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A compreensão da estética na formação
inicial em Educação Física licenciatura

 

*Licenciada em Educação Física pela UFSM; Especialista em Ciência do Movimento Humano; 

Especializanda em Gestão Educacional pela UFSM; Mestre em Educação pela UFSM;
Professora da rede pública de ensino de Santa Maria – RS; 

Integrante do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física)

**Licenciada em Educação Física pela UFSM; Especializanda em Educação Física Escolar e Gestão Educacional pela UFSM; 

Mestranda em Educação pela UFPEL; Integrante do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física)

***Licenciada em Educação Física pela UFSM; Especializanda em Educação Física Escolar e Gestão Educacional pela UFSM; 

Mestranda em Educação pela UFSM; Integrante do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física)

****Licenciada em Educação Física pela UNICRUZ; Especialista em Ciência do Movimento Humano pela UNICRUZ;
Especialista em Esporte Escolar pela UNB – UFSM; Professora da rede pública de ensino de Santa Maria – RS; 

Integrante do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física)

*****Licenciado em Educação Física pela UFPEL; Mestre em Ciência do Movimento Humano pela UFSM; 

Doutor em Educação pela UFSM/UNICAMP; Doutor em Ciência do Movimento Humano pela UFSM; 

Professor adjunto da UFSM; revisor dos periódicos Biomotriz (Cruz Alta) e Cadernos de Educação Especial (Santa Maria); 

Líder do GEPEF/UFSM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física)

Ana Paula da Rosa Cristino*

apcristino@pop.com.br

Andressa Aita Ivo**

dessaaita@yahoo.com.br

Franciele Roos da Silva Ilha***

fran.ef@pop.com.br

Marta Nascimento Marques****

martinhamn@yahoo.com.br

Hugo Norberto Krug*****

hnkrug@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A Educação Física na medida em que lida com o corpo na (ou da) sociedade, tende a ser associada à produção, a formação e ao desenvolvimento de padrões também estéticos. Deste modo, é preciso desafiar os padrões hegemônicos de corpo. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo analisar o entendimento dos acadêmicos do terceiro semestre do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Santa Maria sobre a estética e sua relação com o contexto escolar. A investigação foi de caráter qualitativo e para a coleta das informações utilizou-se o instrumento questionário, tendo as respostas analisadas de forma interpretativa através da análise de conteúdo.

          Unitermos: Estética. Formação inicial. Educação Física.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 121 - Junio de 2008

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Reflexões iniciais

    A história da Educação Física oferece subsídios que embasam alguns entendimentos equivocados que permeiam a função da disciplina no âmbito escolar e, consequentemente, o papel do professor neste contexto.

    Ao longo do processo de construção da Educação brasileira, a Educação Física foi responsabilizada por cumprir papéis que eram pertinentes à determinada época. Por exemplo, nas quatro primeiras décadas do século XX, foi marcante a influência dos Métodos Ginásticos e da Instituição Militar. Nesse Período, a mesma era entendida como atividade exclusivamente prática, fato este que contribuiu para não diferenciá-la da instrução física militar. Outra função foi estabelecida pelo surgimento da educação higienista, a qual determina a Educação Física como meio de construção do homem saudável (BRACHT et al, 1992; MORO, 2004).

    Felizmente, a partir da década de 1970 iniciaram vários movimentos críticos na busca de reavaliar a especificidade da Educação Física no contexto escolar. Nesse sentido, muitos autores construíram novas abordagens e metodologias de ensino a serem trabalhadas, especificamente na Educação Física.

    Todas essas propostas diferenciadas da tão criticada abordagem tradicional, que como dizia Paulo Freire (2007) refere-se a uma concepção bancária de educação, na qual os alunos são meros receptores de informação, sem qualquer incentivo a consciência crítica e a autonomia, foram, e ainda são muito importantes para a evolução do conhecimento de que trata a Educação Física Escolar. Apesar disto, as constantes mudanças e transformações que vem ocorrendo em nossa sociedade capitalista de ideologia neoliberal, influenciam e impulsionam a mesma, a terem um olhar equivocado para as disciplinas escolares (KUENZER, 2001). Nesse caso enfocaremos a Educação Física, mas se fosse oportuno teríamos a possibilidade de contextualizar os demais componentes curriculares e ainda outros âmbitos da sociedade que reproduzem o sistema vigente, no que se refere principalmente ao mundo do trabalho. Bem como coloca Crespo (1990 apud ANZAI, 2000, p.71) quando diz “o corpo do cidadão só pode ser compreendido no entrecruzamento dos elementos econômicos, políticos e culturais de uma determinada sociedade”.

    Dentre as várias influências de que a Educação Física Escolar é alvo, estão às questões que norteiam em muitos casos a Educação Física não-escolar, ou seja, em contextos como as academias e os clubes esportivos. Muitas vezes as funções do profissional de Educação Física que atua nesses âmbitos são transferidas e entendidas como papel da disciplina na escola, caracterizando assim em atividades relacionadas à saúde, qualidade de vida, treinamento físico e a estética.

    Diante disso, surgiu o problema de pesquisa: Qual é o entendimento dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física sobre a estética e sua relação com o contexto escolar?

    Assim, formulou-se o seguinte objetivo geral: Analisar o entendimento dos acadêmicos do terceiro semestre do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Santa Maria sobre a estética e sua relação com o contexto escolar.

    Os objetivos específicos foram os seguintes:

  1. Analisar o entendimento dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física sobre a relação entre estética e a disciplina em questão; e,

  2. Analisar a possibilidade de desenvolver a questão da estética no contexto escolar com base na visão dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física.

    Com base nessas premissas este estudo justificou-se por trazer algumas reflexões a cerca da estética, enquanto uma questão incidente e problemática no âmbito da Educação Física Escolar. Além da sua relevância para a área da Educação Física, no sentido de discutir uma temática tão atual e vivenciada no cotidiano de todos nós, professores ou não.

A estética na sociedade e na escola

    A palavra estética é originária do grego, “aisthesis”, significando percepção ou sensação. Só em meados do século XVIII, através de A. Baumgarten (1714-1762), é que esta palavra entrou no vocabulário moderno, querendo significar a “ciência das sensações”. Claro que não cabe discutir no presente trabalho se a estética é mesmo uma ciência, até porque existem muitas perspectivas de entendimento acerca disto. Porém, muitos autores escrevem sobre a estética entendida como a reflexão filosófica sobre a beleza e a arte, e como um significativo valor humano.

    Para Patrício (apud GARCIA; LEMOS, 2003, p.117) “a estética é a disciplina que tem como objeto formal a reflexão sobre a beleza”. Segundo Garcia; Lemos (1993) as palavras belo, beleza e estética, quando percebidas através desta visão humanista, não mais poderão ser consideradas como elementos simbólicos da futilidade ou da frivolidade dos nossos tempos. Elas devem ser encaradas como valores existenciais, pelo que deverão ocupar o seu devido lugar no processo educativo, não podendo a escola ficar alheia destes valores em nenhum dos seus ciclos ou níveis de ensino. Acreditam na Educação em valores, pelo que estes terão que ser considerados na sua plenitude.

    Platão (1990) na obra República reflete sobre a necessidade da harmonia entre a alma e o corpo – o seu aspecto externo - enfatizando a beleza corporal, sendo que o belo e o bom, no século V a.C., traduziam o ideal de perfeição física e moral. A grandeza humana tinha assim um suporte físico pleno de harmonia estética, como, aliás, a estatuária grega evidencia com todo o seu esplendor. É de salientar que o nu artístico grego, ainda hoje referência estética, foi inspirado pelos corpos dos atletas de então.

    A estética na antiguidade, a do belo e o bom, era ligada à conduta e moral. E na idade média estas idéias disseminadas por teólogos, como São Tomás de Aquino e S. Agostinho, que enfatizavam a beleza numa conduta divina e não no corpo e sua forma física. Com o mercantilismo e a modernidade vemos a estética transformada em mercadoria. O belo das atitudes, das virtudes, agora na sociedade capitalista é o belo da forma, da imagem, do consumo do corpo perfeito.

    Alain Touraine (apud GARCIA; LEMOS, 2003), na sua análise à modernidade, entende a evolução do pensamento como uma passagem da razão de Deus para a razão do estado, e desta para uma razão estética, assumindo esta última um papel preponderante no pensamento contemporâneo.

    A estética, em especial a corporal, aparece como um valor de extrema importância em nossa sociedade atual, como sendo a da imagem. Garcia; Lemos (2003) consideram o corpo humano uma verdadeira construção cultural, sendo comparável a um pedaço de madeira que cada um esculpe de acordo com a sua própria vontade e satisfazendo os mais variados projetos individuais. O corpo humano como uma construção, pode ser pensado como uma verdadeira obra de arte, como uma imagem produzida pela cultura, como algo mobilizável pelos diferentes ambientes socioculturais e não como um simples produto da biologia ou da natureza.

    Hoje se tem elegido como ideal o “manter-se jovem por mais tempo possível”, com relação aos aspectos externos, à imagem que se projeta na sociedade. Não se é jovem, mas tenta-se parecer jovem. O importante é parecer, e não o ser. Vivemos na era da imagem, onde valemos pelo que aparentamos ser. A sociedade impõe padrões de estética e de beleza que devem ser seguidos, imitados e/ou copiados a qualquer preço.

    A Educação ao negar a vivência desses valores deixa de cumprir o seu papel crítico e analítico permitindo que as gerações jovens simplesmente reproduzam de forma não refletida os conceitos de determinada imagem.

    De acordo com os resultados de um estudo realizado por Garcia; Lemos (2003) analisando os sistemas educativos do Brasil e Portugal através de documentos oficiais, a fim de conhecer como eles lidam com a estética na Educação, especialmente na Educação Física, aponta-se que os educadores, apesar de reformas curriculares, continuam a ignorar na essência a formação estética de seus alunos. A hegemonia, segundo Alain Touraine (apud GARCIA; LEMOS, 2003), é pela racionalidade cognitivo-instrumental, com pouco ou mesmo nenhum realce à “racionalidade estética-expressiva”. Contrapõem-se a este modelo, o pluridimensional. Este considera a formação integral (plano ético, científico, tecnológico, social, religioso, estético e artístico), contribuindo na formação da pessoa. É a pessoa e não os conteúdos, o fim da Educação. Cada disciplina pode considerar a estética enquanto valor, de acordo com suas especificidades, e não sendo responsabilidade única de uma disciplina.

    Numa escola nesse sentido, o movimento deve ser apresentado também pela sua beleza plástica e não apenas pela sua dimensão técnica. O corpo é, também, para ser criado, fruído e refletido, especialmente na Educação Física, e não somente para ser entendido como uma simples máquina, mesmo que biológica e sofisticada. Nesta escola, o corpo é também para ser apreciado, sem falsos preconceitos ou tabus.

A estética e suas implicações no contexto da Educação Física escolar

    O corpo humano em tempos medievais foi considerado danoso e reprimido pela igreja e, consequentemente pela sociedade (GUILHERMETTI, 1990). O autor ao trazer algumas contribuições sobre o corpo e a Educação Física, relata que ao longo do tempo a repressão e omissão do corpo foram sendo revisto. Sendo que, para o mundo do trabalho o corpo ganha importância e destaque, principalmente para os países mais pobres que são responsabilizados pelo trabalho mais braçal.

    A estética corporal moderna apresentava-se fortemente conectada com os aspectos disciplinares e ordeiros utilitários em torno do almejado progresso social que se vislumbrava. A estética corporal atual apresenta-se de forma plural, salientando outras formas que não necessariamente estão ligadas à questão disciplinar, envolvendo aspectos relacionados ao prazer.

    Um exemplo do vício na modernidade atual é a utilização de anabolizantes, tanto para aumentar a performance esportiva, ou para modelar o corpo, como pode ser observado nos praticantes de body building. Esse último reflete o culto exacerbado ao corpo que envolve tanto o disciplinamento quanto o prazer.

    O culto ao corpo e a preocupação com a estética vem sendo um assunto bem debatido nas instituições educacionais e refletido nos meios de comunicação de massa. No entanto, esses últimos por vezes o criticam, e em sua maioria o exaltam. Já que, com sua exaltação pode-se ter mais consumo, mais lucro, mais acumulação de capital. Pois, quanto mais se investe na estética, na busca de um corpo perfeito, mais modelos de corpos perfeitos surgem para iludir a sociedade, mais tecnologias, mais a ciência e a mídia agradecem sua supervalorização, enquanto objeto de consumo.

    No entendimento de Anzai (2000) a indústria cultural mantém relações diretas com a mídia que se responsabiliza em humanizar os bens materiais, erotizando os produtos. Para o autor, a mídia reforça os sistemas hierárquicos de valores, tornando a beleza o ponto alto dessa hierarquia. Sendo que, os meios de divulgação exploram uma imensa gama de discursos e propagandas, que procuram induzir os consumidores à compra de produtos de beleza ou de instrumentos voltados à prática de exercícios físicos, com apelos que prometem corpos saudáveis e bonitos em pouco tempo. Em conseqüência disso, milhões de pessoas no mundo inteiro gastam fortunas em regimes, cosméticos, entre outros para adquirirem o corpo perfeito.

    O corpo deixou de ser uma referência estável e um dado de identidade fixa e imutável. Passou a ser esquema de aprisionamento e muitas vezes de tortura. Inclusive para se inserir no mercado de trabalho, o homem esta se adaptando a padrões estéticos. O corpo é uma estrutura física do ser humano, mas não se restringe à sua existência material. È uma construção moldável, conforme os valores da cultura provenientes da sociedade que estiver inserida. Nessa direção que o movimento humano, meio de se atingir alguns fins do ensino da Educação Física, não pode ser considerado somente como atividade de exercícios físicos, mas como expressão de sentimentos, emoções, manifestação de prazeres e desprazeres. Não é somente o movimento racionalizado que é expresso, mas também o movimento que não está sob domínio consciente, pois ele não está separado do pensamento e vive-versa. Somente ao se entender essa interação poderá obter-se a qualidade na presença e disponibilidade como componentes determinantes para o desenvolvimento do outro.

Caminho metodológico

    A investigação foi de caráter qualitativo, que segundo Pádua (2004) apresenta a preocupação com o significado dos fenômenos, bem como dos processos sociais. As respostas foram analisadas de forma interpretativa através da análise de conteúdo. De acordo com Bardin (1977, p.42), a análise de conteúdo pode ser definida como um:

    [...] conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

    O estudo foi realizado com os acadêmicos do terceiro semestre do curso de Licenciatura em Educação Física, do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria, durante o primeiro semestre letivo do ano de 2008. Os acadêmicos responderam um questionário, que continha duas questões abertas, onde os alunos poderiam dissertar sobre seus pontos de vista a respeito do que era abordado na pergunta.

    Em relação ao emprego deste instrumento de pesquisa, Cervo; Bervian (2002) relatam que este é a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita medir com melhor exatidão o que se deseja, de modo que apresenta um conjunto de questões relacionadas com o problema central. Sendo ainda considerado um meio de obter respostas por uma fórmula que o próprio informante preenche.

Foram elaboradas duas categorias de análise para a discussão das informações, que são: 

  1. A relação da estética com a Educação Física; e, 

  2. A estética e sua aplicação no contexto escolar.

    Partindo das categorias de análise desenvolveu-se uma discussão abordando o ponto de vista dos acadêmicos com base nas bibliografias que tratam da temática em foco.

Análise das informações

    É importante destacar que as questões norteadoras do estudo foram elaboradas de forma ampla para deixar aflorar as compreensões dos acadêmicos enquanto reflexo dos seus conhecimentos construídos na área da Educação Física.

A relação da estética com a Educação Física

    Os acadêmicos ao serem questionados sobre a relação da estética com a Educação Física, responderam em sua maioria, com falas fundamentadas em críticas aos profissionais que privilegiam a estética no espaço escolar, à sociedade de um modo geral e principalmente, à mídia – principal disseminadora da busca incessante de certos padrões estéticos de beleza. Em relação a isso, Betti (2004) nos esclarece que deveríamos entender os profissionais da Educação Física como mediadores do conhecimento da cultura corporal e de movimentos interessados na exercitação sistemática e intencional da motricidade, auxiliando-os na construção de uma leitura crítica da cultura imposta e das suas próprias culturas corporais.

    A seguir, têm-se algumas falas selecionadas como as mais ricas e claras que definem bem a relação conflituosa e polêmica que existe entre a Educação Física e a questão da estética.

    “Na teoria não existe nenhuma (...), porém a prática demonstra outra situação. A estética do corpo perfeito é o grande objetivo buscado através da Educação Física e seus profissionais” (Acadêmico 1 / 3º semestre).

    “Infelizmente, hoje em dia a relação entre Educação Física e estética se faz aos moldes de um corpo esteriotipado, padronizado pela sociedade. O corpo magro, musculoso, mas que nem sempre saudável” (Acadêmico 2 / 3º semestre).

    “No ambiente escolar, a estética não deve ser o principal foco a ser passado aos alunos. Deve-se buscar trabalhar elementos essenciais para a formação do indivíduo” (Acadêmico 6 / 3º semestre).

    “Nos tempos de hoje as duas estão muito ligadas, pois a mídia usa pessoas bonitas para promover as atividades” (Acadêmico 8 / 3º semestre).

    Nos dois próximos relatos, verifica-se que os acadêmicos entendem que a estética deva ser trabalhada somente pelos Bacharéis em Educação Física. Porém, os formados em Educação Física Licenciatura também tem a possibilidade de desenvolverem um trabalho consistente com essa questão. Ao trazerem para as aulas questões polêmicas a serem discutidas pelos alunos e ampliarem seu entendimento sobre corpo, beleza, cultura, por exemplo.

    “Como a Educação Física foi dividida em dois cursos (...) a parte da Licenciatura está muito mais ligada com o ensino didático, já o Bacharel em Educação Física está mais ligado a estética” (Acadêmico 3 / 3º semestre).

    “A nível de Educação Física Bacharelado a estética e o desporto são os principais objetivos ao contrário da Licenciatura que visa mais saúde e educação” (Acadêmico 9 / 3º semestre).

Em contrapartida às falas anteriores, nesta o acadêmico declara que se adquirirmos um corpo saudável, conseqüentemente, teremos uma mente sadia. Será que esta relação é tão simples quanto parece?

    “Não é só beleza, mas corpo sadio, mente sadia” (Acadêmico 5 / 3º semestre).

A estética e sua aplicação no contexto escolar

    O entendimento dos acadêmicos de como pode ser a proposta metodológica para o ensino da estética no âmbito escolar foram diversas. Em sua maioria, tentaram esclarecer que a estética pode ser trabalhada através de atividades que desenvolvam as necessidades de cada um, respeitando suas limitações.

    “De uma maneira que seja benéfica para a vida do educando, no sentido que não extrapole a essência de estar bem consigo mesmo, corporalmente, fisicamente, organicamente, ou seja, em contrapartida a esse padrão de beleza esteriotipado atualmente na sociedade. Mas que enfatize o lado saudável, respeitando suas características próprias corporais” (Acadêmico 2 / 3º semestre).

    “De nenhuma, pois a Educação Física Escolar não deve ser influenciada pelos parâmetros capitalistas, sendo que a estética é um deles” (Acadêmico 3 / 3º semestre).

    “Não fazendo da estética, a imposta pela mídia, o interesse principal do aluno” (Acadêmico 6 / 3º semestre).

    “(...) não acho importante frizar a estética e sim o desenvolvimento psicossocial” (Acadêmico 8 / 3º semestre).

Ainda nessa perspectiva, as duas falas abaixo interpretam de forma mais crítica e reflexiva como pode ser o trabalho da estética numa aula de Educação Física na escola.

    “Como forma de questionamento. Questionar constantemente as finalidades da Educação Física desviando o interesse destes da busca obsessiva pelo corpo fisicamente estético. Quebrar também barreiras que separam o belo do não belo e que acabam sendo uma forma de exclusão dentro do ambiente escolar” (Acadêmico 10 / 3º semestre).

    “Acredito que deva-se trabalhar com o conflito beleza (estética) versus saúde, pois nem sempre o corpo bonito é corpo saudável” (Acadêmico 4 / 3º semestre).

    A minoria das interpretações dos acadêmicos definem de forma técnica e acrítica como poderia ser trabalhada a estética na escola, neste caso, ao transferir atividades físicas de academias ou clubes para o meio escolar.

    “Através das atividades comuns em academias como ginástica localizada e aeróbica” (Acadêmico 1 / 3º semestre).

    “Com exercícios” (Acadêmico 5 / 3º semestre).

    “(...) praticando exercícios, jogos” (Acadêmico 7 / 3º semestre).

Considerações finais

    As funções atribuídas a Educação Física Escolar em períodos históricos, apesar de superadas, são desenvolvidas até hoje na escola, e ainda defendidas pelos próprios educadores. Entretanto, esta questão seria outro tema de discussão, visto que muitos destes professores formaram-se pelo modelo de racionalidade técnica, que predominavam a prática esportiva, o desempenho, entre outros.

    A Educação Física na medida em que lida com o corpo na (ou da) sociedade, tende a ser associada à produção, a formação e ao desenvolvimento de padrões também estéticos. Deste modo, é preciso desafiar os padrões hegemônicos de corpo.

    A contribuição que buscamos trazer concretiza-se no sentido de ampliar a visão das pessoas que vem a Educação Física como sendo alienada e descomprometida com a função educativa. Pois, o movimento humano é apenas o meio que fazemos uso para alcançarmos o fim e objetivo desta na escola, a Educação e o conhecimento da área. Ainda que seja meta da Educação Física desenvolver aspectos motores e físicos, o desenvolvimento cognitivo e psicossocial também fazem parte do rol de conteúdos a serem trabalhados. Sua proposta deve ser trabalhar nas aulas a consciência do corpo, valorizar a realidade e as experiências dos alunos e a prática cultural de outros povos e regiões. O trabalho corporal, qualquer que seja, deve se basear no respeito a si mesmo e na individualidade de cada um.

    Precisamos entender a Educação Física como um espaço reflexivo em torno das questões corporais, com isso ampliar o leque de discussões, hoje restritas a determinadas “imposições” estéticas, como o “modelo esportivo”. Não se trata de negar esse modelo, mas dialogar, também, com outras práticas corporais. Entendendo tais práticas, como expressões e comunicações entre sujeitos.

    Nesse sentido, a estética corporal não necessariamente deve ser encarada como um fenômeno em si, mas como parte de um amplo fenômeno que envolve a construção de identidades. Compreendendo essas identidades sendo constituídas no corpo e que esse corpo refere-se a um sujeito.

    Dessa forma, cabe a nós educadores, transformar esse entendimento limitado das funções da Educação Física, já que o Estado e as políticas educacionais só buscam manter seu sistema, com a população desinformada e acrítica da real situação em que vivemos.

Referências

  • ANZAI, K. O corpo enquanto objeto de consumo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, n.21, p.71-76, Jan./Mai., 2000.

  • BETTI, M. Corpo, cultura, mídia e Educação Física: novas relações no mundo contemporâneo. Revista Digital Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, a.10, n.79, Deciembro, 2004. Disponível em: http://www.efdeportes.com/ . Acesso em: 23/03/08.

  • COLETIVO DE AUTORES, Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 45. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.

  • GARCIA, R.P.; LEMOS, K.M. A estética como um valor na Educação Física. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, v.17, n.1, p.32-40, jan./jun., 2003

  • GUILHERMETTI, P. Do corpo medieval ao corpo moderno. Motrivivência, Rio de Janeiro, p.16-18, 1990.

  • KUENZER, A.Z. As mudanças no mundo do trabalho e a educação: novos desafios para a gestão. In: FERREIRA, N.S.C. (Org.). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

  • MORO R.L. Educação Física escolar: reflexão e ação curricular? Ijuí: Ed. Unijuí, 2004. (Coleção Educação Física).

  • PÁDUA, E.M.M. Metodologia da pesquisa: abordagem teórico-prática. 10. ed. São Paulo: Papirus, 2004.

  • PLATÃO. República. Tradução de 1949 de J.Burnet. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990.

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