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Avaliação da curvatura cervical e lombar,
em atletas de diversas modalidades esportivas,
pela técnica do Conformador Curetow Gunby

   
Centro Universitário Toledo - UNITOLEDO,
Araçatuba - SP - Curso de Especialização em
Fisiologia e Performance do Exercício Físico.
(Brasil)
 
 
Profª. Ms. Neusa Rosa Nunes  
Prof. João Paulo Gonçalves de Jesus  
Prof. Ms. Sérgio Tumelero
tumelero.prof@toledo.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Atividades diárias e a prática regular de atividades físicas, principalmente quando associadas a prática do desporto de competição causam alterações posturais que, no início, passam despercebidas pelo indivíduo, mas que com o passar do tempo, causam incapacidades de ordem física. Tentando prevenir tais problemas e investigar essas alterações, estudamos a curvatura cervical e lombar com objetivo de identificar alterações e informar aos avaliados suas reais condições para que os mesmos iniciassem a realização de exercícios para compensação, evitando os malefícios que a má postura ou a prática regula do exercício físico poderia acarretar na acentuação da curvatura.
    Unitermos: Curvatura. Modalidades. Postura.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 115 - Diciembre de 2007

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Introdução

    A estabilização do padrão postural se instala lentamente no indivíduo e vai se ajustando ao longo do tempo de vida, sendo provocado pela ação da gravidade. Existe uma postura que preenche as necessidades biomecânicas da estrutura corporal e permite manter a posição ereta do adulto. Existem referências que apontam para a eitação de que, quando temos uma "boa postura", a linha da gravidade deve passar pela apófise mastóide, extremidade do ombro, quadril e anteriormente ao tornozelo (KNOPLICH, 1986).

    A força da ação da gravidade sobrecarrega as estruturas responsáveis por manter o corpo numa postura ereta. Normalmente, a linha de ação dessa força passa através das curvaturas fisiológicas da coluna vertebral, mantendo-as equilibradas (KISNER, 1992).

    A boa postura está associada com a saúde e o vigor físico e, obviamente, a má postura associada a doenças ou mal estar dos indivíduos. A má postura esta ligada a fatores musculares inadequados e, provavelmente, a fatores emocionais. Está, também, ligada a uma contração excessiva dos músculos, o que diminui a atividade dos fusos neuromusculares (KNOPLICH, 1986).

    Postura envolve o conceito de equilíbrio, coordenação neuromuscular e adaptação, e deve ser aplicado a um determinado momento e a uma determinada circunstância (andar, sentar, etc.). Existem padrões culturais e mentais que influem na postura. A postura do adulto é mais que isso. É um hábito permanente de colocar o corpo no espaço, posição a que o indivíduo sempre volta depois da atividade ou do descanso.

    Na postura estática ou constante o corpo pode assumir uma infinidade de posturas que são confortáveis por longos períodos, e existem vários fatores que servem aos mesmos objetivos. Normalmente, quando ocorre desconforto por compressão articular, tensão ligamentar, contração muscular contínua ou oclusão circulatória, uma nova postura é procurada. Posturas habituais, sem alterações da posição, podem levar a lesões e limitações do movimento ou até mesmo à deformidades.

    No adulto são necessários bons hábitos posturais para evitar sindromes dolorosas e disfunções. Na criança, os bons hábitos posturais são importantes para evitar sobrecargas anormais sobre os ossos em processos de crescimento, acompanhadas de alterações adaptativas em músculos e tecidos moles (KISNER, 1992).

    A cifóse postural ocorre devido a posições habituais incorretas. Esta alteração é mais aparente durante o período de crescimento rápido na adolescência. As causas predisponentes a isto incluem a visão e audição defeituosas, o sentar-se errado ou a má iluminação nas escolas, que impõem uma postura adaptativa ao aluno.

    A imagem corporal que cada pessoa faz de si própria, colabora na melhoria da sua postura e está intimamente associada a própria correção mecânica da coluna vertebral. Com a melhoria da imagem corporal e, consequentemente, da própria postura, os fatores emocionais podem também ser melhorados.

    A coluna vertebral é constituída de 33 ossos individualizados, as vértebras, que em disposição seriada, uns sobre os outros, são estendidos pela nuca, tórax, abdome e pelve, classificadas em 7 cervicais, 12 torácicas, 5 lombares, 5 sacrais e 4 coccígeas.

    O processo espinhoso da 7ª vértebra da região cervical (C7), é facilmente palpável e, em geral, claramente visível quando o pescoço está fletido (MOORE, 1994).

    Para RASCH (1988), os músculos da categoria anterior causam flexão da coluna vertebral, enquanto os da categoria posterior são responsáveis pela extensão. Toda a fisiologia tônica é praticamente inconsciente e escapa a qualquer comando voluntário. Na função muscular tônica devemos separar "atividade postural antigravitacional" e "atividade postural direcional" (BIANFAIT, 1989).

    Muitos fatores podem influenciar a manutenção e a reeducação da postura, como hereditariedade, patologia, controle emocional, vícios posturais, desenvolvimento motor, aspectos psicológicos, sociedade e o meio em que se vive.

    A relação de dependência entre o estímulo mecânico e a resposta biológica define o princípio da adaptação funcional, segundo a qual todas as estruturas biológicas que desempenham funções mecânicas tem seu desenvolvimento e diferenciação influenciados por grandezas mecânicas.

    O desvio de uma parte da coluna vertebral resulta em alterações de outra para compensar e manter o equilíbrio corporal. Sendo assim, o desvio da coluna vertebral pode gerar solicitações funcionais prejudiciais. Entretanto, os raios de curvatura de cada porção da coluna vertebral apresentam claras variações individuais sem que necessariamente se instale um quadro patológico.


Objetivos

  • Estudar, em atletas de diferentes modalidades esportivas, a curvatura anatômica antero-posterior da coluna cervical e lombar, seu padrão normal e o que é considerado má postura.

  • Verificar possíveis alterações na curvatura cervical e lombar com intuito de orientar quanto à prática regular do exercício físico.

  • Estudar e as causas gerais que provocam efeitos maléficos na estrutura corporal.

  • Elaborar, em conjunto com os envolvidos, um programa de atividades para compensação da postura inadequada.


Metodologia

    A pesquisa foi realizada entre os anos de 2000 a 2005, com 344 alunos do Curso de Educação Física do Centro Universitário Toledo de Araçatuba, divididos em: 200 do sexo masculino e 144 do sexo feminino, com idades entre 19 e 38 anos, sendo divididos em categorias por modalidade esportiva praticada, tendo sido aprovado pela comissão de ética em pesquisa e com anuência dos participantes.

    Para avaliação da curvatura cervical e lombar, utilizou-se o Conformador de Curetow Gunby (Fig. 1) e paquímetro para mediar as distâncias encontradas. Os resultados foram registrados para acompanhamento.

    O conformador consiste de um prumo de madeira posto de pé sobre uma base, com um número de hastes que se deslocam horizontalmente através de furos feitos nesse prumo. As hastes são ajustadas à conformação da curvatura dorsal da pessoa. O aluno a ser avaliado fica em pé com as costas voltadas para as hastes, de tal modo que, quando as hastes são colocadas suavemente no lugar, as pontas das mesmas apenas toquem os processos espinhosos das vértebras.


Figura 1. Conformador de Curetow Gunby.


Resultados

    Quando observamos e comparamos os resultados encontrados para a avaliação da distância de C7, no grupo masculino, constatamos que com exceção da modalidade de natação, todas as outras modalidades apresentam valores considerados superiores as faixas de normalidade para esta avaliação (que é de 4 cm), sendo significativamente superiores para as modalidades de handebol, capoeira, ciclismo, judô, voleibol, para indivíduos sedentários. Estes valores estão representados no gráfico 1.

    Para a distância de C7, para o grupo feminino, foram verificados valores inferiores para o limite permitido para a avaliação somente na modalidade de dança, que apresentou valor médio de 2,53cm. Valor significativo foi encontrado para as praticantes da modalidade de handebol, onde os valores foram em média de 5,63cm. Estes valores estão representados no gráfico 2.

    No gráfico 3 representamos os valores da distância lombar para o grupo masculino, onde encontramos valores superiores aos considerados normais, que é de 4cm para esta avaliação para os praticantes da modalidade de karatê e basquete, apesar dos valores não apresentarem diferenças estatisticamente significantes. Os menores valores foram encontrados para os praticantes das modalidades de ciclismo e judô.


    Para a distância na região lombar, no grupo feminino observamos que os valores superiores a média aceita para a avaliação foram para as modalidades de natação e dança, apresentando-se significativamente superior para a modalidade de natação. Os menores valores foram registrados para as praticantes da modalidade de basquetebol. Estes valores estão representados no gráfico 4.

    Tentando fazer uma relação entre a acentuação da curvatura, tanto lombar, quanto cervical avaliou-se o peso corporal, tanto para o grupo masculino, quanto para o grupo feminino, onde foram encontrados valores superiores para o grupo masculino para as modalidade de handebol, atletismo e musculação, podendo haver uma relação entre o peso corporal apresentado a distância para a C7. Os valores de peso corporal para o grupo masculino estão representados no gráfico 5. Com relação ao peso corporal, para grupo feminino, os maiores valores foram registrados para as modalidades de handebol, basquetebol e voleibol, enfatizando a possibilidade de o peso corporal influenciar na distância cervical, uma vez que as três modalidades apresentaram curvaturas superiores aos valores considerados normais. Estes valores estão representados no gráfico 6.


    Handebol e voleibol foram as modalidades para o grupo masculino, que apresentaram maiores valores para a estatura, evidenciando que a estatura influencia a distância para a cervical, uma vez que esta modalidade apresentou valores superiores para a distância nesta região. Representamos estes valores no gráfico 7.

    Para a estatura, registrada para o grupo feminino, foram encontrados valores superiores para as modalidade de handebol e basquetebol, registrando-se para estas modalidades, também valores acima do considerado normal para a distância de C7. Para a distância lombar parece que a estatura não apresenta significância, uma vez que para estas mesmas modalidades os valores ficaram dentro da faixa de normalidade. Estes valores estão representados no gráfico 8.


Conclusões

    Com relação a distância para a C7 observamos que para ambos os grupos os maiores valores apresentados foram para os atletas da modalidade de handebol, o que nos permite concluir que esta modalidade parece causar maior alteração nos valores considerados normais. Para a região cervical da coluna.

    As modalidades indicadas para a prática da atividade são a natação e a dança, por apresentaram valores menores valores, quando comparados as outras modalidades.

    Para a distância na região lombar, por necessidade de compensação da distância da C7, a coluna, nesta região apresenta-se mais acentuada para as modalidades de natação e karatê, para os grupos feminino e masculino respectivamente.

    Outro fator que, provavelmente deva contribuir para estes valores é a relação da estatura e peso corporal, uma vez que evidenciou-se nas modalidades em que os atletas apresentavam maior peso corporal e maior estatura desvios mais acentuados, tanto no masculino, quanto no feminino.

    Concluímos, portanto, que a aplicação e o controle de exercícios adequados, podem favorecer a coluna cervical e lombar na correta manutenção da postura e evitar danos nocivos aos praticantes de qualquer modalidade, tanto em relação ao desempenho atlético, quanto em sua vida particular.


Referências bibliográficas

  • AMADIO, A.C. Fundamentos biomecânicos para a análise do movimento. Ed. EEFUSP, 1ª ed. 1996. São Paulo.

  • ASSERE, C. Variações de postura na criança. Ed. Manole, São Paulo l976.

  • BIANFAIT, M. Fisiologia de terapia manual, Ed. Sumus, 1989.

  • CURETON, K.T., WICKESNS, J. S. The center of the human body in the Antero-posterior plane and its relation to posture, physical fitness, and atheletic ability. Supplement to research. Vol. 6, (2), May, 1935.

  • CURETON, K. T., WICKESNS, J. S., ELDER, H. P. Reabiability and objectivity of springfield postural measurements. Supplement to research Vol. 6, (2), May, 1935.

  • DONALD K. M. Medida e Avaliação em Educação Física. Teste de postura estática Antero-Posterior. Guanabara Koogan, 1986.

  • ESPENCE P. A. Anatomia Humana básica. Funções da coluna vertebral. 2ª ed., Manole, 1991.

  • HALL, S. Biomecânica Básica. Guanabara Koogan, 1ª ed., 1993, Rio de Janeiro.

  • KISNER, C. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnica Lynn Allen Colby. Tradução de Lilia Breternitz Ribeiro. Manole - São Paulo 1992.

  • KNOPLICH, J. Enfermidades da Coluna Vertebral. Paramédica Editorial, 2ª ed. São Paulo, 1986.

  • MARTIN, R. A., SOUZA. D. C. Alteração e modificações da coluna vertebral. Editora da Unicamp. 1996.

  • MELLO, P. R. B. Introdução e ginástica escolar especial. Manole, São Paulo l986.

  • MOORE L. K. Anatomia orientada para a clinica, 3a ed., Guanabara - Rio de Janeiro 1994.

  • ORAHILLY M. D. Anatomia Humana básica - Um estudo regional da estrutura humana. Coluna vertebral em geral. Internacional. 1992.

  • RALL J. S. Biomecânica Básica. Guanabara - Rio de Janeiro 1993.

  • RASCH J. P. Cinesiologia e Anatomia Aplicada. 7a ed., Guanabara - Rio de Janeiro 1988.

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