efdeportes.com
Análise do processo de implantação dos cursos de
graduação em Educação Física no Estado do Amapá

   
*Prof. de EF da Rede Estadual de Educação do Amapá/Ap. Graduado
em EF pela UEPA. Esp. em Metodologia do Ensino Superior pela UFPa.
**Orientadora. Professora do Curso de EF da UFU. Doutora em
Ciências da Educação pela Universidade de Barcelona - Espanha.
(Brasil)
 
 
Antonino Cezar Leite Lobato*
antoninocezar@uol.com.br  
Profª. Dra. Dinah Vasconcellos Terra**
dv.terra@terra.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     A presente pesquisa teve como objetivo analisar criticamente o processo de construção e implantação, bem como o conteúdo do projeto pedagógico do curso de Educação Física do Amapá -UNIFAP, no que diz respeito ao contexto de sua criação, concepção, justificativa, perfil, habilidades e competências expressos no projeto. Os resultados obtidos a partir da análise dos documentos e de entrevista nos mostram que a proposta de criação do curso foi de iniciativa da própria instituição, atendendo a demanda existente no Estado. A proposta inicial do curso tinha o nome de graduação em Educação Física e depois foi transformada em licenciatura, entretanto, não se observou no processo do projeto, justificativas para a alteração do nome, pois a concepção, justificativa, perfil e habilidades e competências permaneceram inalteradas, confirmando algumas contradições sobre os diferentes paradigmas de Educação Física.
    Unitermos: Formação inicial. Educação Física. Projeto pedagógico.
 
Resumen
     La presente investigación tuvo como objetivo analizar críticamente la acción de construcción e implantación, como también el contenido del proyecto del curso de Educación Física de Amapá-UNIFAP, relacionado al contexto de su creación, concepción, justificativa, perfil, habilidades, y competencias expresados en dicho proyecto. Los resultados obtenidos a partir del análisis de documentos y de encuestas evidencian que la propuesta de creación del curso fue una iniciativa de la propia instituición, buscando atender a una demanda existente en el Estado de Amapá. La propuesta inicial del curso lo nombraba como de graduación en Educación Física y posteriormente fue transfomado en grado de licenciado, pero, la denominación del curso, las justificativas, la concepción, perfil, y competencias se quedaron sin alteraciones, confirmando algunas contradiciones sobre los diferentes paradigmas de Educación Física.
    Palabras clave: Formación inicial. Educación Física. Proyecto pedagógico.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 113 - Octubre de 2007

1 / 1

Introdução

    Este é um estudo sobre a construção e implantação do curso de Educação Física na UNIFAP (Universidade Federal do Amapá) e que tem como objetivo descrever e analisar o processo de elaboração da proposta do curso, bem como o conteúdo do projeto pedagógico do curso de Licenciatura em Educação Física. O trabalho se justifica em função de que no Estado do Amapá, mesmo com uma grande demanda de professores nesta área, somente em 2006 foi criado o curso de Licenciatura em Educação Física na Universidade Federal do Amapá (criada em 1990). A grande maioria dos profissionais que atuam no Estado do Amapá foi formada no Estado do Pará. Para esta análise utilizamos a pesquisa qualitativa de cunho descritivo e interpretativo com técnicas de análise de documento e entrevista semi-estruturada,com a análise de conteúdo sendo a técnica de interpretação. A análise documental foi realizada com o projeto pedagógico inicial (2002) e o final (2004), e a legislação vigente da área.

    A partir do referencial de análise, construímos duas categorias de análise: o contexto de criação do curso , e o projeto pedagógico do curso:reflexão e análise do seu conteúdo.

    Na interpretação dos dados obtivemos os seguintes resultados: O projeto do curso de iniciativa institucional foi preterido pela instituição em função de outras prioridades, atendeu a uma demanda reprimida da sociedade em relação ao ensino e ao mesmo tempo se justificou pelo enfoque da saúde. Proposta contraditória em sua concepção , propondo uma educação transformadora e mudança de paradigmas e ao mesmo tempo almejando a questão do esporte e da saúde,buscando a melhoria da qualidade de vida, situado no paradigma da aptidão física.O curso inicialmente era denominado graduação em Educação Física, e no final atendendo a legislação mudou para Licenciatura, sem que houvesse alteração na concepção, justificativa, perfil e competências e habilidades.


Metodologia

    Pela especificidade do tema, a sua complexidade, bem como os objetivos que o estudo propõe , utilizamos a pesquisa qualitativa de cunho descritivo por permitir um a abordagem mais adequada para responder as questões investigativas do estudo. Segundo Triviños (1992, p.128), as pesquisas qualitativas no âmbito educacional "[...] sem dúvida alguma pesquisas de natureza qualitativa não precisam se apoiar na informação estatística. Isto não significa que sejam especulativas. Elas têm um tipo de objetividade e de validade conceitual "[...] que contribuem decisivamente para o desenvolvimento do pensamento científico".

    Esta posição justificamos também com um dos objetivos do trabalho que é a descrição do processo de implantação do curso de educação física na UNIFAP. Deste modo dentre os tipos de pesquisa qualitativa utilizou-se a do tipo descritivo por melhor se adequar a obtenção dos resultados. Segundo Triviños (1992, p.128), "[...] as pesquisas qualitativas que buscam a descrição dos fenômenos estão impregnadas de significações do ambiente e são produtos de uma visão subjetiva".


População

    Elegemos como participantes do estudo dois professores do curso de Educação Física da Universidade Federal do Amapá e que passaram pelo cargo de coordenador do curso (incluindo aqui o atual coordenador) até o momento.


Instrumento

    Para coleta dos dados utilizamos da entrevista semi-estruturada e a análise de documentos. Tais documentos são: Diretrizes Curriculares do MEC para os cursos de licenciatura (formação de professores), parecer CNE/CP009/2001, ,Resolução CNE/CP nº 1 DE 18/02/ 2002 institui diretrizes nacionais para a formação de professores em educação básica, em nível superior, e a Resolução nº7, de 31/03/2004, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os curso de graduação em Educação Física.

    Tivemos como referência para a construção da entrevista semi-estruturada as orientações de Triviños et al (1992, p.146) em que o autor aponta que este é um dos meios mais adequados para a coleta de dados em pesquisas qualitativas pois "[...] ao mesmo tempo em que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessária, enriquecendo a investigação".


Tratamento da informação

    Nesta etapa de análise utilizamos como procedimento a referência da análise de conteúdo proposta por Bardim apud Triviños (1992).

    No Amapá, a produção do conhecimento no campo da Educação Física está em fase embrionária com a UNIFAP ainda em consolidação. A respeito do temos um trabalho pioneiro de ALBERTO (2006), analisando a proposta do curso o curso de Educação Física da UNIFAP, através do seu projeto pedagógico, identificando como matriz teórica do curso o paradigma da aptidão física , apresenta as limitações de um curso de licenciatura com um perfil contraditório em relação a sua grade curricular, que predomina com disciplinas médicas e não possibilitam atingir o perfil do egresso da proposta em relação ao objetivo do curso que seria de atender a grande demanda de profissionais para atuar no ensino.

    Neste estudo propomos descrever criticamente o processo de elaboração da proposta do curso de Educação Física, as origens do processo, as demandas da sociedade, analisando no conteúdo do processo, a sua concepção , a justificativa ,como o perfil e as competências e habilidades esperadas do futuro egresso. A partir da analise de Alberto (2006), quais as demais concepções de educação física presentes na proposta? Como a Educação Física é apresentada em um curso de licenciatura?

    Assim, este estudo vai contribuir na apresentação de novas abordagens sobre o referido curso, possibilitando novas formas de análises. Por limitação de tempo e delimitação do objeto, não realizamos no presente trabalho o estudo da relação entre concepção/justificativa e grade curricular, que possibilitará em outros estudos o aprofundamento da temática enfocada.


O contexto de criação do curso de Educação Física na Universidade Federal do Amapá

    No Amapá, Estado recém criado pela constituição de 1988 tinha em 1991, um ano após a criação da UNIFAP (Universidade Federal do Amapá) uma população de .289.397, em 2002 a população segundo dados do IBGE era de 4001.016 habitantes. A taxa de imigração do Amapá é uma das mais altas do País, situando-se na faixa de 5,3% na década de 1990. Este fato ocorreu em virtude da criação da área de livre comercio de Macapá e Santana, o que favoreceu a imigração de pessoas oriundas de diversos Estados da Federação, sobretudo do Pará, Maranhão e Ceará.

    Este fluxo migratório contribuiu para o aumento dos problemas sócio-econômicos e principalmente na Saúde Pública. Este quadro justificava a necessidade de novos projetos nas áreas educacional e social. Sendo a educação um componente curricular obrigatório e como não existia o curso de Educação física no Amapá. A formação nesta área era fornecida pelo vizinho estado do Pará pela Escola Superior de Educação Física que depois integrou a Universidade do Estado do Pará.

    A demanda era tão expressiva que antes da criação do Estado, para qualificar os docentes que atuavam no Ex-Território Federal a nível precário com estudos adicionais foi realizado um convênio entre o governo do Ex-Território e a Escola Superior de Educação Física do Pará para oferecer licenciatura de curta duração em Educação Física e depois a complementação em licenciatura plena a ser ofertado no Amapá, com a finalidade de qualificar os profissionais que estavam atuando e qualificar novos profissionais para amenizar a grande carência de profissionais na área, no período de 1980 a 1990.

    Deste modo a justificativa apresenta na proposta do curso de uma demanda social, reflete este cenário do Estado, fato ratificado nas inscrições do primeiro vestibular em 2006, quando o curso de Educação física se situou entre os mais procurados na proporção de 30 alunos por vaga. Superando o curso de direito que tem a tradição de ser o mais concorrido.

    O processo de criação do curso se deu a partir da gestão do Prof. Paulo Guerra, (Reitor Pró-tempore) através da portaria 753-UNIFAP, de 11/12/2001, onde foi criada a comissão para análise da proposta de criação do curso de Educação Física. Esta comissão não pode avançar muito, pois o momento de implantação da UNIFAP exigia outras prioridades que se situavam na consolidação dos cursos já existentes.

    Deste modo o trabalho foi interrompido várias vezes e retomado a partir da posse do primeiro Reitor eleito através de eleição direta da comunidade universitária que foi o Dr. João Brazão da Silva Neto em 03/07/2002. Encerra-se um ciclo de gestão denominada de Pró-Tempore, que vinha ocorrendo desde a criação da Unifap e perdurou por mais de uma década, e que mesmo com a reconhecida carência de profissionais qualificados no campo da educação física, não houve a criação do curso neste período.

    A UNIFAP resulta do processo de interiorização da UFPa ( Universidade Federal do Pará), que instalou-se em um Núcleo de Educação em Macapá, no local onde hoje é a UNIFAP. Foi autorizada pela Lei Federal nº7530, de 29 de agosto de 1986 e criada pelo Decreto nº 98.997/90, de 02 de março de 1990; e entrou em funcionamento em 1991, com oito cursos dois quais 03 (três) bacharelados (Secretario-Executivo Enfermagem e Direito) e seis licenciaturas plenas (Geografia, Letras, Educação, Educação Artística e Matemática). Além destes cursos, chegou ao final de 2002, ofertando também os cursos de Pedagogia, Ciências Biológicas e Ciências Sociais para um total de 7.602 alunos matriculados nos 3 (três) campi e 9(nove) pólos localizados nos demais municípios do Estado, que entraram em funcionamento no período de 1998 e 2002- atendendo demanda específica dos Sistemas Estaduais e Municipais de Ensino para habilitação de professores dos respectivos quadros funcionais .

    Para que a Universidade começasse a funcionar imediatamente, sem o seu quadro de docentes efetivo, já o primeiro concurso ocorreria só em 1995, optou-se em aproveitar para qualificar os docentes que atuavam no Núcleo de Educação da UFPA, que foram selecionados para o denominado quadro provisório, enquanto se aguardava a implantação do quadro efetivo. Então a década de 90 foi marcada por uma busca de efetivação e consolidação dos cursos proposta na criação da universidade para que esta funcionasse plenamente e neste contexto o curso de educação física não logrou êxito de ser implantado. Pois o que se buscava no Mec eram vagas nos concursos para a grande carência que existia do 9 (nove) cursos criados .

    Ocorre que neste período de implementação da UNIFAP, até o ano de 2002, as demandas sociais se intensificaram. Inicia-se a partir de 2001, o debate para a criação de novos cursos priorizando a área da saúde. Surge daí a possibilidade de se criar o curso de educação física, em uma estratégia citado na justificativa do projeto onde dizia "[...]além do curso de educação física se torna necessário a criação de novos cursos que venham somar na prevenção e promoção da saúde do Estado do Amapá como: Nutrição, Fisioterapia , Odontologia e Medicina" (p.11).

    Entretanto como existia uma carência de professores para os cursos de enfermagem e biologia que também dariam suporte ao de educação física, surgia ai um obstáculo que tinha como meta ser superado em 2005, pois o próprio parecer de criação do curso em dezembro de 2004 este problema ainda não estava resolvido, como expressa a relatora: "[...] As informações prestadas pela COEG/PROGRAD dão conta que o suprimento de falta de docentes para os cursos de enfermagem e Biologia se dará no ano de 2005, razão pela qual se constata neste momento, a impossibilidade de se criar e implantar do referido curso. Entretanto, considerando a também a justificativa do projeto e as possibilidades futuras de atendimento a uma grande demanda reprimida que espera este curso, a Relatoria é favorável quanto a criação do curso de Educação Física Licenciatura Plena, ficando a implantação condicionada ao suprimento dos demais aspectos [...]" (2004, fls.7).

    Porém não era apenas sob o aspecto da saúde que se buscava a criação do curso, mas na carência de profissionais para atuar na escola, pois o problema estava se agravando, como relatado no parecer de aprovação do curso quando a comissão aponta que "[...] Também é público e notório a carência que existe desses profissionais na capital como também em todo interior do Estado. A situação ser constrangedora porque muitos profissionais que estão atuando na rede pública de ensino não são habilitados para lecionar a matéria, fazendo assim o exercício ilegal da profissão. Os dados indicam que os profissionais fixados em sua maioria em Macapá, sobretudo nas academias poliesportivas ou contratados a nível precário para lecionar nas escolas da rede estadual de ensino (2004, fls.9).

    Este problema se situa principalmente na educação infantil, onde atualmente na maioria das escolas do Estado quem ministra as aulas de Educação Física não são os profissionais da área, mas os demais professores que atuam com este nível de ensino com anuência do conselho estadual de educação.

    No que diz respeito ao processo de criação do curso de Educação Física, este inicia com a solicitação da Divisão de Educação Física da UNIFAP, através da professora Marli Rodrigues Gibson, (Chefe da Divisão) que compôs desde o dia 10 de dezembro de 2001, por meio da Portaria 753/UNIFAP de 11 de dezembro de 2001, Comissão Específica para análise de proposta de criação e implantação do curso de Graduação em Educação Física. Integra a comissão como consultora externa a Dra. Marta Rosa Sardiñas Vargas de origem cubana que se engajou na equipe quando a comissão estava coletando propostas para subsidiar o projeto. Este fato ocorreu em virtude de um convênio assinado entre a UNIFAP e o Instituto Superior de Cultura Física "Manuel Fajardo", de dezembro de 2000. Neste momento a proposta de cuba foi apresentada, mas devido o processo ter sido interrompido algumas vezes esta não avançou.

    Em um segundo momento a UNIFAP contratou como consultora externa a Dra. Antonia Pria Bankoff da UNICAMP, que juntamente com a professora Marli conduz o trabalho até a conclusão da proposta. A primeira versão do projeto ficou pronta em 2002. Em 2003 uma nova análise foi realizada para atender as novas exigências curriculares e legais, mas foi apenas em 29 de junho 2004 após nova revisão e recomendações (proposta pela Câmara de Ensino) que estas foram atendidas e apreciadas obtendo aprovação em 23 de dezembro de 2004.

    Mas para se chegar a este ponto houve um longo percurso, pois segundo a professora Marli Gibson as dificuldades principalmente de infra-estrutura eram muito grandes. Assim houve o contato com o governo do Estado, através do Departamento Estadual do Desporto e Lazer, onde no ofício nº569/03 -GAB-DDL, se coloca a disposição para disponibilizar espaços físicos necessários para a realização do curso. Este foi um forte argumento junto ao Conselho Universitário que sempre alegava a falta de condições infra-estruturais.

    Mesmo a instituição já possuindo um ginásio poliesportivo, contava com um número reduzido de salas e laboratórios que pudessem atender as disciplinas médicas. Este foi durante muito tempo o discurso para justificar a não implantação do curso alegando que primeiro a instituição precisaria criar as condições de estrutura para depois se aprovar o curso.

    Mas a pressão social para a criação do curso foi aumentando cada vez mais. No processo nº 23125.002.336/2004-38 consta um abaixo assinado de aproximadamente 600 assinaturas solicitando a criação do curso de Graduação em Educação Física, tendo como argumento o prazo que a LDB, fixou para qualificação de docentes. Pois a carência de professores nas escolas, a falta de árbitros qualificados nos eventos esportivos estava sendo debatido em 2004, em Conferencias do Esporte no Amapá.

    No documento denominado perfil do Esporte amapaense sob a ótica da visão municipal; Coletânea das dificuldades e potencialidade e propostas de ação*. Podemos confirmar esta carência de profissionais, e a proposta de criação do curso de Educação Física para sanar estas dificuldades. Neste documento também ratifica a carências profissionais qualificados para atuar de 1ª. a 4ª.serie do ensino fundamental .atendidos pelo professor generalista.

    Este documento que além deste apresenta também inúmeros aspectos quase todos relacionados a falta de formação em nível superior em educação física, vem em consonância com a justificativa do curso quando aponta:

[...] Portanto o curso de Educação Física da Universidade Federal do Amapá tem por objetivo formar profissionais qualificados, com capacidade para atuação prioritariamente no ensino formal e secundariamente, fora do âmbito escolar preparando-os para ensinar, planejar, assessorar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar ações durante a prática profissional (2004, p.9).


O Projeto político pedagógico do curso de Licenciatura em Educação Física: reflexão e análise do seu conteúdo

    O projeto pedagógico aprovado para o curso apresenta três eixos de atuação que são apresentados na justificativa do projeto que inicialmente era de graduação em Educação Física e depois foi denominado de Licenciatura. Um dos eixos já se encontrava explícito nos objetivos do curso, de acordo com as demandas educacionais apresentadas em relação à carência de profissionais com formação na área, onde expressa "portanto o curso de Educação Física da Universidade Federal do Amapá tem por objetivo formar profissionais qualificados, com a capacidade para atuação prioritariamente no ensino formal e, secundariamente fora do âmbito escolar preparando-os para ensinar planejar, assessorar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar ações durante a prática profissional" (2004, p.9).

    Para este eixo educacional faz um destaque sobre não só resolver o problema da demanda existente, mas de ser um curso que sirva de "[...] referência para o Norte, a partir de um diferencial político-filosófico fundamentado nas concepções transformadoras da Educação." (2004, p.10). Tal referência indica que esta formação deve servir para proporcionar ações reflexivas para práticas sociais transformadoras. Este eixo educacional é justificado também por se tratar de um curso de licenciatura onde se delimita a atuação no aspecto educacional, mas ampliado a sua atuação para os demais eixos que seriam o do esporte educacional, das atividades físicas e saúde como observamos no projeto quando diz "[...] Como se trata de um curso de Licenciatura, obviamente o eixo norteador prioritariamente será trabalhado através dos componentes curriculares atendendo a formação de professores com perfil para desenvolver trabalho educacional desde a educação infantil até o ensino superior [...]". Encontramos ai um problema que é ratificado no perfil profissional, nas competências e habilidades e campo de atuação profissional que é o de atribuir a graduação a formação para a docência do ensino superior, que como sabemos está na pós-graduação , com o mestrado.

    A relação de predominância ou hierarquia entre estes eixos, bem como a sua conceituação não se apresenta de maneira muito esclarecida, pois em alguns momentos na justificativa e no perfil do egresso eles se apresentam como se o educacional fosse o principal e os demais fossem secundários, mas também no perfil e na definição das competências e habilidades eles aparecem com se estivessem no mesmo nível. Na justificativa afirma que "[...] Secundariamente este eixo (educacional) vem contribuir com o processo educativo para o desenvolvimento e implementação do esporte educacional, das atividades físicas e da saúde. No esporte seja ele de rendimento ou não, mas que seja capaz até, de mudanças de paradigmas no esporte através de discussão e debates [...]" (2004, p.10).

    Neste caso quer se atribuir na educação física escolar na qual o esporte é um tema a ser trabalhado, utilizando-se a classificação de esporte educacional, a apresentação do mesmo como sendo um conteúdo externo a educação física escolar. Além disso, se a concepção de educação é a transformadora, como é que ela vai contribuir no eixo das atividades físicas e da saúde que se encontra em outro paradigma que é o da aptidão física. E para completar a referencia ao esporte de rendimento em uma proposta de transformação e em uma abordagem educacional mesmo buscando-se a mudança de paradigma que está em conflito.

    É na definição do perfil profissional que se almeja que o futuro profissional atue prioritariamente na educação como também nas diversas áreas do mercado de trabalho com o seguinte perfil:

O egresso em Educação Física é um profissional atuante prioritariamente no ensino formal público e privado, também em várias áreas do conhecimento e do mercado de trabalho, devendo possuir uma formação básica, sólida e ampla, com capacidade para atuar, pautado em princípios éticos, nos diversos âmbitos da cultura corporal, quer seja na educação, no esporte, no lazer e na saúde, visando à reflexão e o usufruto das atividades físicas, esportivas, recreativas, culturais para uma melhor qualidade de vida do cidadão.O futuro profissional deverá estar apto para planejar, assessorar, executar, coordenar e avaliar programas de Educação Física no ensino público e privado, além do esporte e Promoção à Saúde voltada para os mais diversos segmentos sociais. O Curso Educação Física em Licenciatura deverá ser capaz de atuar, preferencialmente, no âmbito escolar, com competência em docência na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e superior. O curso deve, ainda, propiciar ao egresso um conhecimento acerca da realidade na qual irá atuar, capaz de torná-lo agente transformador dessa realidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população, assumindo responsabilidade quanto à promoção, manutenção e recuperação da saúde, desempenhando suas atividades nos âmbitos público e privado (PROJETO PEDAGÓGICO/UNIFAP,2004,p.11-12).

    Como a primeira turma se encontra no 2º semestre não temos elementos para avaliar a concretização do projeto com os discentes para os futuros egressos. Então só no resta analisar a pretensão teórica do perfil em relação ao conceito de cultura corporal, que é citado não só no perfil como também nas habilidades e competências

    Em relação a primeiro perfil apresentado na proposta quando se propõe a combinação a complementação de concepções divergentes pela sua terminologia, quando se procura formar um egresso que domine conhecimentos dos diversos âmbitos da cultura corporal, e, portanto na perspectiva da licenciatura em uma proposta crítica da educação física e ao mesmo tempo atribuir ao futuro profissional atue no esporte, lazer e saúde visando uma reflexão e usufruto de atividades físicas, esportivas, recreativas e culturais, visando melhoria da qualidade de vida. Isto é em outra concepção de movimento, e da própria cultura, vista isolada das atividades física e recreativas, termo em contradição com o conceito de cultura corporal apresentado inicialmente.

    O segundo perfil apresentado nivela os três eixos não apresentando como secundário o esporte e a saúde, ampliando a atuação para além da escola e para os demais segmentos sociais, se referindo mais a aquisição de técnicas de planejamento, coordenação e avaliação, não especificando de que educações físicas estão falando, qual a visão de saúde e apresenta o esporte separado da educação física,

    Entretanto é no perfil que define o egresso com a predominância de formação visando a licenciatura e, portanto com a formação para o ensino em uma visão crítica com conhecimentos que permitam ser um agente transformador da realidade e também com a atribuição de contribuir para a melhoria da qualidade de vida, tendo responsabilidade pela promoção e recuperação da saúde que como já vimos esta situada em uma concepção de aptidão física que apresenta paradigmas que não permitem uma visão critica da realidade e portanto não poderá propor transformações que se situa a maior contradição nesta proposta.

    Nas competências e habilidade podemos distinguir várias concepções que em alguns momentos se completam e em outros são contraditórios, mas que dependendo da grade curricular pode predominar em um ou mais concepções apresentadas para se obter um profissional que possua habilidades e competências para:

  • Conhecer e dominar o instrumental científico e técnico inerente à Educação Física no que se refere às manifestações da cultura corporal, com ênfase no conhecimento acerca do esporte, do jogo, da ginástica, da dança e da luta

  • Conhecer e dominar instrumentos, métodos e técnicas que possibilitem a intervenção do profissional nos âmbitos acadêmico e técnico nas áreas da Educação, do Esporte, do Lazer e da Saúde/Qualidade de Vida e Promoção à Saúde.

  • Identificar e diagnosticar as mais diversas problemáticas em sua área de atuação, de maneira crítica, refletida e autônoma, sendo capaz de propor as mudanças necessárias aos problemas detectados, no sentido da transformação social.

  • Refletir sobre as diferenças individuais e culturais acerca das manifestações da cultura corporal no que diz respeito ao processo ensino-aprendizagem"
    (PROJETO PEDAGÓGICO/UNIFAP, 2004, p.13).

    Em relação às competências habilidades as mesmas observações são apresentadas no perfil, porém os eixos se reduzem a dois: o educacional e o da saúde que são o primeiro e o segundo, o terceiro está mais para um princípio que pode ser atingido por qualquer um dos eixos e que se aproxima de uma nova concepção de currículo que ainda não havia sido apresentada.


Considerações finais

    A elaboração da proposta do curso de Educação Física da UNIFAP, foi provocada na própria instituição pelo Departamento de Educação Física, e foi ao encontro de uma grande demanda reprimida da população, ainda que a própria UNIFAP tenha colocado obstáculos, principalmente em relação a infra-estrutura e a falta do quadro docente. Então à criação do curso só foi possível quando se mudou a estratégia de inicialmente ter as condições e depois aprovar o curso para a de aprovar a sua criação, provocando assim a demanda para a sua implementação. Por este fato o curso foi aprovado em 2004 para ser implantado em 2005 e teve o seu início apenas em julho de 2006.

    A justificativa da proposta é alicerçada na grande demanda de profissionais com a formação em Educação Física, questão que no Amapá remonta dede a época do Ex-Território Federal, que sempre buscou no Estado do Pará, parcerias para promover a formação, justificando assim a educação no ensino fundamental e médio como um dos eixos do projeto inclusive no ensino superior.

    A expectativa da atuação profissional é muito grande, pois no projeto almeja-se a formação de um profissional que através de sua formação, promova praticas sociais transformadoras, e que ao mesmo tempo venha propor mudanças nos paradigmas do esporte, e na prevenção e promoção da saúde. Assim percebe-se a contradição entre concepções diferentes de Educação Física, que são expressas no perfil, habilidades e competências não definindo claramente a perspectiva de um curso de licenciatura já que apresenta possibilidades ao Bacharelado.

    Como a proposta inicial do curso tinha o nome de graduação em Educação Física e depois foi transformada em licenciatura, não se observou no processo do projeto justificativas para a alteração do nome, pois a concepção, justificativa, perfil, habilidades e competências permaneceram inalteradas.

    Acreditamos que no processo de desenvolvimento do curso o mesmo será avaliado por seus professores e alunos que poderão refletir estas e outras questões com profundidade e assim superar as possíveis fragilidades buscando a melhoria da qualidade do curso.


Referências bibliográficas

  • ALBERTO. A.A.D. Concepções Subjacentes à Educação Física Escolar. Monografia Apresentada a Universidade Salgado Oliveira - Universo. Rio de Janeiro, RJ 2004.

  • _________. História da Educação Física no Amapá: suas influências e determinações nas práticas escolares. Mimeografado, 2007.

  • _________. Formação em Educação Física: análise crítica do projeto pedagógico do curso de Licenciatura d Universidade Federal do Amapá. FIEP BULLETIN, volume 77, p. 70, 2007.

  • BETTI, I.C.; BETTI, M. Novas perspectivas na formação profissional em educação física. Motriz, Rio Claro: Volume 2, n°. 1.1996, p. 10-15.

  • BORGES, C. M. F. O professor de educação física e a construção do saber. 4ª ed. Campinas: Papirus, 2003.

  • BRASIL, Ministério de Educação.Conselho Nacional de Educação. Parecer nº CNE/CP OO9/2001.

  • _________. Resolução CNE/CP nº 1 de 18/02/2002.

  • _________. Resolução CNE/CP Nº 7 de 31/04/2004.

  • BRASIL. Ministério da Educação. Fundação da Universidade Federal do Amapá: Processo Nº 23125.002.336/2004-38. 2004.

  • COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • GONÇALVES, M. M. et al. Formação em educação física: uma análise da realidade sócio-educacional. Motrivivência: Florianópolis: UFSC. nº. 09. dez. 1996, p. 279-289.

  • MOREIRA, A. F. B.; MACEDO, E. F. (Orgs.). Currículo, práticas pedagógicas e identidades. Porto: Porto Editora, 2002.

  • SACRISTÁN. J.G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

  • SANTOS, Fernando Rodrigues. História do Amapá: da autonomia territorial ao fim do janarismo. Grafinorte Ind.e Comércio, 2006.

  • TRIVIÑOS, Augusto N.S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas. 1992.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 12 · N° 113 | Buenos Aires, Octubre 2007  
© 1997-2007 Derechos reservados