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Prevenção das morbidades relacionadas ao enfraquecimento da
musculatura do assoalho pélvico feminino: novo horizonte de prevenção

 

*Centro Brasileiro de Estudos Sistêmicos – CBES, Curitiba, PR

**Orientação

(Brasil)

Gustavo Fernando Sutter Latorre*

Profa. Ms. Fabiana Flores Sperandio**

gtlatorre@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Mesmo num tempo de consolidação da prevenção de patologias através da atividade física regular, o assoalho pélvico, área tão importante do corpo feminino, ainda parece não estar recebendo a atenção necessária no tocante a prevenção primária de suas morbidades mais características. Dentre a vasta gama de problemas advindos do enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico feminino, destacam-se as incontinências urinárias, prolapsos genitais diversos e a diminuição da satisfação sexual. Trata-se de problemas delicados, não só por sua variedade, altíssima incidência e gravidade, mas também por sua qualidade. Seu fundo psicológico e social complexos provocam profundas repercussões emocionais que, tendo na mulher seu pivô, podem vir a afetar a saúde da família como um todo, ao influenciar a vida íntima do casal. Não obstante, a correção destas patologias é na maioria das vezes cirúrgica, e portanto responsável por incalculável sofrimento, além de consideráveis gastos anuais para o sistema público de saúde. A literatura tem apontado o envelhecimento fisiológico e as lesões específicas do parto como principais fatores relacionados aos problemas atrelados ao enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico. Apesar de a relação causal entre estas variáveis ainda não estar bem esclarecida, há evidência consistente de que exercícios específicos para o fortalecimento da musculatura em questão regridem total ou parcialmente quadros patológicos já instalados, como os aqui descritos. Sendo assim, parece evidenciar-se um poderoso horizonte de prevenção das morbidades relacionadas ao enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico, a partir de exercícios físicos específicos realizados de maneira regular durante toda a vida da mulher, ou no momento no qual for identificado um enfraquecimento incipiente. Para que estes exercícios façam parte do cotidiano da mulher é necessário fornecer acesso ao serviço de fisioterapia uroginecológica, o que poderia ser providenciado ao inserir-se um teste de função da musculatura do assoalho pélvico no arsenal propedêutico de rotina do médico ginecologista. Assim, na fase de vida da mulher na qual fosse detectado o início do enfraquecimento, um programa específico de fortalecimento corrigiria a situação, evitando a progressão do quadro patológico a níveis indesejáveis como em incontinências, prolapsos e outras disfunções que reduzem tão dramaticamente e cruelmente a qualidade de vida da mulher.

          Unitermos: Saúde da mulher. Prevenção. Fisioterapia. Uroginecologia.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 118 - Marzo de 2008

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Introdução

    Algumas vezes é simples a solução de problemas complexos. Às vezes, essa solução passa por um bom tempo despercebida.

    Por se tratar de um campo extremamente jovem – de menos de cinqüenta anos de existência – das ciências da saúde aplicadas, o conhecimento da fisioterapia por parte da maioria da população – e dos próprios profissionais de saúde – ainda permanece superficial. (TOMBINI, 2002). A situação é ainda mais desoladora ao se tratar de ramos específicos da fisioterapia, como a recente fisioterapia aplicada a uroginecologia e obstetrícia.

    No mesmo período de tempo, o reconhecimento do papel da mulher na sociedade, em justa busca pela equiparação de gêneros, vem crescendo exponencialmente. Com o feminismo, a valorização da mulher vem tornando evidentes as áreas de saúde voltadas ao bem estar e melhoria da qualidade de vida da mulher de hoje (WIKIPÉDIA, 2006).

    Como mostraremos, o desenvolver da ciência por vezes aponta a fisioterapia como solução simples e natural para problemas complexos. São soluções que, muitas vezes, podem evitar o surgimento dos problemas – o que caracteriza a prevenção, forte tendência da saúde moderna. Um bom exemplo dessa nossa referência, é a prevenção dos problemas inerentes ao enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico feminino (alguns tipos de prolapsos genitais, incontinências de urina, flatos e fezes, disfunções sexuais diversas, etc) a partir de exercícios simples para esta musculatura.

    Estas morbidades, de características singulares ao gênero feminino, são oriundas de exigências morfológicas e sociais diferenciadas, relacionadas às sobrecargas sofridas pelo corpo da mulher durante, por exemplo, o parto e o longo período de gestação, e agravadas com o envelhecimento fisiológico (POLDEN & MANTLE, 2000; PERUCCHINI et al, 2002). É fato que o corpo feminino é diferente do masculino. Todavia, num presente que vem evoluindo cada vez mais para a equiparação social de gêneros, as exigências diárias – particularmente as de ordem mecânica – as quais ambos são expostos, vem tornando-se cada vez mais equivalentes.

    Estas singularidades, que por um lado de maneira alguma significam fraqueza, por outro lado tornam imperiosa uma abordagem específica que venha a ajustar estas diferenças corporais para o mesmo tipo de exigência física. Neste contexto, como nivelador de singularidades – em especial para a prevenção de morbidades específicas – surge a fisioterapia preventiva aplicada a uroginecologia e obstetrícia.

Objetivo geral

    Avaliar a importância da fisioterapia como prevenção de problemas uroginecológicos relativos à fraqueza da musculatura do assoalho pélvico feminino.

Objetivos específicos

- Discutir a viabilidade da prevenção dos problemas inerentes à fraqueza da musculatura do assoalho pélvico feminino através de fisioterapia;

- Apontar a significância dos problemas inerentes à fraqueza da musculatura do assoalho pélvico na qualidade de vida da mulher;

- Levantar e descrever as tentativas de prevenção das patologias inerentes ao enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico existentes mundialmente;

- Apontar a eficácia dos exercícios específicos para o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico;

- Expor as possíveis vantagens que a prevenção destes problemas traria tanto para as mulheres quanto para o Sistema de Saúde;

- Propor uma forma fácil e eficiente de acesso de toda a população feminina um serviço de fisioterapia voltado à prevenção das disfunções da musculatura do assoalho pélvico.

Materiais e métodos

    Para esta revisão literária foram utilizados principalmente artigos selecionados dos periódicos American Journal of Obstetrics and Gynaecology, Amerrican College of Gynecologists & Obstetrics, Revista da RBGO e Revista Femina, publicadas entre janeiro de 2000 e agosto de 2006. A seleção dos artigos foi feita manualmente, a partir da leitura de todos os resumos compreendidos no período. Foram selecionados, indexados e estudados integralmente os artigos que continham informações sobre incontinência urinária e/ou fecal, prolapsos genitais, sexualidade, parto e trabalho de parto, biomecânica, cinesiologia e fisiologia do assoalho pélvico e exercícios para o assoalho pélvico. Foram utilizados também livros, trabalhos científicos acadêmicos de graduação e pós-graduação e artigos mais antigos, publicados em periódicos tradicionais e relacionados ao tema, estudados no período compreendido entre julho de 1999 a outubro de 2006 e proveniente de acervo particular do autor.

Prevenção dos problemas inerentes a fraqueza da musculatura do assoalho pélvico: o que sabemos?

    Em 1995, BÆ teorizou sobre a hipertrofia da musculatura do assoalho pélvico melhorar o suporte dos órgãos pélvicos. Em 2002, MÆrkved et al mostraram que o treino físico intenso da musculatura do assoalho pélvico, no pré-parto e no pós-parto imediato, foi eficaz na prevenção da incontinência urinária em até três meses no pós-parto, frisando ainda a carência de estudos sobre os resultados em longo prazo destes exercícios.

    Comparando as lesões perineais apresentadas no pós-parto de 94 nulíparas, Sze et al, 2002, mostraram que após o segundo estágio do trabalho de parto, os tipos de lesão sobre o assoalho pélvico são similares tanto para o parto normal quanto para a cesariana. Os pesquisadores chamaram atenção para a evidência de que o verdadeiro vilão do parto seria o primeiro estágio do trabalho de parto (encaixe do feto e dilatação do colo uterino), e não o período expulsivo em si. Frisaram que as cesarianas realizadas antes do início do período expulsivo foram protetoras. Corroborando, Dietz & Bennet, em seu polêmico estudo de 2003, mostraram que nos 200 partos estudados, a cesariana – independente de tipo – se apresentou como protetora do assoalho pélvico, evitando ou ao menos minimizando lesões.

    Para DeLancey, 2005, a alta prevalência destes problemas é um indicativo claro de que estratégias preventivas devem ser tomadas. Cita ainda que a reincidência responsável por segunda cirurgia, indica a necessidade de revisão dos tratamentos.

    Em estudo epidemiológico sobre as oportunidades de prevenção do trauma do assoalho pélvico no parto, Patel et al, 2006, concluem que o parto cesariano eletivo vem sendo descrito como alternativa de prevenção, e que os estudos epidemiológicos existentes vêm apontado oportunidades de prevenção primárias destes problemas.

Funções e repercussões pessoais e sociais da musculatura do assoalho pélvico e de seus problemas

    A musculatura do assoalho pélvico, composta por uma porção lisa e outra estriada esquelética, constitui a parte ativa de um complexo sistema de sustentação para as vísceras pélvicas, além do feto e seus anexos durante a gestação, e cuja gama de funções orgânicas desempenhadas dependem diretamente da eficiência de sua força de contração (PERUCCHINI et al, 2002; DeLANCEY, 1996). Perfurado pela uretra, vagina e reto, participa por este motivo de maneira decisiva nos mecanismos de continência urinária e fecal, na sustentação do feto e seus anexos, na formação do canal de parto, além de exercer importância no desempenho da função sexual (DeLANCEY, 1994 e 1996; PINTO & MACÉA; 2000; POLDEN & MANTLE, 2000; SAPSFORD et al, 2001).

    Ciente disto, não é difícil imaginar a expressividade do espectro formado pelos problemas observados no caso desta musculatura estar debilitada. De fato, verificamos que problemas como prolapsos de diferentes vísceras genitais, dos mais diversos graus, além de incontinências urinárias e distúrbios sexuais têm relação direta com músculos do assoalho pélvico enfraquecidos ou debilitados (HOWARD et al, 2000; MOREIRA et al, 2002; SAMUELSSON et al, 1999; SMITH et al, 1989; LIMA, 1997).

    Independentemente da divergência sobre o motivo pelo qual o fortalecimento muscular do assoalho pélvico influenciaria o desempenho sexual da mulher, a maioria dos autores concorda que a musculatura perineal forte é sempre relacionada a maior satisfação sexual, e que estes músculos enfraquecidos são relacionados inclusive a anorgasmia, que pode ser revertida com sucesso através de exercícios de fortalecimento específicos (KEGEL, 1952; HENTSCHEL, 1995; LIMA, 1997; POLDEN & MANTLE, 2000).

    Em busca da prevalência e dos fatores relacionados ao prolapso genital, SAMUELSSON et al, 1999, estudando uma população de 487 mulheres compreendidas na faixa etária de 20 a 59 anos, registrou que 53% das mulheres apresentavam fraqueza da MAP. Nas faixas etárias superiores, a média foi ainda maior: 67% para as mulheres entre 40 a 49 anos, e 74% para aquelas entre 50 a 59 anos, evidenciando importante relação com o envelhecimento.

    O longo estudo de SMITH et al, 1989, comparando dados eletromiográficos de fibra única do pubococcígeo de mulheres assintomáticas daquelas com incontinência urinária de esforço, prolapso genital ou ambos, concluiu que “a denervação parcial e conseqüente enfraquecimento da musculatura pélvica no prolapso das vísceras pélvicas corrobora com o antigo argumento de que o prolapso é causado pela lesão de músculos ou fáscias”. Ainda, em estudo paralelo, a mesma equipe mostra como é clara e pronunciada a diferença entre a função neuromuscular de mulheres continentes das incontinentes, avaliada pelo tempo de condução do nervo pudendo.

    Estudando os efeitos da tosse e da Manobra de Valsalva sobre a mobilidade do colo vesical, Howard et al, 2000, descreveram que durante os testes nestas duas situações de estresse, nulíparas apresentaram maior dureza da musculatura do assoalho pélvico quando comparadas à primíparas incontinentes ou continentes. Moreira et al, 2002, descreveram que, tanto através da avaliação por palpação digital quanto da por cones vaginais, a função muscular é menos eficiente nas mulheres incontinentes.

    Músculos do assoalho pélvico enfraquecidos são diretamente relacionados a queixas de insatisfação sexual, tanto por parte da mulher quanto pelo parceiro; precipitadores de episódios de incontinência urinária de vários graus – nos mais extremos inclusive com incontinência de flatos e fezes –; responsáveis por prolapsos genitais – vaginais, uterinos, vesicais, uretrais e retais – também em diversos graus; além de favorecerem o aparecimento de infecções do trato urinário, constipação e hemorróidas (GUEDES, 1997; SAMUELSSON et al, 1999; ROBINSON et al, 1999; BERGHMANS et al, 1998; POLDEN & MANTLE, 2000).

    Estes problemas são constrangedores, psicossocialmente complexos e responsáveis por cirurgias bastante traumáticas. A profunda repercussão psicossocial, por se tratar de questões íntimas e diretamente relacionadas ao pudor pessoal, contribui de maneira incisiva na redução da qualidade de vida da mulher (BERGHMANS et al, 1998; POLDEN & MANTLE, 2000). Não é difícil imaginar as repercussões familiares que tais problemas possam desencadear, ao influenciar de forma negativa a vida íntima do casal.

    A incidência destes problemas é elevada. Por exemplo, estima-se que cerca de 50% das mulheres de todo o mundo apresentam algum tipo de incontinência urinária (CAMARGO, 1998). Nos EUA, as disfunções do assoalho pélvico afetam certa de 300 a 400 mil mulheres ao ano, de forma severa o suficiente para exigir correção cirúrgica, sendo ainda que 30% destas cirurgias são por reincidência (DeLANCEY, 2005).

    Um estudo prévio (LATORRE, 2001) apontou que no Brasil, no período compreendido entre janeiro e dezembro de 2000, só no Sistema Único de Saúde 115.644 brasileiras foram submetidas a cirurgias corretivas de prolapsos genitais. De acordo com dados da Secretaria Estadual de Santa Catarina, o custo final do procedimento cirúrgico mais simples para este tipo de correção seria de R$ 283,60.

    Supondo-se, portanto, que todas estas 115,644 cirurgias tenham sido do tipo mais simples e barato, podemos estimar que o gasto mínimo para os cofres públicos, apenas na correção de prolapsos para o ano de 2000, tenha sido da ordem de mais de 32 milhões de reais.

Eficácia do fortalecimento muscular do assoalho pélvico

    Em sua sucessão de estudos, Kegel (1948, 1949, 1951) sugeriu, testou, e comprovou a eficácia de métodos para a avaliação da força muscular do assoalho pélvico, bem como de exercícios para o fortalecimento desta musculatura como forma de combate e prevenção à incontinência urinária pós-gestacional. Ele descreve que, com fortalecimento muscular da MAP, obteve continência em todos os casos tratados dentro de sua metodologia.

    Em 1962, Henriksen descreveu que o simples ato de iniciar e interromper seguidamente o fluxo urinário diminuía as queixas de incontinência urinária, sugerindo que este exercício levaria a um suposto fortalecimento da MAP, que teria portanto relação com o mecanismo de continência urinária.

    Benvenuti et al, 1987, apontaram 32% de cura e 68% de melhora acentuada em casos de incontinência urinária após três meses de fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico. Tchou et al, 1988, obtiveram melhora subjetiva dos sintomas e teste de estresse negativo para a incontinência urinária após quatro semanas de exercícios para o assoalho pélvico.

    Algumas mulheres perdem a capacidade normal de ativação inconsciente da musculatura do assoalho pélvico durante a tosse, impossibilitando a manutenção da continência, enquanto que outras tem essa capacidade mantida, porém a musculatura está fraca demais para que sua contração seja eficaz. Para ambos os casos, os resultados dos exercícios de fortalecimento local são excelentes (DeLANCEY, 1996).

    O estudo de Bernstein, 1997, onde foi avaliado através de ultrassonografia o resultado de exercícios de fortalecimento da MAP em mulheres incontinentes, revelou hipertrofia muscular das fibras daquela musculatura quando comparadas às do grupo de controle, formado por mulheres continentes. O autor descreve que a diferença verificada ultrassonograficamente entre mulheres continentes e incontinentes foi uma diferença na espessura das fibras musculares do assoalho pélvico, diferença esta que desapareceu após a realização dos exercícios de fortalecimento, evidenciando assim a origem hipotrófica da incontinência urinária.

    Berghmans et al, 1998, descrevem que exercícios proprioceptivos e de fortalecimento da MAP poderiam melhorar a situação de continência urinária, por incrementarem a ação esfincteriana ao redor da uretra e melhorarem a sustentação dos órgãos pélvicos. Os mesmos ainda sugerem que uma contração forte desta musculatura poderia pressionar a uretra contra a sínfise púbica, clampeando sua pressão interna. Finckenhagen et al, 1998, mostraram que um programa de fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico de seis meses resultou em cura ou melhora de 67% das pacientes.

    Moreira & Amaro, 2000, mostraram que 57% das pacientes submetidas ao tratamento com cones vaginais para a regressão de incontinência urinária apresentaram cura dos sintomas, enquanto que 33% apresentaram melhora. Peattie et al, 1988, mostraram que 70% das pacientes tratadas durante um mês com o então pioneiro treino com cones vaginais apresentaram cura ou melhora em relação à incontinência urinária.

    Bernardes et al, 2000, descreveram que todas as pacientes submetidas a cinesioterapia e eletroterapia obtiveram melhora parcial ou total nos quadros de incontinência urinária. Ainda, os autores concluíram que a cinesioterapia tendeu a ser mais eficiente. Amaro et al, 2000, ao submeter pacientes com incontinências urinárias a um tratamento misto de eletroterapia com cinesioterapia, mostraram que cerca de 40% das pacientes apresentaram sucesso na melhora ou cura dos sintomas.

    Berghmans et al, 2000, em revisão sistemática dos artigos sobre incontinência de urgência feminina, apontaram que quase todos os estudos incluíram resultados positivos a favor dos exercícios de fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico.

    Morkved et al, 2002, mostraram que o treino intensivo da musculatura do assoalho pélvico durante a gestação previne a incontinência urinária durante a gestação e após o parto. Dumoulin et al, 2004, descreveram que 70% das pacientes submetidas a um programa de fortalecimento das musculaturas abdominal e do assoalho pélvico apresentaram cura da incontinência urinária.

    BÆ et al, 2005, estudando os efeitos em longo prazo dos exercícios para o assoalho pélvico, concluiu que os resultados conseguidos através dos treinos não são mantidos com eficácia após 15 anos, e aderência ao treino neste período é igualmente baixa.

Considerações finais

    Nas últimas décadas muito tem se falado da atividade física preventiva como forma de manutenção da saúde. Preconiza-se o condicionamento físico como prevenção de problemas de saúde e otimização da qualidade de vida do cidadão em geral (WEINECK, 1998).

    Contudo, o assoalho pélvico feminino parece ainda estar sendo injustamente negligenciado no tocante à prevenção primária de problemas relacionados à falta de condicionamento físico: o assoalho pélvico feminino. As tentativas de prevenção encontradas na literatura vêm sendo direcionadas às lesões advindas do parto e trabalho de parto – hoje comprovadas através de Ressonância Magnética como mostram os estudos de DeLancey et al, 2003, Lien et al (2004), e Kearney et al, (2006). Ao que parece, num futuro não muito distante o parto cesariano eletivo deve emergir como alternativa significante de prevenção.

    O envelhecimento fisiológico surge como fator diretamente relacionado à ocorrência de incontinência urinária e prolapso genital, como evidenciado em estudos epidemiológicos como os de Samuelsson et al, 1999 e de Moreira et al, 2002. Deste modo, parece certo que qualquer tentativa de prevenção primária para problemas desta ordem deve considerar esta variável.

    O assoalho pélvico é responsável por funções fisiológicas femininas como a sexual, a excretora e a obstétrica. Parece que pouca atenção tem sido despendida com relação ao desempenho da musculatura do assoalho pélvico em função da sexualidade. A literatura é bastante restrita e tende para o teórico, mas mesmo assim aponta a boa função da musculatura do assoalho pélvico como positivamente ligada à maior satisfação sexual da mulher. Este dado, porém, parece necessitar de maior estudo.

    Quanto aos prolapsos genitais e as incontinências – em especial a urinária – há evidência de que ambos estão relacionados a músculos do assoalho pélvico enfraquecidos. Contudo, a relação causal destas duas variáveis ainda resta não esclarecida.

    É também consistente a evidência de que os exercícios para o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico são eficazes, e que melhoram substancialmente casos de incontinência urinária, como corrobora a revisão de BÆ, 2005. Entretanto, também no caso das incontinências a literatura se mostrou bastante limitada especificamente a apenas uma das patologias relacionadas ao enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico, a incontinência urinária de esforço. Do mesmo modo que para os prolapsos ou a disfunção sexual, os estudos parecem limitar-se a tentar corrigir uma situação patológica já instalada, com exceção de alguns poucos trabalhos visando o período gestacional, com enfoque nas lesões do parto, como o estudo de MÆrkved em 2002.

    Os problemas relacionados à fraqueza da musculatura do assoalho pélvico são complicados, não só por sua variedade, alta incidência e gravidade, mas também por sua qualidade. Seu fundo psicológico e social complexos provocam repercussões emocionais que podem afetar a saúde da família como um todo. Afinal, o fato de estas morbidades afetarem a região genital, pode influenciar negativamente a vida do casal e causar distúrbios na unidade familiar (BERGHMANS et al, 1998). O incalculável sofrimento particular para a população feminina no tocante a correção quase sempre cirúrgica da progressão dessas patologias, aliada aos gastos públicos com os procedimentos, justifica qualquer iniciativa no intuito de minimizar estas situações que contribuem significativamente na redução da qualidade de vida da mulher.

    Todavia, parece haver um vislumbre de solução. Estamos tratando, como mostramos, de problemas diretamente relacionados ao enfraquecimento – fisiológico e/ou traumático – de uma musculatura, a partir de eventos naturais à vida de qualquer mulher. Músculos podem ser fortalecidos por exercícios físicos, e a musculatura do assoalho pélvico – como mostramos – não foge à regra. É fato também que a relação causal entre este tipo de fraqueza e a gênese dos problemas citados ainda não foi satisfatoriamente elucidada. Mesmo assim, se os exercícios para o fortalecimento desta musculatura são eficazes, então ela pode ser mantida forte durante toda a vida da mulher, da mesma forma como acontece com a musculação estética. Evitando-se o enfraquecimento pode ser que, no mínimo, estes problemas sejam em grande parte minimizados, evitando especialmente sofrimento e constrangimento.

    Apesar de a eficácia dos exercícios para o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico estarem sendo comprovadas desde os trabalhos pioneiros de Kegel, na década de 40, consideramos que o uso destas técnicas não vem sendo aproveitado em sua totalidade, uma vez que são realizadas quase que sempre como procedimento curativo conservador.

    Corrigir situações que poderiam ser evitadas, como é o caso dos distúrbios sexuais citados, incontinência de stress, prolapsos genitais e vários outros, não é a melhor alternativa. Esta musculatura deveria ser mantida forte durante toda a vida da mulher, com exercícios simples para um envelhecimento saudável, além de condicionamento suficiente para as exigências do dia-a-dia e para outras esporádicas, como a gestação e o parto.

    É interessante que muitas vezes, de maneira precipitada, imagina-se que a aceitação de exercícios para os músculos da região genital não seria fácil pela população em geral. Porém uma rápida pesquisa de campo integrante de um estudo (LATORRE, 2001), envolvendo paciente entre 16 e 71 anos, internadas por qualquer motivo em um hospital da mulher, do SUS, em Florianópolis, Santa Catarina, mostrou que quase 90% das entrevistadas aceitariam sem maiores problemas ou constrangimentos participar de um programa de fortalecimento muscular do assoalho pélvico, inclusive o tratamento com cones vaginais.

    A primeira vista pode parecer complicado fazer com que os exercícios para a musculatura do assoalho pélvico façam parte do quotidiano da mulher de todo o mundo, principalmente, porque ainda é relativamente pequena a procura espontânea pelo tão recente serviço de fisioterapia. Porém, a solução parece-nos simples.

    Precisamos fazer com que a mulher chegue ao serviço de fisioterapia uroginecologia. É sabido que praticamente toda mulher consulta periodicamente o medico ginecologista. Se fosse incluindo na rotina propedêutica do medico ginecologista um teste de função muscular do assoalho pélvico, a fraqueza muscular poderia ser detectada na fase de vida da mulher na qual esta ainda em seu inicio. Isto abriria espaço para uma prevenção eficaz, através de fortalecimento muscular, evitando a progressão do enfraquecimento.

    Tendo em mente o bem estar da mulher e na prevenção da instalação de problemas, ao invés de tentar remedia-los tardiamente, propomos uma união ainda maior entre o medico ginecologista e o fisioterapeuta gineco-obstetra. Ao detectar uma fraqueza da musculatura do assoalho pélvico e encaminhar esta paciente ao fisioterapeuta, parece bastante provável que, na pior das hipóteses, os problemas relacionados acima seriam em sua maioria minimizados.

    Grande parte desta discussão é hipotética, e certamente necessita de quantidade maior e mais detalhada de estudos. Porém os métodos existem, assim como os profissionais para executá-los. Cabe apenas ao sistema de saúde como um todo explorar este meio e oferecer definitivamente para a população feminina o acesso à prevenção, lhe garantida por direito.

    Como mostramos em nosso primeiro estudo (LATORRE, 2001), a população anseia pelos serviços da fisioterapia. E o acesso a este serviço não é tão complicado: depende basicamente da conscientização e simples organização daquilo que já existe e da união dos os profissionais envolvidos, perante uma gama de problemas que afligem de maneira tão brutal e constrangedora um numero tão grande de pessoas em todo o mundo, responsável por situações sociais indesejavelmente complexas e que, provavelmente, pode de maneira simples ser evitado e combatido: com exercícios regulares.

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revista digital · Año 12 · N° 118 | Buenos Aires, Marzo 2008  
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