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A Maratona Ecológica Internacional de Curitiba: uma
causa político partidária como meio de promoção da cidade

 

*Orientador

Acadêmicos de Educação Física do UnicenP, Curitiba, Paraná

(Brasil)

Fabrício Ruaro | Thiago Luis Santos

Bruno Tozim | André Capraro*

bruno.toz@gmail.com

 

 

 

 

Resumo: 

          Maratonas não são criadas somente para promover o esporte, muitas delas estão envolvidas numa série de questões políticas com a intenção de promover o local da competição, o prefeito da cidade e uma série de outros fatores que acabam camuflando a realidade ao iludir o povo com um evento de grande porte e divulgação na mídia. Este artigo tem por objetivo contextualizar a Maratona Ecológica Internacional de Curitiba, que surge no intuito de promover a cidade e os governantes, projetando-a internacionalmente e aproveitando as características de Curitiba, rotulada como uma “cidade de primeiro mundo” ou então “capital ecológica”.

          Unitermos: Maratona. Ecológica. Curitiba. Política.

 

Abstract: 

          Marathons are not just created to promote the sport, many of them are involved in several political issues with the intention of promoting the place of the competition, the mayor of the city and some other factors that hide the real situation or even delude the people with an event of great dimensions and media broadcast. The main objective of the present project is to contextualize the International Ecological Marathon of Curitiba, which aim is to promote the city and/or its government, projecting it internationally and taking advantage of Curitiba’s features, labeled as “A First World City” or even “Ecological City”.

          Keywords: Marathon. Ecological. Curitiba. Politic.

 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 118 - Marzo de 2008

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    O foco central desta pesquisa é a prática esportiva conhecida como "corrida de rua", cujo principal evento esportivo desta modalidade é a corrida conhecida como Maratona, que se firma cada vez mais como um acontecimento esportivo das grandes cidades. Além de ser a prova clássica das Olimpíadas, ela fixou na cidade de Nova York onde, a partir de 1970, ela para o trânsito e leva milhares de pessoas às ruas. De acordo com FRIZZO (2006) a criação de grandes eventos esportivos como estes, capazes de mobilizar a cidade, tem gerado um amplo debate nos diversos setores da sociedade. Decorrem destes debates, uma série de questionamentos que transcendem os objetivos conceituais do esporte, as representações que estão envolvidas e a diversidade de idéias sobre as práticas esportivas tornando, assim, este tema interessante a ponto de ser objeto central de estudo em diferentes áreas de pesquisa.

    Promovida pela Prefeitura Municipal de Curitiba, a Maratona Ecológica Internacional de Curitiba teve o objetivo de projetar o nome da cidade e da atual gestão política. O percurso começa e termina no Centro Cívico, no centro da cidade, passando por diversos pontos turísticos e atingindo aproximadamente 28 bairros em 42.195 metros.

    Mesmo sendo considerada uma das melhores maratonas do Brasil, a Maratona Ecológica Internacional de Curitiba apresenta algumas questões a serem discutidas sobre alguns aspectos ideológicos que em sua divulgação, promovem a cidade de Curitiba pautada no mito de capital ecológica.

    Considerando que a maratona já faz parte do calendário esportivo brasileiro, em que a sua criação pode ter contribuído para a promoção de Curitiba como “capital ecológica”?

    A Maratona Ecológica Internacional de Curitiba pode ser considerada uma forma de turismo desportivo: sua organização tem uma área específica que atua diretamente na divulgação, atraindo espectadores de todas as partes do mundo e motivando atletas e delegações a praticarem o turismo. Os eventos são importantes para o setor turístico. Eles podem servir como uma ferramenta poderosa para atrair visitantes fora de temporada e criar uma imagem, divulgando a região (SIQUEIRA, 2004).

    A Teoria dos Campos de Pierre Bourdieu propõe a existência de um espaço social delimitado e ocupado pelos agentes, pelas instituições e pelas estruturas que compõem determinada atividade. No interior desse campo são travadas lutas, disputas e concorrências em função do papel ou posição espelhada pelo capital social, econômico ou cultural de cada indivíduo. Por meio dessas relações de poder – cada um possui um interesse específico, buscam-se as coisas materiais e simbólicas que estão em jogo.

    Neste caso, a prefeitura de Curitiba ao promover a maratona que leva em seu nome o simbolismo ecológico associado a uma questão de qualidade de vida, não tenta visar o lucro ao realizá-la. E sim obter um possível status entre uma disputa com outras cidades no intuito de ser considerada superior frente às mesmas. Esta forma de superioridade poderia ser explicada por Pierre Bourdieu como Capital Simbólico, que seria uma maneira de explicar como os agentes se situam dentro de um espaço social pelo conjunto de signos e símbolos.

    Bourdieu coloca em conflito, entre outras coisas, a disputa do monopólio de imposição da definição legítima da prática esportiva e da função legítima da atividade esportiva, amadorismo contra profissionalismo, esporte-prática contra esporte espetáculo, esporte distintivo – de elite – e esporte popular – de massa, e por que não lutas entre partidos políticos?

    Com o desenvolvimento das práticas esportivas e debates específicos em torno do Campo Esportivo, foi visto que o esporte seria um “meio extremamente econômico a partir de questões governamentais”, como afastar os jovens das drogas, mantendo-os ocupados em praticar esportes, e, também um meio para lucrar, com a construção de estádios, além de outros estabelecimentos esportivos para a realização de eventos.

    A partir de então, as organizações e associações esportivas que, originalmente organizadas sobre bases beneficentes, passam a receber o conhecimento e ajuda dos poderes públicos. O esporte, assim torna-se um instrumento e objeto de lutas entre todas as instituições total ou parcialmente organizadas para a mobilização e a conquista política das massas e que, ao mesmo tempo, competiam pela conquista simbólica da juventude – partidos, sindicatos, igrejas é claro, mas também patrões paternalistas. Conhecemos a concorrência que sempre existiu entre as diferentes instâncias políticas a respeito do esporte, desde o nível da aldeia até o nível da nação em seu conjunto. BOURDIEU (1983).

    “(...) de maneira cada vez mais dissimulada à medida em que o reconhecimento e a ajuda por parte do estado aumentam juntamente com a aparente neutralidade das organizações esportivas e dos responsáveis por estas organizações, o esporte é um dos objetos da luta política: a concorrência entre as organizações é um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento de uma necessidade social, isto é, socialmente constituída, das práticas esportivas e dos equipamentos, instrumentos, pessoal e serviços correlativos” BOURDIEU (1983, p. 146, 147).

    Em 1997, quando foi realizada a primeira Maratona Ecológica Internacional de Curitiba, o atual partido gestor se interessava em promover Curitiba como uma cidade de primeiro mundo e realizava projetos e obras com esse objetivo. Disputas político – partidárias contribuíram para que surgissem novas invenções e eventos, entre eles esportivos, como a própria maratona. Podemos então observar os agentes conflitantes (partidos políticos) envolvidos na suposta intenção com que a Maratona Ecológica Internacional de Curitiba fora criada.

    Segundo GARCIA (1997) Curitiba passa a ser divulgada de várias maneiras: cidade modelo, capital ecológica, capital de Primeiro Mundo graças à reconstrução da imagem sintética de Curitiba nos anos 90, quando o arquiteto Jaime Lerner assumiu pela terceira vez a prefeitura. Nesta gestão, a imagem - mito de Curitiba, é utilizada para a preservação de sua posição hegemônica frente a outras imagens da cidade e o turismo urbano apoiado na produção de uma imagem turística, torna-se veículo de políticas públicas locais.

    De acordo com o ex–vereador Jorge Samek (1996), Curitiba tem sido um laboratório de experiências urbanísticas. Esta é uma das “imagens–sínteses” projetadas nas últimas décadas: “Cidade Modelo”, “Capital Ecológica”. São facetas da representação mistificada de Curitiba, construída pela mídia no imaginário social. O que esta imagem positiva da capital paranaense tem de verdadeiro que deve ser reconhecido é o fato de construir-se num exemplo singular entre as cidades brasileiras de sucesso no campo de planejamento urbano. O sucesso da reforma urbana de Curitiba associa-se à liderança do ex–prefeito Jaime Lerner.

    Samek, que pertence ao partido opositor aos atuais gestores de Curitiba quando a Maratona fora criada, realiza uma crítica ao governo que se preocupava em realizar obras inovadoras com a intenção de camuflar a real situação da cidade. “Mais saneamento e menos monumentos”. Este é o slogan que Samek (1996) sugere para uma nova administração municipal comprometida com a inversão de prioridades. Nas últimas gestões, a prefeitura de Curitiba privilegiou a decoração urbana, investindo em paisagismo. Surgiram neste período obras como Jardim Botânico, Rua 24 Horas, Ópera de Arame, entre outras. No entanto, a população precisa mais de saneamento básico, um dos principais problemas da cidade, pois sabe que esta é uma condição essencial para uma boa qualidade de vida. Esta área foi deixada em segundo plano pelas administrações passadas. Certamente porque as obras de saneamento ficam por baixo da terra e, portanto, não rendem cartões postais.

    A questão ambiental não está resolvida em Curitiba, ao contrário do que sugere a propaganda da “Capital Ecológica”, largamente explorada pelo partido que governou a cidade durante décadas, muitos domicílios urbanos ainda não têm coleta de esgoto e nem coleta de lixo.

    Comparar Curitiba a cidades do Primeiro Mundo facilita a acomodação. A imagem–mito da cidade esconde bolsões de miséria na periferia e áreas metropolitanas que a aproximam mais ao Quarto Mundo, onde muitas pessoas vivem em favelas na “Capital Ecológica”, sem saneamento básico e sem coleta de lixo GARCIA (1997).

    Em um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), divulgado no jornal Gazeta do Povo de 22 de setembro de 2007, a poluição na “Capital Ecológica” é o dobro do tolerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), onde o valor recomendado da concentração de material particulado fino (pequenas partículas poluentes capazes de serem inaladas) não pode ultrapassar o limite de 10 micro gramas por metro cúbico. Em Curitiba, o índice captado foi de 21,43.

Considerações finais

    No projeto inicial, a Maratona Ecologia Internacional de Curitiba foi criada no intuito de promover a cidade, que passava por várias modificações e transformações devido a um planejamento urbano elaborado pela gestão atual com a finalidade de modernizá-la. Mas, no decorrer do estudo apresentado, percebeu-se que a maratona foi utilizada como mais um instrumento na construção da imagem-mito de Curitiba, que tinha, por finalidade, o objetivo de colocar-se à frente de outras cidades brasileiras, ao camuflar a real situação da “Capital Ecológica”.

Referências bibliográficas

  • BOURDIEU, Pierre. Como é possível ser esportivo? In: Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

  • FRIZZO, Giovanni. A criação da maratona de Porto Alegre. Disponível em: http://www.efdeportes.com Acesso em: 11/06/07.

  • GARCIA, Fernanda Ester Sánchez. Cidade espetáculo: política, planejamento e city marketing. Curitiba: Palavra, 1997.

  • MATHOSO, Eros Fernando. Estrutura Organizacional da Maratona Ecológica Internacional de Curitiba. Estudo de caso, 2004.

  • SAMEK, Jorge. A Curitiba do Terceiro Milênio. Curitiba: Palavra, 1996.

  • SIQUEIRA, Ana Carolina Rehme. O estudo da captação de turistas para Maratona Ecológica de Curitiba. Curitiba, 2004. Turismo, UNICENP.

  • SECRETARIA MUNICIPAL DO ESPORTE E LAZER. Maratona Ecológica de Curitiba. Disponível em: http://www.maratonadecuritiba.com.br Acesso em: 22/03/07.

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