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Saúde e qualidade de vida na terceira idade

Health and quality of life at the third age

 

Mestre em Educação

(Brasil)

Khaled Omar Mohamad El Tassa

khaled@irati.unicentro.br

 

 

 

Resumo

          As alterações na fisionomia demográfica das sociedades, com o crescimento da população idosa, vem sendo sentida claramente na contemporaneidade, onde a velhice vem recebendo maior atenção por parte de vários segmentos da sociedade. O confronto do tema com a realidade presente vem proporcionando discussões relevantes no contexto social, econômico, cultural e político, o que enfatiza o debate do papel exercido pelo idoso na sociedade. Tem-se como objetivos da pesquisa identificar a importância da atividade física na melhoria da qualidade de vida dos idosos e analisar de maneira subjetiva a interferência da atividade física regular para os idosos. A problemática a ser tratada na pesquisa consistiu em conhecer, descrever e interpretar o processo de envelhecimento e estabelecer relação na busca de um nível de qualidade de vida melhor à população idosa. Trata-se de uma revisão bibliográfica acerca do tema envelhecimento, saúde e atividade física, a partir de reflexões e ações que vem sendo realizadas junto às necessidades dos idosos, onde buscou-se analisar de maneira subjetiva a interferência da atividade física regular no cotidiano dos idosos.

          Unitermos: Idoso. Envelhecimento. Atividade física. Qualidade-de-vida. Terceira idade

 

Abstract

          The alterations at the societies’ demographic physiognomy with the old – aged population increase, it can be felt nowadays, where the old-aged people receive more attention from many societies’ followings. The themes’ comparison with the present reality provides discussions at the social, economic, cultural and politic context; it projects the old-aged function at the society. The search has the objectives to identificate the physical activity importance in the old-aged people’s quality life, and to analyze in a subjective way the interference of the physical activity for old-aged people. The problem to be discussed at the search consisted in knowing, describing and explaining the growing old process and to establish a relation in a investigation of a level of quality to the old people in their lives. It is a bibliographical revision about the theme: old age, health and physical activity, from the reflections and actions that it is being realized next to old-aged people’s necessities, where was analyzed in a subjective way the regular physical activity interference at the old-aged people daily.

          Keywords: Old-aged people. Growing old. Physical activity. Quality of life. Third age.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008

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1. Introdução

    O processo de envelhecimento e suas conseqüências se constituem em preocupações da humanidade desde o início da civilização. Os estudos realizados a partir do século XX, englobando inicialmente os aspectos biológicos do envelhecimento, mas que progressivamente foi abarcando todas as áreas do conhecimento, foram reunidos sob o título Gerontologia, cujo conceito consiste no estudo dos processos de envelhecimento, com base nos conhecimentos biológicos, mental, social e comportamental.

    Conforme apresenta Freitas (1) foi no início do século XX, que a ciência do envelhecimento teve grandes avanços, onde os pioneiros Metchnikoff e Nascher em 1903 e 1909, respectivamente estabeleceram os fundamentos da gerontologia e geriatria, onde em 1903 Elie Metchnikoff defendeu a idéia de criação de uma nova especialidade voltada para o estudo do processo de envelhecimento, a gerontologia, denominação obtida a partir das expressões gero - velhice e logia - estudo.

    A expansão do campo da gerontologia, se deu principalmente a partir da década de 1930, quando o campo de abrangência extrapolou aos aspectos biológicos, e o interesse em pesquisar e estudar os determinantes sociais, psicológicos do envelhecimento se tornou uma realidade. Atualmente, os avanços da gerontologia tem sido estimulados, dentre outros fatores, pelo grande interesse no estudo do envelhecimento, no tratamento de doenças resultantes do processo e na busca de um envelhecimento bem sucedido.

    Desta forma, a Gerontologia se constitui num vasto campo multidisciplinar de atuação, onde a Educação Física tem presença marcante, através da contribuição teórica e empírica, na construção sociocultural do fenômeno da velhice, favorecendo a educação, integração e participação dos idosos na vida social e propiciando desta forma, novas aprendizagens e relações, ampliando as possibilidades na manutenção da funcionalidade, da flexibilidade e adaptação dos idosos. Interfere também biologicamente, através dos comprovados benefícios propiciados pela atividade física minimizando os reflexos do envelhecimento, que é um processo contínuo durante o qual ocorre um declínio progressivo de todos os sistemas fisiológicos, favorecendo o bem estar de seus praticantes.

    Como já disseram inúmeros pensadores, o grau de desenvolvimento de determinada sociedade, não se mede apenas pela sua capacidade científica e tecnológica. O modo como são tratados os idoso e as crianças fornece um importante termômetro de sua civilidade. Uma sociedade que pretende ser desenvolvida não deve desprezar os conhecimentos acumulados, durante muitos anos, pelas gerações mais velhas. Tratar bem os idosos através de cuidados com sua saúde, é uma tarefa cada vez mais imperiosa em decorrência do aumento da longevidade humana e da natural fragilização física dos mais idosos.

    O atendimento ao idoso nas áreas de ação da Ciência do Envelhecimento, seja através de suas ramificações: a geontologia social, a gerontologia biomédica ou a geriatria, atuam sobre os múltiplos aspectos do envelhecimento e suas conseqüências. Para tanto, Martins De Sá citado por Papaléo Netto (2) acredita que,

    ... justamente nesta área do conhecimento que a relação interdisciplinar e, portanto, interprofissional é particularmente relevante. Existem áreas de investigação e prática que não podem ser abrangidas por uma única disciplina, caso típico da saúde do idoso, já que as questões biológicas estão imbricadas com as relações sociais e com expressões emocionais, valores culturais e recursos ambientais.

    Nesse sentido, a contribuição de profissionais das mais diversas formações e suas atuações em conjunto, de forma multidisciplinar faz parte do amplo campo disciplinar e profissional da gerontologia, onde assume grande responsabilidade no processo, a atuação do profissional de Educação Física e a sua competência em desenvolver um trabalho interativo a outras disciplinas, integrando à segmentos interdisciplinares visando o bem-estar do idoso através do conhecimento global gerado.

    Objetivou-se neste estudo conhecer, descrever e interpretar o processo de envelhecimento e e chamar a atenção para a importância da prática de atividade física na busca de um nível de qualidade de vida melhor à população idosa. Trata-se de uma revisão bibliográfica acerca do tema envelhecimento, saúde e atividade física, a partir de reflexões e ações que vem sendo realizadas junto às necessidades dos idosos, onde buscou-se analisar de maneira subjetiva a interferência da atividade física regular no cotidiano dos idosos.

2. O envelhecimento e a atividade física

    A retomada do debate sobre qualidade de vida apresenta-se como um dos temas centrais na contemporaneidade e projeta-se como uma necessidade que permeará o convívio do novo milênio. Tema que de alguma maneira foi esquecido ou no mínimo, descartado a um plano secundário pelo progresso do conhecimento científico e suas facilidades, pelas rotinas repletas de afazeres e pelas atitudes do homem moderno. Para Costa (3),

    O avanço tecnológico dos últimos decênios aumentou em muito a expectativa de vida e gerou inacreditáveis condições de conforto material. Entretanto, do ponto de vista físico, a qualidade de vida humana tem decaído, tendo em vista as inúmeras vantagens oferecidas pelo progresso, que a cada dia exige menos esforço corporal, levando os indivíduos a uma acomodação (sedentarismo), uma inércia diante das atividades cotidianas. Para o idoso essa mudança de hábitos tornou-se ainda mais prejudicial.

    O forte declínio nas taxas de mortalidade e fertilidade e a crescente longevidade das populações vem produzindo profundas mudanças no perfil etário dos cidadãos que tem relação direta em todo mundo com fatores sociais, econômicos, políticos, culturais, esportivos, entre outros.

    Para Papaléo Netto (4) o envelhecimento passou a ser mais amplamente estudado, a partir do início do século XX, dando ênfase não apenas a aspectos biológicos, mas também às condicionantes sociais e psicológicas. A partir deste período, constata-se a importância em aceitar o processo de envelhecimento não apenas contextualizado por fatores orgânicos e fisiológicos, mas também no campo das Ciências Sociais, onde, interagindo com as transformações corporais, as pessoas apresentam mudanças de valores, comportamentos, papéis, crenças ao longo de seus cursos de vida.

    Na atualidade, a velhice vem recebendo maior atenção por parte de vários segmentos da sociedade, como políticos, academias, mídia, Instituições de Ensino Superior, entre outros. Embora o envelhecimento seja muitas vezes associado a designações negativas, o confronto do tema com a realidade presente vem proporcionando discussões relevantes no contexto social, econômico, cultural e político, o que enfatiza o debate do papel exercido pelo idoso na sociedade.

    As alterações na fisionomia demográfica das sociedades, vem sendo sentidas claramente na contemporaneidade, aumentando as demandas sociais e econômicas em todo o mundo, inclusive modificando o conceito político de velhice. Jordão Netto (5) acredita que numa abordagem progressista, a adaptação ou ajuste ao sistema social não reflete grandes avanços para os idosos, mais sim o questionamento, a participação efetiva, enfim as lutas pela transformação da sociedade, com a participação efetiva dos idosos nas decisões.

    O crescimento da população idosa torna-se cada vez mais relevante no Brasil, pois já supera o crescimento da população total, onde essa população já soma 14 milhões e compõe 8,3% da população total de brasileiros (6). De acordo com dados enfatizados por Berquó (7), a verificação do número de idosos no total da população vem crescendo ao longo do tempo, passando de 4,2% em 1960, para 5,1% em 1970, 6,1% em 1980 e 7,1% em 1990. A autora enfatiza ainda, que a partir de 1980 as baixas taxas de natalidade aumentam o peso dos grupos etários de 15 - 64 anos e dos idosos de 65 anos ou mais.

Na mesma via de raciocínio, Goldestein (8) constata que:

    O segmento mais idoso da população brasileira sofreu um rápido aumento a partir dos anos 60, quando começou a crescer em ritmo bem mais acelerado do que as populações adulta e jovem. De 1970 até hoje, o peso da população idosa sobre a população total passou de 3% para 8% e esse percentual deve dobrar nos próximos vinte anos. Devido à redução nas taxas de natalidade, da ordem de 35,5% nos últimos 15 anos, e o aumento da expectativa de vida por ocasião do nascimento, que passou de 61,7 anos em 1980 para 69 anos nos dias atuais, a base da pirâmide populacional vem se estreitando nas últimas décadas. E existe ainda a expectativa de uma intensificação desse processo de envelhecimento populacional. Estima-se que a partir de meados do próximo século, a população brasileira com mais de 60 anos será maior que a de crianças e adolescentes com 14 anos ou menos.

    Essas alterações demográficas observadas em países em desenvolvimento também são sentidas na maioria das sociedades do mundo, como França, Inglaterra e outras, ocasionando mudanças na pirâmide etária populacional, onde para Berquó (9) "... passou-se de uma pirâmide de base larga e forma triangular, característica de regimes demográficos de altas taxas de fecundidade e de mortalidade, para uma forma mais arredondada de base reduzida, característica de regimes de grande redução de fecundidade".

    Nesse sentido, o envelhecimento populacional se constitui em um grande desafio para os países neste milênio, pois implica em mudanças profundas no contexto socioeconômico do brasileiro. Berquó (10) ressalta preocupações advindas no campo social e econômico, quando considera que,

    Hoje, com uma expectativa de vida em torno de 68 anos, já é comum a existência de bisavós, ampliando os laços geracionais, situação antes rara. No que concerne ao aspecto econômico, a abordagem tradicional, é de conceber o velho como um peso, em razão de ele não produzir, não trabalhar, e de consumir mais serviços de saúde e benefícios do sistema previdenciário, representando, assim, uma carga para a família e para o Estado.

    A expectativa de vida ao nascer de 1980-2001 da população brasileira passa de 62,7 anos para 68,9 anos , sendo 72,9 anos para as mulheres e 65,1 para os homens. Dados estes, que levam o Brasil a ocupar, segundo a Organização das Nações Unidas - ONU, através de sua Divisão de População, a 108ª posição no ranking das nações as quais foram estimadas as esperanças de vida ao nascer, que atualmente é liderada pelo Japão com 81,5 anos (11).

    Conforme Shephard (12), além de fatores de ordem interna, que abrangem herança hereditária, sexo, traços psicológicos, e fatores de natureza externa, associados a posição socio-econômica, estilo de vida e meio ambiente, outros motivos são observados para o crescente aumento no número de pessoas idosas, que incluem o declínio das taxas de natalidade, diminuição da mortalidade infantil, controle de doenças infecciosas, decréscimo do número de mortes prematuras e aumento geral da média de vida relacionado aos avanços da prática médica.

    Importante se torna refletir o papel do idoso, enquanto grupo etário inserido numa sociedade do consumo e conseqüente sociedade produtiva, onde estar e sentir-se útil significa produção. O corpo ao longo da histórica, sempre foi carregado de conotações negativas, onde desde a era industrial até o tempo atual, o corpo é visto dentro de parâmetros que valorizam a força, a produção, o rendimento e a funcionalidade corporal a serviço da classe dominante. Dentro desse contexto, o corpo que predomina na sociedade capitalista deixou de ter caráter saudável para dar lugar aos modelos corporais, fundamentado em parâmetros juvenis.

    Desta forma, pretendeu-se neste estudo investigar formas de atuação com grupos de idosos frágeis e idosos independentes, envolvendo a prática de atividade física na busca de uma melhor qualidade de vida, estabelecendo relações com enfermidades provenientes do processo de envelhecimento presente em nossa realidade como hipertensão arterial, osteoporose, diabetes, sarcopenia, depressão, entre outras. Objetivou-se também, contribuir para o desenvolvimento de estudos e práticas favoráveis ao envelhecimento bem-sucedido. Pois entende-se que políticas e programas que contribuem para que as pessoas idosas se mantenham saudáveis e ativas, se constitui numa necessidade decorrente do envelhecimento bem ativo global.

    Para Lawton citado por Paschoal (13) qualidade de vida na velhice é definida como uma avaliação multidimencional que adota parâmetros referenciais sócio-normativos e intrapessoal, a respeito da relações atuais, passadas e futuras entre o indivíduo idoso e seu ambiente. O mesmo autor elaborou um modelo de qualidade de vida na velhice, onde a multiplicidade do fenômeno da velhice é representada em quatro dimensões inter-relacionadas, que são as condições ambientais, competência comportamental, qualidade de vida percebida e bem-estar subjetivo.

    Corroboram na mesma via de raciocínio o grupo de especialistas da Organização Mundial de Saúde (14) no que se refere a qualidade de vida, onde estes definem que é a percepção do indivíduo acerca de sua posição de vida, de acordo com o seu contexto cultural e sistema de valor com os quais convive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.

    É notado grande dificuldade de estabelecer uma definição consensual de qualidade de vida, pois seus indicadores são bastante variáveis em quantidade e complexidade. Para Paschoal (15), "qualidade de vida é um conceito que está submetido a múltiplos pontos de vista e que tem variado de época para época, de país para país, de cultura para cultura, de classe social para classe social e, até mesmo, de indivíduo para indivíduo". É importante salientar, que em função da multiplicidade de fatores relacionados e da natureza abstrata do termo qualidade de vida, a construção histórica e cultural do homem e da sociedade vem determinando os padrões e concepções de bem-estar.

    A preocupação em desenvolver uma investigação com pessoas idosas que vivem em precárias condições materiais e sociais, se pauta na observação que o envelhecimento da população não é acompanhado por uma profunda melhoria da qualidade de vida dos idosos. Sabe-se que a sobrevivência desses idosos por um tempo mais prolongado no Brasil e no mundo é uma realidade, comprovada por dados estatísticos relacionados ao aumento da expectativa de vida ao nascer. Contudo, este aumento na longevidade, muitas vezes não vem sendo acompanhado em grande parcela da população com a devida qualidade. Enfatiza-se também na escolha do universo da investigação, a necessidade de realizar-se estudos com amostras que reflitam parte da realidade vivenciada pela comunidade idosa residente em Asilo.

    Neste contexto, aprofundar estudos envolvendo atividade física e grupos de idosos frágeis, fisicamente dependentes e que requerem cuidados, muitos com patologias decorrentes do processo de envelhecimento, e também como reflexo da dureza da vida a qual foram submetidos em faixas etárias anteriores, se constitui na intenção de conhecer e estabelecer estratégias para atuação em uma realidade de dificuldade vivenciada por grande parte de idosos. Intenciona-se que as práticas corporais diversificadas e suas relações, sejam construídas tendo como base grande parte de idosos encontrados na sociedade, e não apenas aqueles reconhecidos nos calçadões e nas orlas marítimas, ou então nos parques, piscinas, academias, onde os reflexos e marcas do tempo se apresentam de uma forma mais suave.

    Tendo com parâmetro as Atividade de Vida Diária (AVD), Spirduso (16) constata que o cidadão idoso passa por um período substancial com algum tipo de incapacidade, onde os homens vivem cerca de 10,8 anos neste estado e as mulheres 14,0 anos. Conforme a capacidade funcional, classificou os idoso em cinco níveis de funcionabilidade, onde procura-se mensurar as necessidades específicas de cada nível funcional, programa de exercícios físicos e bateria de testes para avaliação de indivíduos maiores de 60 anos,

–    Fisicamente dependente: indivíduos que não conseguem realizar algumas ou todas as atividades básicas de vida diária (ABVD) e são dependentes de outros para se alimentar e para outras funções básicas.

–    Fisicamente frágil: indivíduos que podem realizar ABVD mas não podem realizar algumas ou nenhuma das atividades necessárias para viver independentemente (AIVD) como fazer compras, lavar e limpar a casa.

–    Fisicamente independente: indivíduo que vive independentemente, usualmente sem sintomas de doenças crônicas, mas com baixo nível de saúde e condicionamento físico.

–    Fisicamente ativos: indivíduos que se exercitam pelo menos duas a três vezes por semana para sua saúde, por prazer e bem-estar.

–    Atletas:indivíduos que treinam quase diariamente e competem na sua categoria.

    O envelhecimento é um processo, onde o organismo envelhece como um todo, mas seus órgãos, tecidos, células tem envelhecimentos diferenciados, conforme Weineck (17), quando relata que “o organismo humano é composto por diferentes sistemas orgânicos, que estão sujeitos a um processo de envelhecimento diferenciado”.

    Pode-se relacionar como reflexo do processo de envelhecimento: a diminuição da força e da massa muscular; a atrofia do tecido ósseo, causando osteoporose, principalmente nas mulheres, devido a perda de sais minerais, tornando o osso mais frágil, poroso e quebradiço; no coração, um aumento de resistência vascular, dando-se um enrijecimento dos tecidos das válvulas cardíacas; ocorrem um enrijecimento e a diminuição da elasticidade dos vasos arteriais; um aumento da pressão arterial, sistólica e diastólica, tanto em repouso quanto em atividade; a diminuição da capacidade vital; entre outros.

    O avanço da idade é acompanhado por uma série de limitações que podem prejudicar a qualidade de vida na fase da velhice. Os avanços científicos e tecnológicos vem contribuindo para uma minimização temporária dos efeitos do envelhecimento, porém a sociedade vem encontrando inúmeras dificuldades na apresentação de instrumentos adequados para superação de problemas decorrentes do envelhecimento. Conviver com o envelhecimento exige práticas constantes de conhecimento e controle de si mesmo.

    Para Matsudo (18) o estudo envolvendo as diferenças e os benefícios advindos da prática cotidiana da atividade física, proporciona aos idosos um menor risco de doenças do sistema cardiovascular, doenças músculo-esqueléticas, entre outras e proporciona uma longevidade aumentada em aproximadamente dois anos . Além de uma necessidade da comunidade idosa, se constitui numa obrigação do poder público dirigente, em não apenas estar realizando ações eventuais, mas sim, desenvolvendo programas de conscientização da importância do tema, propiciando mudanças de comportamentos para uma vida mais saudável.

    Nesse sentido, um dos pressupostos para que o envelhecimento seja uma experiência positiva, é que esta fase de vida não implique necessariamente em doenças e afastamento, mas sim, como fase do desenvolvimento humano, em momentos de ganhos e adaptações de natureza compensatória. Desta forma, a Organização Mundial da Saúde (19) tem adotado o termo “envelhecimento ativo” para expressar a velhice bem sucedida, onde se define como sendo “o processo de otimização das oportunidades para a saúde, a participação e a segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem”. O conceito refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou fazer parte da força de trabalho.

    A respeito do envelhecimento de forma satisfatória, Shephard (20) acredita que o conceito de Anos de Vida Ajustados à Qualidade (AVAQ) merece destaque, como sendo uma integração das percepções de saúde, convivência e função social, estado de ânimo, durante todo ciclo vital da pessoa, ou seja, a qualidade global de vida de uma pessoa. Desta forma, o potencial para aumentar o AVAQ depende da integração das condições dos anos vividos com a qualidade de vida.

    Neste processo, dentre as mudanças em seus vários aspectos sociais, biológicos, psicológicos e sociais do idoso, assume grande impacto no envelhecimento a função biológica, onde ocorre um aumento na predominância de doenças crônicas relacionadas à idade. O avanço da idade traz uma série de limitações que podem deteriorar a qualidade de vida. Por mais que os avanços científicos e tecnológicos venham a contribuir para uma minimização temporária dos efeitos do envelhecimento, a sociedade necessita fornecer os estratégias adequadas na resolução de problemas advindos do envelhecimento.

    A realidade vivida pela população idosa exige o aprofundamento de estudos, nesse sentido, o direcionamento aos sujeitos do estudo, ou seja, grupos de idosos frágeis, que vivem em precárias condições em muitos aspectos, e deslocados `a margem da sociedade, reflete a preocupação e a necessidade de ampliar estudos para possíveis intervenções nesta grande parcela da população. Torna-se relevante investigar os encaminhamentos, implementações, implantações de programas, resultados na comunidade, enfim, as ações e compromissos com o coletivo na busca de uma população efetivamente consciente e saudável.

    Spirduso (21) propõe uma hierarquia das funções físicas dos idosos em cinco níveis: nível I - fisicamente dependente, nível II - fisicamente frágil, nível III - fisicamente independente, nível IV - fisicamente ativo e nível V - atletas.

    Nesse sentido, Matsudo (22) ressalta a importância do papel da saúde e da capacidade funcional como fator preditivo para a possibilidade do idoso viver em condições de independência e autonomia no cotidiano, enaltecendo inclusive, a importância da manutenção da capacidade funcional e da prevenção de doenças. Para tanto, um dos aspectos que tem sido objeto de várias pesquisas é a relação entre saúde, atividade física, qualidade de vida e envelhecimento, onde o estímulo e a manutenção da atividade física regular tem um demonstrado um impacto real na busca de uma qualidade bem sucedida.

    De acordo com essas considerações, verifica-se a importância na prescrição, acompanhamento e avaliação do desempenho físico e funcional de idosos através de programas de atividades físicas e exercícios, numa perspectiva da manutenção da independência funcional do indivíduo e conseqüentemente na melhoria da qualidade de vida.

    O programa de atividade física elaborado e executado levando-se em consideração características peculiares aos idoso, se constitui num importante instrumento de prevenção a inúmeras doenças inerentes ao processo de envelhecimento, como hipertensão arterial, sedentarismo, depressão, diabetes, obesidade, entre outras.

Para Costa (23)

As atividades físicas nas sociedades contemporâneas são uma necessidade absoluta, pois os avanços científicos e tecnológicos implementados neste século, com máquinas respondendo pela maior parte das tarefas e funções antes realizadas pelos homens, fizeram aumentar o sedentarismo e este, por sua vez, vem provocando a incidência das chamadas “doenças hipocinéticas” – doenças ocasionadas pela falta de exercício. Na velhice esses sintomas se tornam mais evidentes. Os idosos, sem dúvida, mais que qualquer outra faixa etária, precisam se movimentar, sob pena de transformar sua existência em uma crescente perda de autonomia, tanto no plano pessoal e individual, como nos diferentes graus de inserção social. Sabendo-se que o envelhecimento representa muitos fenômenos funcionando conjuntamente, necessário se torna considerá-lo num contexto plural e daí, portanto, assumi-lo na singularidade de cada sujeito do processo.

    Pesquisas importantes do Ministério da Saúde (24) comprovaram que a realização de um programa de atividades físicas dosado com homens e mulheres na faixa etária compreendida entre 60 e 70 anos traz melhoras consideráveis nas qualidades físicas, como resistência, mobilidade articular e principalmente a força. Nesta mesma via de raciocínio, considerando as novas propostas internacionais de atividade física, como forma de promoção da saúde da população, o Colégio Americano de Medicina Esportiva (25) apresenta algumas contribuições relacionadas a atividade física, exercício e envelhecimento, como: a participação em programas regulares de atividades físicas e/ou exercícios é uma modalidade de intervenção efetiva para reduzir e/ou prevenir alguns declínios associados com o envelhecimento; O treinamento aeróbico é efetivo para manter e melhorar as funções cardiovasculares e o treinamento de força está relacionado a compensação da perda da força e massa muscular e melhoria da capacidade funcional; Treinamento de equilíbrio auxilia na diminuição de quedas dos idosos.

    Nesse sentido, a prática de atividade física regular se constitui uma modalidade de intervenção para reduzir/prevenir numerosos declínios funcionais associados à idade, refletindo diretamente no aspecto socioeconômico, pois seus efeitos sobre a qualidade de vida global e grau de independência de idosos, incidem na redução da demanda de serviços médicos.

    De acordo com o posicionamento do American College of Sports Medicine (26), mesmo que a atividade física não promova sempre melhoras na condição fisiológica e de aptidão física, ela aumenta os níveis de saúde, reduzindo os fatores de risco para doenças crônico-degenerativas e mantendo a capacidade funcional. Desta forma, os benefícios associados à atividade física regular, favorecem a prevenção de doenças, manutenção da funcionabilidade física, visando a autonomia, e consequentemente, para a qualidade de vida do idoso.

    O processo de envelhecimento, normalmente está associado a uma variedade de limitações físicas, sociais e psicológicas, onde a dificuldade de desempenhar certas funções estabelece graus de dependência na realização de atividades cotidianas funcionais, que culminam numa deterioração na qualidade de vida, desta forma Shephard (27) acredita que "muitos idosos enfrentam uma deterioração crescente e substancial na qualidade de vida e assim uma discrepância substancial entre a longevidade mensurada pelo calendário e sua expectativa de vida ajustada a qualidade".

    Nesse sentido, a conscientização da importância da atividade física para pessoas idosas, como prevenção de doenças, manutenção da saúde ou reabilitação, se traduz em um aumento da expectativa ajustada a qualidade de vida, refletindo em melhores anos vividos pela população idosa.

    Nesta via de raciocínio, para Brotto (28) importante se torna que a atividade física, sendo ela esportiva ou recreativa, seja praticada de forma prazerosa, sem excessiva estimulação competitiva, valorizando a cooperação em detrimento da competição, auxiliando o idoso com inúmeros benefícios, como: combate a tensões; combate ao isolamento; melhora da auto estima; combate a depressão; reforço da auto-confiança; melhora do funcionamento orgânico; desenvolvimento da coordenação, concentração e o equilíbrio; desenvolvimento da força, a resistência e a mobilidade articular; favorecimento do relacionamento intra e interpessoal.

    O pressuposto fundamental da ação é o entendimento de que as atividades corporais, são esferas fundamentais para a educação integral do homem. Assim sendo, destaca-se que a partir das atividades experenciadas através do movimento humano há ampliação do conhecimento sobre os valores humanos como: conhecimento corporal, procurando reconhecer sua auto-estima, valores éticos influenciando nas atitudes, no espírito de cooperação entre o outro e eu, e outros.

    Nesse sentido, torna-se claro que a ação social efetiva de uma investigação com uma comunidade especial, é a compreensão de que o envelhecimento não mais aceita atividades físicas comuns. Assim, atividades corporais na qual existe uma enorme possibilidade de inserir aspectos ligados a valores humanos e à saúde já acima mencionados, se constituem em importantes instrumentos a serem desenvolvidos em programas de idosos, objetivando aumentar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que são frágeis, incapacitadas fisicamente, e que necessitam de cuidados.

3. Considerações finais

    Observa-se na contemporaneidade, uma mudança do paradigma da longevidade, onde apenas o entendimento de ser o tempo de vida de cada espécie, passa por transformações e assume significados relativos a qualidade dos anos vividos pelas pessoas idosas.

    São múltiplas e significativas as reflexões deste estudo, todas provisórias no sentido da dinâmica da vida, onde o conhecimento vem sendo construído. A perspectiva da investigação foi de conhecer e analisar as estratégias utilizadas para o atendimento aos idosos e de contribuir para o desenvolvimento de ideologias e práticas favoráveis ao envelhecimento bem-sucedido, tendo como eixo central a prática regular de atividade física, no sentido de delinear idéias e compreensões sobre a atividade física na terceira idade. Tomando como referência o que foi proposto pela investigação, é possível apontar alguns caminhos visando a busca de uma melhor qualidade de vida e um comprometimento cada vez maior para com o idoso na sociedade.

    Atividade física, qualidade de vida e velhice bem-sucedida foram temas centrais nas reflexões ao longo deste estudo. As questões relacionadas com os temas certamente têm a ver com o fato de que, no Brasil, o idoso ganha visibilidade, por constituir uma parcela cada vez maior da população.

    Para Gorzoni e Russo (29) os programas de condicionamento físico promovem diminuição do cansaço, elevação da capacidade funcional e conseqüente melhora da capacidade aeróbica, em idosos submetidos a programas de atividade física. Os autores relatam ainda, em investigação realizada em asilo, objetivando avaliar o impacto da atividade física no desempenho funcional de pacientes idosos, observou-se nos pacientes que realizavam que realizavam programa de exercícios físicos regulares "aumento da força muscular, ao lado de melhora de capacidade física, redução dos sintomas depressivos e conseqüente melhora da qualidade de vida".

    A fim de garantir a participação em atividades de educação, cultura e esporte, o Estatuto dos Idosos, no seu art.20, valoriza as atividades físicas na busca do bem-estar, e também enfatiza que favorecem a sociabilização, a manutenção da saúde e da capacidade funcional. Desta forma, importante se torna ressaltar o posicionamento de Costa (30), no que se refere ao envelhecimento como um processo,

... não é apenas na velhice que deva haver preocupação com o envelhecimento saudável e de boa qualidade, mas, sobretudo, durante todas as etapas da vida, seja pelo próprio indivíduo, seja pelos cuidados recebidos nas fases antecedentes. Há também que salientar que parte dessa responsabilidade recai sobre a sociedade e o Estado, a herança histórica e a genética de cada indivíduo.

    A prática de atividade física regular proporciona inúmeros benefícios comprovados por estudos nas áreas biológica, psicológica e social, onde a diminuição do risco de muitas doenças e problemas de saúde comuns na velhice, aliada a diminuição de gordura corporal, aumento de força muscular e capacidade cardio-respiratória, se constituem em objetivos na busca de uma melhor qualidade de vida.

Referências bibliográficas

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  3. Costa G de A. Atividade física, qualidade de vida e currículo: por uma velhice bem-sucedida. [Tese de Doutorado]. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2000. p. 199.

  4. Papaléo Netto M. O estudo da velhice no século XX: histórico, definição do campo e termos básicos. In: Freitas EV de et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro (RJ):Editora Guanabara Koogan; 2002.

  5. Jordão Netto A. Gerontologia básica. São Paulo (SP): Lemos Editorial; 1997.

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revista digital · Año 13 · N° 119 | Buenos Aires, Abril 2008  
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