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Relação entre índice de massa corporal e a percepção
da auto-imagem em estudantes de Educação Física

   
*Acadêmica do Curso de Educação Física
do Centro Universitário do Triângulo/UNITRI.
**Mestre. Professor do Curso de Educação
Física do Centro Universitário do Triângulo/UNITRI.
(Brasil)
 
 
Flávia Cristina Freitas Machado*  
Janaína Felicíssimo Pereira*  
Queila de Fátima Silva*  
Alexandre Gonçalves**
profalexandre09@gmail.com
 

 

 

 

 
Resumo
     Atualmente, é cada vez mais comum pessoas manifestando distúrbio de auto-imagem corporal devido ao padrão de corpo imposto pela sociedade moderna. O objetivo do presente estudo foi analisar a relação entre o índice de massa corporal e a percepção da auto-imagem corporal em estudantes de educação física. Foram avaliados 86 acadêmicos do curso de Educação Física, de ambos os sexos, selecionados aleatoriamente. Os voluntários foram submetidos a avaliação física para aferição da estatura e peso para cálculo do IMC real. A avaliação do IMC percebido foi realizada através da escala de silhuetas para percepção da imagem corporal. Os resultados demonstraram que a maioria dos voluntários (67,44%) apresentou auto-imagem diferente do real, sendo que em 33,72% o IMC real foi menor que o percebido e em outros 33,72% IMC real foi maior que o percebido. Concluiu-se que maioria dos estudantes universitários do curso de Educação Física analisados possuem distorção de sua auto-imagem corporal sendo ela menor ou maior em relação ao real.
    Unitermos: IMC. Auto-imagem. Universitários.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 115 - Diciembre de 2007

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Introdução

    Atualmente a população predominantemente feminina está cada vez mais preocupada com a imagem corporal. Historicamente os corpos grandes eram considerados sinais de satisfação e poder, um mérito positivo que marcaram as últimas décadas. Contradizendo com os dias atuais, a obesidade tem sido considerada um paradigma pela sociedade com características negativas favorecendo a discriminação e sentimentos de insatisfação.(GITTELSONHN et.al., 1996; SEGAL ISAACSON, 1996, SAN WER, WADDEN, FOSTER, 1998)

    O culto ao corpo está diretamente associado à imagem de poder, beleza e mobilidade social, sendo crescente a insatisfação das pessoas com a própria aparência. Contudo, enquanto nosso estilo de vida com base nos avanços tecnológicos contribui para diminuição da prática de atividades físicas laborais e de lazer e aumento do consumo de alimentos, os padrões de beleza exigem perfis antropométricos cada vez mais magros. (SCHWARTZ, BROWNELL, 2004)

    No passado a obesidade era valorizada e representada até nas artes contradizendo a atualidade. É cada vez maior a exigência do perfil magro colocando em risco, muitas vezes, a saúde do individuo. Segundo Nunes et.al (1994), Verri et.al. (1997) há uma forte tendência social e cultural em considerar a magreza como uma situação ideal de aceitação e êxito.

    Slade (1988) define o termo imagem corporal como uma percepção do que se tem na mente do tamanho, imagem e forma do corpo, como também os sentimentos relacionados a essas características bem como as partes que o constituem. Tendo então diversos fatores que se inter-relacionam como fatores emocionais, de atitudes e perceptual.

    Já Gardner (1996) a define como a figura mental que temos das medidas dos contornos e da forma do nosso corpo e centímetros concernentes a essas características e as partes dele.

    Slade (1994) considerou que a imagem corporal pode ser influenciada por uma série de fatores, como a idade de início da obesidade, presença de transtorno emocional, influência social através da avaliação negativa ou depreciativa do outro, história de mudanças e flutuações do peso entre outros. Aqui também não se pode deixar de levar em conta os aspectos sócios culturais, que podem influenciar no desenvolvimento da alta imagem corporal e dos transtornos a ela associada. Sendo assim, a imagem corporal torna-se um alvo de insatisfação da identidade corporal.

    Portanto, podemos observar que a imagem corporal é um importante comportamento do complexo mecanismo de identidade pessoal, o que o indivíduo acredita em relação ao seu corpo.

    A insatisfação dentro do ambiente sócio cultural gera condições determinantes para o desenvolvimento de distorções e distúrbios da imagem corporal. Porém, Leonhard, Barry (1998) relatam o fato de estudos sobre as distorções e insatisfação com a imagem corporal focalizarem essencialmente populações portadoras de transtornos alimentares específicos (bulemia, anorexia nervosa e obesidade mórbida).

    Bruch (1962) mostrou pela primeira vez que mulheres anoréxicas superestimavam o tamanho de seus corpos. Estudos realizados em paises em diferentes estágios de desenvolvimento sugerem que grupos jovens especialmente do sexo feminino apresentam com freqüência insatisfação com a imagem corporal

    Contudo, acreditamos que distúrbios da imagem corporal possam ocorrer mesmo em pessoas sem os tais transtornos e muitas vezes atingem os próprios profissionais os quais lidam com estes como Educadores Físicos, Nutricionistas, Psicólogos dentre outros.

    Para uma percepção realista em relação à imagem corporal o indivíduo precisa estar utilizando de estratégias a serem realizadas. Um dos métodos mais utilizados por grupos populacionais é o índice de massa corporal (IMC) ou índice de Quelet dado pelo peso (kg) /altura2 (m). Considerando também um fato importantíssimo que se torna relevante o estado nutricional que permeia o estilo de vida e o comportamento alimentar. (ANJOS,1992).

    Além desse método dentre os principais instrumentos utilizados para investigar a percepção corporal encontra-se em escalas de silhuetas ou fotografias desenvolvidas por Stunkard, Sorensen e Schulsinger (1983) o qual consiste em um conjunto de nove figuras de cada gênero do magro ao gordo apresentadas em cartões individuais.

    Já Gardner et.al. (1996/1998) propôs e validou o método denominado visual analógico o qual consiste na aplicação de uma escala visual analógica com duas figuras silhuetas, as quais representam as duas figuras dos extremos, uma de cada gênero, da escala de nove silhuetas, com uma linha continua de 12 cm interligando-as de forma semelhante.

    Assim o presente estudo teve como objetivo analisar a relação entre o índice de massa corporal (IMC) e a percepção da auto-imagem corporal através do método analógico em estudantes universitários de Educação Física.

    Esperamos ao final do estudo contribuir para uma maior reflexão dos futuros profissionais da Educação Física sobre sua auto-percepção de imagem corporal uma vez que muitos irão trabalhar com sujeitos que apresentam distúrbios significativos de sua imagem corporal.


Casuística

    1. Caracterização da pesquisa

    A presente pesquisa se caracteriza como uma pesquisa de caráter transversal a qual segundo Medronho (2003) é a estratégica de estudo epidemiológica que se caracteriza pela observação direta de determinada quantidade planejada de indivíduos selecionados aleatoriamente, cujas informações obtidas referem-se ao mesmo momento.


    2. População e amostra

    A população do presente estudo foi composta pelos estudantes do curso de Educação Física noturno de um Centro Universitário dos quais foram selecionados de maneira aleatória 50% de alunos por sala. Assim, a amostra foi constituída por um total de 86 alunos de ambos os sexos.


    3. Métodos

    Inicialmente os voluntários selecionados assinaram os termos de esclarecimento e consentimento para participação na pesquisa.

    Para obtenção dos dados referentes a imagem corporal foi utilizado o método visual analógico validado por Gardner et.al. (1996/1998 ). Foi solicitado ao voluntário que colocasse uma marca vertical no ponto da escala que mais se aproximaria do seu tamanho corporal. Como o IMC das duas figuras apresentadas eram conhecidos, calculou-se o IMC percebido representado pela marca do sujeito na linha contínua, utilizando-se a seguinte fórmula: IMCpercebido = D x 20 / 12 + 17,5, onde D é a distancia em centímetros da primeira figura até o ponto marcado pelo avaliado. As figuras foram apresentadas aos voluntários em cartões diferentes para o gênero feminino e masculino.

    Já para o cálculo do IMC real foi utilizada a fórmula padrão IMC = Peso/altura2. Para avaliação do peso foi utilizada uma balança antropométrica da marca FILIZOLLA. O voluntário foi posicionado em pé sobre a sua plataforma com as costas voltadas para o marcador. Após a aferição do peso o voluntário foi submetido a aferição de sua altura utilizando o estandiômetro acoplado a mesma balança.

    Para análise do IMC foram considerados os seguintes parâmetros: Baixo Peso: sujeitos com IMC menor que 20 kg/m2; Normal: sujeitos com IMC entre 20 e 24,9 kg/m2; Sobrepeso 1: sujeitos com IMC entre 25 e 29,9 kg/m2; Sobrepeso 2: sujeitos com IMC entre 30 e 34,9 kg/m2; Sobrepeso 3: sujeitos com IMC entre 35 e 39,9 kg/m2.

    O cálculo da prevalência dos parâmetros analisados foi feita utilizando a seguinte fórmula: número de sujeitos com determinada característica dividido pelo número total de sujeitos avaliados multiplicado por cem.


Resultados

    A fim de facilitar a visualização dos dados foram organizados em gráficos.

    A figura 1 apresenta a prevalência comparativa entre o IMC real e IMC percebido dos voluntários avaliados para cada classificação do IMC. Pode-se observar que existe uma grande discrepância entre a porcentagem de IMC real e percepção da imagem da imagem corporal, ditada pelo IMC percebido em todas as classificações.

    Na figura 2 podemos observar que apenas 32,56% dos voluntários avaliados possuem uma auto-imagem compatível com o real (IMCreal = IMC percebido). Já 67,44% dos avaliados possuem distorção de sua auto-imagem, sendo que 33,72% acharam suas proporções corporais maiores do que o real (IMCpercebido > IMCreal) e 33,72% acharam suas proporções corporais menores que o real (IMCpercebido < IMCreal).


Discussão

    O presente estudo teve como objetivo analisar a prevalência de distúrbios de imagem de estudantes universitários do curso de Educação Física, através da comparação entre o IMC real, levantado através de avaliação da altura e peso corporal e IMC percebido, obtido através da aplicação do protocolo de escalas de silhuetas.

    Primeiramente, procurou-se levantar a comparação entre o IMC real e IMC percebido dentro de cada classificação deste parâmetro. De acordo com os dados apresentados na figura 1 pode-se observar que em todas as classificações sempre houve distorção entre a quantidade de voluntários classificados para determinado IMC real e a quantidade de voluntários que possuíam IMC percebido para determinada classificação. Chama a atenção o fato de apesar de 55,20% dos voluntários apresentarem classificação normal para o IMC real apenas 28,20% deles tiveram tal percepção de sua imagem corporal para esta classificação.

    De acordo com Leonhard, Barry (1998) a maioria dos estudos de distúrbios de imagem têm focado em pessoas portadoras de distúrbios alimentares, o que reforça a relevância do presente trabalho, já que os avaliados, aparentemente, não são portadores de tais distúrbios. Isto nos leva a concordar com Slade (1994) o qual afirma que a percepção da auto-imagem é influenciada por fatores ambientais e sócio-culturais. Assim, acreditamos que dentre tais fatores a alta exposição dos estudantes de educação física a padrões de corpo ditados pela sociedade atual podem estar levando eles mesmos criarem uma falsa percepção de sua própria imagem corporal.

    Reforçando tal achado, observa-se na figura 2 que apenas 32,56% dos voluntários perceberam sua imagem corporal de acordo com o IMC real avaliado. Já os demais 67,44% apresentaram IMC percebido diferente do IMC real. Contudo, metade do valor (33,72%) foi representado por um IMC percebido menor que o IMC real o que contraria a tendência citada Nunes et.al (1994) e Verri et.al. (1997) em considerar a magreza uma forma de aceitação e êxito na nossa sociedade. Contudo, tal tendência diz respeito ao gênero feminino e como em nosso estudo não foram analisados separadamente os gêneros feminino e masculino é possível que o IMC percebido menor que o IMC real tenha sido obtido em voluntários masculinos já que a distorção de imagem masculina, geralmente é para menor que o real, segundo Kakeshita, Almeida, (2006).

    Já a outra metade (33,72%) que obtiveram o IMC percebido maior que o real, provavelmente, diz respeito ao gênero feminino. Tal fato é respaldado por estudos que observaram uma excessiva preocupação do gênero feminino com o peso e gordura corporal. (GITTELSONHN et.al., 1996; SEGAL ISAACSON, 1996, SAN WER, WADDEN, FOSTER, 1998, SCHWARTZ, BROWNELL, 2004).

    Apesar da limitação de nosso estudo em não separar por gênero a avaliação dos resultados, foi possível observar que estudantes do curso de Educação Física apresentaram distorções significativas de sua auto-imagem, seja para menos ou para mais em relação ao real avaliado. Partindo do princípio que muitos dos futuros profissionais analisados irão trabalhar diretamente com pessoas que possuem distúrbios de imagem, o fato deles também não terem uma real visão das dimensões de seu próprio corpo, poderá levar a problemas na qualidade do serviço prestado aos seus futuros alunos ou clientes.

    Portanto, a partir dos resultados encontrados em nosso estudo sugere-se que estratégias sejam tomadas no sentindo de levar os estudantes de Educação Física a discutirem e refletirem sobre as questões que podem estar levando a população em geral e eles mesmos a não terem uma percepção real de sua auto-imagem.


Conclusão

    De acordo com a metodologia adotada e os resultados alcançados concluiu-se que a maioria dos estudantes universitários do curso de Educação Física analisados possuem distorção de sua auto-imagem corporal sendo ela menor ou maior em relação ao real.


Referências bibliográficas

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revista digital · Año 12 · N° 115 | Buenos Aires, Diciembre 2007  
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