Lecturas: Educación Física y Deportes. Revista Digital

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DA EDUCAÇÃO GERONTOLÓGICA À EDUCAÇÃO FÍSICA GERONTOLÓGICA: EM BUSCA DE UMA EDUCAÇÃO FÍSICA MAIS APROPRIADA PARA OS IDOSOS
Prof. Ms. Edmundo de Drummond Alves Junior1
drummond@marlin.com.br
Departamento de Educação Física - Universidade Federal Fluminense (Brasil)


Resumo
Este trabalho pode ser caracterizado como sendo do domínio da gerontologia e procura introduzir algumas reflexões que nos ajudam a compreender a multidimensionalidade do envelhecimento, como também a questão da prática de atividades consideradas educativas e em especial as da educação física. Iniciamos distinguindo dois termos que normalmente são utilizados indiscriminadamente: gerontologia e geriatria. Em seguida falaremos do envelhecimento na sociedade, discutindo a questão da educação para adultos e algumas propostas que têm tido grande repercussão social. Finalizamos abordando um tipo de educação, a que é feita através das atividades físicas esportivas orientadas para um público específico que chamaremos de idosos.
Unitermos: Idosos. Tercera idade. Gerontologia. Atividades físicas esportivas.


O envelhecimento na sociedade e a que serve a gerontologia
Começamos com uma definição terminológica. A gerontologia é uma ciência pluridisciplinar que visa estudar os aspectos bio-psico-sociais do processo do envelhecimento, enquanto a geriatria está mais afeta a área médica, onde são tratadas as patologias específicas das pessoas idosas.

De uma maneira geral os países latino-americanos não têm muito a comemorar com os avanços das taxas de esperança de vida de sua população, como também da média de idade dessa população. Os países estão envelhecendo2 muito mais devido a uma diminuição das taxas médias da fertilidade, tendência que vem sendo observada nas últimas décadas, e que é acompanhada da diminuição da taxa de mortalidade infantil. Desta forma, no decorrer de décadas, o pais envelhece proporcionalmente, o que é verificado na observação do desequilíbrio da sua pirâmide etária. O envelhecimento da população não é acompanhado de uma profunda melhoria da qualidade de vida e propostas de trabalho com idosos devem ter sempre em pauta a preocupação de melhorar a qualidade dos anos que serão vividos pela população como um todo e não de grupos específicos.

Sabemos que principalmente em países que não conseguiram ainda equacionar seus problemas de distribuição de renda e de condições sociais mínimas, encontramos um grupo de idosos que pode ser considerado como constituído de idosos 'pobres e hipodotados' que só são capazes de sobreviverem "graças aos avanços e à difusão dos benefícios da medicina e da saúde, mas no entanto, sem condições materiais e sociais"3 .

Não podemos ignorar que vivemos num continente onde milhões de pessoas ainda vivem em estado de miséria e de fome, onde com certeza são encontradas as imagens mais aviltantes do envelhecimento. A condição de ser velho denuncia o grande fracasso de toda uma civilização. Seus valores que dignificam o novo, o forte, o poderoso e o que é esteticamente considerado como belo, é fruto de uma sociedade que já na infância pré-fabrica a condição mutilada e miserável que virá a ser o seu legado para os últimos anos da vida4 . Falar em um tipo de educação para idosos como pretendemos fazer mais a frente, pode ser paradoxal quando sabemos da total ineficácia dos sistemas públicos de ensino, incapazes de absorver as crianças e os jovens no que se considerou chamar de ensino obrigatório.

Na América Latina, convivemos com adultos cuja idade cronológica não estaria certamente no que hoje se reconhece como velhice, mas que, no entanto, como reflexo da dureza da vida a qual foram submetidos ao atingirem a faixa compreendida entre os 40 anos e 50 anos, têm uma saúde tão precária que fisicamente aparentam ter muito mais idade. Com certeza, sendo bem mais jovens cronologicamente, terão uma expectativa de anos a viver bem menor dos que têm uma idade cronológica bem mais elevada. Seriam estes cognominados como pertencentes a 'terceira idade'.

A terceira idade é uma invenção social5 nem um pouco ingênua quanto aparentemente deixa transparecer, e estamos totalmente de acordo com aqueles que vêm alertando o preconceito e o estigma desta fórmula simplista, que divide a vida em períodos estanques de três ou mesmo quatro blocos monolíticos. Mais presente na Europa, temos atualmente o último exemplo, a 'quarta idade'6 , que caracteriza aqueles com mais de 75 anos, e que têm certo grau de dependência. Estas fórmulas que são muito bem gerenciadas por políticos inescrupulosos e aproveitadores de ocasião geralmente procuram homogeneizar a velhice, camuflando as injustiças sociais a qual é acometida grande parte da população.

São os sistemas de proteção social, e no caso o de aposentadoria, um dos maiores interessados em determinar uma idade 'fetiche', 'mítica', a tal ponto que passa a ter uma representação simbólica que servirá para considerar quando alguém passa a ser velho, ou para os que preferem, 'ser da terceira idade'. Segundo Brian Mishara e Robert Riedel7 , a aposentadoria tem sido durante muito tempo a velhice por 'decreto' e a imagem da terceira idade procura descaracterizar a inatividade que muitos aposentados assumem.

É nas classes mais pobres, nas classes dominadas, que ser velho é sinônimo de total abandono, onde entregues a própria sorte, esquecidos pelas políticas públicas, e até mesmo no âmbito familiar, os velhos passam a ser um fardo difícil de assumir. Já nas classes dominantes, reconhecidas facilmente nos calçadões e nas orlas marítimas, encontramos ativos idosos que confirmam o que Patrick Bourdelais8 verifica, o 'rejuvenescimento dos sexagenários'.

O envelhecimento é paradoxal e temos de admitir o envelhecimento precoce de grande parte da população, que devido ao tamanho desgaste físico a que são submetidos, tem no seu corpo as marcas de quanto este lhe serviu como instrumento de trabalho; enquanto que em outras classes, o corpo já passa a ser considerado como instrumento de representação social e uma série de cuidados a ele são dispensados. Torna-se então fundamental considerar a importância de se discutir a gerontologia a partir do envelhecimento diferencial, o que nos ajuda a quebrar o mito da existência de uma idade cronológica qualquer para caracterizar a velhice.

Ricardo Zuninga9 adverte que a gerontologia deve ser uma ciência emancipatória,

"... indo além das dimensões técnicas, centradas no controle das deteriorações e das perdas; das dimensões práticas, centradas na compreensão das dinâmicas da construção de significados, estando sempre a serviço dos sujeitos de estudo".

Uma "gerontologia dialética estuda o envelhecimento humano como contraditório, e procuraria situar estas contradições num quadro de desenvolvimento e num quadro histórico"10 . O que se propõe é que façamos da gerontologia uma ciência que possa contribuir no sentido de ser liberadora, rejeitando as definições pela carência, do menos, e das perdas; fazendo uma leitura crítica dos aparelhos políticos e profissionais de caridade que podem mesmo ser chamados em certos momentos como oportunistas. A gerontologia deve perceber a velhice como uma representação do curso da vida humana em tanto que totalidade.


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http://www.efdeportes.com/
Año 3. Nº 11. Buenos Aires, Octubre 1998.