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A contribuição da Educação Física na gestão escolar:
o entendimento de profissionais da área

 

*Licenciada em Educação Física pela UFSM; Especialista em Ciência do Movimento Humano; 

Especializanda em Gestão Educacional pela UFSM; Mestre em Educação pela UFSM; 

Professora da rede pública de ensino de Santa Maria – RS

**Licenciada em Educação Física pela UFSM; Especializanda em Educação Física Escolar e Gestão Educacional pela UFSM; 

Mestranda em Educação pela UFPEL

***Licenciada em Educação Física pela UFSM; Especializanda em Educação Física Escolar e Gestão Educacional pela UFSM; 

Mestranda em Educação pela UFSM;

Integrantes do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física).

Ana Paula da Rosa Cristino*

apcristino@pop.com.br

Andressa Aita Ivo**

dessaaita@yahoo.com.br

Franciele Roos da Silva Ilha***

fran.ef@pop.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo é compreender as contribuições da Educação Física na gestão escolar na visão de professores desta disciplina. A justificativa reside na importância de se saber como esses educadores entendem a Educação Física, sendo esta integrada ao contexto escolar para além de suas aulas semanais. Utilizou-se a abordagem qualitativa e como corrente do pensamento a fenomenologia. Para a coleta das informações foi significativo usar a pesquisa bibliográfica e entrevistas semi-estruturadas. Os participantes foram quatro professores de Educação Física de uma escola municipal de Ensino Fundamental de Santa Maria (RS).

          Unitermos: Educação Física. Gestão escolar. Professores.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008

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Introdução

    A gestão escolar constitui uma dimensão e um enfoque de atuação que objetiva promover a organização, a mobilização e a articulação de todas as condições materiais e humanas necessárias para garantir o avanço dos processos sócio-educacionais dos estabelecimentos de ensino, orientados para a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos, de modo a torná-los capazes de enfrentar adequadamente os desafios da sociedade globalizada e da economia centrada no conhecimento (LÜCK, 2000).

    Além disso, se autora, representa uma dimensão importantíssima da Educação, uma vez que, por meio dela, observa-se a escola e os problemas educacionais globalmente, e se busca abranger, pela visão estratégica e de conjunto, bem como pelas ações interligadas, tal como uma rede, os problemas que, de fato, funcionam de modo interdependente. Cabe ressaltar que a gestão escolar é uma dimensão, um enfoque de atuação, um meio e não um fim em si mesmo, uma vez que o objetivo final da gestão é a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos, de modo que, no cotidiano que vivenciam na escola, desenvolvam as competências que a sociedade demanda.

    Nesse meio educativo, a disciplina de Educação Física é um importante componente curricular, que vem buscando seu espaço dentro do contexto escolar, por isso a importância da reflexão sobre a atuação pedagógica e institucional deste profissional nas escolas. As correntes filosóficas, tendências políticas, científicas e pedagógicas, vem influenciando sensivelmente a Educação Física Escolar. As abordagens psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e crítica, fundamentadas nos PCNs, que são o referencial para o ensino de Educação Física nas escolas públicas do país, simultaneamente são possibilidades pedagógicas, juntamente com a LDB, e orientam esta disciplina a se integrar na proposta educacional da escola.

    A partir disto, delineou-se o objetivo geral do estudo como sendo: Compreender as contribuições da Educação Física na gestão escolar na visão de professores de Educação Física de uma Escola Municipal de Ensino Fundamental de Santa Maria (RS).

    A justificativa deste trabalho reside na importância de se saber como a gestão escolar é entendida pelos professores de Educação Física, já que esta é uma tarefa de todos os integrantes do processo educativo num determinado contexto. Ou seja, os professores são gestores do conhecimento e também da escola, da mesma forma, que os demais funcionários, diretores, secretários, etc. Cada profissional comprometido prioritariamente, com uma função específica, no entanto, todas estas devem estar interligadas e articuladas para que se atinjam os objetivos e metas da escola.

A constituição da Educação Física no campo escolar

    A história desta área do conhecimento no Brasil oferece subsídios que ajudam a entender como os professores de Educação Física atuais reproduzem, no seu cotidiano, ideais e valores do final do século XIX, período a partir do qual a atividade desenvolveu-se no país e que foi grandemente influenciada pela chamada Medicina Higienista. Somente a partir do início da década de 1980, com a redemocratização do país, é que a Educação Física começou a ser discutida de forma mais contundente, levando ao reconhecimento de que sua prática escolar é problemática e visando a uma redefinição de seus objetivos, conteúdos e métodos de trabalho.

    Para Guedes; Rubio (2004), enquanto disciplina acadêmica, a produção de conhecimento em Educação Física ao longo do século XX e neste início do século XXI, tem-se diversificado e crescido abruptamente, muitas vezes não sendo possível uma identificação clara das tantas contribuições ao estudo do movimento humano.

    As mudanças sociais vêm situando os professores num processo histórico em que as mesmas estão transformando profundamente o trabalho, a imagem social e o valor que a sociedade atribui à própria educação.

    E quando se pensa em Educação Física, este pensamento está associado aos jogos, exercícios físicos, competições... Mas, o processo de ensino e aprendizagem nessa área não se restringe só ao simples exercício de certas habilidades e destrezas. É importante propiciar uma diversidade de conteúdos incluindo, além dos jogos e esportes, as danças, as lutas, as ginásticas e as brincadeiras (TVE Brasil, 2001).

    As pessoas que trabalham com Educação Física dedicam-se muito pouco a refletir sobre uma outra Educação Física que é praticada nas escolas, não aquela que os alunos fazem quando vão para a quadra, mas a que fazem na sala de aula e as suas possibilidades de inserção efetiva nos projetos educativos e nas gestões das organizações escolares.

    Conforme Pereira (apud FARIAS; SHIGUNOV; NASCIMENTO, 2001), uma Educação Física conscientizadora deve ser produzida na escola. Comprometida em transformar e em ajudar por meio de suas especificidades na problematização do social, no questionamento da realidade, pressupondo além da simples denúnica de situações, as desmistificações e ações concretas.

    Qual fundamentação dar para a Educação Física a fim de garantir a sua importância curricular? Quais são as questões sociais que envolvem o aluno e deveriam estar presentes nas discussões? Como a escola vê o profissional de Educação Física: como um treinador ou um formador de opiniões? Como este profissional se insere na gestão pedagógica? Há vários níveis de questões e tudo tem de partir de um espírito de interrogação.

    No campo da Educação Física escolar, as pretensões educativas deveriam se direcionar mais intensivamente para o desenvolvimento de respostas criativas para as necessidades educacionais e institucionais, assim como para a busca do processo coletivo como forma de emancipação profissional.

    Num contexto maior onde os professores historicamente vêm sendo executores, tentar que construam uma prática transformada, fundamentada na reflexão é “andar na contramão” e, mesmo no contexto de mudanças que vêm acontecendo nas redes públicas de ensino, há que se considerar que a questão da autonomia das escolas e do professorado está ainda mal equacionada, exigindo a superação de muitas contradições para que venha a avançar (GÜNTHER; MOLINA NETO, 2000).

    Como pensa Barbosa (1997, p. 54 e 55), o professor de Educação Física:

    Ao invés de tentar se diferenciar, deve cada vez mais se identificar como educador, engajando-se dentro do aparelho escolar aos demais professores. ... só assim ele compreenderá que seu espaço de ação é todo e qualquer lugar - principalmente a sala de aula - onde ele possa realmente trabalhar conteúdos específicos da educação física... ...visando sempre à formação do ser crítico, autônomo e consciente de seus atos.

    Isso porque conforme Candau (2000), a “imaginação pedagógica” vem sendo cada vez mais requerida, uma vez que não há resposta consensual acerca dos conhecimentos realmente úteis, ou seja, quais são os saberes a serem valorizados pela escola enquanto agência de formação, quais os saberes constituintes dos processos educativos e outros que precisem ser incorporados a esse processo.

    Não se trata apenas de mudanças no conhecimento a partilhar ou a adquirir que se deslocaria do concreto para o abstrato, do prático para o simbólico, mas também de mudanças de atitudes a favorecer e a desenvolver (ENGUITA, 2004). As mudanças sociais vêm situando os professores num processo histórico em que se torna imprescindível a transformação profunda do trabalho, da imagem social e do valor que a sociedade atribui à própria educação.

    Para Gularte e Afonso (2001) a Educação Física como componente curricular, pode articular-se com as demais, a fim de realizar uma prática interdisciplinar, com vistas a desenvolver um processo onde o objetivo seja aprimorar a educação geral do aluno, contribuindo para sua formação como indivíduo e cidadão. Mas mantendo sua identidade, usufruindo o seu espaço como disciplina em situação de igualdade com as demais, atuando de forma consciente na organização escolar, colaborando para os processos pedagógicos e de gestão. Desenvolver uma prática nestes moldes, não quer dizer colocar uma disciplina como auxiliar de outra, como afirma Bracht (1991), quando coloca que a Educação Física possui sua própria especificidade, não tem um papel de subordinação às outras disciplinas escolares, já que nesta perspectiva o movimento seria mero instrumento, desconsiderando as formas culturais do movimentar-se humano como um saber a ser transmitido pela escola.

    Para se atingir objetivos educacionais mais adequados para as complexas demandas sociais, é necessário a elaboração de estruturas que permitam a todos os profissionais da escola estabelecer canais de ligação, criar espaços para o trabalho em equipe, possibilitando a efetivação de processos de gestão mais participativos.

    É chegada à hora de se adequarem estratégias, na direção de uma transformação autêntica, mais compatível à realidade, buscando através de ações práticas, no dia-a-dia, dentro da escola, por uma Educação Física voltada para o pedagógico tanto quanto para o institucional. E que se possa enfim, com a contribuição da Educação Física Escolar construir um ser humano assim como uma organização escolar mais justos, críticos e autônomos, conscientes de seus direitos e obrigações.

Metodologia

Abordagem da pesquisa: Qualitativa

    Conforme Triviños (1987, p.125): “a pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica surge como forte reação contrária ao enfoque positivista, privilegiando a consciência do sujeito e entendendo a realidade social como uma construção humana”.

    O autor explica que, para a realização de uma pesquisa qualitativa do tipo fenomenológico não é necessário, por exemplo, a elaboração de hipóteses empiricamente testadas, de testes estatísticos, tampouco de esquemas rígidos de trabalho, determinados aprioristicamente. Antes, sim, é importante que o pesquisador desenvolva uma certa dose de flexibilidade, no sentido de reelaborar, substituir, ou mesmo suprimir formulações, de acordo com as evidências e resultados que vai obtendo ao longo da pesquisa.

    Conforme Pádua (2004) tem a preocupação com o significado dos fenômenos e processos sociais, levando em consideração as motivações, crenças, valores e representações sociais que permeiam a rede de relações na sociedade.

    Na concepção fenomenológica da pesquisa qualitativa, a preocupação fundamental é com a caracterização do fenômeno, com as formas que apresenta e com as variações, já que o seu principal objetivo é a descrição.

Abrangência da investigação: Participantes

    Os colaboradores deste estudo foram quatro professores de Educação Física de uma Escola Municipal de Ensino Fundamental do município de Santa Maria (RS).

Etapas de desenvolvimento da pesquisa

    Primeiramente foram contatados os professores de Educação Física, que assinaram o termo de consentimento e foram informados sobre a temática da pesquisa. Após foram encaminhadas as entrevistas com estes professores.

Coleta de informações: Pesquisa bibliográfica e entrevista

    Para este estudo será significativo usar, para a coleta de informações, a pesquisa bibliográfica e a entrevista. A primeira será embasada do referencial teórico elaborado, a partir dos conceitos e posicionamentos emitidos pelos autores que abordam a temática proposta, servindo como fundamentação deste estudo. Será importante este momento porque possibilitará ampliar conhecimentos e discussões sobre o assunto em foco.

    Carvalho (1987, p.110) diz que: “A pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de fontes diversas de informações escritas, para coletas dados gerais e específicos a respeito de determinado tema”.

    Um dos pontos ressaltados é o de que toda pesquisa realizada em documentos escritos deve ser denominada de pesquisa bibliográfica. Ela também é a base imprescindível para qualquer tipo de pesquisa, pois não pode existir investigação científica, sem antes haver um conhecimento das contribuições teóricas existentes em textos que já abordaram com maior ou menor incidência o assunto a ser estudado.

    Em relação à entrevista semi-estruturada, ela é um dos procedimentos mais utilizados em pesquisa de campo, possibilitando que os dados sejam analisados quantitativa e qualitativamente. Esta será uma das fontes principais de coleta de informações, por propiciar um diálogo subjetivo com a realidade do estudo (PÁDUA, 2004).

Interpretando as informações: Análise de conteúdo

    De acordo com Bardin (1977, p.42), a análise de conteúdo pode ser definida como um;

    conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

    Triviños (1987) comenta que a entrevista semi-estruturada, assim como o método de análise de conteúdo são intrumentos decisivos para estudar os processos e produtos nos quais está interessado o investigador qualitativo.

Interpretação das informações

    Para se inserir no contexto da pós-contemporaneidade, a escola precisa relacionar a educação com questões como criatividade, diferenciação curricular, autonomia, reflexão, trabalho coletivo, gestão, entre outros.

    Por esse caminho, a intenção desta interpretação é conhecer a opinião dos professores de Educação Física sobre a gestão da escola em questão. Espera-se que a análise das concepções nesta escola, contribua para o debate sobre a gestão escolar voltada para os novos desafios educacionais.

    Na atualidade, fica claro o reconhecimento mundial e social do valor da educação e do ensino público de qualidade para o mundo do trabalho, o desempenho da economia e técnico-científico. Segundo Libâneo; Oliveira; Toschi (2003), a educação deve ser entendida como fator de realização da cidadania, na luta contra a superação das desigualdades sociais e exclusão social. Para tanto, é necessário que a escola esteja integrada ao mundo do trabalho, buscando incorporação de habilidades técnicas, novas formas de solidariedade social e enfoque do trabalho pedagógico.

    Esse é um grande desafio, já que em certos momentos, a escola pública perdeu significado para seus usuários; as disciplinas escolares nem sempre conseguem traduzir o avanço científico produzido em suas áreas, a instituição parece não fazer sentido para o mundo real que a cerca.

    Para alcançar este sentido para o mundo real, a escola e a gestão que se deseja, necessitam de qualificação para poderem estar integrados em um mundo dinâmico, em constantes transformações, o qual a reflexão sobre a prática torna-se fundamental.

    Conhecendo um pouco da instituição analisada nesta pesquisa, a Escola estudada foi criada em 1995, tendo 12 anos. Sendo uma escola de periferia, busca atender a demanda de alunos para os ensinos diurno e noturno na região sul do município. Possui 15 salas de aula, 2 quadras poliesportivas, 1 quadra de futebol de campo, 1 cancha de areia e 1 ginásio. Possui turmas de Ensino Fundamental, Classe Especial e EJA. No ano de 2006 teve 878 alunos matriculados. Conta com 73 professores e 5 funcionários. Está inserida em um complexo onde também consta um Núcleo de Saúde, Escola de Educação Infantil, Banco de Alimentos da Prefeitura Municipal e uma Escola de Ensino Médio (espaço cedido). A escola possui 4 professores de Educação Física, que trabalham com Anos Iniciais, Finais, EJA e projetos.

    Tem como objetivo promover a formação do educando como elemento responsável, interativo, consciente e atuante na sociedade, desenvolvendo a criatividade, visando um ensino de melhor qualidade.

    Esta é uma das instituições educativas da rede municipal de ensino de Santa Maria (RS), que é composta de 83 escolas, aproximadamente 17000 estudantes abrangendo zona urbana e rural e tem um quadro funcional de 1.600 professores.

    Segundo a SMEd – Secretaria de Município da Educação (SANTA MARIA, 2007), o Plano Plurianual da Prefeitura Municipal (2006 a 2008), que busca a qualidade de ensino, contempla questões como: cursos de formação de professores em todas as áreas, cursos de atualização para os gestores, para os membros dos conselhos escolares e servidores.

    Então, percebe-se que a gestão escolar é um foco importante de preocupação desta Secretaria de Educação e das escolas que pertençam à rede municipal de ensino. E os processos de gestão vêm sendo frequentemente refletidos, especialmente com as reformulações dos projetos político-pedagógicos das escolas municipais que começaram a vigorar neste ano de 2007.

    Discutir o trabalho na escola e, sobretudo, a atividade de ensino, passa pelo pressuposto inicial de abordar a importância de que todos os segmentos da escola sintam-se responsabilizados pela atividade pedagógica, passando essa de uma dimensão unicamente docente para uma dimensão institucional.

O entendimento dos professores de Educação Física sobre a contribuição desta para a gestão na escola

    A Educação constitui-se num fator importante para o desenvolvimento social, político e econômico da sociedade, sendo inegável que sua eficiência é determinada em grande parte, pelas qualidades e disposições do principal agente que a impulsiona, o professor. A partir disso, as atenções estão constantemente sendo voltadas para o mesmo, pois a sociedade tem-se mostrado preocupada com os resultados insatisfatórios dos longos e custosos processos de escolarização.

    Nesse meio educativo, a Educação Física tem buscado superar uma grande lacuna em seus espaços de vivência profissional, caracterizada por um descomprometimento com o conhecimento acadêmico.

    O cultivo de valores culturais físicos, apropriados e cultuados pelo indivíduo em seu cotidiano, como designo natural ou divino, o tem distanciado das outras necessidades e possibilidades acadêmicas de se estabelecer para e sobre a Educação Física. Nesse sentido, entende-se ser o conhecimento da Educação Física algo que deva ser tratado com discernimento e responsabilidade científica e educacional (MORO, 2003).

    Nesta conjuntura que envolve a escola, o professor de Educação Física precisa estar ciente de seu papel político e pedagógico, quando se discute sobre o papel de gestor do professor e de sua participação ativa na fomentação do projeto Político-Pedagógico. Entretanto, historicamente, o professor de Educação Física se colocou a parte nas discussões pedagógicas da escola, ficando restrito ao mundo que considera apenas seu, o pátio, a quadra, permanecendo longe de questões pertinentes ao funcionamento da escola, tanto técnicas, quanto pedagógicas (BERNARDI, 2006).

    Na perspectiva de uma participação ativa na gestão escolar, pôde-se perceber em algumas falas dos membros do estudo que a Educação Física pode contribuir com a gestão da escola, principalmente, através da prática pedagógica do professor, ou seja, diretamente pela forma como este realiza sua atuação docente. Esta que, segundo os mesmos deve se caracterizar como sendo: participativa, responsável, inovadora e motivante, como demonstrada em seus depoimentos a seguir:

    “Com um bom trabalho executado que dê resultado (...) um trabalho (...) bem feito (...). O professor tem que estar presente sempre, participar sempre com os alunos, coisas novas. O professor pesquisando coloca o que mudou e não mudou” (professor José).

    “(...) através de profissionais preparados, participativos, que cobrem da direção, que busquem soluções para os problemas também, e que sejam profissionais que tenham muito amor pelo que fazem” (professora Lúcia).

    “O professor ajuda na gestão na escola no sentido dos alunos terem mais condições (...) de se entrosarem com os colegas, de respeitarem a individualidade dos colegas” (professora Helena).

    Além disso, demonstraram a preocupação em desenvolver atividades, e resolver os problemas para além de sua disciplina, como observa-se nas seguintes falas:

    (...) tem Dança na escola (...) o pessoal pratica esportes, tem inter-séries, vamos organizar equipes para jogar fora, tudo isso é trabalho.(...). Quando se faz todas essas coisas, se faz pela escola, pelo grupo todo. Toda a direção, a gestão tem segmento, os professores cada um na disciplina que fazem o seu trabalho para chegar a um determinado objetivo (...) e com isso a escola só tem a ganhar. Plantamos e vamos colher. (professor José).

    “(...) que busquem resolver os problemas também da escola. Não deixem de lado esses problemas achando que somente a direção tenha que resolver os problemas da escola” (professora Lúcia).

    Nessa visão e entendimento de gestão, Libâneo; Oliveira; Toschi (2003, p. 307) destacam que “o professor participa ativamente da organização do trabalho escolar, formando com os demais colegas uma equipe de trabalho, aprendendo novos saberes e competências, assim como um modo de agir coletivo, em favor da formação dos alunos”. Argumenta, ainda, que o professor como membro da equipe escolar necessita dominar conhecimentos relacionados à gestão, desenvolver capacidades e habilidades práticas para participar dos processos de tomada de decisões em várias situações, como reuniões e conselhos de classe, assim como atitudes cooperativas, solidárias, responsáveis, de respeito mútuo e de diálogo.

    Declaram ainda que, a Educação Física oferece subsídios necessários para desenvolver um trabalho articulado com as demais disciplinas. Esta articulação vai ao encontro das idéias de Zabalza (2004) quando afirma a importância em desfrutar cada disciplina aproveitando as suas potencialidades para decodificar e entender melhor o que nos rodeia, ou para expressar-se mediante sua linguagem.

    Eu entendo a parte da EF como coletivo, eu sou agarrada à isso. Então dentro da EF tudo que eu posso eu tento buscar os outros para participar, até de outras disciplinas, dando opiniões (...). Porque tu não é professor só dentro das 4 paredes, né? Então acho que teu trabalho vai além disso. E eu acho que consigo fazer isso dentro da EF buscando os outros professores, até nesta parte que estamos agora, eles estão mais participativos do que eram antes, né? Era cada um na sua gavetinha e agora as coisas tão andando mais no coletivo. (professora Maria).

    Dessa forma, esses educadores vêm contribuindo para avançar os conhecimentos e atitudes e permeiam a prática pedagógica do professor de Educação Física e sua gestão na escola. Ainda que, muitos ainda não se apropriaram dessa visão mais democrática de gestão, busca-se através de iniciativas como esta pesquisa para motivar os profissionais da educação para assumirem sua responsabilidade para além de sua sala de aula.

Conclusão

    As instituições escolares para acompanharem o processo de modernização em que a sociedade vem se subsidiando, é necessária a desconstrução de mecanismos centralizados de gestão em seus meios educativos. Este fato, segundo Nóvoa (1995) passa pela descentralização das escolas como lugares de formação. Adquirindo mobilidade e flexibilidade, incompatíveis com a inércia burocrática e administrativa que as tem caracterizado. Deste modo, o poder de decisão deve ser atitude dos atores educativos, sendo estes os mais próximos dos centros de intervenção e da comunidade escolar.

    Assim, as investigações educacionais têm demonstrado a impossibilidade de isolar a ação pedagógica dos universos sociais que a envolvem. Sendo que, o profissional da área de Educação tem sobre si a exigência da construção e socialização de conhecimentos, habilidades e competências que permitam sua inserção no cenário complexo do mundo contemporâneo. Com a tarefa de participar como docente, pesquisador e gestor do processo de formação de crianças, jovens e adultos.

    Inserido nesse processo de ensino, o professor de Educação Física, como os demais educadores, deve cumprir com o seu papel na formação dos alunos, em relação ao conhecimento de que trata a sua área de estudo. Ainda que, atue ativamente na gestão escolar nos diversos repartimentos que a compõem.

    Face essa relação frente à escola e sua prática educativa, os professores de Educação Física da escola estudada demonstraram acreditar na importância de sua disciplina para articulação dos conhecimentos e para a aprendizagem dos alunos, e também para a contribuição das questões que envolvem o trabalho coletivo da escola.

    Essa perspectiva reside e fundamenta-se, principalmente, nos processos de ensino que esses profissionais foram formados ou atuam, sendo preconizados em grande parte das instituições educacionais. Até mesmo em universidades, que pela preocupação com a promoção do conhecimento e com a qualidade da Educação deveria ser um exemplo de descentralização na gestão escolar.

    Portanto, imbricados na função social da Educação, seus profissionais devem buscar compreendê-la como um processo amplo e descentralizado, para que se possa enfim proporcionar um ensino de qualidade à população.

Referências

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  • BARDIN, L. tradução de Luis Antero Neto e Augusto Pinheiro. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

  • BERNARDI, A.P. Desenvolvimento profissional: implicações na participação do professor de Educação Física na gestão da escola. Monografia (Especialização em Gestão Educacional) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2006.

  • BRACHT. V.A. A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física. Cadernos Cedes, n.48, p.69-88, 1999.

  • CANDAU, V. M. (Org.). Didática, currículo e saberes escolares. Rio de Janeiro: Ed. DP&, 2000.

  • CARVALHO, A. de S. Metodologia da entrevista: uma abordagem fenomenológica. Rio de Janeiro: Agir, 1987.

  • ENGUITA, M. F. Educar em tempos incertos. Porto Alegre: Artmed, 2004.

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  • GUEDES, C. M.; RUBIO, K. Estudos socioculturais da Educação Física na Escola de Educação Física e Esporte: o que foi, o que tem sido e o que deverá ser. Rev. Paulista de Educação Física. v.18, ago. São Paulo. p.83-88.(N. especial), 2004.

  • GÜNTHER, M.C.C.; MOLINA NETO, V. Formação permanente de professores de Educação Física na rede municipal de ensino de Porto Alegre no período de 1989 à 1999 – um estudo a partir de quatro escolas da rede. 2000. 204 f. Dissertação. (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000.

  • GULARTE, J.L.P.A.; AFONSO, M. da R. Investigando as práticas interdisciplinares em escolas privadas. In: ROMBALDI, A.J. e MARQUES, A.C. (Orgs.). XX Simpósio Nacional de Educação Física - Coletânea de Textos e Resumos. Pelotas: Editora Universitária/ESEF-UFPEL, p.243-253, 2001.

  • LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J.F. de; TOSCHI, M.S. O sistema de organização e de gestão da escola: teoria e prática. In: LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J.F. de; TOSCHI, M.S. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, p. 315 – 378, 2003.

  • LÜCK, H. Et al. Apresentação. In: Gestão Escolar e Formação de Gestores. LUCK, H. (Org.) Em Aberto, Brasília, v. 17, n. 72, p. 1-195, fev./jun., 2000.

  • MORO, R.L. Criação e Avaliação de aulas de Educação Física: princípios do “Ensino com pesquisa”. Santa Maria: O autor, 28 de março de 2003. Artigo da disciplina de Fundamentos da Educação Física.

  • NÓVOA, A. Para uma análise das instituições escolares. In: NÓVOA, A. (Coord.). As organizações escolares em análise. 2.e., Lisboa: Publicações Dom Quixote, p.13-43, 1995.

  • PÁDUA, E.M.M. de. Metodologia da pesquisa: abordagem teórico-prática. 10 e. São Paulo: Papirus, 2004.

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  • TVEBrasil. Educação Física na Escola. Disponível em: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2001/edf/pgm3.htm. Acessado em 18 de março de 2004.

  • TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

  • ZABALZA, M.A. Aprender na Universidade. In: ________. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, p.190-239, 2004.

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