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Nas praças, nas ruas e nos rios: a Amazônia
esportiva em sua belle époque
In the squares, in the streets and in the rivers: the sporting Amazonia in its Belle Époque
En las plazas, en las calles y en los ríos: la Amazonia deportiva en su belle époque

   
Graduado em História e Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia.
Professor Universitário e da Rede Municipal de Educação de Manaus, AM.
(Brasil)
 
 
Tarcisio Serpa Normando
tsnormando@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O presente artigo analisa como se deu a prática dos mais variados esportes na principal capital econômica da Amazônia nas duas primeiras décadas do século XX: Manaus. Propõe que a aceitação dos mesmos por setores específicos da sociedade foi favorecido pelo desejo de importar uma atmosfera de civilidade e modernização capitalista que marcou a Belle Époque. Por fim, apresenta o frêmito esportivo tomando ruas, praças e rios da capital.
    Unitermos: Esporte. Modernidade. Belle Époque. Manaus.
 
Resumen
     El presente artículo analizá como se dio la práctica de los más variados deportes en la principal capital económica de la Amazonia en las dos primeras décadas del siglo XX: Manaus. Propone que la aceptación de los mismos por sectores específicos de la sociedad fue favorecido por el deseo de importar una atmósfera de civilización y modernización capitalista que marcó la Belle Epoque. Finalmente se presenta el impacto deportivo considerando calles, plazas y ríos de la capital.
    Palabras clave: Deporte. Modernidad. Belle Époque. Manaus.
 
Abstract
     The present article analyzes as the practice of the most varied sports in the main economical capital of the Amazonia in the first two decades of the XX century: Manaus. It proposes that the acceptance of the same ones for specific sections of the society was favored by the local desire of a civility atmosphere and capitalist modernization that it marked Belle Époque. Finally, it presents the sporting frisson taking streets, squares and rivers of the capital.
    Keywords: Sport. Modernity. Belle Époque. Manaus.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 112 - Septiembre de 2007

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Introdução

Dias de Esporte

Ao iniciar esta seção, é-me grato apresentar daqui os meus mais sinceros cumprimentos aos distintos sportsmen amazonenses pelo rápido progresso que nestes últimos tempos tem feito o esporte nesta florescente capital. Pode-se afirmar que Manaus atualmente entrega-se inteiramente às lutas esportivas, e, como prova, aí estão as sociedades que constantemente se estão fundando, sendo já grande o numero delas1.

    Os jornais esportivos de Manaus venderam muitos exemplares ao repercutir que o Campeonato Amazonense de Ciclismo era marcado pela rivalidade pessoal entre seus líderes, o português M. d'Oliveira e o amazonense Deodoro Freire. Na verdade, o experiente - mas não veterano - Patagônia e o novato Stossel (seus respectivos apelidos, aliás) eram amigos desde a época em que competiam no pedestrianismo e no salto a distância. Polêmicas a parte, os periódicos só não deixaram de reconhecer ambos como os mais importantes atletas da cidade e que faziam das corridas de bicicleta algo emocionante, disputando volta a volta a liderança das corridas e a preferência de um público ainda jovem, mas já acostumado com todo o frêmito esportivo.

    Em dias nos quais as pautas dos noticiários esportivos ainda relembram o sucesso brasileiro nos XV Jogos Pan-Americanos realizados no Rio de Janeiro, o parágrafo acima poderia ser um exemplo de como a competição internacional influenciou jovens manauaras a tornarem-se vibrantes e competitivos nas mais variadas práticas esportivas - inclusive no ciclismo, ainda pouco popular no país do futebol. Longe disso, esse frisson não aconteceu nos dias de hoje, mas há cerca de cem anos atrás, mais precisamente em 1908. As disputadíssimas corridas não se deram na orla da Praia da Ponta Negra ou na Vila Olímpica, cartões postais amazonenses, mas na Praça São Sebastião, fincada bem no centro comercial, numa época em que o móvel da riqueza da cidade não estava no seu parque industrial, mas ainda na exportação da borracha2.

    Nos primeiros anos do século passado, em Manaus, além de corrida de bicicletas, jogava-se o futebol, o rugby, o tênis; praticava-se o pedestrianismo, o remo, o tiro; lutava-se o jiu-jitsu, o boxe, o judô. As praças, as ruas os igarapés e o imponente rio negro converteram-se em palcos privilegiados. Todas essas atividades (e muitas outras, de fato) compuseram um elemento importante do cotidiano de parte da juventude local, ávida por amoldar seus corpos e mentes e se inserir numa atmosfera moderna e civilizada como se imaginava existir na Europa.


Belle Époque, esse abstrato objeto de desejo

A célebre pindaíba que neste momento abraça-me não permite nem olhar os homens de dinheiro. Não tenho chapéu, as botas estão rotas, o facto que possuo já virou a cor treze vezes!
Sou empregado, mas não recebo meus vencimentos desde fevereiro. No quatriênio passado foram para a corda do sino seis meses, portanto na minha tabuada seis e quatro são dez. Quer dizer, dez meses à 284$00 reis. Que bonita soma! Há se eu pegasse hoje iria até a China.
Ontem falei com o homem da massa. Chamei-o Dr., mas mesmo assim nada arranjei. Procurei o Sampaio afim de fazer uma transação, queria uma diferençazinha de 65% e ainda para fazer favor!
Enfim, sou um felizardo....3

    A chegada do século XX reforçou os ideais de desenvolvimento econômico entre as elites das principais capitais amazônicas: Manaus e Belém. Novidades como o telégrafo, o cinematógrafo, o alka-selsior ou o automóvel, por exemplo, ajudaram a ditar modas e traçar um novo parâmetro de vida urbana: rapidamente essas tecnologias e descobertas científicas foram assumidas pelas elites caboclas e simbolizaram novos estilos que transformariam o viver em cidade em função da expansão do capitalismo - nada de muito diferente do que ocorria em diversas outras localidades brasileiras do sul e sudeste. Em última análise, a tese implícita nesse processo era que o desenvolvimento desenfreado do modo de produção capitalista derrubaria obstáculos e aplainaria todas as desigualdades sócio-econômicas, entendimento este, aliás, que só cairia por terra com a emergência da I Guerra Mundial.

    Assim, a busca por matéria-prima para a indústria automobilística, principalmente, movimentou a economia da região. Dos seringais do interior mandava-se para as capitais a produção de borracha com vistas à exportação para América do norte e para Europa. Havia uma competição velada entre as capitais do Amazonas e do Pará quanto ao volume de vendas da chamada Hevea brasiliensis. Desde o início do Boom da Borracha (por volta da década de 1890) Manaus tentava superar Belém nos negócios. Isso, de fato, somente ocorreu em 1902, quando vendeu mais de 14 mil toneladas. Daí em diante jamais perdeu a dianteira da disputa e em 1908 bateu o recorde de vendas: quase 18 mil toneladas4.

    Esse comércio trazia certa dinâmica às capitais amazônicas, em especial, Manaus. A labuta diária começava antes das seis horas e o vai-e-vem frenético dos bondes e dos veículos puxados à tração animal movimentavam o porto na sua constante carga e descarga de navios; as vendinhas populares e lojas sofisticadas que ofereciam desde objetos artesanais até os mais caros vestidos importados para baile; os bancos que comandavam as transações financeiras; as ruas e praças que enchiam-se de ambulantes, lavadeiras, comerciários, aviadores e barões da borracha.

    Grande parte da mão de obra dos seringais era formada por caboclos e nordestinos. A esses, nas cidades, somaram-se estrangeiros vindos de várias partes do mundo que vislumbraram a chance de ganhar a vida atuando nas diversas oportunidades surgidas direta e indiretamente com a comercialização da borracha.

    Obviamente, esses ganhos nunca foram distribuídos de forma socialmente justa entre todos que compunham o tecido social amazônico daquela época. Enquanto os seringueiros eram explorados ao extremo nas condições precárias de trabalho e sobrevivência dos seringais, seus patrões, os seringalistas, esbanjaram riqueza e financiaram o luxo exagerado típico das elites na Belle Époque. Igualmente sofrida era a vida dos trabalhadores urbanos, em geral, mal remunerados e alheios aos serviços básicos de saneamento, saúde e educação.

    O súbito boom do comércio de borracha e a conseqüente concentração de riquezas contribuíram para que a parcela abastada da sociedade manauara passasse a enxergar a capital amazonense em suas dimensões citadinas modestas e, portanto, como indigna de ser palco para exibição de sua pretensa grandiloqüência.

    Com vistas a solucionar esse contraste, firmas de capital estrangeiro foram contratadas para executar a difícil e urgente missão de materializar a civilidade, isto é, de aformosear e transformar Manaus, enfim, em uma cidade moderna, a exemplo do que estava acontecendo em outros lugares do Brasil como Rio de Janeiro, São Paulo ou Porto Alegre. Essas empresas tiveram, portanto, a tarefa de aproximar os espaços urbanos acanhados da capital daquela que era o grande referencial para o mundo ocidental do novo século: Paris, a "Cidade das Luzes", a Cosmópolis na qual os mais arrojados avanços técnico-científicos e o refinamento cultural se manifestariam na plenitude5.

    Paris era o ideal de civilidade a se espelhar, mas foi a pujança do capital britânico que viabilizou as transformações desejadas nas diversas áreas de comunicação, saneamento básico, construção civil, energia e transporte: alargamento de ruas, aterramento de igarapés, instalação de uma rede mínima de esgotos e luz elétrica, além da construção de uma arquitetura de ferro, estabelecimento de rotas de bondes e de uma rede de telefones e telégrafos. Estas obras atingiram, principalmente, a área central de Manaus, permitindo que suas elites pudessem exibir-se em suas jóias e perfumarias importadas nos bailes de Clubes como o Ideal, nos Teatros (sobretudo, no majestoso Amazonas) onde apresentavam-se companhias líricas italianas e eram realizadas conferências intelectuais ou em cinemas como o Politheama, em que projetavam-se as aventuras documentais de Silvino Santos. Nesses dias de euforia econômica, parecia não importar que a civilidade almejada por uns tivesse tido não mais que uma superficial vitória frente a cidade real que teimava em existir provinciana, feia e desigual.


Do porto, o desporto

Na Europa do século XV-XVI as viagens náuticas eram marcadas por uma sensação de incerteza quanto ao retorno (...). Desembarcar na cidade natal significava não só voltar a segurança de uma vida familiar, mas a oportunidade de retomar, após semanas ou meses de árduo trabalho, as formas habituais de diversão, sejam elas nas tavernas, sejam em passatempos nos quais os marinheiros podiam dar vazão as suas habilidades físicas. Nesses alegres momentos dizia-se, segundo termo recorrente à época, que os marinheiros estavam a sair do porto, a desportar-se ou, literalmente, a fazer esporte6.

    Para Manaus convergiram estrangeiros de várias nacionalidades: ingleses, alemães, franceses, portugueses, espanhóis, italianos, norte-americanos. Uns aventuraram a sorte, ávidos por sucesso nos seringais ou em atividades correlatas e nem sempre alcançaram sucesso. Porém, aqueles que chegaram contratados pelos bancos e firmas de capital internacional adquiriram outro status. Personificaram, no imaginário da elite local, o papel de anunciadores de uma época marcada pelas novas concepções de modernidade e civilidade capitalista.

    Seus hábitos passaram a ser copiados como referencial de distinção, elegância e cosmopolitismo. Tão célere quanto artificialmente, cuidou-se para que expressões em francês e inglês passassem a fazer parte do cotidiano dos gentlemen caboclos como se fossem de usual conhecimento de todos. Cedo, esses amazonenses aprenderam com os europeus a solicitar, em detrimento às cervejas e aguardentes nacionais, vinhos, champanhes e uísques importados em restaurantes e cafés agora trés chic7. As vida social noturna, quase obrigatória para refinar-se, nos clubes, teatros e cinemas eram precedidas por toiletes demoradas porque mais sofisticadas - afinal, madames e cavalheiros pagavam caro pelos fraques e estolas e esperavam ansiosos pelos vapores que traziam as peças importadas. Nesse sentido, para esses setores privilegiados da sociedade amazonense, a ostentação da riqueza material fora compreendida como passaporte que permitiria o ingresso no desejado mundo civilizado8.

    Contudo, proporcionar uma tintura de civilidade aos incautos era tarefa secundária, sobretudo, para os britânicos. Em virtude do potencial econômico da borracha, a capital do Amazonas convertera-se em mais uma fronteira sob influência do agressivo capitalismo inglês. E os representantes da Coroa que aqui aportaram foram extremamente preparados para tanto.

    A acirrada rivalidade no velho continente pela hegemonia da produção industrial e do comércio impôs à Inglaterra o estabelecimento de estratégias concorrenciais radicais. Uma delas foi a reforma do ensino iniciada ainda no último quartel do século XIX. As escolas particulares inglesas que atendiam aos filhos dos nobres, dos industriais e dos grandes comerciantes deveriam suscitar nos jovens, além do preparo intelectual clássico e da sólida base moral anglicana, habilidades úteis para liderar a nação ante um mundo menor, mais ágil e muito mais competitivo. Coube aos jogos esportivos desempenhar papel crucial nesta preparação9.

    Ao fazer os ricos meninos ingleses conhecerem e buscarem os limites dos próprios corpos através do esporte foi possível estabelecer uma ética do ativismo10, amoldando uma geração a partir de parâmetros direta e indiretamente úteis ao capitalismo, tais como: a competição sistemática e o rendimento enquanto valores para mensurar o progresso; a seleção e classificação segundo as aptidões individuais e coletivas; a quantificação de resultados como forma de valorização e comparação do trabalho efetuado; a especialização como forma de conseguir melhores resultados11.

    Para tanto, os jogos introduzidos nas escolas sofreram adequações para diferenciá-los daqueles que ancestralmente eram exercitados pela população. Os "jogos viris"12 foram esportivizados, isto é, codificados em regras de maneira que se prestassem aos objetivos de formação do caráter da nova elite capitalista. Além do quê, essas normatizações permitiriam que se espraiassem formas idênticas de práticas, unificando a linguagem esportiva13. Apenas a título de exemplificação: os jogos de bola tão comuns na Europa quanto diversificados em suas maneiras de jogar, ao se esportivizarem, transformaram-se no rugby, no futebol tradicional e, mais tarde, no futebol americano.

    Evidentemente, este processo de esportivização espraiou-se na velocidade dos trens e navios vapores que cruzavam continentes e oceanos. Logo, ao desembarcarem em terras brasileiras os europeus (ingleses, sobretudo) trataram de sinalizar que uma nova atitude moderna e civilizada deveria mesclar refinamento social com a preparação e o cuidado com o corpo.

    O estilo Sportsman foi bem recebido em Manaus como, aliás, todos os costumes estrangeiros o foram. Mas, praticar esportes tornou-se febre, especialmente entre os mais jovens que ainda não haviam assumido as ocupações e preocupações econômicas e, diferente de outros hábitos copiados, não tardou a deitar raízes.

    Um claro indicativo dessa aceitação estava no comércio. Os negociantes mais perspicazes prontamente relacionaram o interesse pelos esportes com possibilidade de ganhos, independente do segmento comercial tradicional em que se estava estabelecido. A Livraria Clássica dizia ter, além dos livros e material de papelaria em geral, um sortimento completo de bicicletas para crianças. Já as próprias para os passeios e corridas eram destaques na loja Passe-Partourt. A drogaria Universal anunciava suspensórios especiais para esportistas e pomadas para massagens. A sapataria Mandarim prometia para breve os calçados especiais para o futebol. Os bazares Mendonça & Filho, Alemão e Prato Chinez vendiam alteres, luvas de boxe, trapézios e argolas para ginástica, bolas e raquetes de tênis, camisas e calções para ciclistas14. E claro, para não fugir ao preceito pseudo-blasé da Belle Époque, todos os produtos eram devidamente importados.


Os Sportsmen ganham a cidade

O antigo hábito de repousar nos fins de semana tornou-se um despropósito ridículo. Todos para rua: é lá que a ação está. Não é que repousar não seja mais viável, é que tornou-se uma obsolescência, uma caduquice. Não é descansando que alguém se prepara para a semana vindoura, é recarregando as energias, tonificando os nervos, exercitando os músculos, estimulando os sentidos, exercitando o espírito15.

    Visto que Manaus estava em meio ao seu processo de aformoseamento, eram pouquíssimos os espaços adequados para se praticar esportes. Contudo, tal empecilho foi superado na medida em que os espaços públicos eram re-significados por jovens que não se satisfaziam apenas com as limitações dos clubes campestres. Na falta de ginásios, quadras ou campos adequados, as ruas e as praças tornaram-se os cenários da vida esportiva da capital amazonense, posto que os verdadeiros Sportsmen não se detinham ao exercício de um único esporte ou um único ambiente. Onde estivesse a ação, estariam eles, intrépidos.

    Seguindo bem o modelo inglês, um dos primeiros contatos com o esporte passou a se dar em algumas escolas preparatórias da cidade, como por exemplo, o Instituto Universitário. Dirigido pelo Bacharel José Chavalier, esta instituição era voltada para a educação de meninos do primário e secundário e tinha como slogan Educação Intelectual, Física, Moral e Cívica. Sempre com vistas a melhor formação de sua clientela, fundou primeiramente a Legião Amazonense de Escoteiros onde aconteciam aulas de ginástica sueca. Depois, passou a oferecer também, em salas adequadas para finalidade, após as lições, classes de Jiu-Jitsu com um certo Professor Satake, exímio lutador japonês. Porém, o Sr. Chavalier advertia aos pais que a intenção não era transformar os discentes em lutadores, mas aperfeiçoar o lema da escola através de um esporte adotado com sucesso na polícia e no império nipônico. As propagandas encartadas nos jornais da época mostravam que os esportes eram tão valorizados no programa do Instituto Universitário que os alunos ficavam conhecidos pelos times formados para disputa de competições e amistosos16.

    Uma escola particular tinha um público muito circunscrito a determinados segmentos sociais, assim como o Prado Amazonense também o tinha. Ele era um desses raros locais voltados para um lazer desportivo elitizado e abrigava competições de turfe que tradicionalmente eram realizadas nos domingos à tarde. As provas variavam entre 800 e 1.600m e eram bem concorridas, embora distribuíssem prêmios relativamente singelos aos vencedores: de objetos de arte até somas não maiores que 100$00017. Nos intervalos das corridas de cavalo, às vezes ocorriam disputas de diversas modalidades do atletismo da época: salto em altura, em comprimento, de varas, de pés juntos. Também havia exibições de esgrima, arco e flecha e tiro em alguns programas.

    O tiro ao alvo, aliás, era um esporte tão valorizado no início da República pelo governo federal que este permitiu a dispensa do serviço militar daqueles que passassem por cursos realizados pelas sociedades de tiro ligadas a confederação brasileira. E o tiro em Manaus abrigou um número considerado de apreciadores a ponto de a Associação Amazonense contar com 770 cavalheiros em seus quadros, número tão expressivo quanto seu arsenal: 400 carabinas mauzer novas e mais de 60 combalins usadas18. Com tantos praticantes, seus encontros não podiam limitar-se apenas aos intervalos dos páreos no Prado e então passaram a dividir o bosque municipal de Manaus e as praças centrais com o futebol, a luta Greco-romana, o tênis, o base-ball, etc.

    Outro espaço específico para a prática esportiva era o Velódromo de Manaus. Porém, em que pese o já citado sucesso de Deodoro Freire, o Stossel e M. d'Oliveira, o Patagônia entre o esportistas caboclos, e paradoxalmente ao próprio processo de esportivização, a edificação fora destruída em 1910 para dar lugar a novas feições urbanas consideradas mais necessárias. A solução encontrada por Freire foi fundar o Velo-Club Amazonense e transferir as disputas contra o relógio para o velódromo da cidade vizinha de Manacapuru, deixando na capital apenas os passeios urbanos19. Estes eram organizados sem uma periodicidade precisa, mas aconteciam geralmente nos fins de semana. A concentração começava por volta das 5h da manhã e a intenção era percorrer as principais ruas do centro da cidade, desde que as mesmas não estivessem sendo utilizadas pelos praticantes do pedestrianismo.

    Talvez um importante diferencial da prática esportiva na capital do Amazonas quando comparada com outras cidades do Brasil que vivenciaram igual fervor esportivo tenha sido a incorporação, ainda que parcial, de nossa inebriante bacia hidrográfica. Além de ficar às portas do encontro das águas dos rios Negro e Solimões, a cidade de Manaus era (ainda o é, na verdade) entrecortada por tantos igarapés que nem todas as políticas de aformoseamento urbano ao longo do século XX puderam esconder.

    O rowing e a natação eram praticados tanto na baía do Rio Negro quanto em igarapés não canalizados como o de Educandos. De forma muito geral, era no remo que as mulheres eram mais aceitas como Sportswoman, sendo, ainda que timidamente, estimulada a participação nas estações náuticas20. Junto as raias, faziam-se também passeios para as praias da Ponta Negra e do Bom Jardim ou, seguindo um pouco mais distante, para o Cacau Pireira - esta sim, uma verdadeira prova de preparo atlético, visto que para chegar a localidade é necessário atravessar a extensão do rio e alcançar a outra margem do Negro.

    Na verdade, os jornais esportivos do período deram muito pouco destaque aos esportes aquáticos. As parcas colunas que trataram do tema evidenciaram o domínio germânico na área e revelaram, sub-repticiamente, o restrito entusiasmo dos sportsmen locais. É muito provável que tenha contribuído para o desinteresse o custo alto das embarcações importadas da Alemanha, mas não seria isso um esbanjamento desproporcional ao que já acontecia nos círculos abastados da sociedade. Um elemento que não pode ser desconsiderado, contudo, é o da recusa dessa elite que se queria cosmopolita em reforçar seus vínculos com uma ambiência tão cabocla quanto os rios e igarapés. Em toda sua história de ocupação da Amazônia, as diversas populações indígenas utilizaram as peculiaridades hidrográficas a seu favor e legaram aos seus descendentes o fascínio pelas águas e o desenvolvimento de técnicas próprias de natação e construção de embarcações de pequeno porte que, em última análise, poderiam ser, de alguma forma, favoráveis às aptidões dos esportistas aquáticos manauaras. Contudo, as predileções pelos banhos, pela pesca e pelo lazer à beira dos rios que tão vivamente ainda marcam a cultura amazônica não pareceram combinar com a sonhada civilidade do mundo moderno e, portanto, foram apequenadas em sua prática até desaparecerem das vistas21.

    Há de se observar, porém, que se, por um lado a re-significação desses ambientes permitiu a entrega aos esportes, por outro, para infelicidade dessa elite cabocla, deixou notório a incapacidade de manter apenas para si esse símbolo de cosmopolitismo. É fato que ao ar livre os mecanismos segregadores tornavam-se mais fugidios - afinal, as ruas, as praças e os rios pertencem principalmente aos alijados de glamour. Se antes era especialmente o carnaval em sua anual celebração que proporcionava esse pouco desejado intercâmbio, os jogos esportivos, muitos deles exercitados diariamente, chamaram atenção dos setores mais populares da sociedade que também passaram a incorporá-los ao seu cotidiano, especialmente aqueles para os quais os aparatos importados não eram essenciais e as regras eram bastante simplificadas, como o futebol.

    Chamado nos jornais esportivos de esporte bretão, o futebol, na verdade, possui diversas raízes independentes, da china do século III a.C. até sua esportivização na Inglaterra da década de 1860, inclusive com versões mesoamericanas. O apelo ao coletivismo, ao preparo físico, às habilidades individuais e ao senso de estratégia fizeram dele uma prática bastante comum entre setores sociais diversos: quando desembarcou no Brasil, já era um sucesso nas escolas particulares inglesas e nunca deixou de ser apreciado pelas classes trabalhadoras. Porém, se fez um esforço grande para se transplantasse para as cidades como Manaus não o jogo viril, das turbas, mas aquele esportivizado, que era rigidamente definido pelas regras e que distinguia seus jogadores pela superioridade cultural22. Evidentemente, foram empreendidas diversas tentativas de evitar sua massificação, mas, jogado nas áreas públicas, sem os portões dos clubes para impedir os curiosos, o futebol teve grande acolhimento por uma platéia formada indistintamente por privilegiados e deserdados da modernidade que ficavam às margens das praças vibrando com as jogadas e com os gols.

    A afluência do público em número cada vez maior para os locais de jogo sinalizou claramente que para manter um mínimo controle sobre o futebol era necessário organizar-se. Logo, essas partidas descompromissadas foram sendo substituídas por embates mais bem preparados. Cronistas passaram a discutir as regras e as táticas de jogos, chegando mesmo a ensinar, em suas colunas, técnicas de manuseio da bola23. Formaram-se times que tentaram a manutenção do status diferenciados através de uniformes, bandeiras e elencos selecionados. Num primeiro momento, procurou-se evitar a entrada de nacionais nas equipes - o Racing Club, por exemplo, gabava-se de ter apenas ingleses em seu elenco. Estabeleceu-se que a temporada de futebol iria de Março a Julho de cada ano, o que garantiria jogos disputados com clima mais ameno e, ao mesmo tempo, permitiria que os atletas participassem de outras modalidades esportivas nos demais meses, preservando, dessa forma, o espírito indômito do sportsmen. Toda essa movimentação favoreceu para que em 1914 fosse criada a Liga Amazonense de Futebol, entidade que já iniciou um campeonato com 2 divisões e 13 clubes, sendo 6 na primeira e 7 na segunda.

    Nenhum desses mecanismos logrou êxito em minimizar a popularização do futebol. Equipes formadas apenas de europeus não tiveram como se manter diante da necessidade de mesclar as responsabilidades do trabalho com a dinâmica das competições e logo compuseram seu elenco com amazonenses. Enquanto os times eram agraciados pelo poder público com concessões para uso de praças - como campos de treino durante a semana e para jogos do campeonato, aos sábados e domingos, sempre as 16h30min -, os chamados segundos e terceiros times faziam suas partidas nos mesmos locais, às 5h da manhã, antes, portanto, das lojas abrirem suas portas. Ainda assim, se faltassem oportunidades para jogar na capital, dirigiam-se para as cidades próximas, como Itacoatiara e se embatiam contra os times locais, cuja maioria não contava com quaisquer componentes estrangeiros.

    O Bosque Municipal ficava nos limites habitados da cidade e era uma área verde que também, aos poucos fora sendo tomado pelos sportsmen. Lá aconteciam passeios de automóvel, competições de tiro e arco e flecha, além de servir como campo para os jogos de bola, para o base-ball, para o tênis e para o críquete. Devido sua distância, o acesso era viabilizado pelas linhas de bondes da Manaós Tramways. É muito provável que a transferência de muitas partidas de futebol das praças centrais para lá tenha se constituído numa tentativa de filtrar a assistência, mas o indistinto público, já viciado nas partidas, não deixou de acompanhá-los, ainda que queixando-se bastante do preço das passagens e da qualidade dos serviços prestados pela concessionária de origem britânica.

    As regras estabelecidas pela International Board, o preparo técnico e a eficiência tática não eram barreiras insuperáveis e foram apropriados de forma mais criativa por aqueles praticantes que não dispunham de acesso aos manuais e gazetas esportivas nem conhecimento do futebol europeu. Como mostra a jocosa capa de um respeitado semanário, o futebol em Manaus, apesar de esportivizado, não deixou de manter ares do jogo viril no qual a diversão não era coadjuvante da formação física e moral ou da distinção social.


Um intervalo indesejado

... A cidade não conta seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfolfaduras24.

    A dinamicidade trazida pelas práticas esportivas nas duas primeiras décadas do século foi refreada pelo imobilismo econômico no qual a cidade mergulharia em seguida. Na medida em que avançamos para os anos 20 e 30, a fugacidade da Belle Époque e os relativos ganhos do boom gomífero foram se esvanecendo e a sociedade manauara não conseguiu mais sustentar seu sonho de ingresso na modernidade. Teatros, clubes, cinemas e restaurantes passaram a viver uma melancólica sobrevida até sucumbirem ante os sérios problemas sociais e econômicos agravados por uma elite autista que nunca soube precisar os danos causados pelo fosso social que ela própria teimava cavar. A cidade provinciana voltava a existir dolorosamente vitoriosa frente aqueles que se queriam cosmopolitas.

    Essa Amazônia Esportiva que extrapolou os limites das escolas e dos clubes e se materializou nas ruas, nas praças e nos rios da cidade em dias de crença cega no capitalismo perdeu terreno para crise. Os igarapés foram, aos poucos, sendo poluídos; nas praças centrais, os adeptos do esporte passaram a disputar espaço com camelôs, pedintes e rufiões; o bosque foi perdendo área para a expansão urbana desorganizada. O frêmito esportivo, contudo, encontrou sobrevivência nas memórias dos praticantes, independente do segmento de que fazia parte: para uns, ficou a distinção de ser conhecido como um sportsman, para outros, os jogos esportivizados converteram-se em saudosas formas lazer. Agora limitados em possuir os aparatos importados como bolas, raquetes ou calçados, os esportistas restantes foram fixando entre as gerações as práticas dos jogos menos dispendiosos. Sem os europeus por perto para fazer companhia e ditar estilos, a elite local teve diminuídas as forças para criar barreiras na tentativa de evitar a participação esportiva dos setores populares.

    Ainda assim, Manaus precisaria aguardar mais alguns anos para que os jogos esportivizados (sobretudo, o futebol) e uma nova conjuntura político-ideológica favorável ás práticas esportivas escolares pudessem redimir os seus dias de esporte.


Notas

  1. O Sport, Ano I, Nº 1, 31/07/1909. p. 2.

  2. Nos periódicos O Sport e Correio Sportivo, principalmente, há informações sobre Freire e Oliveira. Stossel contava apenas 20 anos quando ganhou o campeonato de 1908. Infelizmente jamais houve uma revanche entre ambos, pois Patagonia fora assassinado em 24/02/1909.

  3. "Pindaíba" In: A Gazeta, Ano I, Nº 1, 25/07/1913.

  4. Consultar a esse respeito, dentre tantos, WEINSTEIN (1993), SANTOS (1980) e PINHEIRO (1999).

  5. Há uma vasta bibliografia sobre esse tema. Para uma abordagem mais didática: AZEVEDO (1998) e PESAVENTO (1999).

  6. Cf. NORMANDO (2003), p. 64.

  7. Ibdem, p. 90, conforme anúncios no periódico A Lanterna de 26/06/1910: Em 1910, por exemplo, o Café Itatiaya afirmava ser uma importante casa de bebidas que se recomenda pelo modo especial de servir aos seus numerosos fregueses. Já no Café Rico reunia-se, segundo o reclame da época, nada menos que a boa sociedade. (...) Nos mais sofisticados, as mesinhas, como nos boulevards parisienses, saiam do próprio prédio e avançavam sobre as calçadas. Neles podiam ser encontrados jovens casais enamorados a saborear as delícias da confeitaria francesa ou o refrescamento dos sorvetes, novidade possibilitada pelas câmaras de congelamento e fabricação de gelo. Os mais maduros podiam, ao longo das rodas de conversa sobre os preços da borracha ou as contingências cotidianas, embebedar-se com esmero tomando schopps alemães, vinho do Porto, uísques americanos e ingleses, espumantes francesas além, é claro de cervejas.

  8. A esse respeito, vários intelectuais deitaram preocupações, inclusive discutindo as formas de resistências dos setores populares manauaras a esse processo de modernização excludente. Para citar dois importantes autores locais: PINEHIRO (1999) e DAOU (2000).

  9. Sobre as reformas educacionais promovidas por T. Arnold na Rugby School (1827-1842) verificar NORMANDO, op. cit.

  10. Cf. expressão cunhada por SEVCENKO (1998), p. 569.

  11. Cf. ensina BUENDIA (2001).

  12. Assim definidos por JESUS (1999), p. 25: ... que freqüentemente exigiam mais empenho muscular que propriamente habilidades mais nobres, como destreza e equilíbrio, extraídos e reelaborados por jovens a partir de jogos da tradição popular.

  13. MURRAY (2000), p.21 comenta: Com o rápido avanço da Revolução Industrial, a organização dos esportes na Grã-Bretanha começou muito antes que na maioria dos outros países. Por exemplo, as regras para as corridas de cavalos foram fixadas em meados do século XVIII, e para o golfe e o críquete logo depois (em 1754 e 1788, respectivamente). Porém, só em meados do século XIX novas e modernizadas atividades de lazer foram reconhecidas em âmbito nacional: alpinismo em 1857, atletismo em 1866, natação em 1869. Em 1888, entre outros esportes geridos por associações nacionais, incluíam-se iatismo, ciclismo, patinação no gelo, remo, pugilismo, róquei e tênis.

  14. Esses exemplos foram retirados d'O Sport, 31/07/1909, p. 4, porém, quase todos os jornais, inclusive os não-esportivos, do período traziam anúncios dessa natureza.

  15. SEVCENKO (1992), p. 33.

  16. Cf. O Pirralho, ano I, Nº 1, 05/10/1915.

  17. Cf. informações retiradas do Derby Club, órgão oficial do Prado Amazonense e que circulou entre 1910 e 1911.

  18. Cf. NORMANDO (2003), p. 99.

  19. Cf. Correio Sportivo Ano I, Nº 1 e 3, respectivamente de 27/03 e 01/05 de 1910.

  20. Ibdem, ano I, Nº 2, 10/04/1910. A participação feminina nos demais esportes praticados em Manaus no inicio do século XX era praticamente nula a julgar pelas fontes jornalísticas da época, porém faltam estudos mais densos que ao mesmo tempo em que revelem, se debrucem sobre as formas de lazer esportivo feminino na Amazônia.

  21. PINHEIRO (1999), p. 68, demonstra que em 1890 o Código de Posturas do Município de Manaus limitava os banhos nos igarapés e litoral apenas aqueles que estivessem trajados de modo a não ofender a moral pública. O descumprimento de tal determinação geraria multa de vinte mil réis ou quatro dias de prisão.

  22. Sobre o tema consultar NORMANDO (2003) e MURRAY (2000).

  23. O cronista Conde, por exemplo, na edição nº 1, de 31/03/1909 d'O Sport escreve longamente sobre a arte de servir de cabeça no foot-ball association.

  24. CALVINO (1999), Pp. 14-15.


Referências

  • AGOSTINO, G. Vencer ou morrer - Futebol, geopolítica e identidade nacional. Rio de Janeiro: Faperj/Mauad, 2002.

  • AZEVEDO, R.M. "Uma idéia de Metrópole no século XIX" In: Revista Brasileira de História. Vol. 18. Nº 35. São Paulo: ANPUH, 1998.

  • BUENDIA, R.V. El deporte moderno. Consideraciones acerca de su genesis y de la evolución de su significado y funciones sociales.Buenos Ayres: Lecturas. Educación Fisica y Deportes. Año 7, Nº 36 - Revista Digital (http://www.efdeportes.com ), 2001.

  • DAOU, A. M. A Belle Époque Amazônica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

  • JESUS, G.M. "Construindo a cidade moderna: a introdução dos esportes na vida urbana do Rio de Janeiro" In: Estudos Históricos. Vol. 13. Nº 23: Esporte e Lazer. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999.

  • JUREMA, J. & GARCIA, R. Amazônia entre o esporte e a cultura. Manaus: Editora Valer, 2002.

  • MURRAY, B. Uma história do futebol. São Paulo: Hedra, 2000.

  • NORMANDO, T. S. Jogos de Bola, Projetos de Sociedade. Por uma História Social do Futebol na Belle Époque Manaura. Dissertação de Mestrado. Manaus: PPG Sociedade e Cultura na Amazônia, 2003.

  • PESAVENTO, S. J. O imaginário da cidade - visões literárias do urbano: Paris, Rio de Janeiro, Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1999.

  • PINHEIRO, M. L. U. A cidade sobre os ombros. Manaus: Edua, 1999.

  • SANTOS, R. História econômica da Amazônia. São Paulo: T.A. Queiroz, 1980.

  • SEVCENKO, N. (org). História da vida privada no Brasil Vol. 3 - República: da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

  • SEVCENKO, N. O Orfeu estático na metrópole. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

  • TUBINO, M. J. G. O Esporte no Brasil. São Paulo: Ibrasa, 1996.

  • WEINSTEIN, B. A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-1920). São Paulo: Hucitec/Edusp, 1993.

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revista digital · Año 12 · N° 112 | Buenos Aires, Septiembre 2007  
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