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Os critérios de seleção adotados pelas escolas em
relação aos alunos que participam nos Jogos Escolares
do Ensino Médio (JOGUEM) da UNIVATES/Lajeado/RS
Criteria used by schools to select the students/athletes that participate
in the High School School Games (JOGUEM) of UNIVATES/ Lajeado/RS

   
*Mestre em Ciência do Movimento Humano.
**Acadêmicas do curso de Educação Física
da UNIVATES - Centro Universitário.
(Brasil)
 
 
Derli Juliano Neuenfeldt*  
Ana Júlia Pereira Duarte**  
Patrícia Kempfer**
derlijul@univates.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Esta pesquisa qualitativa caracteriza-se como estudo de casos que analisou os critérios utilizados por duas escolas, uma pública (A) e outra privada (B), para selecionar os alunos que compunham as suas equipes que participam do JOGUEM. As informações foram obtidas em entrevistas semi-estruturadas realizadas com equipes diretivas, professores de educação física e alunos das duas escolas, e em documentos que regem a competição. Constatou-se que a escola "A" tem como critério o interesse dos alunos, priorizando os do terceiro ano em função de ganharem a isenção da taxa do vestibular da UNIVATES, a participação nos treinos, a qualidade técnica e a atuação como atleta em outras agremiações. Na escola "B" os critérios não são diferentes, no entanto, priorizam-se os alunos que treinam, nas equipes da escola, semanalmente, complementando com alunos do terceiro ano. Conclui-se que as escolas buscam formar equipes competitivas e atender aos interesses dos alunos.
    Unitermos: Jogos escolares. Competição. Seleção. Educação Física.
 
Abstract
     This qualitative research describes a case study that analyzed the criteria used by two schools, one public (A) and the other one private (B), to select the students that take part in the schools' teams that participate in the JOGUEM. The information was got through semi-structured interviews answered by the directive teams, Physical Education teachers and students of both schools. Besides this, documents that rule the competition were also analyzed. It was found out that, in school A, the students' interests are the criterion, and the priority is for the 3rd class students because they don't need to pay the Vestibular fee of UNIVATES. Besides this, their presence in the practices, their technical quality and their performances as athletes in other associations are considered. In school B, the criteria are not different, but the priority is for students that take part in the school's teams. If there is any vacancy, 3rd class students complete the teams. So, we can conclude that the schools try to form competitive teams and attend their students' interests.
    Keywords: School games. Competition. Selection. Physical Education.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 112 - Septiembre de 2007

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Introdução

    Vive-se um momento em que os jogos escolares, no caso, as competições esportivas estão em plena expansão no Brasil. Incentivados por uma política do Ministério do Esporte (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2004, 2005), eles se proliferam no país, em diferentes etapas e modalidades com inclinação às olímpicas.

    Está evidente o incentivo governamental a propostas de massificação do esporte, tais como o "Segundo Tempo", que possibilita às crianças, em turno oposto ao que estão na aula, a prática de um esporte. Além disso, retomaram-se os Jogos Escolares Brasileiros, com eliminatórias municipais, após estaduais e, por último, a nível nacional, em Brasília, e, também, os Jogos Universitários.

    Segundo Assis (2005) dois episódios mais recentes merecem destaque, por ter ou desejar ter relação com a escola e/ou com os escolares. O primeiro foi o lançamento do programa "Descoberta do Talento Esportivo", em 2004, com o objetivo de "dar a oportunidade para a inserção, o desenvolvimento e o aprimoramento de jovens com talento esportivo, com a finalidade de aumentar e dar qualidade à base esportiva nacional para um melhor desempenho nos esportes de competição" (Assis, 2005, p 3238.). O outro episódio foi a implantação do programa Bolsa-Atleta. Este programa, que tem entre as diversas categorias a Bolsa-Atleta Estudantil, objetiva garantir uma manutenção pessoal mínima aos atletas de alto rendimento que não possuem patrocínio para que possam se dedicar aos treinos e participar em competições. Além disso, buscou-se "investir prioritariamente nos esportes olímpicos e paraolímpicos, com o objetivo de formar, manter e renovar periodicamente gerações de atletas com potencial para representar o País nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos" (Assis, 2005, p. 3239).

    Por outro lado, as escolas particulares investem no esporte de rendimento, como forma de marketing institucional, e os clubes esportivos fazem do esporte um verdadeiro negócio ao buscarem formar novos talentos em suas escolinhas de base e lucrar com a venda de atletas, além de toda a publicidade que gira em torno dos jogos.

    Neste atual cenário nacional surgem, em 2004, os Jogos Escolares do Ensino Médio (JOGUEM) que é uma competição a nível regional (Vale do Taquari/RS) promovida pela UNIVATES - CENTRO UNIVERSITÁRIO e realizada, anualmente, no segundo semestre letivo, nos meses de outubro e dezembro, nas dependências da instituição fomentadora, na cidade de Lajeado/RS.

    Os objetivos do JOGUEM são: aproximar as escolas de Ensino Médio da Univates por intermédio do esporte; possibilitar aos acadêmicos do curso de Educação Física atividades formativas na organização e co-participação no gerenciamento de eventos, arbitragem e organização de equipes; desenvolver os princípios que norteiam o esporte educacional (educação, integração, cooperação, socialização e participação) e proporcionar às escolas da região um momento de competição e de integração de alunos e professores por meio do esporte (Regulamento Geral do JOGUEM, 2005).

    O primeiro evento, em 2004, envolveu 32 escolas de Ensino Médio de 18 municípios do Vale do Taquari e arredores. Participaram dos jogos 789 alunos, nas modalidades de futebol sete e voleibol, naipes masculino e feminino. Em 2005, o II JOGUEM teve 41 escolas, representantes de 21 municípios. No total foram 1140 alunos, nas modalidades de voleibol, futebol e basquetebol. Em 2006, mantiveram-se as mesmas modalidades e participaram do III JOGUEM 46 escolas, num total de 1300 alunos.

    Assim, pensando a proposta do JOGUEM, promovido pela UNIVATES, que é aberto a escolas de Ensino Médio de diferentes redes de ensino, pública ou particular, nos questionamos sobre: Quais os critérios utilizados pelas escolas para a escolha dos alunos que irão participar desta competição? De que forma elas procedem no momento de terem de escolher, entre todos os alunos do Ensino Médio, quais irão representá-las?

    Assim, este estudo teve por objetivo identificar, analisar e buscar compreender os critérios adotados pelos professores de Educação Física/técnicos e/ou equipes diretivas para escolherem os alunos que participam do JOGUEM. Ele se justifica pela necessidade de analisarmos a influência do JOGUEM na rotina das escolas da Região do Vale do Taquari e a forma como elas o compreendem.


Metodologia da pesquisa

    Esta pesquisa qualitativa caracteriza-se como um estudo de casos. Para Minayo (2004), a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, e isso se refere a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos, sendo que estes não podem ser quantificados. O estudo de casos, por sua vez, conforme Gómez, Flores & Jiménez (1996), facilita a compreensão do pesquisador do fenômeno que se está investigando, pode descobrir novos significados, ampliar a experiência ou confirmar o que se sabe.


A escolha dos casos

    Optou-se por investigar duas escolas. A escolha delas ocorreu de forma deliberada e intencional, pois de acordo com Gómez, Flores & Jiménez (1996) na pesquisa qualitativa as pessoas ou grupos não são selecionadas ao acaso para completar uma amostragem de tamanho n, se escolhe uma a uma de acordo com a vontade do pesquisador de maneira que atendam aos critérios ou atributos estabelecidos pelo pesquisador.

    Os critérios estabelecidos foram: uma escola da rede pública (estadual) e outra da rede particular; terem sido vencedoras em alguma das modalidades disputadas no JOGUEM em 2004 ou 2005; autorização para a realização da pesquisa e facilidade de acesso em relação ao deslocamento dos pesquisadores.


Os sujeitos investigados

    As informações foram obtidas junto às equipes diretivas das escolas; um professor de Educação Física ou técnico esportivo de cada escola (optando-se por aqueles que se envolveram na organização dos times, seleção dos alunos e/ou preparação técnica/tática das equipes esportivas para o JOGUEM) e quatro alunos que participaram do JOGUEM e das equipes vencedoras, dois alunos de cada escola, selecionados a partir do registro das inscrições do JOGUEM dos anos de 2004 e/ou 2005.


Técnicas de coleta de informações

    As informações foram obtidas mediante a realização de entrevistas e análise de documentos (regulamento geral da competição e súmulas).

    Utilizaram-se entrevistas semi-estruturadas pois esta forma, de acordo com Triviños (1987), "parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante" (p. 146). Elas foram previamente agendadas e quando consentidas foram gravadas e transcritas. Após foram entregues aos informantes para que pudessem lê-las e validar as informações.

    Para a realização das entrevistas se fez uso do termo de consentimento livre e esclarecimento (TCLE) devidamente autorizado e aprovado pelo Comitê de Ética da UNIVATES. Este termo contém a autorização do informante para a realização da entrevista e garante o sigilo das informações fornecidas. Dessa forma, não se utiliza o nome de nenhuma pessoa ou das escolas ao apresentá-las. Usam-se os seguintes códigos para a escola da rede pública e seus sujeitos: escola "A", equipe diretiva "A", professor "A" e alunos "A1" e "A2". Em contrapartida, a escola particular e seus sujeitos passaram a ser designados de: escola "B", equipe diretiva "B", professor "B", e alunos "B1" e "B2".


Análise das informações

    A partir dos objetivos traçados foram elaboradas as categorias de análises, o que, segundo Minayo (2004), significa agrupar elementos, idéias e expressões em torno de um conceito com características comuns ou que se relacionam entre si.

    Além disso, foi realizada a triangulação dos dados coletados pelos vários instrumentos (entrevistas e documentos) e referencial teórico, ou seja, as informações foram cruzadas com a finalidade de atenderem aos objetivos dos estudos. A triangulação das informações, conforme Triviños (1987), "tem por objetivo abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo" (p. 138).


Critérios adotados para seleção dos alunos/atletas

    Ao indagarmos a equipe diretiva, professores de educação física/técnico e alunos das duas escolas, sobre quais critérios são adotados para a seleção dos alunos que compõem as suas equipes esportivas para o JOGUEM, encontramos: serem alunos do terceiro ano, pois esses ganham a inscrição para o vestibular, a vontade/interesse do aluno, participação nos treinos e o potencial esportivo (qualidade técnica).

    A escola "A", pública/estadual, não oferece aos alunos clubes esportivos, não possui professor específico para essa função e nem ginásio esportivo próprio para realizar suas atividades, mas se organiza dentro das condições materiais e humanas que possui para participar dos jogos promovidos para escolares, tais como os Jogos Estudantis do Rio Grande do Sul (JERGS) e o JOGUEM. Nesse, foi campeã em 2004 e 2005 na modalidade futebol sete. Em virtude desta realidade, a equipe diretiva comenta em relação à escolha dos alunos que participam do JOGUEM:

"São alunos da EF escolar porque não temos equipe. São sempre aproveitados da EF. Então se seleciona uma equipe quando se aproximam os jogos. E se dá uma treinadinha de tarde" (equipe diretiva, 02/08/06).

    No entanto, apesar de serem "os alunos da Educação Física", isto não representa que a aula de Educação Física seja usada para treinamento pois, como vimos acima, os treinos ocorrem em turno oposto à aula. Também, ao perguntarmos aos alunos se a preparação para os jogos ocorre na Educação Física Escolar, obtivemos como resposta:

"Não, até porque um é de uma turma, outro de outra ou do noturno. Não tem como, pois eles têm horários diferentes das aulas. E eles decidem entre eles quem joga. Às vezes tem uns que vão só no dia do jogo, porque trabalham. Isso no futebol" (Aluno A2, 02/08/06).

"Bom, nunca tive na aula um espaço para o treinamento, só separado. As aulas são mistas (treino e aula) só se a gente querer" (Aluno A1, 13/09/06).

    As evidências que encontramos, a partir das falas dos alunos, nos permitem afirmar que há uma distinção clara em relação à aula de Educação Física e o treinamento de equipes. A Educação Física escolar não aparece como espaço ou como valorização apenas dos alunos/atletas. Isso pode ser fruto das críticas que a absorção do modelo do rendimento na Educação Física Escolar sofreu nas últimas duas décadas pois, conforme Kunz (1994), o esporte ensinado nas escolas enquanto cópia irrefletida do esporte competição ou de rendimento só pode fomentar vivências de sucesso para uma minoria e o fracasso ou vivência de fracasso para a grande maioria.

    Apesar de a escola "A" não possuir equipes regulares, há interesse em participar dos jogos e os alunos são selecionados pelo fato de serem do terceiro ano, pelo interesse (dedicação) e potencial esportivo que demonstram ter. O professor de Educação Física responsável pela organização das equipes e a equipe diretiva comentam:

"Damos oportunidade para os alunos dos terceiros anos e que já passaram da categoria juvenil. Depois completamos com alunos que fazem parte da equipe do colégio, que queiram participar" (professor A, 02/08/2006).

"Eles jogam com um desejo, amor, dedicação. E a gente treina bem esporádico mesmo e vamos selecionando ao longo do ano aqueles que têm um potencial maior" (equipe diretiva A, 02/08/06).

    Ao ouvirmos os alunos sobre como é feita a escolha, o professor aparece como figura mediadora e, sobre os critérios, destacam-se a atuação dos alunos em equipes esportivas fora da escola e o desempenho esportivo deles:

"Participaram os melhores. A professora escolheu os melhores e montou uma equipe que achou que fossem os melhores" (Aluno A2, 25/09/06).

"...eu jogo no Lajeadense, tô no júnior, desde o ano passado, comecei lá desde maio de 2005 (... )... três alunos que jogaram treinam comigo no Lajeadense" (Aluno A1, 13/09/06).

    Favaretto (2006) em seu estudo monográfico intitulado "A Educação Física Escolar e sua relação com os Jogos Estudantis", realizado em uma escola da rede municipal de Lajeado/RS, ao entrevistar três professores de Educação Física sobre os critérios que adotavam para a escolha dos alunos que iriam participar dos jogos estudantis municipais encontrou que não há uma unanimidade entre os professores. Mas eles admitem que selecionam os alunos a partir do desempenho físico e técnico, privilegiando os que atuam em escolinhas esportivas. Além disso, também pode influenciar a escolha o bom ou mau comportamento deste aluno na escola e possuir calçado ou roupa adequada para os jogos. Os professores de Educação Física desta escola destacam que, ao serem perguntados pelos alunos "não selecionados" por que não podem jogar, sentem dificuldade em justificar dentro dos princípios educativos da Educação Física (participação, inclusão...) pois admitem que estão fazendo uma seleção em que prevalece os critérios do rendimento esportivo.

    Por outro lado, Lucero e Lovisolo (2006), em pesquisa de opinião realizada com alunos de 5.ª e 8.ª séries, de duas escolas do Rio de Janeiro, o Colégio Lemos de Castro, no qual se entrevistou 279 alunos, e a Escola Municipal Silveira Sampaio na qual se entrevistou 293 alunos, constataram que os alunos opinam favoravelmente à participação em competições internas e externas. Também evidenciaram com os alunos que participam de competições escolares que eles as consideram as atividades mais estimulantes da escola. Esta aceitação dá-se nas duas escolas investigadas por eles, tanto por meninos como por meninas. Com isso, afirmam que "as críticas à educação física em promover atividades competitivas, classificadas como seletivas e excludentes, não partem dos atores que delas participam" (p. 08).

    Ao relacionarmos os critérios da escolha dos alunos para o JOGUEM com os estudos mencionados acima vemos que eles também são influenciados pela expectativa do rendimento esportivo, dando abertura aos alunos do 3.º ano, atendendo, também, a um dos objetivos do JOGUEM: a aproximação dos alunos que são o maior potencial de virem a ser acadêmicos da UNIVATES. Por outro lado, nos questionamos sobre como se sentem os alunos que não são escolhidos, que não são os "atores" e que permanecem na escola durante os jogos? Conforme Favaretto (2006) "os alunos que permanecem na escola em muitas situações ficam chateados, têm aula com outras professoras que não são da área, enfim, acabam criando um sentimento de desgosto pela educação física" (p.57). Dessa forma, fica a questão: como aumentar o número de participantes por escola?

    A escola "B", particular/confessional, diferentemente da escola "A", opta por oferecer treinamento em algumas modalidades, tais como: voleibol, futsal, basquetebol e patinação. Possui um professor/técnico específico para organizar as equipes e conduzir os treinos, e a escola participa de competições, tais como: Troféu Lajeado de Voleibol, Campeonato Piá, Jogos Escolares de Lajeado, Jogos da ECOVAT (jogos das escolas particulares do Vale do Taquari) e JOGUEM.

    A adesão dos alunos aos treinos é voluntária e gratuita. O aluno B1 comenta:

"Oferece vôlei, basquete e futebol. De futebol eu não participo. No vôlei eu participava que era no ano passado, mas agora não fechou mais gente pra treinar e não tem mais treino, só feminino. No basquete nós começamos este ano, com treinamento e tal, até para jogar o JOGUEM" (Aluno B1, 22/09/2006).

"No caso dos jogos tem os treinos nos horários normais, são treinos separados da aula, a educação física não mexe, só se for alguma combinação e tal... fora isso nada" (Aluno B1, 22/09/06).

    Mais uma vez aparece na voz, agora dos alunos da escola "B", a separação dos objetivos da Educação Física dos das equipes da escola. Difere, também, dos resultados encontrados por Silva e Molina (2005) que, ao investigar um grupo de professores de Educação Física dos anos finais do Ensino Fundamental de uma Rede Municipal de Ensino, situada na cidade de Guaíba, em Porto Alegre - RS, encontraram que os docentes têm uma espécie de visão como se seus alunos fossem atletas ou futuros atletas.

    Em relação à seleção dos alunos, a equipe diretiva salienta que esta atribuição cabe ao professor/técnico responsável:

"...eu acho que até por uma questão meio óbvia de escalação, é o professor que vai escolher quem vai jogar. Tentando dar oportunidade para todos, provavelmente, que todos joguem pelo menos um pouquinho, entrem pelo menos um pouquinho, no tempo do jogo, mas é ele, acredito que é ele que esteja definindo, né" (equipe diretiva, 16/08/06).

    Ao entrevistarmos o professor/técnico e os alunos escola "B", em relação aos critérios de seleção dos alunos para o JOGUEM, percebemos que se prioriza os que fazem parte das equipes da escola e que treinam periodicamente, abrindo-se oportunidade aos do terceiro ano em função do vestibular. O professor e os alunos complementam-se em suas falas:

"São os alunos que normalmente treinam. E sempre abrindo uma lacuna pros alunos que são do Ensino Médio, mais de terceiro ano, pelo fato de estarem saindo da escola e pela questão da inscrição gratuita ao vestibular" (professor B, 25/06/06).

"Primeiro lugar, os alunos que estão no time titular, de treino. Tem sempre um número que limita nas inscrições, mas quando não fecha, o professor procura por outros até fechar o time" (aluno B2, 01/09/06).

"Primeiramente se pega quem está fazendo as escolinhas, por exemplo, eu tô fazendo no vôlei, eu que tô fazendo é certo que eu jogo, não interessa se eu jogo bem ou mal" (aluno B1, 22/09/06).

    É importante que façamos uma reflexão sobre estar ou não havendo uma influência da estrutura do JOGUEM, que se aproxima à do esporte de rendimento (classificação da colocação das equipes, seguir as regras oficiais das federações, limite de participantes) no momento de as escolas organizarem as equipes que participarão deste evento. Em relação aos critérios adotados na escolha dos alunos prevalece o "ser atleta", abrindo-se espaço aos alunos do 3.º ano. Isso pode ser reflexo da forma de organização do JOGUEM ou da própria compreensão da escola sobre os objetivos das competições esportivas.

    Conforme Santin (1993), enquanto não existirem jogos escolares que se voltem aos princípios educacionais das escolas, será realmente difícil contemplar a todos, uma vez que as escolas realizam a seleção dos alunos para que se formem equipes capazes de realizar uma boa competição, seguindo as regras da mesma, como os jogos escolares realmente são hoje, e assim conseguindo uma boa colocação nos jogos. Do contrário, os critérios de seleções não seriam rigorosos em certos casos, ou talvez nem precisariam existir em outros. "O escolar atleta poderá ser entendido como uma peça importante, mas não necessariamente deve ser privilegiado por isto" (Santin, 1993, p. 79). O rendimento técnico esportivo é reduzido a apenas um critério, entre outros que podem ser estabelecidos pelas escolas, podendo ser levado em conta valores psicológicos, intelectuais, sociais, morais e a condição econômica do aluno no sentido de oportunizar aos de menor poder aquisitivo a possibilidade de viajar e conhecer outros lugares.

    Uma tentativa de aproximar os jogos escolares dos objetivos educacionais da escola (não seleção, inclusão, participação significativa, aprendizagem e ludicidade), foi realizada no Colégio Santo Antônio de Belo Horizonte (Silveira, Pinto e Simões, 2005). Em 2003 e 2004 foram organizados dois torneios escolares cujo grande desafio foi construir uma estrutura coerente com os princípios estabelecidos. Para isso foram necessárias várias modificações na sua estruturação e nos jogos em relação àquelas normalmente utilizadas pelas instituições não educativas (federações, etc). No entanto, muitas escolas que participam das competições, por questão de marketing, colocaram o evento em segundo plano. Isso nos faz pensar sobre a dificuldade de romper com o modelo de esporte que predomina na sociedade, o rendimento.


Conclusão

    As duas escolas investigadas, vencedoras no JOGUEM, adotam como critérios de escolha dos alunos elementos que conciliam os interesses destes, como a gratuidade da inscrição do vestibular, com a qualidade técnica esportiva do aluno. Os resultados positivos são o somatório desses fatores, agregado ao treinamento e à participação de alguns alunos como atletas em outras agremiações esportivas.

    Percebe-se que a escola busca levar a melhor representação possível, o que pode ser conseqüência da forma de organização do JOGUEM, que premia a todos com a inscrição do vestibular, mas, também, com troféus e/ou medalhas aos primeiros colocados, ou seja, há uma valorização do rendimento esportivo e isso pode estar sendo considerado pelas escolas pois gera uma repercussão positiva em seus municípios.

    Por fim, fica como sugestão de pesquisa investigar as escolas que não foram vitoriosas em nenhuma modalidade. Talvez, com essas escolas, ao ouvirmos os alunos "perdedores" possamos encontrar escolas que adotem outros critérios de seleção ou reforçar as considerações que fizemos a partir das escolas desse estudo.


Referências

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  • KUNZ, Transformações didático-pedagógicas do Esporte. Ijuí: Ed. UNIJUÍ. 1994.

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  • SANTIN, S. Pensando jogos escolares brasileiros alternativos. In.: SANTIN, Silvino. Educação Física: Outros Caminhos. 2ª e. Porto Alegre: UFRGS, 1993. p. 74-84.

  • SILVA, L. O. e MOLINA, R. M. jogos estudantis das escolas municipais: possíveis relações coma construção da identidade do professor de educação física. Anais do XIV Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e I Congresso Internacional de Ciências do Esporte. Porto Alegre: ESEF/UFRGS/RS, 4 a 9 de setembro, p. 2244-2248, 2005.

  • SILVEIRA, G. C. F.; PINTO, J. F. e SIMÕES, L. O esporte escolar em nossas mãos. Anais do XIV Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e I Congresso Internacional de Ciências do Esporte. Porto Alegre: ESEF/UFRGS/RS, 4 a 9 de setembro, p. 2286-2293, 2005.

  • TRIVIÑOS, A. N. da S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas. 1987.

  • UNIVATES - Centro Universitário. Regulamento Geral do JOGUEM. Lajeado, 2005.

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