efdeportes.com
Atualidades cientificas sobre a avaliação e prescrição
do treinamento físico para atletas de alta performance

   
*Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas.
Laboratório de Fisiologia do Exercício - UFSCar.
**Departamento de Ciências Fisiológicas.
Laboratório de Fisiologia do Exercício - UFSCar.
(Brasil)
 
 
Paulo Henrique Silva Marques de Azevedo*  
João Carlos de Oliveira* | Júlio César Takehara*  
Vilmar Baldissera** | Sérgio Eduardo de Andrade Perez*
paulohazevedo@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Importantes mudanças vêm sendo aplicadas no treinamento desportivo nos últimos anos, principalmente devidos aos avanços nas pesquisas em Ciências do Esporte. Apesar disto, poucos trabalhos tem tratado em conjunto as avaliações físicas necessárias para a prescrição dos diferentes métodos de treinamento. Esta revisão tem por objetivo explanar sobre alguns métodos de avaliação funcional e da prescrição do treinamento adequado aos resultados dessas avaliações.
    Unitermos: Treinamento desportivo. Avaliação funcional. Fisiologia do esporte. Especificidade. Individualidade biológica.
 
Abstract
     Important changes in sport training have been applied in the last years, due the advances obtained in the researches in sport sciences. However, lack studies about the adequate physical evaluation concerned the different methods of training. Thus, the goal of this review is explain about some physical evaluation or methods and the training prescription related the results form these evaluations.
    Keywords: Methods of training. Physical evaluations. Prescription of training. Sport physiology.

Agradecimentos: À CNPq e CAPES pela bolsa de estudo concedida ao primeiro e segundo autores, respectivamente, deste trabalho.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 111 - Agosto de 2007

1 / 1

Introdução

    O Treinamento Esportivo (T.E.) tem obtido importantes evoluções nos últimos anos, principalmente devido ao avanço das pesquisas em fisiologia do exercício, biomecânica, psicologia do esporte, bioquímica do esporte, nutrição do esporte, dentre outros.

    Como conseqüência do treinamento físico sistematizado, ocorrem adaptações tanto fisiológicas como bioquímicas, levando à melhora no desempenho de tarefas específicas, sendo que, a natureza e magnitude destas adaptações são dependentes do tipo de atividade realizada, da interação entre o binômio - volume vs. intensidade, da individualidade genética e nível de aptidão inicial de cada indivíduo.

    Estas adaptações esperadas, só irão ocorrer caso o indivíduo realize atividade física regularmente, e em nível superior ao seu habitual1. Um dos meios mais utilizados na busca de melhor condicionamento físico é a corrida submáxima de longa duração (30 a 60 minutos) numa intensidade de 50% a 80% do VO2máx. Mais recentemente tem-se utilizado a intensidade associada ao VO2máx como parâmetro para prescrição de treinamento intervalado2,3. Estes dois tipos de treinamento são importantes para elevar o nível de aptidão aeróbica, requisito necessário para o sucesso em esportes de endurance, além de o baixo nível cardiorrespiratório estar associado com fator de risco aumentado para muitas doenças degenerativas4.

    O treinamento resistido também tem sido utilizado com sucesso no aumento do desempenho de atletas de alto nível, através dos seus benefícios associados à melhora da potência e capacidade aeróbica, flexibilidade, resistência muscular, e principalmente força e potência muscular.

    Para a perfeita harmonização do treinamento faz-se necessário conhecer seus princípios: individualidade biológica, especificidade, interdependência volume x intensidade, progressividade, sobrecarga, e reversibilidade. É de fundamental importância também o reconhecimento da fonte energética predominante em cada esporte, para que os preparadores físicos possam aplicar com exatidão os princípios da sobrecarga e da especificidade5.

    Há três fontes geradoras de energia, sistema anaeróbico alático (ATP-CP) que predomina em esforços máximos de até 10 segundos, como em corridas de 100 metros; Anaeróbico Lático com utilização de glicose, mas sem a necessidade de oxigênio com a formação final de piruvato ou ainda, dependendo de vários fatores produzindo lactato, e que apresenta sua capacidade máxima entre 30 e 60 segundos, como por exemplo, corrida de 400 metros; Sistema Oxidativo, que utiliza glicose, lipídeos e proteínas para geração de energia, e que necessitam de oxigênio, e os esforços são acima de 1 minutos, como por exemplo, corrida de 1500 metros6.

    O conhecimento destes princípios e da fonte energética predominante no esporte é fundamental para que se consiga adaptações positivas, pois para que se consiga estas adaptações é necessário que o estimulo seja dado numa faixa ideal, ou seja, nem muito fraco (débil) e nem muito forte5. Estes estímulos causam catabolismo durante a sessão de treinamento, que é revertido nos períodos de descanso, com aumento das reservas funcionais do atleta. Este fenômeno é chamado de supercompensação. Ainda, os períodos de recuperação não podem ser muito breves, o que pode acarretar fadiga e possível surgimento de overtraining. Mas também não pode ser demasiado longo, pois pode não contribuir para as adaptações ideais, sendo este período dependente do volume e da intensidade do treino.

    O treinamento esportivo é organizado em ciclos para facilitar sua organização temporal. São divididos em macrociclo, que corresponde ao treinamento como um todo (geralmente 3 meses a 1 ano); Mesociclos, que é a divisão do macrociclo e corresponde geralmente a ciclos de 1 mês de duração; microciclos, que é a divisão dos mesociclos e corresponde geralmente a 1 semana de duração; ainda dentro dos microciclos temos a sessão de treinamento, que é a divisão dos microciclos e que corresponde a um dia de treino.

    Com base no acima exposto, poucos trabalhos têm tratado em conjunto as avaliações físicas necessárias para prescrição do treinamento e os métodos de treinamento, ou seja, não há a união da ciência do treinamento esportivo e da fisiologia do esporte. Deste modo, esta revisão tem por objetivo explanar sobre alguns métodos de avaliação funcional e prescrição do treinamento baseado nos resultados destas avaliações.


Avaliação do atleta

    Consumo Máximo de Oxigênio - VO2máx

    O Consumo Máximo de Oxigênio (VO2máx) pode ser definido como o maior volume de oxigênio por unidade de tempo que um individuo consegue captar, transportar e metabolizar para a biossíntese da ATP durante exercício máximo7.

    Determinações diretas do VO2máx realizadas em teste máximo são um importante indicador do limite superior de tolerância máxima ao exercício aeróbico. Com o incremento da intensidade do esforço existe um aumento linear no consumo do oxigênio (VO2). Eventualmente, a uma dada intensidade, a capacidade máxima de transporte de O2 para os músculos ativos é atingida e o VO2 entra num platô, ainda que por pouco tempo, apesar de continuar a existir um incremento da carga. O valor de VO2 obtido nesse platô é considerado o VO2máx8.

    Para a determinação laboratorial do VO2máx, geralmente, utilizam-se provas ergométricas máximas, e a determinação faz-se de forma direta. O VO2máx pode ser expresso de forma absoluta em litros por minuto (L/min) ou relativo à massa corporal por minuto (mL.kg-1.min-1)8 .

    Este parâmetro fisiológico tem sido utilizado como o modelo padrão na avaliação da aptidão cardiorrespiratória2,4,9 indicador da capacidade de endurance e parâmetro para prescrição de treinamento, com seus valores podendo ser modificado pelo treinamento sistematizado6.

    Segundo Green et al.10, indivíduos sedentários e ativos obtiveram melhoras de performance aeróbica e de indicies fisiológicos que predizem esta performance, após treinamento aeróbico realizado em intensidades submáximas. Já em indivíduos altamente treinados, um aumento no volume de treinamento aeróbico submáximo não modificou a performance aeróbica e nem suas variáveis fisiológicas associadas11. A não mudança destes índices e variáveis parece ser devido a uma limitação central da oferta de O2, que, segundo Denadai2, é influenciada pelo débito cardíaco e pelo conteúdo arterial de O2, podendo ser expresso como: Oferta central de O2 = CaO2 x FC x VS.


    Cinética de VO2

    No momento da transição do repouso para o exercício, durante os primeiros segundos de atividade, o sistema energético do fosfagênio (ATP-CP) marca acentuadamente a ressíntese da ATP12, diminuindo sua participação com o prolongamento da atividade. Segundo Hughson et al.12, a ressíntese da ATP através da glicólise é dependente de enzimas específicas (i.e. hexoquinase) e das mudanças nas concentrações de substratos (i.e. G-6-P, Pi, ADP), e numa intensidade de 50% do VO2máx a fosforilação seria 100% oxidativa.

    Porém, quando o indivíduo sai da situação de repouso para um exercício de alta intensidade (i.e. 100% Intensidade do VO2máx), a frequência de aumento na fosforilação oxidativa é igual a constante tempo () para a cinética de VO2, que é o tempo requerido para alcançar 63% da diferença entre o VO2 base (repouso) e a estabilização do VO2.

    Há um clássico debate sobre as limitações da cinética de VO2, sendo que esta limitação seria preferencialmente central ou periférica, seja em exercícios máximos ou submáximos13.

    De acordo com Grassi14, há duas correntes que tentam explicar a cinética finita do VO2. Uma que atribui o problema à lentidão do ajuste do metabolismo oxidativo à nova solicitação metabólica (inércia metabólica) e, outra que atribui este fator à entrega de O2 para a fibra muscular. Ainda segundo Grassi14, a explicação para esta cinética finita do VO2 é mais complexa, dependendo de vários fatores limitantes.

    Vários índices fisiológicos tem sido utilizados na prescrição e controle do treinamento15, e entre estas variáveis estão o Limiar de Lactato, Limiar Ventilatório, e mais recentemente a intensidade associada ao VO2máx (IVO2máx), que é definida como a velocidade ou potência em que se atinge o VO2máx e descreve a associação entre a potência aeróbica máxima e economia de corrida2. Outro importante índice associado à IVO2máx é o Tempo limite (Tlim), que é utilizado tanto para prescrição do treinamento aeróbico como para avaliação da capacidade anaeróbica2.


    Limiar de Anaerobiose

    A determinação do limiar de anaerobiose, principalmente através do lactato sanguíneo, é hoje uma das principais ferramentas para avaliação do atleta e prescrição do Treinamento16, demonstrando ser superior ao VO2máx para a determinação de intensidade submáxima de treino e mais sensível aos efeitos do treinamento17.

    Na literatura encontramos muitas metodologias e nomenclaturas diferentes de determinação do limiar de anaerobiose (i.e. limiar de lactato, lactato mínimo, limiar anaeróbico individual, limiar ventilatório, entre outros), mas todos eles buscam identificar o mesmo parâmetro, que corresponde à intensidade associada à máxima fase estável de lactato sanguíneo15,18.

    A elevação da intensidade do exercício intensifica a via glicolítica, pois a maior recrutamento de fibras musculares do Tipo IIa e IIb que são essencialmente glicolíticas, aumentando a produção de lactato e sua conseqüente liberação no sangue, ocasionando em determinado momento do exercício aumento não linear deste lactato sanguíneo com a intensidade do exercício, caracterizando o limiar de lactato19.

    É importante ressaltar que o aumento da concentração sanguínea de lactato não é um fator prejudicial à performance, e hoje é vista de maneira inversa ao que se acreditava a poucos anos atrás, pois é creditado ao lactato a capacidade tamponante intramuscular, em que o piruvato é reduzido a lactato pela ação da enzima lactato desidrogenase, o qual oxida um NADH. Este NADH retorna à sua forma reduzida NAD, o qual pode participar novamente da glicólise, prorrogando desta forma esforço físico. Outra função importante do lactato é quando este é transportado para fora da célula muscular, via transportador monocarboxilase (MCT), e quando ocorre este transporte, um íon H+ é retirado da fibra muscular pelo mesmo transportador do lactato, via co-transporte, ajudando assim na alcalinização do meio intramuscular20.


    Avaliação da Força Muscular

    Para Weineck21, força máxima pode ser definida como a maior força que o sistema neuromuscular pode exercer através de contração voluntária máxima, ocorrendo (dinâmica) ou não (estática) movimento articular. O treinamento resistido promove aumento da força máxima, e este aumento seria devido ao incremento da secção muscular transversa, aumento da sincronização e dos disparos nervosos das unidades motoras, e diminuição do fenômeno de co-contração22.

    Pesquisas têm sido realizadas na tentativa de desenvolver métodos de avaliar a força máxima em atletas de maneira confiável, válida e fidedigna, visto que esta capacidade física é pré-requisito para o sucesso em muitos esportes de competição, e o aumento da força é objetivo principal do treinamento resistido23. Porém, um dos problemas encontrados é o da especificidade do movimento, visto que as avaliações são realizadas em aparelhos típicos de musculação, fugindo dos padrões de movimentos dos esportes.

    O teste mais comumente utilizado e pesquisado é o de uma repetição máxima (1-RM), que foi definido por Pereira & Gomes24 como a maior carga que pode ser movida por uma amplitude específica de movimento uma única vez e com padrão de movimento correto.

    No que tange à confiabilidade do teste de 1-RM, Dias et al.23, verificaram nas suas revisões que vários estudos demonstraram níveis moderados e até mesmo elevados de correlação intraclasses no teste-reteste. Ainda segundo Dias et al., esta não seria a melhor análise destes dados, visto que neste mesmo estudo foi encontrado um nível elevado de correlação entre o primeiro dia de teste da 1-RM e o quarto dia, mas quando utilizado o procedimento de plotagem de Bland e Altman, um recurso estatístico que permite a análise da concordância entre as medidas obtidas nas diferentes sessões de testes de 1-RM, ficou evidente que mesmo em indivíduos treinados (mais de seis meses), seria necessário um tempo de familiarização com o teste para que não se tire conclusão equivocada, e este tempo estaria por volta de 3 sessões para os exercícios agachamento e supino, e 2 sessões para o exercício rosca bíceps. Contudo, este trabalho utilizou praticantes recreacionais de musculação com mais de seis meses de experiência, e não atletas que visam alta performance, o que pode resultar em dados diferentes do acima exposto.

    A intensidade do exercício geralmente é determinada através do percentual da carga máxima em uma única repetição (1-RM), ou estipulada pelo número de repetições máximas22,25,26 e este fato faz com estes testes sejam aplicados a atletas, na tentativa de quantificar o volume e a intensidade de treinamento, além do teste de 1-RM ser de fácil aplicação, com baixo custo operacional e seguro23.

    Alguns estudos utilizam o teste de 1-RM na avaliação da força máxima nas condições pré e pós-treinamento de atletas de alto rendimento. Dentre estes estudos, Azevedo et al.27 utilizaram esta metodologia no estudo de caso do atleta Mario Sabino, quando este atleta alcançou a primeira colocação nos jogos Pan-Americanos e terceira colocação no mundial de judô, ambos no ano de 2003. Foi verificado que a força de 1-RM nos exercícios de agachamento e supino aumentou com o decorrer do treinamento, e que esta variável pode ter sido importante para que os objetivos fossem alcançados. Este dado no mostra a importância da avaliação da capacidade física força em atletas de judô de alto nível.


Treinamento do Atleta

    Periodização do Treinamento

    Muito tem sido feito na tentativa de melhora da performance em atletas de elite, como criação de novos suplementos alimentares, novas roupas, calçados, equipamentos dentro outros. Porém, o que realmente faz a diferença no aumento desta performance é o treinamento, prescrito de maneira correta e sistematizada. Na tentativa de se organizar o treinamento dos atletas de acordo com os calendários competitivos e com as competições mais importantes surgiu a periodização do treinamento, que nada mais é do que o planejamento das atividades do atleta num período cronológico.

    Antes de se falar especificamente da periodização do treinamento, é necessário colocar aqui os princípios que norteiam todo o processo do treinamento. Estes princípios são o da individualidade biológica, adaptação, sobrecarga, continuidade, interdependência volume x intensidade, e o da especificidade28.

  • Princípio da individualidade biológica: refere-se à junção do genótipo do sujeito ao seu fenótipo, ou seja, o que é herdado dos pais mais o que é vivenciado pelo sujeito ao longo de toda sua vida o faz um ser único, mesmo que este seja gêmeos univitelinos. O genótipo do individuo determina alguns fatores como o biótipo, altura máxima, tipagem de fibras musculares predominantes dentre outros. Já o fenótipo é tudo que é acrescido ao sujeito desde o seu nascimento como as habilidades esportivas, força máxima, VO2máx, limiar anaeróbico, dentre outros. Sabendo-se destes fatores é preciso saber o que a individualidade biológica influência no processo de treinamento. É simples, o treinamento deve ser o mais individualizado possível às características do atleta e baseado nas suas avaliações individuais para que possa alcançar suas potencialidades máximas, e caso o trabalho seja realizado em equipes, é recomendado que sejam formados grupos os mais homogêneos possíveis para que todos possam ter um aumento de desempenho similar e otimizado28.

  • Princípio da adaptação: este princípio está diretamente relacionado ao conceito de homeostase, visto que todo estimulo irá provocar uma resposta no organismo na mesma intensidade. Estes estímulos são importantes para que ocorra um processo catabólico inicial e um posterior anabolismo no período de recuperação, o que irá promover subseqüentemente uma supercompensação e aumento do desempenho. Para que ocorra adaptação no organismo é necessário que o treinamento ou atividade praticada sejam feitas em intensidade acima do normal para o sujeito, para que ocorra quebra da homeostase interna do organismo e este responda ao estimulo, e a resposta pode ser positiva, negativa ou não haver resposta dependendo da intensidade e do volume do estimulo. Poderá esta resposta ser danosa ou negativa se o estimulo for muito além do que o sujeito esta acostumado ou além de suas reservas funcionais, ou ainda se o período de recuperação entre estímulos for pequeno não permitindo a recuperação orgânica mínima necessária. Será débil se o estimulo aplicado ficar aquém ou no mesmo nível do habitual para o sujeito. E poderá ainda ser positiva a adaptação se o estimulo aplicado for acima do normal, mas dentro das possibilidades do sujeito, e para que se acerte nesta intensidade é necessário aplicar testes fisiológicos e de desempenho, e ainda, o período de recuperação entre estímulos deve ser ótimo28.

  • Princípio da Sobrecarga: este princípio esta intimamente relacionado ao anterior, visto que uma sobrecarga adequadamente aplicada irá resultar em adaptações orgânicas positivas, e estas adaptações elevam a potencialidade e a capacidade do organismo a um novo patamar, superior ao anterior. Portanto, para que esta homeostase seja novamente rompida, e novas adaptações sejam conseguidas a fim de aumentar a capacidade funcional e o desempenho atlético, uma sobrecarga maior deverá ser aplicada. Esta sobrecarga se refere tanto ao volume quanto à intensidade de treinamento28.

  • Princípio da interdependência volume x intensidade: para que ocorra aumento do desempenho necessariamente devemos elevar a sobrecarga imposta ao atleta. Como visto, esta sobrecarga pode ser tanto no volume como na intensidade, e isto dependerá da qualidade física que se quer trabalhar e do momento especifico da periodização do treinamento. Forçosamente, se o objetivo for por treinos de alta intensidade ou volume de treino deverá ser moderado ou baixo, pois a fadiga rapidamente se instala e os padrões de movimento ficam prejudicados. Caso o objetivo seja o treinamento de intensidade moderada, como por exemplo, na intensidade do limiar anaeróbico, o volume de treino poderá ser de moderado a alto28.

  • Princípio da continuidade: como visto nos princípios da adaptação e da sobrecarga, o processo de melhora das capacidades físicas e funcionais dos atletas é dependente do contínuo aumento dos estímulos, o que tem por objetivo o aumento da performance. Dois pontos são importantes neste princípio, a interrupção do treinamento e a duração total deste período do treinamento28.

    A interrupção do treinamento, desde que seja para fins recuperativos e dentro do tempo previsto como o necessário, de acordo com a intensidade e o volume de treino realizado, será benéfico para que ocorra adaptação positiva ao organismo, porém quando este tempo é demasiado as adaptações não são conseguidas e acaba por acontecer o processo de destreinamento28.

    Para que se obtenha as adaptações esperadas e programadas é necessário que os períodos de treinamento tenham uma duração mínima. Este período é dependente do nível de aptidão do sujeito, da qualidade física trabalhada, da natureza do desporto, dentre outros fatores.

  • Princípio da especificidade: o objetivo de todo e qualquer treinamento é, em suma, a melhora do desempenho do atleta, e para que este objetivo seja alcançado faz-se necessário que o treino seja o mais próximo possível da realidade do desporto. Para que se obtenha melhores resultados em competições os treinadores têm cada vez mais planejado e aplicado os treinamentos com os gestos esportivos, solicitações metabólicas, coordenação motora e segmentos corporais o mais próximo possível da realidade do desporto28. Este fato parece garantir que haja uma transferência positiva do que foi treinado para o que será feito na competição.

    A periodização do treinamento foi primeiramente publicada por Matveev em 1965 na Rússia29, e definida por Dantas28 como sendo "o planejamento geral e detalhado do tempo disponível para treinamento, de acordo com os objetivos intermediários perfeitamente estabelecidos, respeitando-se os princípios científicos do exercício desportivo".

    Muitos treinadores utilizaram os ensinamentos de Matveev29 na organização do treinamento de seus atletas, e muitos destes quebraram recordes mundiais e foram vencedores de mundiais e olimpíadas de suas modalidades. Devido a estes resultados, a periodização do treinamento chamou a atenção de muitos cientistas dos esportes e treinadores, e hoje em dia há outras propostas de modelos de periodização do treinamento, além da originalmente proposta por Matveev em 1965, e ainda este primeira proposta continua sendo usada hoje dia, mas com muitas críticas dos estudiosos do treinamento desportivo. O fato é que a periodização ou planificação do treinamento desportivo, como alguns pesquisadores modernos preferem, ainda carece de maiores estudos.

    O treinamento geralmente era organizado, e ainda hoje alguns usam esta estruturação, de maneira a considerar um ciclo olímpico para a divisão do treinamento. Acontece que quatro anos é um tempo um tanto quanto longo para atletas de alto desempenho, e este fato fez com que os ciclos de treinamento passassem a ser anuais. Mas mesmo assim, é difícil para o atleta manter o foco numa competição que acontecerá apenas dez a doze meses após o inicio do treinamento. Frente ao exposto, e ás exigências modernas de patrocinadores e a participação cada vez mais freqüentes de atletas de elite em competições internacionais de elevado nível, Verkoshanki30, propôs um nova metodologia de planejamento do treinamento, que corresponderia a períodos de três a seis meses apenas, em que o atleta alcançaria sua performance máxima mais vezes num mesmo ano, o que melhoraria sua performance.

    Uma estrutura básica é geralmente seguida para facilitar a organização dos períodos de treinamento e no controle das cargas, o que pode ser chamado de blocos. Teremos, portanto três blocos principais, o macrociclo, mesociclo e o microciclo, que veremos a seguir o que corresponde a cada um deles, segundo Matveev29.

    O Macrociclo é o todo da periodização, ou seja, se desde o primeiro dia de treinamento até o ultimo dia tivermos seis meses contados, o macrociclo durará os mesmos seis meses, englobando desde as avaliações iniciais até o ultimo dia de treino. Dentro deste período temos a distinção entre o período preparatório, competitivo, e o de descanso ou transição. O período preparatório é destinado à elevação das capacidades físicas condicionantes mínimas dos atletas, e os exercícios pouco ou em nada lembram a solicitação metabólica e os movimentos do desporto do atleta27,29. No período competitivo a ênfase do treinamento recai sobre a especificidade metabólica e de movimento do desporto, em que se almeja alcançar o máximo desempenho do atleta27,29. Enquanto que o ultimo período de treinamento, o de transição, o objetivo é a perda gradual da performance alcançada ao final de todo o período de competição, sem que estes níveis cheguem a níveis iguais ou inferiores aos do inicio da temporada de treinamento que se finda29.

    Mesociclos são blocos menores que dividem o macrociclo em fases menores, o que permite melhor controle do volume, intensidade e recuperação dos treinamentos. A duração de cada mesociclo dura em média de quatro a seis semanas, com alternância de volume e intensidade ente as semanas, sendo que na ultima semana o volume e a intensidade geralmente são reduzidos com o intuito de prevenir o sobretreinamento e permitir uma adequada recuperação e elevação da performance. Cada mesociclo tem objetivos específicos a serem alcançados ao final do período.

    É recomendado que os atletas não iniciem um novo mesociclo antes que se tenha recuperado totalmente da etapa anterior, e isto pode ser monitorado por exames fisiológicos e bioquímicos, além de resultados de provas e testes29. Além do fator preventivo, o resultado destes testes e exames permite ao treinador verificar se o objetivo proposto esta na diretriz correta, e caso a resposta seja negativa, o treinamento pode sofrer modificações a fim de alcançar os objetivos propostos sem que o atleta chegue ao estado de overtraining.

    Os microciclos são os blocos construtores dos mesociclos. Nas periodizações mais comumente utilizadas o microciclo corresponde a uma semana de treino29. Geralmente cada quatro microciclos seguidos correspondem a um mesociclo, o que totaliza um mês de treinamento.

    Estes microciclos são construídos de maneira a aumentar gradativamente a intensidade de treino até o terceiro microciclo, que corresponde à mais alta intensidade de treino dentro de um mesociclo, Já o quarto e ultimo microciclo é chamado de regenerativo, pois tem o objetivo de proporcionar ao atleta a recuperação completa dos treinos anteriormente realizados, uma supercompensação, e preparar o atleta para um novo mesociclo. Neste período tanto a intensidade como o volume de treino deve ser reduzido.

    A periodização, quando aplicada corretamente tem a capacidade de maximizar o desempenho do atleta e minimizar os riscos de overtraining.


Treinamento Aeróbico

    Foi demonstrado através do estudo de Baldwin et al.17, que a melhor maneira de individualizar o treinamento é através do limiar de anaerobiose. Neste estudo os autores verificaram a influencia do estado de treino e a intensidade relativa de exercício na resposta fisiológica durante exercício de endurance em 7 indivíduos treinados e 6 não treinados, que realizaram performance de ciclismo durante 60 minutos na intensidade de 70% do VO2pico e na intensidade de 95% do limiar de anaerobiose. A concentração de lactato e amônia, além da frequência cardíaca foram maiores no esforço a 70% do VO2pico quando comparado à 95% do limiar de anaerobiose, tanto para treinados quanto para sujeitos não treinados, porém, quando comparados os dois grupos no exercício à 95% do limiar de anaerobiose não foi encontrada diferença na resposta fisiológica para as concentrações de lactato e amônia, além da frequência cardíaca. Estes dados sugerem que a determinação do limiar de anaerobiose é o melhor parâmetro para a prescrição individualizada do treinamento aeróbico, além de ser mais sensível ao treinamento do que o VO2max.

    Paavolainen et al.31 realizaram um experimento com duração de nove semanas de treinamento de resistência e potência em atletas de alta performance em corridas de endurance. O treinamento consistiu de corridas abaixo do limiar anaeróbico (84%) até intensidades acima do limiar (16%). Os autores concluíram que houve melhora do tempo de corrida em 5km após treinamento de potência, sprints e endurance sem mudanças significativas na potência aeróbica máxima. Este fato demonstra o exposto acima, que o limiar de anaerobiose, principalmente determinado pelo lactato sanguíneo é mais sensível ao treinamento do que valores de VO2máx.

    O treinamento submáximo para atletas (intensidade associada ao limiar de anaerobiose) de elite parece não ter os mesmos resultados na melhora de performance quando comparados com atletas iniciantes, assim como o aumento de volume também não está associado a uma melhora. Para "quebrar" este platô de performance, vários autores têm sugerido que se faça treinamento mais intenso, de forma intervalada e na IVO2máx.

    Lindsay et al.32, sugerem que para a melhora do VO2máx e da IVO2máx seja apropriado incluir pelo menos uma ou duas sessões de treinamento intervalado na semana para atletas de elevada performance. Para a prescrição do treinamento intervalado de maneira individualizada, Billat33 sugere que o treinamento seja baseado na IVO2máx e no Tlim, e que a intensidade seja 100% da IVO2máx, a duração correspondente a 60% do Tlim, com pausa ativa na intensidade de 60% da IVO2máx e com relação esforço/pausa de 1/1 ou 1/2.

    Demarie et al.34 também propuseram que o treinamento intervalado pode ser realizado na chamada 50, que é a intensidade intermediaria entre o limiar de anaerobiose e o VO2máx, e que permitiria atingir o VO2máx, assim como o treino na IVO2máx, porém, com a vantagem de permanecer por maior tempo realizando o exercício. E ainda, o treino de corrida na 50, realizado de maneira continua, também permite que seja alcançado o VO2máx.

    Em estudo conduzido por Bickham e Le Rossignol35 sete atletas de endurance foram submetidos a seis semanas de treinamento intervalado, realizando 4 séries. Iniciando com 14 repetições na primeira semana, aumentando progressivamente o volume até que na última semana fossem realizados 30 tiros. A duração foi de 5-15 segundos, na distância de 40 a 100 metros, 3 vezes por semana, com pausa na razão de 1/5, 1/4 e 1/3 entre repetições e 5 minutos entre séries. A intensidade foi correspondente a 90-100% do esforço máximo percebido. Foi encontrado que o treinamento intervalado realizado nestes moldes aumentou o tempo de exaustão (15,3%) no teste de corrida na intensidade de 110% do VO2máx, sem conseqüente aumento do VO2máx e no déficit acumulado de oxigênio. Economia de corrida e cinética de VO2 também não apresentaram mudanças significativas. Contudo, foi verificado que o treinamento aumentou em 5% o requerimento de energia aeróbica durante o teste na intensidade de 110% do VO2máx.

    Foi demonstrado através de estudo realizado por Tabata et al.36 que o treinamento intervalado promove maiores ganhos de VO2máx do que em intensidade constante por longos períodos. Foram utilizados 2 grupos. Um grupo realizou o treino 5 vezes na semana, durante 60 minutos por dia, numa intensidade de 70% do VO2máx, obtendo aumento de 9% no VO2máx. Já o outro grupo realizou treino intervalado 5 vezes na semana, 8 séries de trabalho máximo, com duração de 20 segundos e recuperação de 10 segundos, totalizando 20 minutos na semana. O grupo intervalado obteve um aumento de 15% no VO2máx.

    Laursen et al.37 compararam o efeito de 3 regimes de treinamento intervalado na performance de atletas de ciclismo altamente treinados. O grupo I (n=8) realizou 8 x 60% do Tlim na intensidade da Potência máxima (Pmáx), com relação esforço/pausa de 1/2. Grupo II (n=9), fez 8 x 60% do Tlim na intensidade da Pmáx, com recuperação até que se atingisse 65% da frequência cardíaca máxima. Grupo III (n=10), realizou 12 x 30 segundos à 175% da potência pico e recuperação de 4 a 5 minutos. Grupo IV (n=11), foi o grupo controle, que foi orientado a manter a base do treinamento previamente proposto, de baixa intensidade. Todos os grupos melhoraram significativamente o tempo de corrida nos 40 km além da potência pico em teste crescente quando comparado ao controle. O Grupo I (+ 5,4%) e o Grupo II (+ 8,1%) aumentaram significativamente o VO2máx quando comparado ao controle (+ 1%). Concluiu-se que realizar o treino de maneira intervalada na intensidade da Pmáx e no tempo de 60% da Tlim para ciclistas altamente treinados é benéfico na melhora do tempo em corrida de 40 km e para aumento do VO2máx.


Treinamento de Força e Potência

    Nos últimos anos o treinamento de força tem sido mais bem estudado por pesquisadores das Ciências do Esporte, devido a sua influência no aumento de força máxima, potência e capacidade de endurance.

    Através de uma meta-análise Rhea et al.38, identificaram a relação dose/resposta, através do procedimento estatístico do tamanho do efeito, para a correta prescrição do treinamento resistido e melhores ganhos de força. Para sujeitos treinados, foi verificado que a intensidade de treino deve por volta de 80% da 1-RM, 2 vezes por semana, e 4 séries por grupo muscular a cada sessão de treino.

    No estudo de Hennessy e Watson39 os autores dividiram 41 sujeitos, atletas de rugby, em 4 grupos: endurance (E), Força (F), endurance + força (E + F), e controle (C), com o objetivo de avaliar possíveis melhoras na força, potência e capacidade de endurance, devido à falta de acordo na literatura sobre um possível efeito negativo em se treinar simultaneamente endurance e força. O grupo E (n=12) treinou corrida 4 vezes na semana, correndo na intensidade correspondente a 70% da freqüência cardíaca máxima prevista pela fórmula 220-idade, começando com 20 minutos e evoluindo até 60 minutos na ultima semana; o grupo F (n=9) treinou musculação 3 dias na semana, com carga acima de 70% de 1-RM; o grupo E + F (n=10) treinou 5 dias na semana, realizando corrida e musculação no mesmo dia; e o grupo C (n=10) não treinou. O total foi de 8 semanas para todos os grupos. Foi avaliada a porcentagem de gordura corporal, tempo de corrida de 20 metros, salto vertical e consumo máximo de oxigênio estimado. Os autores concluíram que o treinamento E + F produz melhoras na força de membros superiores, mas não de membros inferiores, não obtendo ainda melhoras no salto vertical e velocidade. Já o grupo F obteve ganhos de força, altura do salto vertical e velocidade, enquanto que o consumo de oxigênio se manteve nos níveis de pré-treinamento. O grupo E não demonstrou aumento significativo do consumo de oxigênio quando comparado ao grupo E + F. Os autores concluíram que é preciso cuidado no planejamento de treinamento combinado quando se deseja melhoras nas capacidades de força, potência, velocidade e endurance.

    Linnamo et al.40 realizaram um estudo com o objetivo de verificar os efeitos agudos de exercício concêntrico no leg press realizados com a potencia máxima (40 ± 6% da força máxima isométrica) e força de alta intensidade (67 ± 7% da força máxima isométrica). Foram realizadas 5 séries de 10 movimentos em ambos os exercícios com acompanhando de dados eletromiográficos, e apenas de forma concêntrica. Os autores concluíram que exercícios de potência aumentam a ativação das unidades motoras rápidas ou uma diminuição das unidades motoras lentas. Ainda, A freqüência de potência média e mediana foi maior nos exercícios de potência do que nos de alta intensidade, além do exercício de potência parecer ter induzido a facilitação do sistema neuromuscular ao invés da fadiga.

    Estudo interessante foi conduzido por Takarada, Sato e Ishii41, em que atletas de elite da modalidade Rugby foram submetidos a treinamento resistido de baixa intensidade. Os sujeitos foram separados em 3 grupos distintos: Grupo controle, que não realizou treino resistido; Grupo baixa intensidade com oclusão vascular (LIO); Grupo baixa intensidade sem oclusão vascular (LI). Os sujeitos do grupo LIO foram orientados a realizar o maior número de repetições possível com carga equivalente a 50% da 1-RM, no exercício de extensão de pernas, com velocidade de 2 segundos para cada ciclo concêntrico-excêntrico, pausa de 30 segundos entre séries, com quatro séries, duas vezes por semana no total de oito semanas. O grupo LI foi orientado a realizar o mesmo número de repetições que o LIO. Os autores concluíram que o treinamento de baixa intensidade combinado com oclusão vascular para atletas de elevada performance promove hipertrofia muscular, aumento da força e da endurance muscular. Este estudo abre uma boa perspectiva, já que o treinamento é realizado com baixa intensidade e com volume baixo de treino, podendo ajudar na prevenção de overtraining.

    A pesquisa de Liow e Hopkins42 objetivou estudar a resposta de caiaquistas de velocidade frente ao treinamento resistido realizado de maneira lenta e de maneira rápida. Durante seis semanas os atletas treinaram 2 dias na semana, cada sessão era feita 3-4 séries em 2 exercícios específicos aos movimentos da modalidade em questão, com a intensidade de 80% da 1-RM. Os exercícios diferiram apenas no tempo de execução da fase concêntrica de movimento, sendo o treino lento (n=13) com o tempo de 1,7 segundos, e o treino explosivo (n=13) menor que 0,85 segundos. Comparado ao grupo controle (n=12), tanto o grupo lento como o explosivo aumentaram a força e a performance de sprint. Os autores concluíram que o treinamento a 80% da 1-RM realizado de forma lenta é mais efetivo para aumentar a aceleração, e o treinamento de potência parece ser mais efetivo para a manutenção da velocidade.

    Um dos meios que tem merecido maior atenção é o treinamento de força especial, que é o treinamento de força com movimentos e características especificas ou mais próximas possível do esporte em questão, com o objetivo de aumentar a capacidade de força em movimentos específicos43. A confirmação da eficácia do treinamento de força especial pode ser comprovada através do trabalho de Rezende et al.44 na modalidade esportiva voleibol, em que os autores relatam que o treinamento físico é feito de maneira a simular as ações motoras de uma partida. Visto a grande expressão do Voleibol brasileiro em campeonatos mundiais e olímpicos nos últimos anos, estes fatos nos permitem concluir que o treinamento especial, tanto de força como de endurance são benéficos e importantes para o ótimo desempenho esportivo.

    Ebben45, em seu artigo de revisão, relata os benefícios do que ele chama de treinamento complexo, que é a combinação de exercícios de força e pliometria numa mesma sessão de treinamento, em que o sujeito deve realizar um exercício de agachamento e logo em seguida exercício pliométrico, com o objetivo de aumentar a potência muscular e conseqüentemente a performance atlética. O autor relata que este tipo de treino deve ser realizado com pausa de três a quatro minutos entre o exercício de força e o de pliometria, com cinco repetições máximas, sendo mais efetivo em atletas de alta performance. Relatam ainda que o treinamento complexo resulta em aumento de performance de salto, e apresenta também efeito ergogênico nos membros superiores quando realizados exercícios para esta região do corpo.


Sintomas e Prevenção de Overtraining

    A relação inadequada entre volume e intensidade de treinamento, que reflete outro princípio do treinamento, o da interdependência volume x intensidade, junto com períodos inadequados de recuperação entre estímulos de treino e competição pode provocar o fenômeno conhecido como overtraining. Este fenômeno pode ser refletido por alguns sintomas como fadiga crônica, perda de apetite, diminuição da performance, aumento da frequência cardíaca de repouso, infecções freqüentes, distúrbios do sono, dentre outros46.

    Uma das formas de controlar as cargas de treinamento e prevenir a síndrome do overtraining é através da relação testosterona/cortisol. A testosterona é um hormônio esteróide anabólico relacionado aos processos de anabolismo, já o cortisol é um glicocorticóide que tem função hiperglicemiante e está intimamente relacionado aos processos de catabolismo. Portanto, a razão entre as concentrações sanguíneas de testosterona e cortisol pode servir como indicador da relação anabólica/catabólica do praticante46.

    Em estudo de Vervoorn et al.47, estes encontraram durante um período de treinamento em remadores fundistas uma diminuição na relação testosterona/cortisol na condição de repouso maior que 30%, o que demonstrou recuperação incompleta entre as sessões de treinamento destes atletas. Quando a relação testosterona/cortisol chega nestes níveis, é necessário que o técnico e o preparador físico reestruturem os períodos de treinamento e permitam um maior período de recuperação entre treinos, e ainda que se atende para a relação volume x intensidade.

    É necessário um cuidado especial no momento da coleta das amostras sanguíneas, dado que as concentrações de cortisol circulante no sangue são maiores no início da manhã, visto que respondem ao ciclo circadiano. Por este motivo é aconselhado que as coletas sanguíneas sejam realizadas entre 9 e 10 horas da manhã48.

    Segundo Gleeson46, alguns marcadores bioquímicos da síndrome do overtraining, além dos hormônios, incluem a glutamina plasmática, que são encontradas em níveis abaixo do normal quando atletas estão com sintomas de overtraining, a creatina quinase plasmática, uréia plasmática (advindo da degradação da proteína muscular)49, lactato sanguíneo, dentre outros.


Conclusão

    Conclui-se através desta revisão de literatura acerca das metodologias do treinamento esportivo e da avaliação funcional de atletas de alta performance, que existe uma lacuna entre a ciência do treinamento esportivo e a fisiologia do esporte, e que a união destas é necessária para o melhor entendimento dos fatores intervenientes na performance desportiva, e na escolha adequada dos meios e métodos de avaliação funcional do atleta e do planejamento das etapas do macrociclo. E ainda, que há métodos específicos para aprimorar determinadas capacidades físicas, de acordo com os objetivos traçados no inicio do planejamento e baseado nos resultados das avaliações funcionais.

    Ressalta-se a importância de o treinamento e as avaliações serem sempre o mais próximas da realidade do desporto, respeitando assim o princípio da especificidade, e que a prescrição do treinamento seja feita baseada em resultados de testes fisiológicos individuais, respeitando desta forma o princípio da individualidade biológica. Além disto, recomenda-se a rotineira avaliação de parâmetros bioquímicos que podem inferir um possível estado de overtraining, e assim corrigir/reestruturar os ciclos de treinamento dos atletas. Através destes conceitos, quando respeitados e seguidos, acredita-se que os atletas de alto desempenho possam sempre melhorar e/ou manter o desempenho esportivo em altos níveis.


Referências

  1. Maughan R, Gleeson M, Greenhaff PL. Bioquímica do Exercício e do Treinamento. 1ª edição. Editora Manole Ltda, Barueri - S.P. - 2000.

  2. Denadai BS. Intensidade e tempo de exaustão a 100% VO2máx: Implicações para o treinamento e a performance. Rev Edu Física. 2000,124:23-30.

  3. Laursen PB, Jenkins DG. The scientific basis for high-intensity interval training. Sports Med 2002, 32(1):53-73.

  4. Akalan C, Kravitz L, Robergs RR. VO2máx: Essentials of the most widely used test in exercise physiology. Health & Fitness Journal. 2004, 8(3):5-9.

  5. Yasbek Jr P. Considerações gerais para a preparação física de atletas. Metodologia e Treinamento. Arq Bras Cardiol. 1995, 64(2):167-9.

  6. Ribeiro JP. Limiares metabólicos e ventilatórios durante o exercício: Aspectos fisiológicos e metodológicos. Arq Brás Cardiol. 1995, 64(2):171-0.

  7. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e do exercício. Editora Manole, 1nd ed. Barueri; 2001.

  8. Silva P, Santos P. Uma Revisão Sobre Alguns Parâmetros de Avaliação Metabólica - Ergometria, VO2máx, Limiar Anaeróbio e Lactato. 2004, Lecturas Education Física y Deportes (Buenos Aires), nov/2004;10(78).

  9. Garret Jr WE, Kirkendall DT. A ciência do exercício e dos esportes. Ed. Artmed, Porto Alegre; 2003.

  10. Green HJ, Jones LL, Hughson RL, Painter DC, Farrance BW. Training-induced hypervolemia: lack of an effect on oxygen utilization during exercise. Med Sci Sports Exerc, 1987; 19:202-06.

  11. Lake MJ, Cavanagh PR. Six Weeks of training does not change running mechanics or improve running economy. Med Sci Sports Exerc, 1996; 28:860-69.

  12. Hughson RL, Tschakovsky ME, Houston ME. Regulation of oxygen consumption at the onset of exercise. Exerc Sport Sci Rev 2001; 29(3):129-33.

  13. Reis VMMR. O Método de Estimativa do Défice de Oxigênio Acumulado na Corrida em Tapete Rolante [Tese de Doutorado]. Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro; 2003.

  14. Grassi B. Regulation of oxygen consumption at exercise onset: is it really controversial? Exerc Sport Sci Ver, 2001; 29(3):134-38.

  15. Azevedo PHSM. Limiar Anaeróbico: Metodologias, Determinação e Aplicação. Atualidades em Fisiologia e Bioquímica do Exercício. Itaperuna - RJ, 2005; 1(1): 04-11.

  16. Oliveira JC, Baldissera V, Simões HG, Perez SEA, Azevedo PHSM, Aguiar AP, et al. Comportamento Lactacidêmico e Glicêmico em Exercício Resistido Incremental [CD-Room]. In: 3 Congresso Cientifico Latino-Aamericano de Educação Física - UNIMEP, I Simpósio Latino-Americano da Universidade do Futebol, I Simpósio Latino-Americano de Motricidade Humana, UNIMEP, Piracicaba, Brasil, 2004.

  17. Baldwin J, Snow RJ, Febbraio MA. Effect of Training Status and Relative Exercise Intensity on Physiological Responses in Men. Med Sci Sports Med, 2000;32(9):1648-54.

  18. Svedahl K, MacIntosh BR Anaerobic Threshold: The Concept and Methods of Measurement. Can J Appl Physiol, 2003;28(2): 299-323.

  19. Marquezi ML, Lancha Junior AH. Possível Efeito da Suplementação de Aminoácidos de Cadeia Ramificada Aspartato e Asparagina Sobre o Limiar Anaeróbio. Rev Paul Educ Fís, 1997;11(1): 90-101.

  20. Robergs RA Ghiasvand F, Parker D. Biochemistry of exercise induced metabolic acidosis. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol, 2004;287: R502-R516, 2004.

  21. Weineck J. Treinamento ideal. 9ª ed, Ed Manole, Barueri; 1999.

  22. Docherty D, Sporer B. A Proposed Model for Examining the Interference Phenomenon between Concurrent Aerobic and Strength Training. Sports Méd, 2000; 30(6): 385-94.

  23. Dias RMR, Cyrino ES, Salvador EP, Caldeira LFS, Nakamura FY, Papst RR, et al. Influência do processo de familiarização para avaliação da força muscular em testes de 1-RM. Rev Bras Med Esporte, 2005;11(1):XX-XX. (Falta a pag)

  24. Pereira MIR, Gomes PSC. Testes de força e resistência muscular: confiabilidade e predição de uma repetição máxima - Revisão e novas evidências. Rev Bras Med Esporte, 2003;9(5):xx-xx. (Falta a pag)

  25. American College of Sports Medicine. Progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc, 2002; 34:364-80.

  26. Polito MD, Farinatti PTV. Considerações sobre a medida da pressão arterial em exercícios contra-resistência. Rev Bras Med Esporte, 2003;9(1):1-9.

  27. Azevedo PHSM, Drigo AJ, Oliveira PR, Carvalho MCGA, Sabino Jr M. Sistematização da preparação física do judoca Mario Sabino: um estudo de caso do ano de 2003. Rev Bras Ciên Esporte, 2004;26(1):73-86.

  28. Dantas EHM. A Prática da Preparação Física. 3a ed., Ed. Shape, Rio de Janeiro - R.J., 1995.

  29. Matveev LP. O Processo de Treino Desportivo. Ed. Livros Horizonte, 1981.

  30. Verkoshanski Y. Treinamento Desportivo: fundamentos e metodologia. Ed. Artmed, 2001.

  31. Paavolainen L, Hakkinen K, Hamalainen I, Nummela A, Rusko H. Explosive strength raining improves 5-km running time by improving running economy and muscle power. J Appl Physiol, 1999; 86:1527-33.

  32. Lindsay FH, Hawley JA, Myburgh KH, Schomer HH, Noakes TD, Dennis SC. Improved athletic performance in highly trained cyclists after interval training. Med Sci Sports Exerc, 1996; 28:1427-34.

  33. Billat V, Pinoteau J, Petit B, Renoux JC, Koralsztein JC. Time to exhaustion at 100% of velocity at VO2máx and modeling of the relation time-limite/velocity in elite long distance runners. Eur J Appl Physiol, 1994; 69:271-73.

  34. Demarie S, Koralsztein JC, Billat V. Time limit and time at VO2máx, during a continuous and an intermittent run. J Sports Med Phys Fitness, 2000; 40:96-102.

  35. Bickham DC, Le Rossignol PF. Effects of high-intensity interval training on the accumulated oxygen deficit of endurance-trained runners. Jour Exerc Physiol, 2004; 7(1):40-7.

  36. Tabata I, Nishimura K, Kouzaki M, Hirai Y, Ogita F, Miyachi M, et al. Effects of moderate-intensity endurance and high-intensity intermittent training on anaerobic capacity and VO2max. Med Sci Sports Exerc, 1997; 28: 1327-30.

  37. Laursen PB, Shing CM, Peake JM, Coombes JS, Jenkins DG. Interval training program optimization in highly trained endurance cyclists. Med Sci Sports Exerc; 2003; 34(11): 1801-07.

  38. Rhea MR, Alvar BA, Burkett LN, Ball SD. A Meta-Analysis to Determine the Dose Response for Strength Development. Med Sci Sports Exerc; 2003; 35(3): 456-64.

  39. Hennessy LC, Watson AWS. The interference effects of training for strength and endurance simultaneously. J Strength Cond Res,1994; 8(1):12-19.

  40. Linnamo V, Newton K, Hakkinen PV, Komi A, Davie M, McGuigan T. Neuromuscular responses to explosive and heavy resistance loading. J Electromyogr Kinesiol, 2000; 10:417-24.

  41. Takarada Y, Sato Y, Ishii N. Effects of resistance exercise combined with vascular occlusion on muscle function in athletes. Eur J Appl Physiol, 2002; 86: 308-14.

  42. Liow DK, Hopkins WG. Velocity Specificity of Weight Training for Kayak Sprint Performance. Med Sci Sports Exerc, 2003; 35(7); 1232-37.

  43. Ramirez EZ, Brito CAF. Comportamiento de la fuerza especial y relativa em nadadores brasileños de competición. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), Dez/2000; 5(28).

  44. Rezende BR, Tabach R, Santos F, Salles Neto JI, Tenius G, Giglio R, et al. A atual preparação da seleção brasileira de voleibol masculina. Rev Educ Fís, 2003; 127: 80-8.

  45. Ebben WP. Complex training: a brief review. J Sports Sci Med, 2002; 1:42-6.

  46. Gleeson M. Biochemical and immunological markers of overtraining. J Sports Sci Med, 2002;1:31-41.

  47. Vervoorn C, Quist AM, Versmulst LJM, Erick WBM, Vries WR, Thjissen JHH. The behavior of the plasma free testosterone/ cortisol ratio during off season of elite rowing training. Int J Sports Med,1991; 12: 257-63.

  48. Thuma JR, Gilders R, Verdun M, Loucks AB. Circadian rhythm of cortisol confounds cortisol response to exercise: implications for future research. J Appl Physiol, 1995;78(4):134-39.

  49. Hartmann U, Mester J. Training and overtraining markers in selected sport events. Med Sci Sports Exerc, 2000; 32(1): 209-15.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 12 · N° 111 | Buenos Aires, Agosto 2007  
© 1997-2007 Derechos reservados