efdeportes.com
Ludicidade, diversão e motivação como mediadores
da aprendizagem infantil em natação: propostas para
iniciação em atividades aquáticas com crianças de 3 a 6 anos
Ludicidad, diversión y motivación como mediador del aprendizaje infantil en la natación:
propuestas para la iniciación en las actividades acuáticas para niños de 3 a 6 años
Ludicity, diversion and motivation as mediating of the infantile learning in swimming:
proposals for initiation in aquatic activities for children of 3 to 6 years

   
*Bacharel e Licenciado em EF pela Unicamp. Mestre e Doutorando em EF -
F.E.F-Unicamp. Bolsista CNPQ - 2004/2005 (Programa de Mestrado - UNICAMP).
Docente das Faculdades Integradas Metropolitanas de Campinas (Metrocamp)
e Universidade Adventista de São Paulo (UNASP).
**Bacharel em EF pela Unicamp.

 
 
Rubens Venditti Junior*  
Vivian Santiago**
rubensjrv@yahoo.com
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre a importância da ludicidade nas aulas de natação para crianças de 3 a 6 anos, sendo a brincadeira um instrumento de base fundamental no contexto das aulas e também como um dos aspectos mais importantes nesta fase da vida da criança. Ressalta-se sua importância no crescimento e desenvolvimento infantil, servindo como incentivo para adesão e manutenção deste tipo de atividade. Trazendo toda essa vivência da cultura infantil para a aprendizagem de natação, motivando as crianças no ensino-aprendizagem, o trabalho visa mostrar propostas e estratégias de aprendizagem e motivação das crianças nas aulas de natação, através de exemplos de atividades práticas repletas de ludicidade e criatividade. O trabalho também busca mostrar considerações sobre os benefícios da natação, como prática corporal para todos os aspectos da criança nessa faixa etária, sejam eles cognitivo, sócio-afetivo e motor. A principal proposta é desenvolver algumas atividades que vivenciem a fantasia e o imaginário infantil, que trazem ferramentas para a melhoria de sua coordenação e estímulos para enfrentarem novos desafios e prosseguirem nas atividades e na modalidade esportiva destacada. O estudo mostra que as brincadeiras permitem que a criança construa conhecimentos dentro das atividades propostas em aulas. Também relata a criança interagindo com o meio líquido de forma divertida e agradável, possibilitando a vivência de habilidades relacionadas à natação; assim como a flutuação, respiração, propulsão; e até alguns estilos da natação. Sob o ponto de vista do profissional atuante, ressaltamos também a importância do professor como mediador do conhecimento e agente que deve ser responsável pelo incentivo e motivação das crianças para as aulas e atividades físicas no meio aquático.
    Unitermos: Natação. Brincar. Motivação. Desenvolvimento infantil.
 
Resumen
     El presente artículo tiene como objetivo plantear la importancia de la ludicidad para las clases de natación para los niños de 3 a 6 años, siendo el juego un instrumento de importancia fundamental en el contexto de las clases y como uno de los aspectos más importantes en esta fase de la vida de los niños. Reforzamos su importancia en el crecimiento y el desarrollo infantil, sirviendo como incentivo para la adherencia y el mantenimiento en este tipo de actividad. Trayendo todas estas experiencias de la cultura infantil para la natación, motivando a los niños el aprender, el trabajo apunta a demostrar propuestas y estrategias de aprender y la motivación de los niños en clases de natación, con ejemplos de actividades prácticas con la ludicidad y la creatividad. El trabajo también apunta a demostrar los beneficios de la natación, como prácticas para todos los aspectos de los niños: lo social-afectivo, lo cognoscitivo y lo motor). La propuesta principal es desarrollar algunas actividades para que vivencien la fantasía el imaginario infantil, que significan herramientas para la mejora de su coordinación y estimulaciones hacia nuevos desafíos y continuar en las actividades y en la modalidad deportivo. La muestra del estudio que las actividades lúdicas permite que los niños construyan y que descubran conocimientos dentro de las propuestas de las actividades en clases de natación. También se relaciona que la interacción del niño con el medio líquido en forma divertida y agradable, hace posible la experiencia de las capacidades relacionadas con la natación; así como la fluctuación, la adaptación a la respiración, propulsión; hasta algunos estilos de la natación. Del punto de vista de actuar profesional, también reforzamos la importancia del profesor como mediar el conocimiento y agente principal que es responsable por el incentivo y la motivación de los niños para las clases y las actividades en el entorno acuático.
    Palabras clave: Natación. Jugar. Motivación. Desarrollo en los niños.
 
Abstract
     The present paper has as objective to discourse about the importance of the ludicity for the swimming classes for children of 3 to 6 years-old, being the playing an instrument of fundamental importance in the context of the classes and as one of the most important aspects in this phase of the children's life. We reinforce its importance in the growth and infantile development, serving as incentive for adhesion and maintenance of this type of activity. Bringing some experiences of the infantile culture for the swimming learning, motivating the children in learning, the work aims to show proposals and strategies of learning and motivation of the children in swimming classes, through examples of practical activities full of ludicity and creativity. The work also aims to show propositions about benefits of swimming, as body practices for all the aspects of the children in this age (cognitive, social-affective and motor aspects). The main proposal is to develop some activities to offer the fancy and infantile imaginary that brings us tools for the improvement of their coordination and stimulations to face new challenges and to continue in the activities and in the detached sportive modality. The study sample that the ludic activities allow children to construct and discover the knowledges of the activities proposals in swimming classes. Also relates that the child interaction with the liquid environment in amused and pleasant forms of classes, makes possible the experience of aquiring the abilities related to swimming; as well as the fluctuation, breathing adaptation, propulsion; until some styles of swimming. Under the point of view of the professional acting, we also reinforce the importance of the teacher as mediating the knowledge and the principal agent which is responsible for the incentive and motivation of the children for the physical classes and activities in the aquatic environment.
    Keywords: Swimming. Playing. Motivation. Children development.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 117 - Febrero de 2008

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Introdução

    Desde que a natação começou a tomar uma maior importância no contexto educacional e no desenvolvimento infantil, faz-se pertinente ressaltar alguns aspectos importantes do mundo infantil, para que se torne possível envolver a criança em situações que tenham significado em sua cultura, na tentativa de tornar a aula de natação um ambiente agradável e prazeroso para a criança.

    Ao adentrar nos aspectos infantis, nota-se a importância de buscar conhecimentos sobre o desenvolvimento da criança para ter uma compreensão maior sobre seu crescimento e entendimento de suas necessidades. A faixa etária escolhida se deve ao fato de que a iniciação infantil em natação possui uma incidência elevada nesta faixa etária: crianças na idade de 3 a 6 anos. À medida que percebemos seus interesses por determinadas atividades que envolvem brincadeiras, fantasias, assuntos, podemos aplicá-los como ferramentas para as aulas, iniciando a natação e ensinando dentro do ambiente do imaginário e da brincadeira como contexto didático-pedagógico.

    A investigação que realizamos em relação à aprendizagem da natação se deu ao fato de observarmos durante as aulas ministradas, numa academia na cidade de Campinas - estado de São Paulo, o valor que envolvia uma aula com aspectos da cultura infantil. Quando mencionamos este valor, nos referimos ao aproveitamento das crianças nas aulas de natação devido à grande motivação que estas aulas com componentes envolvendo a ludicidade traziam. Será esta a temática do trabalho que se inicia agora!


1. Apresentação: Splash... É hora de cairmos na água!

    A maioria dos estudos em natação, pesquisados em livros na biblioteca da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na área de Educação Física (FEF), são referentes à performance e ao treinamento. A iniciativa de estudar e propor a atividade lúdica como importante ferramenta para a motivação no aprendizado, mais especificamente com crianças entre 3 e 6 anos, é constatar a importância para a aprendizagem de natação para essa faixa etária, visando primordialmente a atividade como prática corporal, ao invés de objetivar simplesmente rendimento e performance motora. Os benefícios podem ser vistos além do desenvolvimento motor da criança: podem ser observados no processo maturacional; nas relações afetivas (professor-aluno, aluno-aluno) e na manutenção de adesão à prática do exercício e da qualidade de vida de seus praticantes.

    A aplicação de atividades envolvendo a ludicidade desenvolve, nas crianças dessa faixa etária, possibilidades de se criar e descobrir livremente, através da exploração desse meio tão cheio de possibilidades e surpresas que é o meio líquido, a água e o universo da piscina. Além disso, o lúdico promove a motivação, suscitando emoções positivas, que são as grandes responsáveis pela prática de qualquer tipo de atividade no cotidiano das crianças, associando alegria prazer e satisfação com o caráter lúdico de jogos e brincadeiras, onde as crianças se encontram em total engajamento e envolvimento nas tarefas propostas pelo professor.

    As brincadeiras e a fantasia permitem também que a criança execute algumas atividades que são pré-determinadas, relacionadas a alguns movimentos básicos e fundamentais da natação enquanto atividade esportiva. Porém, não deixando de lado o prazer e a criatividade das aulas de natação, tanto para aquela criança menos hábil com maiores dificuldades, quanto para aquela que tem uma maior facilidade na aprendizagem. As brincadeiras têm como objetivo ressaltar a importância do processo motivacional da criança para o aprendizado da natação, não enfatizando simplesmente a performance técnica, mas proporcionando também oportunidades e situações de lazer, recreação, saúde e segurança.

    Para isso, tem-se como premissa fundamental despertar o interesse da criança buscando a motivação, o imaginário e seus anseios às aulas, pois são componentes essenciais para as atividades e satisfação das crianças (GALLAHUE e OZMUN, 2003).

O brincar proporciona a aquisição de novos conhecimentos, desenvolve habilidades de forma natural e agradável. Ele é uma das necessidades básicas da criança, é essencial para um bom desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo (MALUF, 2003: 7)

    Dificilmente encontramos crianças, nessa idade, que vão às aulas com a intenção de aprender a nadar. Elas freqüentam as aulas para brincar. Essa intenção geralmente é dos pais, visando uma maior segurança com seus filhos em relação à piscina, atendendo a recomendações médicas, ou até mesmo um bom rendimento por parte de seus filhos, projetando a imagem de que os filhos podem vir a ser eventuais atletas de alto-rendimento e ao mesmo tempo estabelecer vínculos com hábitos saudáveis para a vida de seus filhos (COAKLEY,1992; SMOLL, 1993; HELLSTEDT, 1995; BRUSTAD, 1996; PORTELLA, 2007).

    O mundo da criança necessita de algo atrativo. Então, é necessário tornar as aulas em um ambiente diferenciado e divertido. Logo, ela desenvolverá habilidades que a capacitarão em vivenciar um meio que proporciona muitos benefícios e prazeres, sensações agradáveis e repletas de desafios ou exigências, como é no caso da natação.

Brincar é o que as crianças pequenas mais fazem quando não estão comendo, dormindo ou obedecendo à vontade dos adultos. As brincadeiras ocupam maior parte de suas horas despertas e isso, pode, literalmente, ser equivalente como o trabalho para a criança (GALLAHUE e OZMUN, 2003: 236).

    Venâncio e Freire (2005) relatam que a infância é envolvida profundamente em atos de brincadeiras e fantasias que são aspectos naturais do ser humano que tem como uma de suas características a capacidade de brincar. Predominantes nas crianças, as brincadeiras trazem significados importantes de seu mundo.

    Alguns estudos pesquisados, referentes à influência da ludicidade no aprendizado da natação com crianças mostram que o ensino e a aprendizagem tornam-se mais alegres e prazerosos. Pereira (2001) coloca em seu trabalho uma relação com o "faz-de-conta" através de suas aulas temáticas de natação, usando-o como ferramenta de trabalho nomeando suas aulas como "ambiente lúdico-educativo". Em seu estudo, conta histórias às crianças envolvendo-as em um mundo de fantasia e realizações.

    Andries Jr., Pereira e Wassall (2002) trazem como processo pedagógico, numa visão não-tecnicista, uma proposta de iniciar a natação vivenciando o mundo animal na água, caracterizando as crianças como bichos e a partir disso encorajando-as e introduzindo a iniciação dos nados. Seus estilos são associados às características de cada animal, o que está destacado na metodologia dos autores.

    Contudo, cabe ao profissional estimular a criança, despertando seu interesse, em todo tipo de atividade, assim como na natação, favorecendo seu desenvolvimento e mantendo gradualmente seu interesse em prosseguir na atividade, além de propor desafios e ensinar novas habilidades.

    Finalizando, "[...] a adoção de atividades da cultura infantil como conteúdo pedagógico facilita o trabalho de professores das escolas de primeira infância, pois garante o interesse e a motivação das crianças" (FREIRE, 2002: 24). Dentro da perspectiva do caráter lúdico, como agente primordial da motivação, temos como proposta trazer ferramentas necessárias para que a criança tenha interesse e um bom desenvolvimento no aprendizado da natação.


2. Referencial teórico: um pouco de história

A Natação

    O esporte é um elemento importante no cotidiano do homem moderno desde criança até a terceira idade. Sua prática tem como finalidade uma série de objetivos, entre eles a ocupação do tempo livre, como forma de educação escolar, prevenção de doenças, e lazer.

    A natação é considerada um dos esportes mais completos e que possui menos restrições, como afirmam os autores Wilkie e Kelvin (1984: 12): "A natação é muitas vezes considerada como um dos desportos mais saudáveis. Recomendada pelos médicos, é tida como uma espécie de panacéia, para a vasta gama de doenças". Araújo (1993, [s.n]) traz através da Federação Internacional de Natação Amadora (FINA) que "[...] nadar representa a ação de auto-propulsão e auto sustentação na água que o homem aprendeu por instinto ou observando os animais. É um dos exercícios físicos mais completos".

    De acordo com Mansolo (1986: 2), a natação é fonte de grandes números de benefícios, tais como:

  • desenvolvimento cardio-circulátório e repiratório;

  • correção e manutenção da postura e prevenção de desvios da coluna vertebral;

  • aumento do volume sanguíneo e muscular do organismo;

  • maior desenvolvimento motor geral (coordenação e ritmo);

  • estimulação endócrina dos processos digestivos e metabólicos;

  • terapia para portadores de bronquite asmática (através do fortalecimento da musculatura responsável pela expiração);

  • recuperação e reabilitação de deficientes físicos e pós-operatório;

  • alívio das tensões e profilaxia da fadiga mental e física;

  • condicionamento físico, auto-confiança e preservação da vida humana no meio líquido (auto-preservação e salvamento);

  • desenvolvimento harmônico do físico e da estética (MANSOLO, 1986, p.2).

    Porém, é certo lembrar que apesar de seus benefícios, não é um esporte de fácil acesso para a maioria da população. Presente em academias e clubes, a natação ainda é restrita à população que possui um poder aquisitivo menor; por causa do acesso às piscinas e do pagamento dos serviços especializados.

    Segundo pesquisa feita pelo IBGE em 2003, mostrou-se que 23% da população está vivendo com um rendimento mensal de um salário mínimo (SM), ou menos, ao mês (atualmente 380 reais); ou seja, um percentual de quase ¼ da população do Brasil. Logo após vem 17,1% que vive com um a dois SM/ mês. E ainda temos os desempregados que constituem uma parte considerável da população. Poucos bairros possuem piscinas públicas, e ainda observa-se que não há profissionais qualificados que possam ensinar essa parte da população. Logo, pode-se perceber que ainda se torna difícil o acesso dessa atividade por toda a população brasileira.

    Uma entrevista feita pela revista Natação Hammer Head (2005), com o então Ministro do Esporte Agnelo Queiroz, que possui conhecimento dos efeitos positivos da natação, relata que está sendo desenvolvida uma política pública, discutindo questões relacionadas à Educação Física Escolar, onde uma das modalidades é a natação. Porém, o incentivo atualmente, é o oferecimento de uma bolsa mensal para aqueles atletas que já possuem algum rendimento1.

    A natação poderia ser analisada como um esporte de infinitas possibilidades e, pelos seus benefícios, deveria despertar um maior interesse por parte do governo, implantando-o em escolas públicas, clubes ou parques com profissionais capacitados, já que promove uma melhoria no desenvolvimento integral de cada pessoa, ajudando-a em sua formação; pois a natação é um esporte que traz benefícios à saúde, envolvendo questões psicológicas e sociais.

    Entretanto, apesar de muitas pessoas estarem impedidas de usufruir dessa atividade, vem aumentando o número de academias de natação e outras possibilidades de acesso à modalidade, que são locais que estão se estruturando para oferecer boas condições para quem vai praticá-la. Estruturas como: piscinas cobertas; aquecimento da água; materiais para o auxílio; novas metodologias; tratamentos e manutenção de piscinas mais acessíveis e menos agressivos ao ambiente e aos usuários, dentre outros.

    Sobre a prática, Araújo Jr. (1993) relata que:

Um aprendiz aproxima-se da piscina com dois intuitos: um, o utilitário, onde o desejo de aprender orientado por alguém prende-se à necessidade de defesa, à vontade de aumentar o campo de diversão e à prática de um exercício salutar, sem obrigatoriedade; outro é aquele que se dirige à iniciação desportiva com objetivos ou com olhos postos no futuro, quando, quem sabe competirá ( ARAÚJO Jr., 1993: 19).

    O aumento da procura da prática de natação, também se norteia pela conscientização das pessoas pelo benefício da prática esportiva, e outras vezes por orientação de um médico, já que é um exercício com baixo número de restrições. O movimento do nado solicita o exercício de uma série de músculos, sem causar impacto nas articulações. O corpo mantém-se estendido na água e sempre sendo alongado promovendo alívio de possíveis dores da coluna vertebral.

    Acarreta um aumento na atividade respiratória, por causa da pressão da água no tórax aliado ao exercício, fazendo com que os pulmões tenham que trabalhar mais, assim como o coração, pelo aumento das trocas gasosas aumentando a circulação. Sobre isso Klemn (1994) salienta que:

O aumento do metabolismo resulta da intensificação dos movimentos respiratórios e da aceleração da circulação do sangue, juntamente com o benéfico crescimento do tecido muscular provocada por esse fator (KLEMN, 1994: 21).

    Na criança, a natação propicia um desenvolvimento ótimo das funções orgânicas. "É aceito de forma geral que a atividade física é essencial para o crescimento normal da criança" (DE ROSE JR, 2002: 65). A prática dessa atividade é oferecida a todas as faixas etárias, incluindo-se aí desde os bebês até idosos. Muitos pais matriculam seus filhos ainda pequenos em programas de adaptação ao meio líquido, esperando que com isso os mesmos aprendam a nadar. Mas o que muitos não têm em mente é que os benefícios de um programa de natação infantil vão muito além do saber nadar.

    Sem dúvida, a natação infantil é um instrumento eficiente de aplicação da Educação Física no ser humano. E também é possível afirmar, no que diz respeito, por exemplo, ao desenvolvimento motor, sua decisiva participação na construção do esquema corporal e seu papel integrador no processo de maturação, como assinala Dasmaceno (1995). Fazendo uma relação da natação com o desenvolvimento motor, Araújo Jr. (1993) afirma que:

A natação, baseada no conceito da psicomotricidade humana, deve-se dirigir a uma formação em que a racionalização do movimento não iniba a criatividade, a espontaneidade, a liberdade do movimento e sua significação e sentido (ARAUJO JR, 1993: 32).

    Nesse sentido, a natação infantil não pode se deter somente ao fato de que a criança aprenda a nadar, mas como afirmam Navarro e Tagarro (1980) apud Santiago (2005), contribuir para ativar o processo evolutivo psicomorfológico da criança, auxiliando-a no desenvolvimento de sua psicomotricidade e reforçando o início de sua personalidade.

    A natação infantil, segundo esses mesmos autores, envolve desde a ativação das células cerebrais da criança, até um melhor e mais precoce desenvolvimento de sua psicomotricidade, sociabilidade e reforço do sistema cardiovascular morfológico.

    Podemos dizer, assim como Cirigliano (1981) apud Santiago (2005), que um programa de natação para crianças, quando elaborado e conduzido por um profissional competente, assume o importante papel de educar integralmente a criança, ajudando-a em seu desenvolvimento integral. Dessa forma, o fim que persegue um método de natação não deve ser unicamente que o aluno chegue a converter-se em um bom nadador. Como salienta Navarro (1978) apud Santiago (2005), o aluno deve também receber um acúmulo de experiências que, através das suas vivências lhe enriqueçam e contribuam à sua melhor educação integral.

    O professor deve estar atento, pois o organismo da criança passa por muitas alterações durante o crescimento e desenvolvimento, por isso deve-se respeitar o desenvolvimento biológico de cada um. Segundo De Rose Jr (2002), as funções orgânicas estão em constantes modificações e o exercício provoca na criança modificações no desenvolvimento orgânico, podendo favorecer ou prejudicar esse desenvolvimento. Makarenko (2001) trás dados científicos referentes à fisiologia evolutiva informando que uma atividade com uma orientação correta, contribui para o desenvolvimento das capacidades e atua na determinação da individualidade de cada criança, ou seja, estimulando para um bom desenvolvimento do organismo.

    Conforme o autor relata, crianças entre três e quatro anos se encontram em um período ótimo para o desenvolvimento do sistema motor, assim como o aperfeiçoamento da fala e mecanismos fisiológicos de movimentos voluntários. Estas são épocas da vida da criança que, deve-se aproveitar para estimular suas capacidades e potencialidades, com o objetivo de favorecer positivamente em seu crescimento e desenvolvimento. Porém, apesar de estarem em uma ótima fase para desenvolver a atividade corporal, é muito importante que o professor tenha a sensibilidade de observar a individualidade e necessidade de cada aluno no processo de ensino, para não tornar a atividade um fator negativo na vida da criança, quando, por exemplo, estes fatores não são levadas em consideração, conforme Makarenko (2001).

    Devido ao forte vínculo que a criança tem (principalmente as menores), especialmente com a mãe, quando separada, muitas vezes, ao iniciar as aulas, estranha. O professor e os colegas são pessoas desconhecidas, não trazendo confiança por serem pessoas alheias a seu grupo de interação social; o lugar, por ser um ambiente novo; a piscina, da qual muitas vezes sente medo pelos mistérios que o meio aquático pode provocar; então cabe ao profissional transmitir segurança e proporcionar descontração para um início positivo. Sobre isso, Palmer (1990) afirma que:

Por de tratar de atividade com excessivo componente psicológico, que envolve medo e ansiedade, o profissional com bom senso conseguirá um equilíbrio entre as aspirações individuais e as necessidades de socialização de seu público (PALMER, 1990: 34)

    Outras, porém, são mais soltas e tranqüilas em relação à piscina, com isso conseguem rapidamente se envolver e descobrem rapidamente o mundo novo e divertido que é debaixo da água. Assim, tanto para aquelas que têm maiores dificuldades quanto para aquela que possui maior facilidade na aprendizagem, acrescentar elementos lúdicos é muito importante para tornar as aulas motivantes e agradáveis adequando-as à faixa etária. Cabe ao professor estar sempre atento às características e necessidades de cada aluno, levando em consideração seu desenvolvimento para respeitá-lo e ajudá-lo em seu processo de aprendizagem.

    Apesar da água ser propícia ao relaxamento e aos processos de aprendizagem, como cita Palmer (1990), algumas crianças possuem medo da piscina, muitas vezes por algum trauma provocado por acidentes, ou simplesmente pela falta de seu contato físico, sentindo um domínio da água sobre ela (a criança):

A tensão muscular também pode ser de origem psicológica. O medo do ambiente aquático também pode resultar em impulsos motores eferentes, sendo transmitidos do cérebro para o músculos, causando contrações das fibras e cansaço prematuro (PALMER, 1990: 23).

    Por isso, deve-se envolvê-la em um ambiente de brincadeiras, mostrando-lhe que a natação é algo divertido, dando-lhe total segurança até que, ficando mais calma, consegue usufruir do momento sem se sentir dominada e acuada pela água. Assim, torna-se viável propor algumas atividades pelas quais poderá perceber aos poucos que vai adquirindo um melhor domínio sobre o local em que se encontra submerso, desenvolvendo sua autonomia na água.


A brincadeira e o ato de brincar

    Venâncio e Costa (2005) relatam o brincar e suas relações com o movimento humano, tendo como base algumas considerações na teoria psicanalítica de Winnicott (1975) que descreveu o brincar como essência do homem. As autoras caracterizam o brincar como impulso lúdico, que está presente no ser humano em toda sua vida, porém mais predominante nas crianças.

    Winnicott (1975) afirma que o indivíduo é envolvido em três esferas de realidade. São elas: a realidade interna ("eu"); a realidade externa (o "outro"); e a realidade intermediária, que constitui as duas realidades ("eu" e o "outro"). É na área de realidade intermediária que se dá origem às brincadeiras, manifestações e jogos. Para o autor, a criança aprende a manipular objetos de elementos do mundo externo, porém investindo-os de elementos do seu mundo interno. E é a partir daí que a criança simboliza, e controla o mundo externo.

    O brincar é um movimento que envolve componentes do mundo externo com objetos manipuláveis que terão existência própria, e de um componente interno que é a realidade psíquica, e através disso poderão ser reformulados pela fantasia, segundo Winnicott (1975). Para ele, o brincar é a atividade mais importante que a criança pratica, podendo implicar em um adulto saudável ou não.

Quando se move, quando brinca, joga, dança, celebra rituais, aos homens não executam uma simples ação física, mas um ato complexo, originário das primeiras relações estabelecidas no mundo, herdeiro das primeiras experiências no campo dos fenômenos transacionais (VENÂNCIO e COSTA, 2005: 34).

    Dessa forma, o brincar e outras formas de manifestações da cultura têm como objetivo a diferenciação do eu e do outro. Para Winnicott (1975), muitas vezes as brincadeiras podem assustar o indivíduo, já que dentro dela a criança simboliza, e pode causar uma tensão entre a realidade interna e a realidade externa, então surge o jogo como instrumento mediador desses aspectos que o brincar pode realçar.

    Já Huizinga (1999) dá uma atenção especial ao jogo e ao caráter lúdico em suas teorias. Para ele, o jogo se caracteriza como um sistema complexo, e afirma:

[...] é uma atividade que se processa dentro de certos limites temporais e espaciais, segundo uma determinada ordem e um dado número de regras livremente aceita, e fora da esfera da necessidade ou da utilidade material. O ambiente em que ele se desenrola é de arrebatamento e entusiasmo, e torna-se sagrado ou festivo de acordo com as circunstâncias. A ação é acompanhada por sentimento de exaltação e tensão, e seguida por um estado de alegria e distensão (HUIZINGA, 1999: 147).

    Freire (2005), diz que a educação infantil deveria ser uma escola de símbolos, fantasia e imaginação por conseqüência de que a criança é envolvida por essas características desde o inicio de sua existência, por isso o seu desenvolvimento e seu o aprendizado não podem ser separados desse aspecto infantil do imaginário. O autor ainda afirma que, compreender o desenvolvimento das funções simbólicas da criança não é diferente de compreender o desenvolvimento de suas funções motoras.

    Para Freire (2005), a EF deve insistir na habilidade de representação mental por meio da atividade simbólica. Como por exemplo, quando a criança aprende a se arrastar, a andar, a pular, ela passa a jogar com esses conhecimentos. Igualmente acontece, quando a criança começa a aprender alguns movimentos dentro da piscina. A partir desse momento, ela brinca e desenvolve sua autonomia na água.

    Por isso, pode-se afirmar que o prazer lúdico do jogo serve como motivação para uma determinada atividade, pois a atividade lúdica é um componente extremamente importante para a motivação pedagógica, e ainda contribui para o desenvolvimento da autonomia e criatividade da criança.

    Para Marcellino (2001), a atividade lúdica é um meio de expressão fundamental para as crianças, e pode ser um grande recurso pedagógico. Sobre o jogo, o autor afirma:

O jogo é um recurso metodológico capaz de propiciar uma aprendizagem espontânea e natural. Estimula a crítica, a criatividade, a socialização, sendo, portanto, reconhecido como umas das atividades mais significativas - senão a mais significativa - pelo conteúdo pedagógico social (MARCELLINO, 2001: 74).

    Com relação ao jogo, Piaget (1969) acreditava que ele é essencial na vida da criança. De início, tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus efeitos. Surge na criança a capacidade de representar, e para Piaget apud Santiago(2005), essa característica é uma das principais no desenvolvimento nessa idade. Em torno dos 2-3 e 5-6 anos nota-se a ocorrência dos jogos simbólicos, que satisfazem a necessidade da criança de não somente relembrar mentalmente o acontecido, mas de executar a representação. No jogo simbólico, a criança constrói símbolos, e é uma forma de auto-expressão. Segundo Piaget apud Santiago (2005), a função do jogo simbólico é satisfazer o eu pela transformação do que é real naquilo que é desejado. Para muitas pessoas os jogos infantis podem parecer terem pouco valor no desenvolvimento, porém Piaget assegura seu valor essencial no desenvolvimento da criança.

No jogo simbólico esta assimilação sistemática toma a forma de um uso particular da função semiótica (simbólica)- a saber, a criação de símbolos livres no sentido de expressar tudo que, na experiência da vida infantil, não pode ser formulado e assimilado por meio da linguagem apenas (PIAGET, 1969: 61).

    Pode-se notar que a linguagem não é a única e nem a mais importante ferramenta para que a criança nessa idade se relacione com o mundo, então o jogo é de grande importância nessa idade. Em período posterior surgem os jogos de regras, que são transmitidos socialmente de criança para criança e por conseqüência vão aumentando de importância de acordo com o progresso de seu desenvolvimento social. Para Piaget apud Santiago (2005), o jogo constitui-se em expressão e condição para o desenvolvimento infantil, já que as crianças quando jogam assimilam e podem transformar a realidade.

    Piaget (1969) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo por isso, indispensável à prática educativa. Para Freire (2005), o jogo é ao mesmo tempo lúdico e sério. Proporciona para aquele que joga um sentimento de auto-superação, além de proporcionar liberdade de expressão. O jogo gera tensão, incertezas, alternâncias, ou seja, é um ambiente instável que, propicia o processo de aprendizagem, e também, promove motivação para atividade. "A vantagem do trabalho lúdico é que o prazer conferido pela atividade é muito motivante e estimula a criança a superar dificuldades, que normalmente não superaria em outras circunstâncias" (FREIRE, 2005: 18). E ainda, atividade lúdica tem a possibilidade de promover uma boa interação entre professores e alunos.


A brincadeira e a natação infantil

    As brincadeiras e jogos que são oferecidos à criança devem estar de acordo com o período de desenvolvimento em que ela se encontra, para que a criança possa aproveitar da situação e desenvolver melhor. Daí, a importância do professor em conhecer o crescimento e desenvolvimento da criança. Por isso, no processo da educação infantil o papel do professor é de suma importância, pois é ele quem cria os espaços, disponibiliza materiais, participa das brincadeiras, ou seja, faz a mediação da construção do conhecimento.

    A desvalorização do movimento natural e espontâneo da criança em favor do conhecimento estruturado e formalizado, como por exemplo, um processo tecnicista de ensino da natação, a favor da perfeição da técnica e rendimento da criança, ignora as dimensões educativas da brincadeira e do jogo como forma rica e poderosa de estimular a atividade construtiva da criança. É urgente e necessário que o professor procure ampliar cada vez mais as vivências da criança com o ambiente físico, com brincadeiras e com outras crianças. Para que a criança possa realmente motivar-se em seu aprendizado.

    A natação, compreendida sob a ótica da brincadeira e da criatividade, deverá encontrar maior espaço para atuar como forma de motivação, na medida em que os professores compreenderem melhor toda sua capacidade potencial de contribuir para o desenvolvimento da criança.

    Negrine (1994) apud Santiago (2005) diz que, em estudos realizados sobre aprendizagem e desenvolvimento infantil, "quando a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-história, construída a partir de suas vivências, grande parte delas através da atividade lúdica". Segundo esse autor, é fundamental que os professores tenham conhecimento do saber que a criança construiu na interação com o ambiente familiar e sócio-cultural, para formular sua proposta pedagógica.

    Entende-se, a partir dos princípios aqui expostos, que o professor deverá contemplar a brincadeira como princípio norteador das atividades didático-pedagógicas, possibilitando às manifestações corporais encontrarem significado pela ludicidade presente na relação que as crianças mantêm com o mundo.

    O ensino da natação deve considerar a diversidade como um princípio que se aplica à construção dos processos de ensino e aprendizagem e orienta a escolha de objetivos e conteúdos, visando a ampliar as relações entre os conhecimentos da cultura corporal de movimento e os sujeitos da aprendizagem. Busca-se legitimar as diversas possibilidades de aprendizagem que se estabelecem com a consideração das dimensões afetivas, cognitivas, motoras e sócio-culturais dos alunos.

    Fica evidente que ao trabalhar com uma determinada atividade, no caso a natação, o professor não pode atribuir seu conhecimento simplesmente na atividade proposta, mas é necessário que ele aprenda a conhecer o mundo da criança, suas manifestações, seus interesses e o desenvolvimento.

    As brincadeiras das aulas de natação devem ter relação com a cultura infantil, e com a fantasia e o imaginário da criança. Atividades que encorajam as crianças com a intenção de promover um bom relacionamento com a água e possibilitar inúmeras alternativas de expressão dentro do meio líquido.


Motivação e ludicidade

    Como se sabe, os indivíduos não reagem da mesma forma a um certo estímulo, é necessário algo que se motive para uma determinada ação. Segundo Winterstein (1992), é necessário um fator interno que desencadeie uma determinada ação, direcionando a um objetivo ou meta de realização. Nesse sentido, pode-se afirmar que motivação tem relação com a estimulação que dá um direcionamento a um comportamento.

    Os motivos influenciam a maneira que as pessoas vêem o mundo e suas ações (WINTERSTEIN, 2002). Os fatores que influenciam um indivíduo podem ser de origem interna ou externa, segundo Murray (1978), que classifica os motivos podendo ser eles inatos (primários); ou adquiridos (de acordo com as necessidades sociais, como por exemplo, a agressividade, realização, passividade, defesa, filiação, autonomia, amparo).

    Uma das teorias estudadas atualmente na área da Educação Física, do esporte e do exercício é o motivo de realização, que se refere aos estudos de Heckausen (Winterstein, 1992: 79), a uma "busca da melhoria ou manutenção da própria capacidade nas atividades onde é possível medir o próprio desempenho, podendo levar a um sucesso ou a um fracasso". Ao realizar determinada tarefa, apresenta-se uma certa expectativa de sucesso ou medo do fracasso. O medo do fracasso relaciona-se à noção de incompetência que o indivíduo tem de si mesmo ou, no que diz respeito ao medo das conseqüências sociais.

    Os indivíduos com forte motivação para a realização se empenham mais, aprendem mais depressa, assumem responsabilidades pessoais pelos seus atos com riscos moderados. Já indivíduos que possuem baixo nível de motivação para a realização apresentam uma ansiedade elevada em situações de avaliação e geralmente escolhem tarefas com dificuldades extremas, ou tarefas muito fáceis (WINTERSTEIN, 2002).

    Porém, aumentando o nível de motivação para a realização do indivíduo é provável que ele consiga enfrentar novas situações, desenvolvendo sua auto-confiança e auto-estima, que são características que influenciam o indivíduo em sua interação social, satisfação, persistência e esforço, além de suas escolhas pessoais.

    Dessa forma, mostra-se que o papel do professor é muito importante porque ele propõe desafios, com diferentes níveis de complexidade, dando oportunidade à determinação e autonomia dos alunos, permitindo também que os alunos escolham os níveis de dificuldades da tarefa, atribuindo as causas do sucesso ou fracasso, ao esforço e capacidades pessoais ou internas.

    Nesse sentido a natação infantil tem a possibilidade de desenvolver uma melhoria na auto-confiança e auto-estima da criança, já que nas aulas encontram-se situações e desafios que devem ser enfrentados. Atividades que desenvolvam a autonomia da criança fazem com que o aluno se motive a superar a dificuldade da tarefa.

    Portanto, dentro desta perspectiva, pode-se notar a influência da brincadeira na construção de sentimentos e de comportamentos. Por exemplo, quando a criança gosta de determinada atividade faz rápidos progressos. Dessa forma um ambiente envolvido em brincadeiras aumentará o nível de motivação da criança para a realização das atividades, para enfrentarem desafios, favorecendo um aumento na auto-estima da criança e suscitando também emoções positivas (tais como prazer, alegria e satisfação, fundamentais no processo de motivação do ser humano), influindo também nos níveis de esforço, persistência, adesão e envolvimento nas tarefas propostas.


Desenvolvimento da criança

    A criança vem ao mundo com possibilidades que sendo estimuladas resultam em capacidades, que influenciam em um bom ou mau desenvolvimento, de acordo com sua interação com o mundo. Segundo Papalia e Sally (1981), a moderna ciência do desenvolvimento visa principalmente às mudanças comportamentais e o porque que as mesmas ocorrem. De acordo com Gallahue e Ozmun (2003), o desenvolvimento é um processo permanente que se inicia na concepção e cessa somente na morte.

    Antes de partir diretamente às propostas de aulas, é importante caracterizar melhor a infância, em seu processo de desenvolvimento e suas diversas manifestações. Se os professores conhecerem melhor como entende e como age uma criança de certa faixa etária, podem planejar melhor a aula, visando um melhor aprendizado por parte da criança.

    Gallahue e Ozmun (2003: 07), dizem que "o desenvolvimento é relacionado à idade, mas não depende dela"; pois, o momento de desenvolvimento de um indivíduo, muitas vezes não é compatível com a maioria. Logo, deve-se respeitar o processo de crescimento e desenvolvimento de cada criança. A idade é um dado, a qual características semelhantes do desenvolvimento podem ser observadas, porém não deve ser analisado como um recurso rígido e inflexível, já que muitos outros fatores devem ser analisados e levados em consideração.

    Fatores do ambiente envolvem a criança influenciando-a diretamente em seu desenvolvimento. O ambiente influencia o indivíduo. Alguns fatores do ambiente estão relacionados à cultura da sociedade; ao relacionamento afetivo mais próximo (relação com os pais e outras pessoas que a cercam); nutrição (para um bom funcionamento do organismo); assim como estímulos que são dados à criança.

    Com base na teoria desenvolvimentista, o indivíduo deve ser analisado em sua totalidade, considerando a interação das esferas cognitiva, afetiva e psicomotora; os fatores relacionados ao ambiente, a perspectiva biológica e faixa etária, não desvinculando uma esfera das outras. A faixa etária significa apenas dados, onde certas características podem ser observadas, mas não deve-se desconsiderar a individualidade e especificidade. De acordo com a teoria desenvolvimentista, embora as áreas do comportamento sejam separadas para o estudo, não podem ser desvinculadas uma das outras porque são dependentes no aspecto do desenvolvimento humano.


Desenvolvimento cognitivo

    A área cognitiva está relacionada ao potencial que o indivíduo tem para a aprendizagem; e é um produto da interação de fatores genéticos e ambientais, segundo Papalia e Sally (1981), que relatam que a inteligência é uma interação ativa da capacidade herdada e a experiência ambiental, resultando em um indivíduo capaz de adquirir lembrar e usar conhecimento; de entender conceitos concretos e abstratos; de entender relacionamentos entre objetos, eventos e idéias e aplicar este entendimento; e o uso de tudo acima no cotidiano.

    Piaget, em suas obras coloca que o movimento é um agente básico na formação de estruturas cognitivas crescentes, basicamente na primeira infância e nos anos pré-escolares (SANTIAGO, 2005). Sua teoria é uma das mais populares entre os estudiosos sobre o desenvolvimento cognitivo na infância. Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo se refere ao funcionamento do desenvolvimento biológico. Em sua teoria, Piaget considera que a atividade biológica e a atividade intelectual fazem parte de um processo global, onde a pessoa faz adaptações e organizações em sua interação com o mundo, ou seja, o comportamento mental é atribuído ao comportamento biológico, segundo o autor. O autor caracteriza que o desenvolvimento cognitivo é constituído por três componentes:

  • Conteúdo: que representa algo observável;

  • Função: refere-se a assimilação e a acomodação, que são características da atividade mental;

  • Estrutura: explica porque ocorrem certos comportamentos. São propriedades de organizações, são os esquemas2.

    O autor faz uma relação do desenvolvimento cognitivo caracterizando-o em estágios. Porém, esclarece que as mudanças de estágios ocorrem de forma contínua, e não como forma abrupta de um estágio para outro.

    Piaget (1963) apud Santiago (2005) formula as fases do desenvolvimento como: estágio da inteligência sensório-motor (de 0 a 2 anos), onde o comportamento é basicamente motor; estágio do pensamento pré-operatório (de 2 a 7 anos), onde a criança desenvolve a linguagem e formas de representação; estágios das operações concretas (de 7 a 11 anos), onde a criança aplica o pensamento lógico; e o estágio das operações concretas (de 11 a 15 anos ou mais), onde a criança aplica o raciocínio lógico3.

    Segundo Piaget apud Santiago (2005), as crianças entre 03 e 06 anos que estão na fase de pensamento pré-operacional, têm a brincadeira como papel importante, pois ocupam a maior parte do dia da criança e servem como importante ferramenta no processo de assimilação. E é nessa faixa etária que a criança desenvolve melhor a linguagem e esta começa a facilitar o processo de aprendizagem.

    Gallahue e Ozmun (2003: 237) relacionam as brincadeiras com o desenvolvimento cognitivo quando afirmam que: "As brincadeiras servem como meios vitais, pelo quais as estruturas cognitivas superiores são gradualmente desenvolvidas". Logo, pode-se notar a importância da brincadeira também no desenvolvimento cognitivo.

    O desenvolvimento cognitivo não deve se separar dos outros aspectos do comportamento humano. Não pode ser visto como esfera independente. O desenvolvimento cognitivo está diretamente relacionado ao desenvolvimento afetivo e motor. Como exemplo, pode-se dizer que a interação da criança com seus pais tem influência sobre o desenvolvimento cognitivo, já que por sua vez tem relação direta com o funcionamento emocional e desenvolvimento da personalidade, o que é a causa de comportamentos, e dessa forma, o indivíduo faz suas escolhas e se posiciona de uma determinada forma no meio em que vive.

    Na aprendizagem de natação, este aspecto também pode ser visto, por conseqüência que a criança estrutura seus movimentos diante daquilo que quer realizar, e ressalta-se o papel do professor, pois ele elabora situações que fazem com que a criança construa seus conhecimentos. Logo a aprendizagem de natação desempenha um importante papel em favorecimento a este desenvolvimento cognitivo frisado aqui no texto.


Desenvolvimento afetivo

    Segundo Santiago (2005), o mecanismo de construção afetiva é o mesmo mecanismo da construção cognitiva. O autor afirma que não existe um comportamento puramente cognitivo e nem mesmo puramente afetivo. Da mesma forma que a criança assimila as experiências à esfera cognitiva, ela também assimila aos esquemas afetivos. Piaget(1981) apud Santiago (2005) descreve como desenvolvimentos paralelos. Ele afirma também que, quando a criança está em processo de aprendizagem, os sucessos e os fracassos, influenciam o interesse e o empenho, demonstrando a presença de auto-estima na criança.

    De acordo com Gallahue e Ozmun (2003), a área afetiva do desenvolvimento humano relacionado com o estudo do movimento envolve sentimentos e emoções. A avaliação que o indivíduo faz dele mesmo, sua confiança motora, sua interação social, são fatores que o movimento pode influenciar. Logo, pode-se analisar a importância da motivação para a realização da atividade física para o desenvolvimento afetivo da criança.

    Na natação, características como afetividade, empenho e engajamento (envolvimento na tarefa) podem ser notadas. A relação do professor com o aluno, principalmente em crianças pequenas, é de grande importância, pois é a partir dessa relação que a criança se sente segura e aceita no ambiente, favorável para um bom desenvolvimento e aprendizagem. Sem contar que esta esfera da afetividade e da interação emocional pode permitir estímulos motivacionais que proporcionam mais adesão e interesse pela atividade.

    A motivação, segundo Wadsworth (1993), é considerada aquilo que ativa o comportamento. Pode-se notar também a influência da brincadeira na construção destes sentimentos, do raciocínio e dos planos de ação para os movimentos aquáticos. Ou seja, no desenvolvimento integral da criança, pode-se atribuir mudanças à forma com que a motivação influencia a auto-estima, que é uma característica que pode influenciar sua interação social, escolhas, tarefas e a satisfação pessoal, enfatizada pela questão do prazer e ambiente de aprendizagem com emoções positivas e afetividade, que permitem os avanços do aprendizado.


Desenvolvimento motor

    O desenvolvimento motor deve ser compreendido para que o professor possa aplicar certos princípios no ensino aprendizagem da natação. Gallahue e Ozmun (2003: 3) fazem uma analise entre o crescimento, maturação biológica, alterações fisiológicas no desenvolvimento e o ambiente sobre o desenvolvimento motor, o autor afirma que o desenvolvimento motor "... é uma contínua alteração no comportamento ao longo do ciclo da vida, realizado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente".

    Gallahue e Ozmun (2003) afirmam que antigamente havia uma atenção maior, por parte dos estudiosos do comportamento, para a esfera cognitiva e afetiva do desenvolvimento do indivíduo. Porém ultimamente, nota-se um crescente interesse no estudo do desenvolvimento motor, já que não é possível dissecar o indivíduo, separando as esferas de comportamento. O desenvolvimento motor relaciona as exigências físicas e mecânicas aos fatores relacionados com a experiência e o aprendizado, sendo que estes fatores podem influenciar e modificar uns aos outros, de acordo com a interação comportamental.

    Mansolo (1986) traz em seu trabalho caracterizações quanto à idade em relação direta nas habilidades da natação, dentre elas, são as crianças de 3 a 6 anos. O autor relata que as crianças de 3 anos já conseguem andar de triciclo, onde o movimento é semelhante à perna do crawl. As crianças de 4 anos tem uma melhor independência da musculatura e melhor ritmo que as de 3 anos, supondo uma melhoria do batimento de perna do crawl. Já as crianças de 5 anos, o autor afirma que são mais ágeis, têm um melhor controle das atividades corporais gerais em relação as de 4 anos, melhorando sua coordenação fina. Relata que as crianças de 6 anos são mais ativas e conseguem ter uma grande evolução da coordenação4.

    Com base nesses estudos, a natação para crianças mostra-se algo que, sendo bem aplicada, traz benefícios, favorecendo um bom desenvolvimento motor da criança.


3. Proposta metodológica

    Devido à escassez em estudos que relacionam a brincadeira e o jogo como agentes essenciais para a motivação na aprendizagem de natação, esse estudo foi fundamentado através de referenciais bibliográficos, para que fosse possível enfatizar sua importância e também para que fosse possível propor atividades que comprovassem a perspectiva que o ensino baseado dentro dos fundamentos abordados fossem possíveis.

    O estudo foi necessário para que fosse possível estabelecer o aproveitamento das manifestações infantis dentro das aulas de natação, contribuindo para a aprendizagem, o conhecimento e desenvolvimento da criança.

    Através de nossa experiência na aprendizagem de natação para crianças de 03 a 06 anos, percebemos que o ensino baseado numa visão estritamente tecnicista não é tão prazeroso e motivante para as crianças, influenciando diretamente nos seus interesses (ou desinteresses), na eficiência da aprendizagem, como meio que não favorece a auto-estima, a auto-confiança e autonomia da criança.


Objetivos

    O presente trabalho apresenta como objetivo refletir sobre métodos para o ensino da natação orientados à aprendizagem de forma lúdica, adequado ao ritmo e nível das habilidades da turma e de cada aluno participante, realçando os progressos e colaborando nas superações de dificuldades e problemas na aprendizagem esportiva. Por isso os processos educativos são importantes no sentido de trazer experiências positivas na vida das crianças, ajudando-as em seu crescimento, em seu desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e sócio-cultural, vistos anteriormente.

    Como proposta final, surge um conjunto de 12 propostas de atividades aquáticas, que visam:

  1. Destacar a importância das brincadeiras na aprendizagem de aulas de natação, no desenvolvimento da criança e na estimulação para a prática das aulas;

  2. Estimular a criança no desenvolvimento da sua autonomia na água, ao mesmo tempo em que proporciona a iniciação e aprendizagem da técnica de alguns movimentos do esporte natação, com suas características e adaptações.


Sujeitos

    Participaram das aulas em que aplicamos as atividades 18 crianças entre 03 e 06 anos em diferentes níveis de desempenho e desenvolvimento. O trabalho teve a autorização dos pais, através do termo de consentimento livre e esclarecido, para que fosse possível fotografar as crianças durante as aulas.


Materiais

    As aulas foram realizadas em uma academia da cidade de Campinas/SP, em uma piscina semi-olímpica, com profundidade de 1,5 metros. Porém, a piscina era dividida em três partes: em um dos terços, faziam aulas alunos entre 11 a 16 anos; outra parte com alunos de aproximadamente 07 a 10 anos; e a turma, a qual nos centramos, com alunos entre 03 e 06 anos. O espaço ocupado para estas aulas era referente a 06 metros de largura para 12,5 metros de comprimento. De acordo com o desempenho e desenvolvimento da turma, a aula poderia ser realizada tanto com os 06 metros (na largura), como nos 12,5 metros (no comprimento). Poderiam ser usados materiais para o auxílio como, por exemplo: pranchas; flutuadores; tapetes que flutuam; argolas; arcos; peixes de plásticos que afundavam e também que flutuavam; bolas de vários tamanhos; macarrões; bichos de borracha; discos de borracha; dentre outros.


Procedimentos

    Foram ministradas em cada turma duas aulas semanais com 45 minutos de duração. Em cada turma havia no máximo 08 crianças, mas a média permanecia em 06 alunos por aulas, com um professor e um estagiário dentro da piscina. As atividades mencionadas foram realizadas no período do mês de setembro, outubro e novembro do ano de 2006. Para cada turma de alunos, foram realizados 25 encontros, sendo que as atividades foram propostas e incorporadas às aulas da academia em questão, sendo utilizadas para a iniciação e aprendizagem em ambiente aquático.


4. Propostas de atividades para iniciação em natação

    Foi realizado, para esse trabalho, uma busca na literatura para que fosse possível constatar a importância da brincadeira na aprendizagem de natação, e desenvolver, com base na teoria abordada, 12 atividades envolvendo a ludicidade para iniciação da natação para crianças entre 03 e 06 anos.

    Trazer para as aulas, a brincadeira o imaginário, representações simbólicas que podem ser vistas como forma de estrutura de aprendizagem, já que é essencial no desenvolvimento da criança e de grande valor em seu cotidiano, desde a hora que acordam até ao adormecerem.

    Poderão ser usados em aulas, materiais para o auxílio do movimento, assim como objetos representados pela fantasia das crianças. O professor deve ter em mente que o crescimento e o desenvolvimento das crianças é muito dinâmico, sofrendo alterações em prazo relativamente curto; devendo dessa forma alterar a proposta para que esteja de acordo com o desenvolvimento, atendendo às exigências e necessidades da criança, para que possam usufruir do momento para seu benefício e desenvolvimento integral.

    A proposta de aula deve ser flexível, podendo atender a todos e sofrer alterações de acordo com a necessidade e o desempenho das crianças. O professor deve estar atento à estrutura da aula, principalmente aos alunos, e deve ter sensibilidade quanto ao comportamento da criança ao propor novos desafios.


Propostas de atividades

    Exercício 01: Assoprando velinhas
Descrição: O dedo do professor vira uma vela de aniversário. Todos cantam parabéns e o professor pede às crianças para ajudarem a apagar a velinha. Observação: somente a ponta do dedo do professor deve estar para fora da água. Aproximadamente na altura da unha.
Objetivo: Fazer com que a criança expire assoprando a água, até colocar a boca primeiramente.
Material: Não é necessário, porém pode ser utilizado qualquer objeto que possa simbolizar a vela. Apitos e bicos de mamadeiras podem ser adaptados a esta atividade.
Tempo de duração: 2 minutos aproximadamente.
Faixa etária: 3 a 4 anos.


    Exercício 02: Brincando de circo
Descrição: Com o auxílio de arcos de tamanho grande, o professor pergunta às crianças que animais do circo elas querem ser. O professor coloca as argolas submersas na água e pede para as crianças passarem pelo arco de fogo.
Objetivo: Adaptar a criança em submersão na água e desenvolver sua propulsão.
Material: Arcos grandes.
Tempo de duração: 6 a 8 minutos aproximadamente.
Idade aproximada: acima de 03 anos.


    Exercício 03: Brincando de foguetes
Descrição: Contamos às crianças que cada uma delas se transformaram em foguetes. Com a mão sobre a outra e os braços estendidos (simbolizando o bico do foguete), o professor coloca gasolina no foguete e pergunta qual o foguete que está com o motor cheio e forte. O professor dá apoio com sua mão para o bico do foguete, ajudando a criança a se sustentar; e diz que para ver se o motor está com gasolina as crianças devem bater a perna (que é o próprio motor da nave), fazendo uma espuma na superfície. Batendo a perna forte as crianças podem fazer uma viagem pelo espaço; e dirão o que encontraram. Porém, se as crianças disserem que estão sem gasolina, ou não demonstrarem interesse em bater a perna, o professor joga um pouco de água nas crianças (fazendo uma "chuvinha"), dizendo que dessa forma está enchendo o tanque do foguete.
Objetivo: Melhorar a sustentação iniciando a perna do nado crawl.
Material: Não é necessário
Tempo de duração: 10 minutos aproximadamente.
Idade aproximada: acima de 04 anos.


    Exercício 04: Viagem pelo mar
Descrição: A mesma atividade, porém pode ser uma viagem de lancha pelo mar. Nessa viagem a criança coloca a cabeça na água, procurando animais que moram no fundo do mar.
Objetivo: Idem ao exercício 3
Material: Não é necessário, porém poderão ser jogados no fundo da piscina peixes de brinquedos, ou até mesmo qualquer material, pois a criança simbolizará os animais.
Tempo de duração: 10 minutos aproximadamente.
Idade aproximada: acima de 04 anos.


    Exercício 05: Os macacos sujos do telhado
Descrição: O professor conta que existe uma família de macacos que mora no telhado da academia de natação, aí pede para a criança deitar a cabeça em seu ombro para ver se acha algum macaco lá em cima. Logo após, o professor diz que aquela família de macacos não gosta de tomar banho e estão cheirando mal e pede para cada criança que o professor levar, molhar os macacos batendo a perna na água, olhando para o teto.
Objetivo: Adaptação ao posicionamento do nado costas, e iniciação da perna do nado costas.
Tempo de duração: 6 minutos aproximadamente.
Idade aproximada: 03 a 05 anos.


    Exercício 06: Macaco na água
Descrição: A mesma brincadeira do macaco sujo, só que agora a criança deve rodar os braços para puxar o macaco jogando-o na piscina.
Objetivo: Iniciação ao nado costas.
Material: Não é necessário.
Tempo de duração: 6 minutos aproximadamente.
Idade aproximada: 03 a 06 anos.


    Exercício 07: Cadeira encantada
Descrição: Uma das pernas do professor vira uma cadeira e está encantada. O aluno senta em cima da cadeira com as costas voltadas para o professor. O professor primeiro ajuda a criança, rodando seus braços, fazendo uma rotação, e diz que, quando a mão passa lá no alto a criança pega uma estrela do céu e quando passa lá em baixo, pega uma concha do mar. Depois que o professor fez o movimento com os braços da criança, ele pede a ela para realizar sozinha, somente sentada na cadeira, dizendo que para pegar as estrelas e conchas deve ter uma grande amplitude na rotação dos braços (levar o braço bem no alto e bem lá em baixo). Ao chegar o professor "vê" as estrelas e conchas na mão da criança.
Objetivo: Tentativa de fazer com que a criança tenha a noção de rotação e aumentar a amplitude na rotação de seus braços. Movimento semelhante ao do braço do nado crawl.
Material: Não é necessário.
Tempo de duração: 6 minutos aproximadamente.
Idade aproximada: 03 e 04 anos.


    Exercício 08: Roda Gigante
Descrição: Para as crianças que possuem uma maior facilidade, a brincadeira da cadeira encantada pode virar a brincadeira da roda gigante. A criança, agora fica com o rosto na água e executando a perna do crawl. O professor segurando as mãos da criança ajuda a realizar a rotação dos braços, fazendo um movimento com uma grande amplitude. Os braços da criança são a própria roda gigante do parque de diversão. Após o professor ter executado o movimento com os braços da criança, ela pede para criança realizar sozinha. Agora ela já pode andar de roda gigante sozinha.
Objetivo: Iniciação ao nado crawl.
Material: Não é necessário.
Tempo de duração: 7 minutos aproximadamente.
Idade aproximada: 05 anos.


    Exercício 09: Saltos I
Descrição: A criança fica sentada ou de pé na borda da piscina. O professor coloca arcos grandes na superfície da água simbolizando uma entrada para o túnel, que ao entrar a criança achará tesouros, que poderão ser brinquedos no fundo da piscina. Vários níveis de altura e distancia poderão ser executados.
Objetivo: Encorajar a criança a saltar na piscina.
Material: Arcos grandes e brinquedos que afundam.
Tempo de duração: 7 minutos aproximadamente.
Idade aproximada: 04 a 05 anos.


    Exercício 10: Saltos II
Descrição: O mesmo exercício anterior, mas na posição de saída (mergulho), a criança entra no túnel com o "bico do foguete". Porém agora, muito mais rápido e forte. A criança acha tesouros dentro do túnel.
Objetivo: Iniciação à saída alta da natação.
Material: Arcos grandes e brinquedos que afundam.
Tempo de duração: 10 minutos aproximadamente.
Idade aproximada: 06 anos.


    Exercício 11: Decolando o foguete
Descrição: O professor brinca de decolar o foguete com as crianças. Segurando-a com uma das mãos na coxa da criança e a outra mão no tórax. O professor eleva a criança, e pede a ela para fazer o "bico do foguete", que entra na piscina mergulhando com o posicionamento semelhante ao do salto da natação.
Objetivo: Encorajar a criança para o posicionamento correto da entrada do salto da natação.
Material: Não é necessário.
Tempo de duração: 5 minutos.
Idade aproximada: 04 a 06 anos.


    Exercício 12: Ondas do mar
Descrição: No momento de descanso entre uma atividade e outra, o professor pede às crianças para fazerem algumas respirações (as famosas bolinhas). Nessa atividade o professor pergunta às crianças quais delas já foram à praia, e diz que para fugir das ondas fortes têm que afundar para que a onda não estoure na cabeça. Aí o professor simula as ondas do mar e nesse momento as crianças devem afundar.
Objetivo: Realizar a inspiração fora da água e afundar fazendo a expiração.
Tempo de duração: Aproximadamente 8 ondas cada vez que for realizar essa brincadeira. Cerca de 30 segundos.
Idade aproximada: A partir de 05 anos.


5. Algumas considerações sobre as atividades

    O tempo de duração das atividades são apenas dados aproximados, e que devem ser respeitados de acordo com as necessidades da turma, tanto para mais, ou para menos. O professor, em seu planejamento de aula deve ser bem flexível, quanto ao ritmo de aprendizagem e velocidade das crianças, ao administrarem suas aulas. Crianças com maiores dificuldades devem executar movimentos mais simples, que servem como base para outros exercícios.

    A idade que se propõem as atividades também é uma estimativa aproximada, mas que tem como princípio a realização de exercícios menos complexos para as crianças de 03 a 04 anos, pois sua habilidade motora especializada não está bem desenvolvida. São crianças que já possuem uma melhor coordenação e sincronia espacial e temporal do movimento do que as crianças menores de 02 anos, segundo Gallahue e Ozmun (2003), mas ainda estão na formação de movimentos fundamentais. Segundo esse mesmo autor, essa faixa etária está no estágio elementar do desenvolvimento.

    Para as crianças entre 05 e 06 anos, os exercícios podem ser um pouco mais complexo em relação aos mais novos, pois já possuem facilidade nas habilidades. As crianças com 05 a 06 anos possuem um melhor equilíbrio e maior tônus muscular em relação às menores, entre outros fatores. Segundo Gallahue e Ozmun (2003), crianças entre 05 e 06 anos estão no estágio maduro, que é caracterizado mecanicamente em movimentos mais coordenados, eficientes e melhor controlados.

    Conforme Gallahue e Ozmun (2003), devido à maturação neurológica, crianças entre 03 e 04 anos possuem maior dificuldade em realizar o movimento do que as crianças entre 05 e 06 anos, em crianças humanas normais. Entretanto, existe a individualidade, podendo ser observadas variações no ritmo de desenvolvimento entre uma e outra, como salienta Gallahue e Ozmun (2003): "O desenvolvimento ocorre em seqüência previsível, mas em ritmos variáveis". Por isso, estes exercícios devem ser aplicados de formas diferentes dependendo da facilidade ou dificuldade. Os exercícios que envolvem brincadeiras fornecem estímulos, oportunidades; e podem ser explorados pela criança, encorajando-a para novos desafios. O professor deve fornecer oportunidades para que a criança atinja o estágio maduro, pois sem estímulos muitas não atingem esse estágio. Sobre isso, Gallahue e Ozmun (2003) afirma que sem essas oportunidades, torna-se virtualmente impossível um indivíduo atingir o estágio maduro de certa habilidade nessa fase, o que vai inibir a aplicação e o desenvolvimento dessa habilidade em períodos posteriores.


Considerações finais

    Com base em estudos de pesquisa bibliográfica, foi possível estabelecer uma proposta em aulas com base em fundamentos importantes para o ensino-aprendizagem, considerando os aspectos da ludicidade e o brincar nas aulas, além dos aspectos motivacionais inerentes na atividade física e no exercício (SANTIAGO, 2005).

    A partir dos dados abordados, referentes aos benefícios da natação infantil, mostrou-se clara a influência positiva dessas atividades, nos diversos aspectos do desenvolvimento da criança: cognitivo, motor e sócio-afetivo.

    Primordialmente, nesse trabalho, tem-se a motivação como fundamental para que o processo de ensino-aprendizagem torne-se eficiente. Como ferramenta para essa motivação no ensino-aprendizagem para as crianças, foram considerados os aspectos positivos que a ludicidade traz, sendo demonstrados como fatores essenciais nas aulas, já que dessa forma as crianças vivenciam aspectos de sua cultura mostrando-se motivadas para a atividade e transformando as aulas em momentos de diversão e prazer. A inserção de situações do "faz-de-conta" e aulas historiadas se mostraram eficientes e interessantes para o ensino da natação, com aceitação e participação efetiva das crianças. As crianças trazem junto a si uma necessidade de vivenciar a fantasia e o brincar, portanto fica possível tornar o ambiente propício ao realizar as atividades, realçando o clima motivacional e lúdico, favoráveis ao processo de aprendizagem e envolvimento nas atividades corporais propostas.

    Porém, deve ser lembrado que as atividades não são vistas da mesma forma por todas as crianças. Algumas que possuem maiores dificuldades podem ficar receosas ao realizar alguns movimentos; então as atividades precisa ser flexíveis, adaptando alguns exercícios propostos para estas crianças. Como houve também aquela criança que tinha uma maior facilidade e agilidade, onde era necessário fazer algumas alterações dentro do exercício para que continuassem estimuladas e enfrentando novos desafios.

    Após esse estudo, ressaltou-se a importância do professor, já que ele é o agente que proporciona as atividades, realizando uma ligação entre o brincar e o ensino da natação, dessa forma sendo ele o mediador para o conhecimento da criança. Ficou evidente que a adoção de atividades da cultura infantil como processo pedagógico motiva o ensino aprendizagem, traz boa relação entre aluno-professor e entre aluno-aluno contribuindo para o desenvolvimento integral destas crianças.


Notas

  1. Pode-se notar que existe uma atenção por parte do governo, contudo observa-se que é um projeto novo, em desenvolvimento, mas a maioria da população de baixa renda ainda não se beneficia pela atividade.

  2. Piaget (1963) apud Santiago (2005) relaciona as mudanças do desenvolvimento com a idade, observando o comportamento da criança, tendo a faixa etária apenas como um indicador amplo no desenvolvimento da estrutura cognitiva, visando um olhar para as mudanças qualitativas do desenvolvimento, contudo, afirma que a interação com o mundo é essencial para que os processos de conhecimentos sejam adquiridos e reformulados.

  3. Na teoria de Piaget, alguns fatores estão relacionados ao desenvolvimento cognitivo, como por exemplo, a hereditariedade, a experiência, a interação social, e a equilibração (que é a coordenação de todos esses fatores e regulação do desenvolvimento). Para ele o desenvolvimento cognitivo requer adaptações a condições ambientais e fazendo ajustes de acordo com o ambiente e interpretando novas situações (SANTIAGO, 2005).

  4. Gallahue e Ozmun (2003) relacionam o desenvolvimento às faixas etárias com a intenção de mostrar algumas características aproximadas em relação à idade, deixando claro que o desenvolvimento não depende dela, mas representam simplesmente escalas aproximadas, não desconsiderando a individualidade, a continuidade e especificidade do indivíduo.


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revista digital · Año 12 · N° 117 | Buenos Aires, Febrero 2008  
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