efdeportes.com
Modelagem de um programa de aptidão física para a saúde de
trabalhadores de um serviço de lavanderia hospitalar pública
Modeling of a health related physical activity program for a public hospital's laundry workers

   
*Educador Físico. Membro Efetivo do ILAFIT. Especialista em
Ginástica Médica FICAB, Especialista em Exercícios Resistidos
na saúde, na Doença e no Envelhecimento - FMUSP.
**Enfermeira. Administradora Hospitalar. Dra. em Enfermagem pela UFSC.
www.vetorialnet.com.br/~cafp
 
 
Edison Alfredo de Araújo Marchand*  
Hedi Crecencia Heckler de Siqueira**
cafp@vetorial.net
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     Este trabalho objetiva apresentar a modelagem de um programa de aptidão física para a saúde dos funcionários de um serviço de lavanderia hospitalar pública. Ele emergiu de um estudo sobre o contexto do ambiente físico, da atividade desenvolvida, da percepção subjetiva da dor localizada e do perfil individual dos sujeitos, realizado com o propósito de reduzir o absenteísmo. Após a análise de dados, obtidos através do levantamento documental junto aos recursos humanos a respeito do absenteísmo, a avaliação da aptidão física dos sujeitos envolvidos, a observação sistemática do tipo e a forma de atividade profissional desenvolvida, a entrevista semi-estruturada, individual, com enfoque na percepção subjetiva da dor localizada, optou-se em construir a modelagem de um programa de aptidão física para a saúde dos funcionários. Essa modelagem, após as devidas adaptações às circunstâncias e às necessidades das atividades específicas, pode ser utilizada para outros grupos profissionais, auxiliando-os a um estilo de vida favorável e conseqüentemente a uma melhor qualidade de vida.
    Unitermos: Modelagem. Aptidão física. Trabalhadores. Saúde.
 
Abstract
     The study aims to present a model for a health related physical activity program for a public hospital's laundry workers. It began as a study on the context of the environment, activities, perception of subjective pain and individual profile of the workers in order to reduce absenteeism among them. After data collection and analysis, based on the information about absenteeism, physical fitness evaluation, systematic observation of activities patterns and an individual interview focusing subjective localized pain, a health-oriented physical fitness program was the choice. The model, after adaptations towards specific activities, can be employed among different professional groups, helping them to achieve a better life quality and a healthier lifestyle.
    Keywords: Modeling. Physical fitness. Workers. Health.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 115 - Diciembre de 2007

1 / 1

Introdução

    A modelagem caracteriza-se, segundo American College Sport Medicine (1996), por favorecer a melhora dos componentes relacionados à aptidão física para a saúde, por não exigir talento especial, por utilizar equipamento adequado, por oferecer condições ambientais favoráveis, por não ser longo e extenuante, por propiciar benefícios que possam ser sentidos e medidos, por oferecer modalidades de exercícios que sejam benéficos para saúde, seguros e adequados às necessidades dos sujeitos e por ser de prática fácil e regular.

    O gerenciamento do modelo proposto fica ao encargo do educador físico, que realiza o planejamento das atividades, decide as modalidades a serem oferecidas e executadas. Ele é o responsável pelas avaliações, orientações e prescrições dos exercícios. O ambiente de desenvolvimento do programa, o ambiente físico, deve apresentar as seguintes características: seguro, limpo, agradável e com equipamentos apropriados e que recebam manutenção constante (MARCHAND, 2004).

    Os exercícios físicos utilizados na modelagem têm a fundamentação de sua prescrição nos princípios norteadores da prática clínica do educador físico: a individualidade biológica (Godoy, 1994; Dantas, 1995; Gomes e Filho, 1995) é o primeiro princípio e refere-se ao respeitar as diferenças morfológicas, funcionais, psicossociais e econômicas de cada sujeito para que desta forma seja possível, a partir do programa, beneficiar ao máximo cada um; o princípio da especificidade (Kisner e Colby, 1992; Pollock et al., 1986; Pearl, 1996), torna-se importante na determinação de quais exercícios devem ser realizados pelo trabalhador, uma vez que é considerada a especificidade de sua atividade e isso implica em utilização de grupos musculares em ações específicas; ao princípio da sobrecarga (Moreira e Bittencourt, 1985; Vivacqua e Hespanha, 1992; Dantas, 1995; Gomes e Filho, 1995), deve ser dada grande atenção, porque o trabalho manual (Astrand e Rodahl, 1987; Torres e Lisboa, 2001), a que o sujeito está habituado a realizar, é caracterizado por ser cansativo e repetitivo. Logo, a aplicação de uma sobrecarga, que extrapole a tolerância de seu esforço físico, poderá ser motivo de problemas de saúde e comprometimento da sua capacidade de trabalho; o princípio da continuidade (Nahas, 1989) deve ser respeitado objetivando garantir a evolução progressiva e não agressiva da aptidão física do sujeito. Com isso, as respostas às intensidades impostas pelo treinamento têm condições de apresentarem adaptações orgânicas favoráveis à saúde do sujeito; o princípio da conscientização (Gomes e Filho, 1995) objetiva informar ao sujeito sobre as atividades que ele irá realizar, esclarecendo o tipo de exercício, como, quando e por que é feito. Com isso, consegue-se uma participação mais motivada e consciente; e o princípio da adaptação (Vivacqua e Hespaha, 1992) refere-se aos agentes estressores a que o organismo está exposto. Frente a isso, todos os estímulos que o sujeito recebe no ambiente de trabalho e fora dele estão sujeitos à adaptação ou não. Quando a adaptação não ocorre, fica estabelecida uma situação de estresse, gerando problemas de saúde. O exercício físico é considerado um agente estressor mas, se forem respeitados tais princípios, tem-se condições de trazer adaptações orgânicas favoráveis à saúde e à qualidade de vida do sujeito.

    O serviço da lavanderia envolve atividades que passam a ser fatores estressores que favorecem ao aparecimento de problemas de saúde e conseqüente absenteísmo, tais como, as posições e movimentos dominantes adotadas durante a realização das atividades, os esforços exigidos e o modo de execução das atividades profissionais, juntamente com problemas na área física do serviço, associados ao baixo grau de aptidão física dos trabalhadores, bem como, o nível de entrosamento com os demais serviços institucionais que fornecem a matéria prima a ser processada e para os quais retorna, posteriormente o seu produto para ser utilizada junto ao cliente interno e externo da instituição.

    Sendo o estudo desenvolvido numa instituição hospitalar, percebeu-se que a falta de interconexão entre os diversos serviços interfere de forma significativa na atividade que deveria ser um resultado coletivo. Entre estes grupos destacou-se o serviço da enfermagem por ser o que fornece a maior parte da matéria prima a ser processada e também por representar o maior consumidor do produto da lavanderia. Além disso por ser o profissional que permanece maior tempo na instituição possui amplo conhecimento da estrutura e funcionamento dos demais serviços, poderia desencadear articulações e inter-relações entre os diversos serviços e assim obter produtos coletivos.


Metodologia

    O programa de aptidão física para a saúde foi delineado com base nos resultados obtidos através do levantamento documental junto aos recursos humanos a respeito do absenteísmo, a avaliação da aptidão física dos sujeitos envolvidos, a observação sistemática, envolvendo o tipo e a forma de atividade profissional desenvolvida e a entrevista semi-estruturada, individual, com enfoque na percepção subjetiva da dor localizada. Com esses dados foi possível diagnosticar as carências e as potencialidades de cada sujeito e viabilizar a prescrição de um programa individualizado objetivando o desenvolvimento de atividades para se conseguir diminuir os problemas de saúde, afastamento do trabalho e, principalmente oportunizar uma melhor qualidade de vida, utilizando um programa de aptidão física próprio às necessidades detectadas em cada trabalhador.

    Conforme o American College Sport Medicine (1996), as baterias de testes e avaliações devem ser caracterizadas por apresentarem relativa segurança, confiabilidade, facilidade de testar e oferecer medidas dos diferentes componentes da aptidão física. Devem ser seguidas as normas recomendadas para a realização destes, onde: todos os testes e avaliações de aptidão física devem ser realizados no mesmo dia; devem respeitar a ordem (composição corporal, aptidão músculo-esquelética e aptidão cardiorrespiratória) e os intervalos entre os testes (três minutos); e as roupas utilizadas para a realização dos testes devem ser tênis, bermuda e camisa ou camiseta.

    A freqüência semanal, para Monteiro (1997), está na dependência do nível de aptidão do sujeito, do tipo de treinamento, da disponibilidade de tempo, dos recursos disponíveis e da forma como foi elaborado o treino. A freqüência semanal adotada deve ser duas a três vezes, conforme recomendado por THOMPSON (2000). Tem-se estabelecido que dois a três treinos por semana, com dias de descanso entre as sessões, favorecem a recuperação física (Sharkey, 1998 e Fleck e Kraemer., 1999) e que o aumento da freqüência de treino é conseqüência da resposta adaptativa de cada praticante (Fleck e Kraemer., 1999).

    A modelagem é composta por sete etapas distintas e que respeitam uma seqüência lógica de aplicação. As etapas estão fundamentadas no conhecimento do contexto do ambiente físico, no perfil do sujeito e no conhecimento literário sobre aptidão física. Com esses procedimentos, é possível desenvolvê-la e obter êxito nos resultados finais obtidos, demonstrando que essa representação é capaz de beneficiar os funcionários do setor de lavanderia hospitalar.

    A 1a etapa da construção da modelagem - conhecimento do contexto - objetiva conhecer o contexto do ambiente físico, onde os sujeitos desenvolvem suas atividades profissionais, observando a presença de ruídos, vapores, poeiras, fumaças e produtos químicos, assim como a temperatura.

    A 2a etapa - perfil do sujeito - consiste em saber quem é o sujeito que irá participar ativamente do programa, qual o seu estilo de vida, assim como o tipo de atividade profissional que ele desenvolve. Com isso busca-se determinar qual a posição dominante adotada durante a realização da atividade, os movimentos dominantes, os esforços exigidos e o modo de execução das atividades.

    A 3a etapa - conscientização - consiste em informar o sujeito sobre a atividade que será desenvolvida, objetivando aumentar a adesão e a motivação em participar de forma efetiva no programa. Esta etapa é um incentivo a descobrir seu atual nível de aptidão física, tornando-o mais consciente da necessidade e dos possíveis benefícios que os exercícios físicos de caráter individualizado podem proporcionar para que se atinja a melhor condição de saúde e de qualidade de vida.

    A 4a etapa - avaliação de aptidão física para a saúde. Essa avaliação compreende:

  • Composição corporal - é o primeiro aspecto a ser avaliado com o objetivo de conhecer qual a porcentagem de gordura e massa corporal magra do sujeito. É estabelecida a densidade corporal a partir das equações de predição de Pollock (Pollock et al., 1986, American College Sport Medicine, 1996 e Thompson, 2000) e, após, a porcentagem de gordura pelo método de Siri (FARINATTI e MONTEIRO, 1992; AMERICAN COLLEGE SPORT MEDICINE, 1996; THOMPSON, 2000; NAHAS,2001; ALLSEN et al., 2001; TRITSCHLER, 2003).

  • Aptidão músculo-esquelética - deverão ser realizados os seguintes testes de avaliação propostos por NAHAS (2001): o teste abdominal modificado objetivando avaliar a força e a resistência da musculatura abdominal, o teste de flexão/extensão dos braços para determinar a força muscular dos membros superiores e o teste de sentar-e-alcançar para medir a flexibilidade da região lombar e do quadril.

  • Aptidão cardiorrespiratória - deve ser utilizado o teste de Astrand modificado, proposto por Leite (1986), para estabelecer qual o consumo de oxigênio do sujeito.

    Na 5a etapa - diagnóstico da atual situação do sujeito - com base na avaliação da aptidão física realizada anteriormente, é possível ser chegar ao diagnóstico da atual situação do sujeito, assim como compará-lo com valores de referência para estabelecer se seu nível de aptidão oferece risco para sua saúde ou não.

    A 6a etapa - prescrição dos exercícios físicos - para a aptidão músculo-esquelética deve-se realizar exercícios que objetivem o aumento da força, da resistência e da flexibilidade muscular. Para a aptidão cardiorrespiratória devem ser prescritos exercícios que favoreçam o aumento do consumo de oxigênio.

    Os exercícios para a aptidão músculo-esquelética, força e resistência, devem ter a determinação das cargas de trabalho, a partir do teste de peso por repetições (COSSENZA e CARNAVAL, 1985; COSSENZA, 1990). O teste consiste na execução de 10 movimentos, onde são observadas a eficiência mecânica e o ritmo constante dos movimentos. O teste é encerrado na última carga em que o sujeito mantiver a eficiência mecânica e o ritmo constante na execução dos 10 movimentos solicitados, sendo esta a carga que ele trabalhará. Caso a execução perca a eficiência mecânica, o ritmo, ou ainda, não execute os 10 movimentos, é então considerada a carga para trabalho a em que o sujeito anteriormente tiver completado os 10 movimentos com eficiência mecânica e ritmo constante. A adoção das 10 repetições para a realização do teste de peso por repetições e posterior realização do programa é justificada, pois segundo Santarém (1995; 1999), cargas de trabalho que possibilitem entre 10 e 20 repetições, favorecem bons resultados na hipertrofia muscular e priorizam a sobrecarga metabólica do grupamento muscular trabalhado, ou seja, os processos de produção de energia anaeróbica são mais evidentes e favorecem os depósitos de glicogênio e água na célula muscular. As variáveis consideradas para a realização dos exercícios resistidos são assim determinadas:

    A carga é considerada a principal variável de controle de intensidade de treinamento. Ao ser selecionada, a última repetição deve ser executada com um pouco mais de dificuldade; caso ela seja de fácil execução, aumenta-se a sobrecarga, pois segundo Pollock et al. (1986); Leighton (1987); Andreson et al. (1995), só assim consegue-se rendimento muscular. A quantidade de carga utilizada deve ser a necessária para cumprir o número de repetições por série com boa eficiência mecânica (Leighton, 1987; Andreson et al., 1995; Sharkey, 1998; Santarém, 1999), e é a principal responsável para que ocorram alterações músculo-esqueléticas (KISNER e COLBY, 1992; FLECK e KRAEMER, 1999). Thompson (2000) considera que, em 10 repetições, atinja-se a intensidade de 60 % de repetições máximas, favorecendo tanto a resistência muscular quanto a força. A intensidade deve ser progressiva, sendo a carga ajustada quando o sujeito apresentar uma melhora na força que possibilite realizar com facilidade as repetições pré-estabelecidas (FLECK e KRAEMER, 1999). Entretanto, para os exercícios que envolvem os membros inferiores (coxas e pernas) e superiores (peitorais, dorsais e braços), deve-se adicionar uma nova carga de modo que seja possível retornar ao número inicial de repetições. Já nos exercícios de tronco (abdominais e paravertebrais), a sobrecarga adotada deve ter o maior número de repetições.

    Quanto às séries, deve ser adotado o número de três por exercício, objetivando ocorrer o maior recrutamento de fibras musculares. Conforme Baechle e Growes (2000), as realizações de séries múltiplas representam melhores resultados para o desenvolvimento da força e da resistência muscular. De acordo com os mesmos autores, as séries devem ser desenvolvidas em seqüência, ou seja, realizadas todas as três séries consecutivas para cada exercício de peito, costas, coxas, panturrilhas, bíceps e tríceps, cada uma com 10 repetições. Porém, para os exercícios abdominais e paravertebrais, devem ser realizadas três séries de 20 e 10 repetições, respectivamente.

    Deverá ser adotado o intervalo de trinta segundos entre as séries e entre os exercícios. Estes períodos de descanso entre as séries e entre os exercícios estão diretamente relacionados à duração e à intensidade do esforço. Ambos exercem influência direta na recuperação da energia e nas concentrações de lactato sangüíneo (KISNER e COLBY, 1992; MONTEIRO, 1997; FLECK e KRAEMER, 1999). Períodos curtos de descanso de até um minuto estão associados à fadiga; períodos mais longos, de um a três minutos, reduzem a demanda metabólica (FLECK e KRAEMER, 1999).

    A velocidade adotada para a execução dos exercícios resistidos deverá ser a moderada, pois é priorizada uma boa eficiência mecânica. A velocidade da contração muscular é inversamente proporcional à força por ela gerada, isso devido ao músculo não ter tempo suficiente de atingir seu pico de tensão (POLLOCK et al., 1986; KISNER e COLBY, 1992). Leighton (1987) considera que tanto a execução rápida como a lenta são eficazes no desenvolvimento da resistência e da força muscular, desde que a carga estipulada exija o máximo do grupo muscular solicitado. Os exercícios resistidos, geralmente, são executados com velocidades lentas para que se garanta maior segurança (KISNER e COLBY, 1992; SANTARÉM, 1999).

    A utilização da técnica correta para execução dos movimentos, associada a uma baixa velocidade, segundo Andreson et al. (1995) e Santarém (1999), torna-se importante para que se evitem lesões e se potencialize os treinos. A forma de condução do movimento está na dependência da carga suportada, quanto maior a carga, menor deve ser a velocidade de execução (MONTEIRO, 1997). O padrão de velocidade adotado é, aproximadamente, 2,5 segundos na fase excêntrica e 1,5 na concêntrica (SANTARÉM, 1999). De acordo com Baechle e Growes (2000), alguns aspectos devem ser considerados para o desenvolvimento da técnica correta. Para cada exercício deve ser observada: a pegada - sendo adotada a que mais se adequar para cada exercício; o posicionamento do corpo - refere-se à manutenção de uma posição inicial, estável e equilibrada, que favorece a execução dos movimentos; a velocidade de execução - representa o deslocamento do segmento trabalhado durante toda a amplitude de movimento evitando-se a realização de impulsos; e o padrão de respiração.

    A técnica respiratória a ser utilizada é a de expirar na fase concêntrica do movimento e inspirar na excêntrica. Recomenda-se esta técnica, pois durante a execução dos exercícios, se reduz a chance de ocorrer apnéia respiratória e com isso o aumento da pressão arterial (Fleck e Kraemer, 1999), o que também favorece o retorno venoso, mantendo a oxigenação do cérebro (BAECHLE e GROWES, 2000).

    A seqüência lógica a ser adotada é a de realizar, primeiramente, os exercícios que envolvem os grandes grupos musculares e após, os pequenos (BAECHLE e GROWES, 2000). A adoção dessa medida justifica-se devido aos pequenos grupos musculares estarem envolvidos na realização dos movimentos dos grandes e caso fossem realizados antes, poderiam estar cansados e isso prejudicaria o desenvolvimento dos exercícios dos grandes grupos musculares. A seqüência lógica estabelecida para membros inferiores deve ser: pressão de pernas, extensão dos joelhos e panturrilhas. Para os membros superiores deve ser: supino, puxada pulley, voador dorsal, tríceps e bíceps. Já os exercícios abdominais e paravertebrais devem ser realizados no final, após todos os outros.

    Os exercícios para a aptidão músculo-esquelética, flexibilidade, devem ser desenvolvidos pela utilização do método de alongamento suave, proposto por Anderson (1983), que consiste em estender a musculatura até o limite de uma pequena tensão. Atingindo esta tensão, relaxe, sustentando o alongamento por no máximo 30 segundos. Durante a realização dos exercícios deve-se respeitar as amplitudes normais dos movimentos articulares de cada sujeito, sendo a situação inicial de cada um o referencial de controle. Dantas (1995) considera esta medida um meio confiável para que se evite lesões músculo-articulares. Thompson (2000) também concorda, considerando este método seguro no que se refere a evitar lesões traumáticas, e favorável em promover aumento da flexibilidade.

    Para Blanke (1997), o bom nível de flexibilidade varia de acordo com a necessidade de cada um. Logo, a boa flexibilidade é aquela que permite ao indivíduo realizar os movimentos articulares, dentro da amplitude necessária durante a execução de suas atividades diárias e profissionais, sem grandes dificuldades e lesões. Ghorayeb et al. (1999) e Nahas (2001) consideram a redução da elasticidade muscular uma limitação que pode prejudicar a realização das atividades diárias de trabalho e de lazer.

    A prescrição dos exercícios para a aptidão cardiorrespiratória deverá ser baseada no método de METs Máximos (LEITE, 1990). A determinação do MET máximo é obtida pela divisão do valor obtido de VO2 máximo (ml/kg/min) por 3,5 ml/kg/min. Este resultado é o MET máximo. Segundo o mesmo autor, 1 MET = 3,5 ml/kg/min, que equivale a 1 km/h. Logo o valor percentual do MET máximo é o equivalente à velocidade em Km/h que o sujeito realizará na esteira. A velocidade constante é o parâmetro de controle de intensidade, que deverá estar entre 50 e 60% do MET máx.

    Conforme Leite (1990), 30 minutos de atividade é a duração mínima que deve ser adotada para que ocorra redução da gordura corporal. Pollock et al. (1998), consideram que os exercícios aeróbios de média intensidade apresentam melhores benefícios em reduzir os riscos de ocorrência de doenças crônico-degenerativas. Portanto, o tempo de atividade adotado, associado à média intensidade, e velocidade constante é justificado por Pollock et al. (1998) e Nieman (1999), como sendo o aconselhado para a redução da gordura corporal e a melhora dos sistemas metabólicos.

    A 7a etapa destina-se à realização da reavaliação da aptidão física para a saúde, conforme realizada na 3a etapa, objetivando verificar os resultados, comparando-os com os obtidos da 1a avaliação. Com isso poderá ser possível verificar se as ocorrências obtidas supriram as necessidades do sujeito envolvido e com base nesses realizar uma reprogramação.


Considerações finais

    A modelagem, fundamentada no aspecto teórico-prático da educação física, demonstrou que, apesar de não intervir na correção das posturas, das posições, dos movimentos e dos esforços dominantes adotados durante a realização da atividade dos sujeitos do Serviço de Lavanderia Hospitalar, foi capaz de auxiliar a eliminar os sintomas dolorosos, tanto na sua intensidade quanto na sua freqüência, em todas as regiões corpóreas indicadas como queixas de pontos de dor. Isto vem reforçar de que alguns problemas de saúde podem ser desencadeados em função da atividade profissional, de fatores ambientais, da estrutura física, como também pela falta de aptidão física para executar essas atividades.

    Portanto, a atividade profissional não necessariamente contribui para a boa aptidão física; e o tipo de atividade e a forma de realizá-la pode favorecer o aparecimento de sintomas dolorosos, reduzindo a capacidade de trabalho, diminuindo a qualidade de vida.

    Ao tentar estabelecer a relação entre aptidão física e capacidade de trabalho, em primeira instância, muitos profissionais educadores físicos lembram a ginástica laboral como meio de potencializar, de forma positiva, esta relação. No nosso entendimento, ela representa uma modalidade, ainda que positiva em muitos aspectos, mas que não atende a todos os componentes que determinam a boa aptidão física. Por considerá-la limitada, nossa proposta vê, nos programas de exercícios físicos para a aptidão física relacionada à saúde, uma metodologia viável e mais completa para que se melhore a aptidão física, potencializando o desenvolvimento dos seus três componentes: a aptidão cardiorrespiratória, a aptidão músculo-esquelética e a composição corporal.

    A aptidão física relacionada à saúde, quando estruturada em programas individualizados de exercícios, fundamentados nas avaliações de aptidão física, contribui para a melhoria da saúde, da qualidade de vida e da capacidade de trabalho dos sujeitos que deles participam, levando-o a sentir-se melhor.

    Considera-se que este modelo é capaz de adaptar-se às circunstâncias e às necessidades das atividades desses trabalhadores e dos de outros serviços realizados em instituições de saúde.

    Com base nesta proposta, acredita-se na necessidade da contribuição do conhecimento epidemiológico para fundamentar a prática clínica do educador físico, objetivando melhorar a saúde e a qualidade de vida, tanto individual quanto coletiva. Através da inter-relação do conhecimento epidemiológico e a prática clínica do educador físico, poderá ser favorecido o melhor desempenho das atividades profissionais e o processo de viver no cotidiano, o menor gasto com a saúde do trabalhador, a redução do absenteísmo ao trabalho e a melhor produtividade, tanto requerida pelo atual sistema capitalista.


Referências

  • ASTRAND, P.; RODAHL, K. Tratado de fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

  • ALLSEN, P. E.; HARRISON, J. M.; VANCE, B. Exercício e qualidade de vida. São Paulo: Manole, 2001.

  • AMERICAN COLLEGE SPORT MEDICINE. Manual para teste de esforço e prescrição de exercício. Rio de Janeiro: Revinter, 1996.

  • ANDERSON, B. Alongue-se. São Paulo: Summus, 1983.

  • ANDERSON, B.; BURKE, E.; PEARL, B. Estar en forma: el programa de ejercícios más eficaz para ganar fuerza, flexibilidad y resistencia. Barcelona: Ed. Integral, 1995.

  • BAECHLE T.R. e GROVES, B.R. Treinamento de força. 2a. edição. Porto Alegre: Artmed, 2000.

  • MOREIRA, S.B; BITTENCOURT, N. Corrida: metas e mitos. Rio de Janeiro: Sprint, 1985.

  • BLANKE, D. Flexibilidade in: MELLION, M. B. Segredos em Medicina Desportiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 87-92.

  • COSSENZA, C. E. R.; CARNAVAL, P. E. Musculação: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Sprint, 1985.

  • COSSENZA, R. C. Musculação na Academia. Rio de Janeiro: Sprint, 1990.

  • DANTAS, E. H. M. A prática da preparação física. São Paulo: Shape, 1995.

  • FARINATTI, P. T. V.; MONTEIRO, W. D. Fisiologia e avaliação funcional. Rio de Janeiro: Sprint, 1992.

  • FLECK, S.; KRAEMER, W. Fundamentos do treinamento de força muscular. Porto Alegre: Artmed, 1999.

  • GHORAYEB, N; CARVALHO, T.; LAZZOLI, J. K. Atividade física não competitiva para a população. In: GHORAYEB, N.; BARROS, T. O Exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. São Paulo: Atheneu, 1999. p. 249-259.

  • GODOY, E. S. Bases Cientificas do treinamento de Musculação. Rio de Janeiro:Sprint, 1994.

  • GOMES, A. C.; FILHO, N. P. A. Cross Training: uma abordagem metodológica. Londrina: CID, 1995.

  • KISNER, C.; COLBY, L. A. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. São Paulo: Manole, 1992.

  • LEITE, P. F. Fisiologia do exercício, ergometria e condicionamento físico. Rio de Janeiro: Ateneu, 1986.

  • __________. Aptidão física - esporte e saúde: prevenção e reabilitação de doenças cardiovasculares, metabólicas e psicossomáticas. 2a edição. São Paulo: Robe Editorial, 1990.

  • LEIGHTON, J. Musculação. Rio de Janeiro: Sprint, 1987.

  • MARCHAND, E.A.A. Construção de uma modelagem de um programa de aptidão física relacionada à saúde, para trabalhadores de um serviço de lavanderia hospitalar. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Enfermagem/Saúde. FURG, 2004.

  • MONTEIRO, W. D. Força muscular: uma abordagem fisiológica em função do sexo, idade e treinamento In: Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v.2, n.2, p.50-66, 1997.

  • NAHAS, M. V. Fundamentos da Aptidão Física Relacionada à Saúde. Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 1989.

  • __________. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2001.

  • PEARL, B. Tratado general de la musculación. Barcelona: Ed. Paidotribo, 1996.

  • POLLOCK, M. L., WILMORE, J. H.; FOX III, S. M. Exercícios na saúde e na doença: avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. Rio de Janeiro: MEDSI, 1986.

  • POLLOCK, G. A. G. et al. The recommended quantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility in healty adults. Med. Sci. Sports. Exerc, v.30; n.6, p.975-991, 1998.

  • SANTARÉM, J. M. Musculação: princípios atualizados: fisiologia, treinamento e nutrição. São Paulo: Fitness Brasil, 1995.

  • __________. Treinamento de força e potência In: GHORAYEB, N.; BARROS, T. O Exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. São Paulo: Ed. Atheneu. 1999, p.35-50.

  • SHARKEY, B. J. Condicionamento físico e saúde. Porto Alegre: Artmed, 1998.

  • THOMPSON, D. Composição corporal. In: HOWLEY, E. T.; FRANKS, D. B. Manual do instrutor de condicionamento físico para a saúde. Porto Alegre: Artmed, 2000. p.149-161.

  • TORRES, S.; LISBOA, T. C. Limpeza e higiene, lavanderia hospitalar. 2a ed, São Paulo-SP: Balieiro, 2001.

  • TRITSCHLER, K. A. Medida e avaliação em educação física e esportes de Barrow e McGee. Barueri, SP: Manole, 2003.

  • VIVACQUA, R..; HESPANHA, R. Ergometria e reabilitação em cardiologia. Rio de Janeiro: MEDSI, 1992.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 12 · N° 115 | Buenos Aires, Diciembre 2007  
© 1997-2007 Derechos reservados