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Benefícios do treinamento de força
para crianças e adolescentes escolares

 

 Escola Superior de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Laboratório de Pesquisa do Exercício (LAPEX). Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR)

(Brasil)

 Fernando Braga | Rafael Abeche Generosi

Daniel Carlos Garlipp | Adroaldo Gaya

rafaelgenerosi@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O treinamento de força com ou sem o uso de aparelhos ou com o próprio peso do corpo está se tornando cada vez mais popular dentro das escolas. No entanto, existem profissionais da área da educação física, bem como os próprios pais das crianças e adolescentes, que mantêm certas reservas quanto a este tipo de método de treinamento, devido a alguns conhecimentos populares que afirmam que este tipo de exercício é ineficaz perigoso quando aplicado ainda na infância. Porém, ao realizar-se uma busca na literatura específica e científica das áreas afins, percebe-se que as evidências são de que crianças ganham muitos benefícios quando participam de programas de treinamento de força. Em programas de treinamento devidamente planejados os benefícios são muitos e o risco de lesões é praticamente inexistente. Logo, esse artigo tem por objetivo apresentar os benefícios e orientações quanto à organização de programas de treinamento de força para crianças e jovens, principalmente quando a aplicação for realizada dentro do ambiente escolar.

          Unitermos: Treinamento. Força. Exercício.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008

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Introdução

    Treinamento de força, treinamento resistido ou treinamento com pesos podem ser definidos como sinônimos (Riewald, 2005). O treinamento resistido pode ser definido como uma forma especializada de condicionamento usado para a habilidade de produzir ou resistir a uma força (Riewald, 2005; Dowshen, 2001). É uma atividade esportiva que está ganhando muita popularidade entre crianças e jovens; por isso, motivo de discussões quanto aos benefícios entre pais, professores e médicos (Rafferty, 2005).

    Segundo Faigenbaum (2001), as crianças são estimuladas a participarem de atividades aeróbicas como natação e ciclismo. Mas não são encorajadas a participarem de atividades de treinamento resistido.

    Isso se deve a idéias errôneas quanto às conseqüências do treinamento de força para crianças, que fazem as pessoas pensarem que o treinamento de força seja perigoso para crianças e jovens (Dowshen, 2001).

    Alguns desses conceitos afirmam ser o treinamento de força inadequado para crianças, pois resultam em lesões ósseas, musculares e articulares, além de impedirem o crescimento normal (Carvalho, 2004).

    No entanto, na última década, os estudos apresentam evidências quanto à segurança e a eficácia dos programas de treinamento de força, para crianças e jovens, quando esses são devidamente planejados (Hoffman, 2002; Blimkie, 1993; Fleck, 1999; Kraemer, 2001; Falk & Tenenbaum, 1996). Assim, a utilidade do treinamento de força para crianças torna-se quase unanimidade entre os profissionais de saúde (Lavallee 2002).

    Simultaneamente, organizações como The American Academy of Pediatrics (2001), a American College of Sports Medicine (2000), a American Orthopaedic Society of Sports Medicine (1988) e a National Strength and Conditioning Association (Faigenbaum et al., 1996) apoiam a participação de jovens em programas de treinamento resistido, desde que os mesmos tenham planejamento adequado e supervisão competente.

    A despeito das preocupações com relação à segurança e à eficácia, os benefícios dos programas de treinamento resistido estão se tornando populares para meninos e meninas de todas às idades em escolas, centros esportivos e centros de recreação (Ashmore, 2003).

Benefícios dos programas de treinamento de força

    A participação de crianças em programas de treinamento de força regular resulta em diversos benefícios relacionados à saúde e ao desempenho, bem como melhoram as habilidades motoras e reduzem lesões em atividades esportivas e recreativas (Benjamin, 2003).

    Todavia, os exercícios para crianças e jovens devem ser aqueles que possam ser executados com relativa velocidade de movimentos, os quais são específicos para testes de desempenho motor. Os programas com exercícios de movimentos rápidos apresentam-se melhores para o desenvolvimento de força, em crianças, do que aqueles programas caracterizados por movimentos lentos (Faigembaum, 2001).

Benefícios relacionados à saúde

    Segundo Faigenbaum (2003), alguns programas de treinamento resistido para crianças ainda permitem dúvidas quanto à eficácia e segurança. Mas, em programas devidamente prescritos e competentemente supervisionados têm-se observado melhora nas variáveis relacionadas à saúde.

    E diversos são os estudos que demonstraram a influência do treinamento resistido na densidade mineral óssea (Morris F, Naughton G, Gibbs J & Wark J, 1997), composição corporal (Sothern et al., 2000), aptidão cardiorrespiratória (Weltman et al., 1986), lipídeos sangüíneos (Weltman et al., 1987) e bem estar psicológico (Holloway, Beuter & Duda, 1988).

Benefícios relacionados às habilidades motoras e desempenho esportivo

    Vários estudos demonstraram que jovens melhoraram significativamente no salto vertical e horizontal, na velocidade, agilidade e no arremesso de bola medicinal participando de programas de treinamento resistido (Falk & Mor, 1996; Flanagan et al., 2002; Lillegard et al., 1997).

    O treinamento também se mostra eficaz no desenvolvimento das habilidades motoras, embora não sejam vistos benefícios em todos os programas (Faigenbaum et al., 1993).

Redução de lesões

    No caso de lesões deve-se fazer um comentário a parte devido suas implicações. Nos EUA, por exemplo, milhões de meninos e meninas participam em projetos esportivos escolares e/ou comunitários. Os números aumentam ano a ano, entretanto com o número maior de participantes, também aumentam o número de lesões relacionadas aos esportes (Outerbridge & Micheli, 1995).

    Muitas das lesões são provocadas por calçados inapropriados, superfícies irregulares e deformidades nas pernas. Esses fatores de risco somados a prática regular de exercícios físicos implicam em uso demasiado das articulações e conseqüentemente causam lesões (Micheli, 1983).

    Conforme o American College of Sports Medicine 50% de todas as lesões em jovens, decorrentes de práticas esportivas, seriam evitadas se mais ênfase fosse dada ao desenvolvimento de habilidades de aptidão, principalmente as relacionadas a esportes (Smith, Andrish & Micheli, 1993).

    Portanto, o treinamento resistido pode diminuir a incidência de lesões em jovens atletas, pelo aumento da força músculo esquelético e o desenvolvimento muscular equilibrado em torno das articulações (Weineck, 1999). Afirmação apoida por Heidth et al. (2000) e Hewett et al. (1999) que observaram a diminuição das taxas de lesões, em adolescentes, que participaram de programas de treinamento resistido na pré temporada (Heidth et al., 2000; Hewett et al. 1999).

Orientações para programas de treinamento resistido

    Os programas de treinamento resistido devem ser recomendados para crianças e adolescentes, desde que seja parte de um programa bem delineado de atividade física que incluam outras atividades que desenvolvam outras capacidades como a aptidão cardiorrespiratória, flexibilidade, agilidade e equilíbrio.

    Para que o treinamento resistido seja seguro e eficaz, para crianças, algumas orientações devem ser seguidas (Faigenbaum, 2003; NSCA, 2005; AAP, 2001).

  1. Programa compatível ao nível de desenvolvimento das crianças. É importante que as atividades escolhidas sejam compatíveis com as capacidades das crianças. As atividades apropriadas para crianças, iniciantes em treinamento resistido, são os exercícios calistenicos, exercícios pliométricos, peso do próprio corpo, cordas elásticas e bolas de medicinais leves.

  2. Instrução dirigida por profissionais qualificados. Programas de treinamento devem ser conduzidos por instrutores qualificados, professores e treinadores que entendam os princípios fundamentais de exercícios resistidos e a individualidade de criança e adolescentes. Supervisão minuciosa, instrução apropriada à idade e um ambiente seguro para os exercícios são requisitos fundamentais.

  3. Iniciar o programa com exercícios simples e aumentar a carga gradualmente. Programas de treinamento resistido para crianças e adolescentes podem ser executados em 2 (duas) ou 3 (três) sessões por semana, em dias não consecutivos.

    Para iniciantes cada sessão deve ter apenas 1 (uma) série com exercícios simples, em um período de 3 (três) a 4 (quatro) semanas, e somente após conseguir a técnica adequada dos exercícios passar para 2 (duas) séries com exercícios multiarticulares.

 

    Em cada série, os exercícios devem atingir todos os principais e maiores grupos musculares; exercícios para membros inferiores, ombros, peito, costas, membros superiores, abdominais e lombares. Realizados entre 6 (seis) a 15 repetições.

  1. Princípios para um treinamento saudável. Carga apropriada, progressão gradual e recuperação adequada entre as sessões de exercícios são considerações importantes.

    O programa de treinamento deve respeitar a capacidade de cada participante. Em programas de treinamento de força bem delineados a intensidade, o volume e a progressão devem ser cuidadosamente prescritos.

  1. Técnica apropriada deve ser ensinada e reforçada. A forma e a técnica adequada dos exercícios devem ser reforçadas. Em alguns casos exercícios sem pesos podem ser sugeridos.

  2. Enfatizar o divertimento. Em programas de treinamento de força a melhora das habilidades, o sucesso pessoal e o divertimento são fatores que devem estar evidentes. O uso de registros personalizados em cada sessão pode auxiliar na melhora de força de cada participante, e fazer com que acompanhem o desenvolvimento.

  3. Programas de treinamento devem ter uma diversidade de exercícios. O acréscimo de novos exercícios, alterar o modo (modelo) de treinamento e variar o número de séries e repetições auxiliam a manter o programa desafiador e moderno. A introdução de exercícios calistênicos, cordas elásticas e bolas medicinais no programa de treinamento resistido pode ser benéfico, eficaz e divertido.

  4. Considerar múltiplos objetivos. Os objetivos de um programa de treinamento resistido não devem se limitar apenas à melhora da força muscular. O treinamento deve propor conhecimento sobre o corpo, promover procedimentos de treinamento seguro e ser um estímulo para que o participante tenha uma atitude mais positiva sobre o treinamento resistido e a atividade física.

  5. Ouvir e ensinar as crianças a ouvirem seus corpos. Professores, treinadores e pais precisam ouvir as preocupações, monitorar o progresso, compreender o desenvolvimento físico e psicológico das crianças e adolescentes. Jovens com níveis pobres de aptidão podem não estar aptos a tolerar a mesma quantidade de exercícios de seus companheiros. Nesse momento se faz necessários princípios de treinamento diferenciado, a utilização de cargas progressivas e equilibradas conforme as exigências e habilidades de cada indivíduo. Com treinamento específico se otimiza ganhos, previne-se o tédio, reduz-se o estresse por supertreinamento.

Conclusão

    A participação de crianças em programas de treinamento resistido ou de força dá a elas a oportunidade de melhorarem a saúde e qualidade de vida. Crianças que participam de programas de treinamento resistido apresentam menor propensão a riscos de lesões nos esportes e atividades que praticam regularmente.

    Organizações médicas e de aptidão apoiam a participação de crianças em programas de treinamento resistido quando bem planejados e com instrução conveniente.

    A participação de crianças nesse tipo de atividade pode favorecer os níveis de aptidão relacionados à saúde e melhorar o condicionamento de jovens que aspiram serem atletas em praticas de lazer e competição.

    Logo, muitos são os benefícios para crianças e adolescentes quando conduzidas por instrutores competentes, que conheçam os princípios e o desenvolvimento dos programas de treinamento de força.

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revista digital · Año 13 · N° 119 | Buenos Aires, Abril 2008  
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