efdeportes.com
Os motivos que levaram jogadores de futebol amador
a abandonarem a carreira de jogador profissional

   
*Licenciado em Educação Física pela Faculdade de
Ciências da Universidade Estadual Paulista, Bauru, SP.
**Licenciado em Educação Física pela Faculdade de Ciências da
Universidade Estadual Paulista, Bauru, SP e Mestre em Filosofia pela
Faculdade de Ciências e Filosofia da Universidade Estadual Paulista, Marília, SP.
(Brasil)
 
 
Paulo Roberto Trombini Amaral*
paulinhoamaral@hotmail.com  
Carlos Rogério Thiengo*
thiengo@fc.unesp.br  
Flávio Ismael da Silva Oliveira**
ftima@fc.unesp.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Muitos jovens, seduzidos por uma vida social de status e independência financeira, visualizam a carreira de jogador de futebol profissional como uma das mais promissoras. Mas, será que se pode acreditar em todas as "maravilhas" relacionadas ao futebol profissional? Será que a carreira futebolística pode realmente ser considerada tão promissora? Com a intenção de respondermos a estas questões, este estudo objetivou apontar algumas causas pelas quais jogadores profissionais abandonaram a "tão sonhada" carreira. De acordo com os resultados obtidos, constatamos que a falta de estabilidade na profissão foi apontada por 71,4% dos entrevistados; 35,7% alegaram a falta de estrutura dos clubes e casos de lesões durante o tempo de atuação; 28,6% destacaram os baixos salários recebidos e a falta de profissionalismo dos dirigentes, empresários e técnicos; para 21,4% dos entrevistados a organização dos clubes e a distância da família também foram fatores decisivos. Devido às inúmeras e diferentes respostas obtidas, verificamos que o futebol pode ser caracterizado como um esporte de muitas faces, nas quais percebe-se aspectos positivos e negativos muito próximos, comprovando, apesar da simplicidade da palavra "futebol", que este envolve aspectos complexos que merecem ser aprofundados.
    Unitermos: Futebol. Carreira. Profissionalismo.
 
Abstract
     Many young boys, seduced by a great social life and economic independence, visualize the professional soccer player as one of the most promising career. But, is it possible to believe in all amazing things related to the professional soccer? Is this career really a promising one? In order to answer these questions, this study meant to analyze some of the causes by which players abandoned such dreamed career. Accordingly with the results, lack of job stability was pointed out by 71,4% of the players. Problems related to work structure and injuries were 35,7% and 28,6% highlighted low remuneration and bad behavior of the leaders, managers and coachers. Serious lack of club organization and "home sick" were also considered as an essential issue by 21,4% of the interrogated. Due to countless and different answers obtained in this interviews, it was verified that the soccer could be characterized as a multifaceted sport, in which it is seem a very close positive and negative aspects, which attests, in spite of the simplicity of the word "soccer", that it involves complex aspects that deserve to be extended.
    Keywords: Soccer. Career. Job behavior.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 115 - Diciembre de 2007

1 / 1

Introdução

    Dificilmente podemos explicar e traduzir a sociedade brasileira sem associá-la ao futebol, que é, tal como afirma Lever (1983), eterno na preferência e vive na alma do povo. Por ser considerado o esporte mais popular em nosso país, o futebol desperta diferentes sentimentos naqueles que o acompanham e interfere direta e indiretamente na vida de todo povo brasileiro. Essa questão, aliada à grande influência da mídia esportiva, que enfatiza principalmente o lado "positivo" da profissão, destacando o sucesso de alguns dos nossos principais jogadores, faz com que muitos jovens, seduzidos por uma vida social de status e independência financeira e incentivados por seus pais, visualizem a carreira de jogador de futebol profissional como uma das mais promissoras. Mas, será que se pode acreditar em todas as "maravilhas" relacionadas ao futebol profissional? Será que a carreira futebolística pode realmente ser considerada tão promissora? Com a intenção de respondermos estas questões, pretendemos, através deste estudo, clarear alguns aspectos que norteiam a profissão de jogador de futebol no Brasil e apontar algumas causas pelas quais jogadores abandonaram a "tão sonhada" carreira profissional.


Profissão sem futuro ou futuro sem profissão?

    Ao definir trabalho como um "processo do qual participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação media, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza", Negrão (1994, p. 59) entende que o trabalho do jogador é caracterizado pelo consumo de seus serviços que é alcançado no ato de sua atuação. Para a autora, a produção do trabalho do jogador de futebol equipara-se a de um ator circense. No seu entendimento, a produção e o consumo estão diretamente ligados, sendo que o resultado do serviço prestado pelo atleta é traduzido pela sua ação, não produzindo nenhum produto, nenhuma coisa efetivamente concreta. Trata-se apenas de uma ação que provoca emoções naqueles que a consomem. No entanto, por contribuir diretamente para a ampliação do capital do empresário, do clube, das federações etc., é caracterizado por ser um trabalho produtivo.

    Mesmo sendo um "trabalho produtivo" e apesar da destacada cobertura pela imprensa, muitas coisas relacionadas à profissão de jogador profissional não são relatadas. Ao terem como referenciais apenas jogadores famosos, Negrão (1994) destaca que muitos acreditam que esta profissão, por permitir um acúmulo de dinheiro e ser caracterizada pelas facilidades nas relações de trabalho, é um "mar de rosas".

    Porém, de acordo com Barros (1990), para se tornar um atleta profissional assediado pela torcida e pela imprensa especializada, ganhador de títulos e de altos salários, é necessário muito empenho. Nesse sentido, Rangel (2002) afirma que a maioria dos jogadores brasileiros está longe do sucesso e da mordomia. Para ilustrar, Negrão (1994), citando uma reportagem de Mario Magalhães do Jornal Folha de São Paulo de 19 de janeiro de 1994, destaca que, de acordo com registros da Confederação Brasileira de Futebol (C.B.F.) de 1993, sete em cada 10 jogadores profissionais receberam entre um e dois 2 salários mínimos por mês e apenas 3% dos jogadores receberam acima de 10 salários mínimos. Documentos do Departamento de Registros e Transferências da C.B.F., obtidos por Rangel (2002), mostram que 82,17% dos atletas nacionais receberam, em 2001, até dois salários mínimos, ou seja, 16.785 dos 20.428 jogadores registrados ganharam até R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais); 42,62% dos atletas receberam R$ 180,00 (cento e oitenta reais) e apenas 3,75% (um número inferior a 1000 atletas) receberam acima de 20 salários mínimos por mês. Para complicar, mais de 90% dos jogadores que já possuíam o passe livre receberam até dois salários mínimos, sem dizer que muitos convivem constantemente com o desemprego.

    Associado a essa realidade, há ainda os problemas relacionados ao período de transição da carreira. Para Brandão (2001), muitos jovens, acreditando que a fama durará para sempre, dedicam-se a anos de preparação, alienando-se do pensamento de uma nova atividade quando o momento de "pendurar as chuteiras" chegar. Segundo a autora, durante a vida esportiva, o atleta passa por diversas transições, todas elas com exigências de ajustamentos e características próprias, sendo a aposentadoria uma fase inevitável. Assim, a maioria dos jogadores, no desfrute dos "benefícios" da carreira, não está preocupada com o seu encerramento, ou seja, com readaptação social, que é dificultada pela abstração que estes se submetem quando ainda estão atuando. É muito comum, ao se questionar jogadores sobre o que pensam em relação à aposentadoria, se deparar com respostas do tipo: "como posso pensar em aposentadoria se estou começando agora?". Além disso, infelizmente, Moraes (1981) aponta que muitos acabam negligenciando ou abandonando os estudos para se dedicarem à profissão, que se mostra árdua e repleta de obstáculos.

    Para Roffe (2000), após o encerramento da carreira, a grande maioria passa por enormes dificuldades ao tentar se reintegrar à sociedade. De acordo com Pires (1994), a alienação é uma das responsáveis por um período de transição conturbado. Em seu estudo, dentre os 32 ex-jogadores entrevistados, nenhum vivenciou atividades culturais, artísticas e políticas, dedicando-se exclusivamente à carreira. Assim, após a fase de transição/encerramento, por não terem estudado e por terem se dedicado exclusivamente ao futebol, ex-jogadores ficam desempregados e sem perspectivas de adaptações em outros ofícios. Neste estudo também foi constatado que apenas quatro dos entrevistados ganharam o suficiente para se manterem de maneira autônoma. Porém, dois deles, pela falta de experiência, perderam quase todo o capital investido.

    Os fatores que determinam a qualidade do período de transição estão relacionados aos motivos que levam os jogadores profissionais a abandonarem a carreira. No entendimento de Mendelsohn (1999), na maioria das vezes, os jogadores são abandonados pelos clubes de forma gradativa e até mesmo de forma abrupta, dando para contar as exceções em que eles mesmos põem fim em suas carreiras desportivas. Brandão (2001), ao avaliar 52 ex-jogadores que atuaram em equipes de "ponta" no futebol brasileiro, constatou que 74% encerraram a carreira de forma espontânea e oportuna, relacionando as causas mais freqüentes na seguinte ordem decrescente: idade, aparecimento de novos interesses, relacionamento com os líderes, mudança no estilo de vida, decrécimo de performance, ausência de perspectiva, lesões, condições de saúde, fadiga psicológica, problemas de relacionamento familiar e exaustão física. Brandão afirma que o avanço da idade cronológica e a conseqüente percepção de competir no mesmo nível anterior foram os aspectos mais significativos considerados pelos jogadores para o término da carreira.

    Pires (1994) também relaciona o fator "idade" como um dos motivos de uma transição traumática. Os jogadores que concluem a carreira com idade aproximada de 35 anos, são excluídos numa fase ainda produtiva de suas vidas e estão sujeitos, ao entrarem no mercado de trabalho, a salários bem reduzidos em relação aos que recebiam, alterando precariamente o padrão de vida com sérias repercussões familiares. Este fato também foi apontado por Brandão (2001), no qual 50% dos entrevistados relataram a queda da condição econômica e 44% apresentaram dificuldades na escolha de uma nova profissão, sendo que 100% dos entrevistados escolheram atividades relacionadas ao esporte.

    De acordo com Brandão, os atletas assimilam melhor o fim da carreira quando este se dá por vontade própria, sendo capazes de concluí-la após terem alcançado os seus principais objetivos, continuando de alguma forma envolvidos com o meio esportivo. Uma sugestão para um período de transição com um mínimo de tranqüilidade é dada por Moraes (1981), para quem é necessário que o atleta profissional esteja preparado pelo menos para administrar o seu próprio dinheiro, usufruindo com segurança os bens conquistados. Independentemente das causas de transição, Brandão (2001) considera que o sucesso neste período exige uma busca por uma autonomia pessoal durante a carreira, além da necessidade de se ter um conhecimento sobre as mais diversas formas de investimentos dentro e/ou fora da área esportiva.


Aspectos metodológicos

    A presente pesquisa caracteriza-se como sendo um estudo descritivo. Nessa investigação participaram 14 ex-jogadores de futebol profissional, com idade média de 35,2 ± 4,4 anos, atuantes na Liga Regional de Futebol Amador de Bauru, São Paulo. Todos os participantes leram e assinaram o Termo de Consentimento Informado. A coleta de dados consistiu na realização de duas entrevistas semi-estruturadas com cada depoente, nas quais buscamos verificar como se deram a escolha, o início e o término da carreira. A percepção da carreira também foi verificada nas entrevistas. Essas foram realizadas individualmente e gravadas em fitas cassetes através de um rádio gravador da marca Panasonic. Com a intenção de comprovarmos as respostas das entrevistas, aplicamos, com cada depoente, um questionário com questões fechadas, referentes à temática em discussão, no qual buscamos verificar o grau de importância que o depoente dava aos possíveis fatores que poderiam determinar o encerramento da carreira. Após a coleta dos depoimentos, estes foram transcritos, tabulados, as informações foram cruzadas e receberam o procedimento estatístico descritivo.


Resultados

    Ao caracterizarmos os sujeitos do estudo, constatamos a idade média de 35,2 ± 4,4 anos. O início da carreira ocorreu aos 17,1 ± 2,9 anos; o tempo médio que atuaram como jogadores profissionais foi de 9,1 ± 5,3 anos e, neste período, passaram por 5,5 ± 3,0 clubes em média.

    Antes de se ter conhecimento dos fatores que os levaram ao abandono da tão sonhada profissão, torna-se necessário apontarmos as principais razões que os levaram a optarem por ela. De acordo com as respostas, 35,7% foram movidos pelo prazer de jogar futebol e pela possibilidade de uma vida melhor. Destes, 50% relataram a influência de familiares e 28,6% afirmaram que foram influenciados pelas informações vinculadas pela mídia.

    Quanto ao objetivo principal deste estudo, a falta de estabilidade na profissão foi apontada por 71,4% dos entrevistados; 35,7% alegaram a falta de estrutura dos clubes e casos de lesões durante o tempo de atuação; 28,6% destacaram os baixos salários recebidos e a falta de profissionalismo dos dirigentes, empresários e técnicos; para 21,4% dos entrevistados a organização dos clubes e a distância da família também foram fatores decisivos, tal como mostra o Gráfico 1.

    Apesar dos resultados acima apontarem para uma deficiência em toda a estrutura do futebol profissional, nota-se, através da Tabela 1, que 57,1% dos entrevistados consideram uma "boa carreira" e 78,6% reconhecem a possibilidade de recebimento de altos salários, desde que se jogue em uma equipe considerada "grande", fato este que ocorreu com apenas um dos entrevistados. Além disso, 57,1% entendem que há falta de profissionalismo das pessoas que comandam o futebol; 42,9% e 35,7% dos entrevistados consideram, respectivamente, que não há estabilidade profissional e que se trata de uma profissão ilusória.

    De acordo com o questionário aplicado (Tabela 2), constatamos que 57,1% entrevistados consideram que a falta de estabilidade e falta de pagamento tem muita relevância para o abandono da carreira; 42,9% deram muita importância à questão salarial; 50% classificaram como grau médio a distância da família; 35,7% consideram que a relação com os dirigentes tem grau médio de importância; 42,9% consideram que as lesões não têm nenhuma importância e 42,9% não deram importância alguma à escolaridade.


Discussão

    Antes de iniciarmos as discussões pertinentes ao tema, torna-se interessante validarmos os sujeitos deste estudo. Ao verificarmos o perfil dos entrevistados, entendemos que o tempo médio de carreira de 9,1 anos e o fato de terem atuado em média por 5,5 clubes indicam que os entrevistados podem ter vivenciado as mais variadas experiências como jogador profissional de futebol.

    Ao analisarmos os resultados acima, percebemos vários aspectos a serem destacados. Iniciaremos a discussão pelos motivos que os levaram a optarem pela profissão de jogador de futebol. Ao conhecermos suas motivações, poderemos confrontá-las com as razões que os levaram à desistência, verificando se o que pensavam a respeito da profissão tinha sentido. Ao analisarmos essas razões, notamos que o prazer de jogar futebol e a possibilidade de uma vida melhor (35,7%) foram determinantes. Ao questionarmos as possíveis influências, eles alegaram que os pais ou responsáveis e a imprensa especializada foram as principais. Esses resultados não nos surpreendem, pois, para quem acompanha os anseios de crianças e jovens, para quem acompanha os anseios dos familiares recorrentes, principalmente, dos apelos da mídia, eles são totalmente justificáveis.

    Ao analisarmos os motivos que os levaram a abandonarem a carreira que tanto almejaram, constatamos uma quantidade significativa de razões consideráveis. Falta de estabilidade, estrutura precária dos clubes, lesões, baixos salários e falta de profissionalismo dos envolvidos com o futebol foram os principais motivos apontados. Dificilmente esses e outros motivos destacados possam ser visualizados em outras profissões. Todas essas razões estão relacionadas à má organização do futebol e estão a todo o momento em destaque na mídia, mesmo que de maneira "camuflada". Como pode uma profissão apresentar tantos problemas e ainda assim, ser tão desejada?

    Ao compararmos os motivos que os levaram ao abandono e suas opiniões com relação à percepção da carreira, constatamos algumas divergências. A primeira divergência está relacionada à estabilidade da profissão. Como destacado nos resultados, 71,4% dos entrevistados apontaram a instabilidade como a principal razão para o abandono. Ao confrontarmos esses números com os obtidos com a aplicação do questionário, verificamos que os valores são bem próximos, pois 57,1% dos entrevistados deram muita importância e 35,7% deram importância média à falta de estabilidade da profissão. Porém, quando o assunto era a opinião da carreira, apenas 42,9% destacaram a instabilidade como uma característica.

    A falta de pagamento e a falta de perspectiva, que também podem estar associadas à falta de estabilidade, foram consideradas, respectivamente, de muita e média importância por 57,1% dos entrevistados. A falta de perspectiva não foi apontada em nenhuma das entrevistas. Esses resultados nos levam a crer que a instabilidade é um dos principais problemas do futebol. Apesar disso, não encontramos razões que justifiquem porque apenas 42,9% dos entrevistados percebem a instabilidade como uma característica deste esporte.

    A questão salarial, tal como a instabilidade, também apresentou divergência, pois, através das entrevistas, constatamos que 28,6% destacaram os baixos salários recebidos como um dos motivos para o abandono, enquanto que no questionário 42,9% deram muita importância e 35,7% deram importância média a este fator. O mesmo ocorreu quando ao assunto era a família. Nas entrevistas, 21,4% dos entrevistados afirmaram que a distância da família pesou na decisão. Já no questionário constatamos que 50% consideram esta razão como importância média. Ao contrário da primeira divergência, estas podem ter uma explicação. Durante uma entrevista, vários aspectos podem passar despercebidos pelos entrevistados. Neste sentido, a aplicação do questionário pode mostrar algumas razões que eles não haviam se atentado.

    Ao analisarmos as lesões, verificamos que 35,7% alegaram que os casos de lesões durante o tempo de atuação foram fatores decisivos para o abandono da carreira. Este valor foi comprovado com as respostas dos questionários, pois constatamos que 21,4% dos entrevistados deram muita importância à lesão e 14,3% classificaram-na como importância média.

    Apesar dos fatores negativos elencados acima, 57,1% dos entrevistados ainda visualizam a profissão de jogador de futebol como uma "boa carreira"; 78,6% acreditam na possibilidade de recebimento de altos salários, desde que se jogue em clubes de elite, fato este que ocorreu com apenas um dos entrevistados. Isso pode indicar que o "sucesso" é apenas para poucos, tal como destacado em nossa introdução. Talvez, por não terem vivenciado o contexto dos chamados "clubes grandes", o que ocorreu com apenas um dos entrevistados, 35,7% consideram que se trata de uma profissão ilusória. Porém, o fato de jogarem em equipes de "ponta" não seria garantia de sucesso ou de um período de transição mais tranqüilo, tal como apontou Brandão (2001).

    Um fato alarmante e que pode comprometer nossas expectativas de uma melhora na situação atual do futebol profissional é que 28,6% consideram a falta de escolaridade como importância média e 42,9% consideram que este fator não possui nenhuma importância. Esses números divergem com as informações destacadas neste estudo, pois a escolaridade pode ser essencial, determinando não apenas a qualidade do início, mas também sendo decisiva durante o tempo de atuação e, principalmente, após o encerramento da curta carreira.


Considerações finais

    Devido às inúmeras e diferentes respostas obtidas neste estudo, chegamos à conclusão que o futebol pode ser caracterizado como um esporte de muitas faces, nas quais se percebe aspectos positivos e negativos muito próximos, comprovando, apesar da simplicidade da palavra "futebol", que este envolve aspectos complexos que merecem ser estudados.

    Porém, torna-se interessante colocarmos que talvez a idéia de que a mídia destaca apenas os aspectos positivos não seja totalmente verdadeira, pois, ao atingirmos o objetivo principal deste estudo, constatamos que os principais motivos elencados pelos entrevistados são, a todo o momento, mostrados pela imprensa especializada. É muito comum a divulgação de listas de dispensas dos clubes, de relações de clubes devedores, de jogadores reclamando do atraso e da falta de pagamento, de ex-jogadores abandonados e passando necessidades, além da falta de estrutura do futebol brasileiro.

    O que falta é uma nova postura do espectador que não está acostumado a ler nas "entrelinhas". Assim, torna-se necessário, no sentido de se evitar a ilusão dos que procuram esta carreira, uma interpretação mais realista das informações disponíveis, além da necessidade de mudança de comportamento dos que optam pela carreira, para que não passem por situações traumáticas.

    O que precisa ficar claro é que, apesar dos inúmeros esforços para sanar os problemas da profissão, tal como a elaboração da Lei Pelé, que tinha como pretensão garantir uma estabilidade para os jogadores de futebol, há muitos problemas que precisam ser discutidos e leis que precisam ser revistas e reformuladas no sentido de permitir um espaço profissional mais estável.


Referências

  • BARROS, F. L. Carreira de sonhos e ilusões. Revista Família Crista, São Paulo 1990; 56: 64-5.

  • BRANDÃO, M. R. F. Transição de carreira esportiva em jogadores de futebol profissional. São Paulo, SP: I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE PSICOLOGIA DO ESPORTE, 2001.

  • LEVER, J. A loucura do futebol. Rio de Janeiro: Record, 1983.

  • MENDELSOHN, D., El retiro del futbolista. Revista Digital: Educación Física y Deportes. Disponível em: http://www.efdeportes.com. Acesso em: 10 set. 2004.

  • MORAES, O. Futebol: uma profissão sem futuro, ou um futuro sem profissão? Revista Brasileira de Educação Física e Desporto, Brasília 1981; 48: 22-4.

  • NEGRÃO, R. F. O trabalho do jogador de futebol profissional. São Paulo. Revista Discorpo 1994; 2: 59-68.

  • PIRES, J. G. O viver de ontem e de hoje do jogador de futebol profissional: o caso da cidade de Bauru. Dissertação de Mestrado em Educação. Universidade Metodista de Piracicaba: Piracicaba, 1994.

  • RANGEL, S. Maioria dos jogadores de futebol ganha até R$ 360,00 no Brasil. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/arquivo.htm. Acesso em 15 nov. 2003.

  • ROFFE, M. Retiro del futbolista. El drama del dia después. Disponível em: http://www.efdeportes.com. Acesso em: 10 set. 2004.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 12 · N° 115 | Buenos Aires, Diciembre 2007  
© 1997-2007 Derechos reservados