-10 p.

  • ROSA NETO, Francisco. Manual de Avaliação Motora. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. p. 14-17.

  • SHARKEY, Brian J. Condicionamento Físico e Saúde. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. p.144 a 152 167 e 168 176

  • WEINECK, Jurgen. Treinamento Ideal. 9. ed. São Paulo: Manole, 1999. 224 – 229 p.

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