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Recomendações nutricionais para
crianças praticantes de atividade física

   
*Estudante do curso de graduação em Nutrição do Ctro. Univ. São Camilo.
**Nutricionista, mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública
da USP, docente do Centro Universitário São Camilo - Nutrição Esportiva.
***Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar -HC-FMUSP -
Hospital de Retaguarda, mestre em Nutrição Humana Aplicada - USP,
docente do Centro Universitário São Camilo - Nutrição Esportiva.
(Brasil)
 
 
Maria Alice Cesarino Raya*  
Marina Andrade Prieto*  
Renata Furlan Viebig**  
Marcia de Araujo Leite Nacif***
mnacif@usp.br
 

 

 

 

 
Resumo
     A participação regular de crianças em eventos esportivos oferece muitos benefícios, como interação social e prevenção de diversas enfermidades. A nutrição constitui o alicerce para o desempenho físico, sendo muito importante para a saúde geral do praticante de atividade física. As recomendações de energia, nutrientes e hidratação devem ser adequadas para alcançar as necessidades de crescimento, manutenção de tecidos e para o desempenho de atividades intelectuais e físicas. Desta forma, o presente estudo pretende apresentar as recomendações nutricionais para crianças que praticam atividades físicas.
    Unitermos: Recomendações nutricionais. Crianças. Atividade física.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 110 - Julio de 2007

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Introdução

    A participação das crianças em eventos esportivos proporciona oportunidade de divertimento, interação social e desenvolvimento de suas habilidades motoras, além de contribuir para o seu crescimento e desenvolvimento (JUZWIAK e PASCHOAL, 2001). Esta prática também previne diversas enfermidades, tais como, diabetes mellitus, hipertensão arterial e obesidade, que têm sido constatadas em idades cada vez mais precoces (NASCIMENTO, 2004; RONQUE, 2005).

    A importância da nutrição durante todo o ciclo vital é notável, sendo que na infância, além da sobrevivência, a nutrição adequada é indispensável para o crescimento e desenvolvimento (DUTRA, 1998). A nutrição constitui o alicerce para o desempenho físico, sendo muito importante para a saúde geral do praticante de exercício físico, em qualquer faixa-etária. No caso de crianças praticantes de esportes, é necessária atenção especial em relação à adequação do consumo de alimentos e nutrientes (MCARDLE, 2001; WOLINSKY, 2001).

    Como as crianças estão em constante desenvolvimento de massa óssea, dentes, músculos e sangue, elas necessitam de mais alimentos nutritivos em proporção ao seu peso do que os adultos (MAHAN, 2002).

    As necessidades de água e eletrólitos para adultos estão bem comentadas na literatura, porém a hidratação também tem papel essencial para a manutenção da saúde e do desempenho físico de crianças fisicamente ativas (JUZWIAK et al, 2000).


Recomendações nutricionais

Necessidades energéticas

    As necessidades de energia de crianças praticantes de atividade física devem ser baseadas na ingestão alimentar diária, índice de crescimento, idade e atividade física. O treinamento esportivo contribui para o aumento da necessidade energética (STEEN, 1994; AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION, 1996).

    As crianças necessitam de uma maior quantidade de energia que aquela necessária para um adolescente ou para um adulto durante a prática de atividades esportivas (BAR-OR, 2000).

    A ingestão energética inadequada está associada à ingestão marginal de macro e micronutrientes, principalmente de carboidratos, piridoxina, cálcio, folato, zinco e magnésio. Tal associação tem conseqüências prejudiciais sobre o crescimento, tais como o aumento do risco de aparecimento de doenças e a diminuição da taxa metabólica (JUZWIAK, 2000).

    Existem vários métodos para estimar o valor energético da dieta de crianças, como os que serão descritos neste artigo, no entanto, alguns conceitos devem ser inicialmente definidos:

  • Gasto Energético Basal (GEB): O gasto energético basal (GEB) é o valor energético que as crianças necessitam apenas para ficar deitadas, sem realizar qualquer tipo de movimento ou atividades físicas;

  • Gasto Energético Total (GET): compreende o GEB mais as atividades diárias das crianças;

  • Valor energético Total (VET): é o valor energético necessário ao indivíduo, que já compreende o GEB e o GET.


1. Método de determinação do Valor Energético Total (VET) por Kcal /Kg/peso ideal

    A RDA (1989) apresenta a quantidade calórica diária por quilo, recomendada para cada faixa etária. Considerando as diferenças individuais, pode-se estimar o valor energético recomendado para uma criança, utilizando o seu peso ideal para a estatura e multiplicando-o pelas calorias/kg recomendadas para a faixa etária correspondente.

    Caso a criança apresente alguma enfermidade que aumente o gasto energético, ou for diagnosticada como hiperativa, ou ainda realizar exercícios físicos programados mais do que três vezes por semana, é necessário acrescentar uma quantidade energética proporcional aos gastos extras.


2. Métodos para a determinação do Gasto Energético Basal (GEB)


3. Método para estimar o Gasto Energético Basal (GEB) de acordo com o estágio pubertário


4. Cálculo do Gasto Energético Total (GET)

  • Método simplificado:

    • Multiplicar o GEB por 20 ou 30% no caso de crianças sedentárias.

    • Multiplicar o GEB por 40 ou 50% no caso de crianças ativas.


  • Método detalhado:
    De acordo com este método deve-se multiplicar o gasto energético basal pelo fator atividade, de acordo com as atividades realizadas pela criança.

    Deve-se ressaltar que o fator atividade deve refletir o estilo de vida da criança sem se basear somente na presença ou não de exercícios regulares. Para o cálculo do gasto energético durante a atividade, deve-se levar em consideração o tipo de esporte praticado, a freqüência, a duração e a participação ou não em competições. Tabelas de equivalência de gasto energético no exercício também podem ser utilizadas para o cálculo de calorias extras (BAR-OR, 1983).


Macronutrientes

    As fontes de energia devem estar equilibradas entre carboidratos, lipídios e proteínas. Recomenda-se para crianças e adolescentes fisicamente ativos uma dieta adequada em lipídios (20-25% do VCT), rica em carboidratos (60-70% do VCT), com quantidade equilibrada de proteínas (10-15% do VCT) e variando qualitativamente para alcançar as recomendações de micronutrientes (JUZWIAK e PASCHOAL, 2001).

    A ingestão adequada de proteína para adultos é definida como o mínimo a ser ingerido para manter o balanço nitrogenado. Já para crianças e adolescentes a ingestão deve manter o balanço nitrogenado positivo, ou seja, a ingestão deve ser maior que a utilização para manter normal o crescimento e o desenvolvimento dos órgãos e tecidos (BAR-OR, 2000).

    Certos comportamentos alimentares podem prejudicar o estado nutricional por deficiência energética, em que as proteínas, essenciais no processo de crescimento, serão utilizadas como fonte de energia para a atividade física, levando à alteração no crescimento (JUZWIAK e PASCHOAL, 2001).

    Em geral, as recomendações protéicas são facilmente alcançadas, havendo maior probabilidade de estar com risco de ingestão adequada, crianças vegetarianas restritas ou com múltiplas alergias alimentares (JUZWIAK et al, 2000; MAHAN, 2002).

    É fundamental uma dieta com predominância de ingestão de carboidratos, já que a depleção dos estoques de glicogênio e a diminuição da glicose sanguínea durante o exercício pode dificultar a ressíntese de ATP no músculo. Além disso, a depleção de carboidratos pode aumentar a percepção de fadiga, o que pode levar a incoordenação motora, diminuição na concentração e redução da capacidade de treinamento (WALBERG-RANKIN, 1995).

    Os carboidratos devem ser, preferencialmente complexos (40-45%) e em menor proporção simples (10-15%) (JUZWIAK et al, 2000).

    Comparativamente com os adultos, as crianças e adolescentes utilizam mais lipídios e menos carboidratos para a produção de energia em exercícios prolongados, porém este fator não influencia nas recomendações das suas necessidades nutricionais. Não existe nenhuma evidência que crianças, atletas ou não atletas, devam consumir mais de 30% do total de energia na forma de gordura na sua alimentação, sendo que os ácidos graxos saturados devem contribuir com menos de 10% desse valor (BAR-OR, 2000; JUZWIAK et al, 2000).


Micronutrientes

    É recomendado que todas as necessidades de micronutrientes sejam atingidas com uma dieta quali-quantitativamente adequada que supra a demanda energética do treinamento. Deve-se dar atenção especial para o ferro e o cálcio (JUZWIAK e PASCHOAL, 2001).

    O ferro é indispensável para a prática de atividade física, pois além de exercer as funções de transporte de oxigênio no sangue e no músculo, faz parte de diversas enzimas relacionadas aos processos oxidativos e à proliferação celular. O baixo consumo de ferro pode prejudicar a capacidade de transporte do oxigênio, diminuindo o desempenho e interferindo no treinamento, podendo em longo prazo, ocasionar a anemia ferropriva (JUZWIAK e PASCHOAL, 2001).

    O cálcio é necessário para a mineralização adequada e manutenção do osso em crescimento, podendo a ingestão inadequada causar uma menor retenção deste nutriente e, posteriormente levar à osteoporose. O aporte de cálcio pode ser insuficiente quando há diminuição da ingestão de produtos lácteos e consumo elevado de proteínas e alimentos que fornecem alta quantidade de fósforo (MAHAN, 2002; ORTEGA, 1992). As novas recomendações de cálcio sugerem 1300 mg/dia, no entanto, não levam em consideração as necessidades relacionadas à prática esportiva.


Hidratação

    A produção de energia pelo organismo aumenta durante os exercícios devido à maior produção de calor metabólico (SBME, 2003). As crianças produzem mais calor por unidade de peso corporal que os adultos. Sabe-se que a evaporação do suor é a principal via para dissipar o calor produzido pelo organismo (JUZWIAK et al, 2000).

    Sempre que líquidos forem perdidos através do suor mais rapidamente do que são repostos, a pessoa entrará em desidratação. As crianças podem evitar a desidratação ao ingerirem líquidos a cada 15-20 minutos quando a atividade física for prolongada, mesmo que ela não tenha vontade de beber (BAR-OR, 2000; PEREIRA, 2005). Para a prática esportiva de longa duração, principalmente por mais de 90 minutos, bebidas hidroeletrolíticas com concentração de carboidratos (6-8%) e osmolaridade adequadas podem ser utilizadas, com a vantagem do sabor agradável e de estimular uma maior ingestão de líquidos pelo jovem (ORTEGA, 1992). Crianças devem ser orientadas sobre as repercussões da desidratação e desenvolver o hábito de ingerir líquidos com freqüência durante as práticas esportivas (JUZWIAK e PASCHOAL, 2001).


Considerações finais

    A orientação nutricional à crianças fisicamente ativas representa um grande desafio, sendo necessário que o profissional possua parâmetros adequados para a avaliação da evolução do crescimento das crianças. A alimentação adequada é essencial para que a criança garanta seu potencial de crescimento e desenvolvimento e tenha seu desempenho maximizado durante a prática de atividades físicas.


Referências bibliográficas

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