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Nutrição, atividade física e diabetes

 

*Professor de Educação Física; Mestre em Ciências da Nutrição

**Nutricionista; Mestre em Ciências da Nutrição; Doutoranda em Tecnologia de Alimentos

Universidade Federal de Viçosa

(Brasil)

Ciro José Brito*

cjbrito@gmail.com

Ana Carolina Pinheiro Volp**

anavolp@gmail.com

 

 

 

 
Resumo

          Alterações sócio-demográficas e epidemiológicas têm elevado a prevalência de diabetes. Fatores genéticos e ambientais são os principais determinantes desta doença. A conscientização do paciente sobre a doença é vital para o sucesso no tratamento. Assim, a orientação nutricional e o aumento nas atividades físicas diárias são terapias fundamentais. A dieta saudável e atividade física melhoram a sensibilidade à insulina, diminui os níveis plasmáticos de glicose e melhora o perfil lipídico. Este texto tem por objetivo apresentar, através de uma revisão sistematizada, resultados que onde são avaliados os efeitos da atividade física e da dieta para o diabético.

          Unitermos: Nutrição. Atividade física. Controle glicêmico. Diabetes.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 119 - Abril de 2008

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Introdução

    Com o advento da tecnologia tem ocorrido a diminuição da atividade física e aumento do consumo de alimentos refinados, ricos em açúcares simples e gorduras saturadas. Estas alterações nos hábitos de atividade física e nutricionais levaram ao desequilíbrio entre a ingestão calórica e o gasto energético (1,2). No Brasil, estas tendências, juntamente com mudanças demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas estão refletindo num aumento considerável da prevalência de doenças crônicas não-transmissíveis, dentre estas o diabetes (3).

    O diabetes mellitus é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou incapacidade da insulina exercer adequadamente suas ações. Caracteriza-se por hiperglicemia crônica e alterações no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas. Em longo prazo esta doença leva à disfunção e falência de vários órgãos.

    A deficiência na secreção de insulina, na ação da insulina em tecidos alvo, ou ambas, resultam em hiperglicemia e outras alterações metabólicas. Quando o individuo não se adapta as alterações advindas do diabetes ocorrem complicações crônicas do diabetes (4,5).

    Alem dos fatores ambientais citados acima, carga genética também exerce influência na manifestação ou não da doença. Por se tratar de uma doença de fenótipo complexo fatores ambientais como o sedentarismo e o estresse podem influenciar na precipitação dos aparecimentos das complicações advindas do diabetes. Por outro lado, se o individuo se mantém ativo, alimenta-se adequadamente, o ambiente contribuirá para o não desenvolvimento das complicações advindas do diabetes (4,6).

    A importância de se conhecer a doença e a forma de tratá-la é essencial, uma vez que a descoberta precoce e a conscientização do paciente mudam o curso da doença (4,5). Desta forma, a orientação nutricional e estabelecimento de dieta para pacientes diabéticos, associado às mudanças no estilo de vida incluindo a atividade física são consideradas terapias de primeira escolha (4,5,6,7).

    A associação ente dieta saudável e atividade física melhora significativamente a sensibilidade à insulina, diminui os níveis plasmáticos de glicose, reduz de forma expressiva a circunferência de cintura (CC) e gordura visceral, o que por sua vez, melhora o perfil metabólico pela redução dos níveis de LDL- colesterol, triglicerídeos e aumento do HDL-colesterol (7,8).

    Resultados de estudos recentes em pacientes com diabetes fundamentam as condutas referentes a terapia nutricional e ao exercício físico como tratamento. Este texto tem por objetivo apresentar, através de uma revisão sistematizada, resultados que onde são avaliados os efeitos da atividade física e da dieta para o diabético.

Revisão de literatura

Terapia nutricional para o diabético

    Com base nas recomendações do American Diabetes Association (ADA), a Tabela 1 mostra os objetivos da terapia nutricional para todos os indivíduos que possuem diabetes (5):

Tabela 1. Objetivos da terapia nutricional no diabetes

1. Obter e manter um ótimo perfil metabólico, que envolve:

  • Níveis de glicose sanguínea dentro dos valores normais ou mais próximo do normal para prevenir ou reduzir os riscos das complicações do diabetes.

  • Um perfil lipídico e de lipoproteínas que reduza os riscos de doença macrovascular.

  • Níveis de pressão sanguínea que reduzam o risco de doença vascular.

Prevenir e tratar as complicações crônicas do diabetes. Modificação da ingestão de nutrientes e estilo de vida são apropriados para a prevenção e tratamento da obesidade, dislipidemias, doença cardiovascular, hipertensão e nefropatia, quando presentes.

 

2. Melhorar o estilo de vida e saúde através de escolhas alimentares saudáveis associadas a atividade física.

 

3. Individualizar as necessidades nutricionais, levando em consideração o estilo de vida e as preferências pessoais e culturais, respeitando a voluntariedade a mudanças.

Fonte: ADA, 2004

    A Tabela 2 mostra os objetivos da terapia nutricional que se aplicam a situações especiais, e incluem o seguinte (5):

Tabela 2. Objetivos da terapia nutricional situações especiais

 

1. Para jovens com diabetes tipo 1, fornecer energia adequada para assegurar crescimento e desenvolvimento normais, integrar terapia insulínica dentro das condições habituais de alimentação e atividade física.

 

2. Para jovens com diabetes tipo 2, promover e facilitar mudanças nos hábitos alimentares e de atividade física, reduzindo resistência insulínica e melhorando status metabólico.

 

3. Para mulheres na gestação e lactação, fornecer energia e nutrientes de forma adequada e individualizada.

 

4. Para pacientes idosos, garantir as necessidades nutricionais e psicossociais, respeitando o processo de envelhecimento individual.

 

5. Para indivíduos tratados com insulina ou secretagogos de insulina, fornecer educação auto-monitorada para tratamento (e prevenção) da hipoglicemia, doenças agudas e problemas na glicemia relacionados ao exercício físico.

 

6. Para indivíduos em risco de desenvolver diabetes, uma diminuição deste risco pode ser obtido quando houver encorajamento de atividade física e promoção de escolhas alimentares saudáveis que facilitem perda moderada de peso ou mesmo prevenir ganho de peso.

Fonte: ADA, 2004

Avaliação e estabelecimento do plano alimentar saudável

    Como ressaltado anteriormente, a adoção do plano alimentar saudável é fundamental no tratamento do diabetes (4,5). Para estabelecer as necessidades nutricionais do indivíduo, o primeiro passo é realizar a avaliação nutricional detalhada, incluindo a determinação do índice de massa corporal (IMC), CC, e percentual de gordura. O IMC (Tabela 3) e a CC podem classificar o risco de desenvolver doenças (Tabela 4). O IMC ou índice de Quetelet baseia-se na relação do peso (kg) e da altura (metros) ao quadrado, classificando os indivíduos de acordo com WHO (2003).

Tabela 3. Classificação do sobrepeso em adultos de acordo com o IMC

Classificação

IMC (kg/m2)

Risco de comorbidade

Baixo peso

Normal

Sobrepeso

Pré-obeso

Obesidade grau I

Obesidade grau II

Obesidade grau III

< de 18.5

18.5 - 24.9

>=25

25 – 29.9

30 - 34.9

35 - 39.9

>= 40

Baixo *

Baixo*

Aumentado

Moderado

Severo

Muito severo

* Risco de outros problemas clínicos. Fonte: WHO, 2003.

Tabela 4. Riscos e complicações metabólicas associadas a obesidade, em função de circunferência da cintura, por sexo

 

Aumentada

Muito aumentada

Homens

Mulheres

94 cm

80 cm

102 cm

88 cm

Fonte: WHO, 2003.

    A avaliação nutricional é utilizada para determinar limitações e possibilidades do diabético, levando também em consideração as preferências individuais. É importante ressaltar a probabilidade do paciente aderir as recomendações nutricionais (9). Por fim, é importante determinar o perfil metabólico antes de se estabelecer a terapia nutricional do diabetes.

    O plano alimentar deve ser individualizado e fornecer um valor calórico total (VCT) compatível com a obtenção e/ou manutenção de peso corporal desejável (4,5,6). As necessidades de energia são satisfeitas distribuindo-se refeições ao longo do dia. A divisão em pequenas cotas pode ser adotada quando necessário. A distribuição das refeições e o monitoramento da glicemia limita a freqüência de episódios de hipo ou hiperglicemia (9).

    Para diabéticos obesos, a dieta deve ser hipocalórica, com redução de 500 kcal a 1000 kcal do gasto energético total (GET) diário previsto ou da anamnese alimentar, com o objetivo de promover perdas ponderais de 0,5kg a 1,0 kg/semana. O GET pode ser calculado com praticidade utilização de 20kcal a 25kcal / kg peso atual / dia. Devem-se evitar dietas inferiores a 800kcal, pois não são efetivas para a redução de peso, e podem provocar deficiências em micronutrientes (4,5,6).

    Em indivíduos insulino-resistentes, a redução na ingestão energética e perda moderada de peso diminuem a resistência a insulina e glicemia em curto prazo (4,5,7,10,11).

    Programas estruturados que enfatizam mudanças no estilo de vida, incluindo educação nutricional, redução de gorduras (menos de 30% da ingestão total) e ingestão energética, atividade física regular e contato regular com profissionais, podem produzir perda de peso em torno de 5-7% do peso corporal (4,5,7,8). Desta forma, exercícios e modificação comportamental são muito úteis como adjuntos a outras estratégias para perda de peso. Os exercícios são fundamentais para manutenção do peso perdido (4,5,6).

    Dietas para redução de peso, quando feita de maneira isolada, são insuficientes para produzir perda manter o peso após a redução (4,5,7). As recomendações de ingestão de calorias e macronutrientes estão sumarizadas no Quadro 1.

Quadro 1. Composição do Plano Alimentar Recomendado para Indivíduos com Diabetes

Macronutrientes 

VCT 

Ingestão Recomendada

De acordo com as necessidades

Carboidratos (CHO)1 

Sacarose 

Frutose 

Fibras2 

Gordura total (GT)3 

Ácidos graxos saturados4 (AGS) 

Ácidos graxos poliinsaturados5 (AGPI) 

Ácidos graxos monoinsaturados6 (AGMI) 

Colesterol

Proteína

60 a 70% CHO + AGMI

Sem restrição

Não se recomenda adição nos alimentos

Mínimo de 20 g/dia

~30 % do VCT ou 80 a 85% CHO + GT

<10% das calorias totais

até 10% das calorias totais

60 a 70% CHO + AGMI

< 300mg/dia

15 a 20%

  1. O total de porções diárias desse grupo de alimentos varia de acordo com o VCT do plano alimentar prescrito.

  2. Selecionar alimentos integrais ou minimamente processados com baixo índice glicêmico.

  3. Devem ser evitados alimentos gordurosos em geral como carnes gordas, embutidos, laticínios integrais, frituras, gordura de coco, molhos, cremes e doces ricos em gordura e alimentos refogados e temperados com excesso de óleo ou gordura.

  4. Incluem os ácidos graxos saturados e os ácidos graxos trans. Recomendar até 7% se LDL-colesterol for >100mg/dl.

  5. Incluem os ácidos graxos ômega-3 os quais são encontrados em peixes como salmão, sardinha, cavala e arenque.

  6. O azeite de oliva possui 77% de AGMI e seu consumo é predominante na dieta Mediterrânea.

  7. Alguns indivíduos com LDL-colesterol >100mg/dl podem se beneficiar com uma ingestão diária de colesterol inferior a 200mg/dia

  8. Corresponde a duas porções pequenas de carne magra/dia, que podem ser substituídas pelas leguminosas (soja, grão de bico, feijões, lentilha, etc.) e duas a três porções diárias de leite desnatado ou queijo magro. O consumo de peixes deve ser incentivado por sua riqueza em ácidos graxos n-3. Os ovos também podem ser utilizados como substitutos da carne, respeitando-se o limite de duas gemas/semana, em função do teor colesterol. Excessos protéicos devem ser evitados.

    Para pacientes com diabetes tipo 1, a ingestão alimentar e o padrão de preferências devem ser determinados e usados como base para prescrições de necessidade de insulina. É necessário manter a regularidade alimentar, para o uso apropriado da insulina. Os indivíduos podem ser orientados a ajustar a insulina na pré-refeição para compensar as alterações nos seus planos de refeições, retardar a insulina na pré-refeição para refeições que sejam atrasadas e administrar insulina extra para a realização de pequenos lanches que não fazem parte do plano de refeições. A insulina também pode ser ajustada de acordo com a atividade física ou a quantidade de carboidratos ingeridos, porém para isto deve ser considerada a habilidade e o nível educacional do paciente (9).

    Em diabéticos do tipo 2, a ênfase deve ser dada na manutenção do peso desejado e nos níveis séricos de glicose, lipídios e de pressão arterial. A perda de 5- 7% do peso atual demonstra ter melhora em variáveis clínicos e metabólicos (4,5,7,10,11). As estratégias podem ser apontadas para melhorar a seleção de alimentos, fracionar as refeições ao longo do dia e em horários mais regulares. Caso a intervenção dietética e comportamental não tenha sucesso, pode-se administrar um agente antidiabético. Em situações de hipoglicemia, inicialmente, deve-se parar ou trocar os agentes orais, em caso de insucesso, deve-se manipular a dieta (9).

    Em situações onde se observa hiperglicemia persistente, e o controle nutricional e a utilização de hipoglicemiantes orais falham, deve-se utilizar a terapia insulínica. Neste caso a infusão de insulina deve ser feita com cautela e muito bem combinada com a dieta, pois pode ocorrer exacerbamento da hiperinsulinemia e concomitantemente promover ganho de peso (9).

Importância da atividade física no controle da glicemia

    A atividade física é indispensável no tratamento do diabetes (5). A pratica de atividades regulares auxilia no controle da glicemia, reduz a resistência à insulina (12), hemoglobina glicosilada (13), resistência vascular periférica (14), risco de doenças cardíacas (15), pressão arterial (16), níveis de colesterol no sangue (17), auxilia na perda e manutenção do peso, aumenta a vascularização periférica e o gasto energético de repouso (18).

    Recomenda-se para o diabético acumular pelo menos 1000kcal diárias em atividades aeróbias. O diabético deve manter controle da glicemia todos os dias, desta forma recomenda-se o a pratica de atividades físicas todos os dias da semana, com intensidade inferior a 70% do VO2máx., por pelo monos 30 minutos diários (18).

    Diversos estudos tem verificado a importância da atividade física no controle glicêmico no diabético e manejo de complicações advindas do diabetes (12,15,17,19).

    Em um estudo com 26 pacientes, Fritz et al. (16) observaram que a realização de 45 minutos de atividades 3 vezes por semana reduziram as concentrações plasmáticas de lipídios, a pressão arterial e o IMC (Índice de Massa Corpórea). Em pessoas idosas, reduziu o total de gordura e a gordura abdominal e menor risco de doença cardiovascular (17).

    Em um programa de aconselhamento sobre atividade física com duração de 12 meses, Kirk et al. (19) observaram que o grupo de diabéticos que foi acompanhado por profissionais aumentou significativamente as atividades físicas diárias. Entretanto, o autor não apresenta benefícios advindos do aumento das atividades habituais no grupo acompanhado.

    Já o estudo de Christ-Roberts et al. (20) verificaram que 8 semanas de exercício aeróbico aumentam significativamente a expressão do GLUT-4 em pacientes obesos diabéticos. Por outro lado, este período não foi suficiente para reduzir a resistência à insulina.

    Como observado nos dois estudos anteriores, os resultados benéficos na saúde do diabético tendem a aparecer em curto espaço de tempo. Brekke et al. (21) observaram que 16 semanas após modificarem os hábitos de atividade física um grupo de 71 diabéticos do tipo II reduziu os níveis de colesterol total, LDL, e CC. Yokoyama et al. (22) observaram que o exercício aeróbico por 3 semanas reduziu a significativamente a pressão arterial de diabéticos.

    O exercício pode auxiliar no manejo de co-morbidades associadas ao diabetes. Febraio et al. (23) observaram que 25 minutos de exercício aeróbico reduzem significativamente a liberação do TNF-α. Demonstrando ser o exercício um fator de proteção contra a aterosclerose e problemas cardiovasculares. Revisando sobre o exercício e a proteção cardiovascular em diabéticos, Li et al. (15) ressaltam que a atividade física pode ser um tratamento não farmacológico para problemas cardíacos em diabéticos, uma vez através da atividade física o paciente pode controlar a glicemia e os lipídios plasmáticos. Por outro lado, em algumas situações o exercício deve ser evitado por diabéticos. Em situações de hiperglicemia o exercício pode precipitar a angina e o infarto do miocárdio. Diabéticos com avançado grau de neuropatia podem desenvolver arritmia cardíaca durante o exercício. Antes de se iniciar um programa de atividade física o diabético deve verificar se apresentam ecocardiograma normal.

    Em relação à natureza do exercício, atividades de caráter aeróbico tem sido as mais estudadas. Dentre os efeitos benéficos do exercício aeróbico podemos citar o aumento do Vo2máx (25), aumento da vascularização periférica e maior expressão do GLUT4 (20). Já o exercício de caráter anaeróbico tem sido associado ao aumento da taxa metabólica basal, melhora no controle glicêmico e resistência à insulina, advindo do ganho de massa magra (25). Testando a combinação dos dois exercícios em um modelo de circuito (exercício de força combinado com intervalo aeróbico durante 8 semanas), Maiorana et al. (26) verificaram aumento na massa muscular, Vo2máx, tempo total de atividade, redução dos níveis de hemoglobina glicosilada, glicemia de jejum e percentual de gordura. Este estudo demonstrou que os ganhos advindos das atividades aeróbicas e anaeróbicas podem ser combinados em um único programa.

    Em relação à intensidade do exercício, maiores cuidados devem ser tomados com o diabético do tipo. De acordo com Hopkins (27), no exercício de alta intensidade aumenta-se a demanda de energia advinda dos carboidratos, como diabéticos do tipo I apresentam menores estoques de carboidratos corporais, o exercício em alta intensidade poderia levá-lo rapidamente a um quadro de hipoglicemia.

    Além da intensidade do exercício, outro fator que deve ser controlado é a infusão de insulina antes do exercício. Como o exercício tende a reduzir os níveis de glicemia no sangue, recomenda-se a reduzir a insulina aplicada antes do exercício a fim de se evitar a instalação da hipoglicemia durante a atividade física (28). Para se fazer o ajuste na quantidade de insulina aplicada deve-se levar em conta o tipo de insulina. Comparando a infusão de insulina rápida em relação à insulina normal, Yamakita et al. (29) observaram que a insulina de ação rápida, associada ao exercício aeróbico subseqüente, induz a hipoglicemia mais rapidamente em relação à insulina normal. Deve-se ressaltar que a carga de carboidratos ingerida antes do exercício foi de 9kcal/kg de peso corporal. Caso a refeição pré-exercício apresente concentração diferente de carboidratos, as respostas podem variar em relação às obtidas por estes pesquisadores.

    As recomendações dietéticas, prescrições de exercício e infusão de insulina pré-exercício devem ser ajustadas dia a dia. Não existe uma formula geral para tratamento, cada diabético responde diferentemente aos diversos estímulos ambientais. Nota-se que diabéticos não-insulino dependentes suportam níveis elevados de glicemia em repouso próximos a 200mg/dL, entretanto quando submetidos ao exercício estes valores declinam para 100mg/dL (30).

    Como observado neste estudo, a dieta balanceada e a atividade física regular são fundamentais para o sucesso no tratamento do diabetes. Por mais minucioso que seja o trabalho desenvolvido pelos profissionais, dificilmente os resultados serão alcançados quando o próprio paciente não se conscientiza sobre a importância em se adotar hábitos de vida saudáveis para o sucesso do tratamento. Persell et al. (31) observaram em 670 diabéticos que, o auto-conhecimento sobre a doença auxilia no seguimento das orientações dietéticas, na manutenção da atividade física planificada. Neste estudo o conhecimento do paciente foi positivamente relacionado ao controle da glicemia sanguínea.

Conclusões

    Este trabalho levantou através de revisão sistematizada pontos importantes a serem considerados no tratamento do diabético. Em relação aos aspectos nutricionais, dentre os principais objetivos a serem alcançados estão: a manutenção da glicemia dentro dos valores normais ou mais próximo do normal, manter o perfil lipídico e de lipoproteínas, manter a pressão arterial em níveis normais, prevenir e tratar as complicações crônicas do diabetes. Em relação à atividade física deve-se planejar a atividade de acordo com as preferências pessoais do paciente e oferecer tanto atividades aeróbicas, quanto anaeróbicas. Deve-se atentar para o ajuste na infusão de insulina antes do exercício a fim de se evitar um quadro de hipoglicemia durante a atividade.

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