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Validação do conteúdo do Instrumento
de Avaliação Postural - IAP

   
*Fisioterapeuta, Professora das Faculdades Integradas
Facvest- Lages, SC. Mestranda em Ciências do Movimento
Humano- CEFID, UDESC, Florianópolis, SC.
**Doutor em Medicina da Educação Física, Professor do
Curso de Mestrado UDESC e UNISUL, Coordenador do
Laboratório de Desenvolvimento Humano-LADEHU.
***Terapeuta Ocupacional, Mestranda em
Ciências do Movimento Humano- UDESC.
 
 
Daniela Branco Liposcki*  
Francisco Rosa Neto**  
Ana Carolina Savall***
liposcki@yahoo.com.br
(Brasil)
 

 

 

 


Resumo
     Introdução: A realização de avaliação postural deve constituir rotina nas escolas devido ao seu caráter preventivo, possibilitando identificar os desvios comumente encontrados, podendo-se evitar a prescrição de atividades e exercícios que venham a acentuá-los e realizar triagem e encaminhamento das crianças e jovens que apresentam desvios patológicos para um tratamento multidisciplinar adequado, contribuindo para a qualidade de vida e saúde dos escolares. Objetivo: o objetivo do presente estudo foi validar o conteúdo do Instrumento de Avaliação Postural - IAP. Método: foi realizada apreciação do instrumento por um comitê composto por 13 juizes com importante experiência na área, os quais analisaram a clareza de descrição, validade e viabilidade de aplicação dos itens que compõem o IAP. Para avaliar a validade de conteúdo dos itens foi utilizado o Índice de Validade de Conteúdo (WALTZ, STRICKLAND e LENZ, 1991) e análise estatística dos critérios propostos na validação, bem como uma análise qualitativa das respostas. Resultados: totalizaram-se 702 respostas, sendo 89% consideradas claras, válidas e viáveis; 10% consideradas pouco claras, pouco válidas e/ou pouco viáveis e somente 1% consideradas confusas, inválidas e/ou inviáveis e, o índice de concordância entre os juízes foi de 90% (0.9). Conclusão: os resultados desse estudo permitem concluir que o Instrumento de Avaliação Postural - IAP obteve validade do seu conteúdo, perfazendo 89% das respostas como favoráveis à validação e 90% de concordância entre os juízes.
    Unitermos: Validação. Avaliação. Postura. Escolares.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 109 - Junio de 2007

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Introdução

    O corpo humano, durante o processo evolutivo, passa por constantes transformações diante do crescimento e desenvolvimento físico e, buscando o equilíbrio compatível com as novas proporções, provoca modificações e adaptações para o ajustamento ao centro de gravidade, influenciando assim, na postura corporal, compreendida como a posição ou atitude que o corpo adota no espaço bem como a disposição entre os segmentos corporais em relação ao centro de gravidade, promovendo conforto e sustentação ao corpo de forma econômica e harmoniosa.

    A postura corporal assumida pela criança e pelo adolescente tem implicações em sua saúde e bem-estar. Moffat e Vickery (2002) afirmam que a postura correta mantém o esforço total em seu mínimo, distribuindo-o para as estruturas mais aptas a suportá-lo, enquanto que a "má postura" apresenta efeito oposto, aumentando o estresse total e distribuindo-o para estruturas menos capazes de suportá-lo.

    Estudos de avaliação postural e análise de padrões posturais realizados com escolares, como pode-se citar os de Rosa Neto (1991); Verderi (2003); Oliveira (2005); Penha (2005), indicam presença de desvios posturais significativos nos escolares que, segundo Oliveira (2005), podem ser conseqüentes a alterações fisiológicas naturais do crescimento e desenvolvimento humano. Portanto, como sugere Penha (2005), algumas das alterações posturais evidenciadas nos estudos são próprias do desenvolvimento postural normal da criança e adolescente, sendo naturalmente incorporadas durante o crescimento.

    No entanto, há alterações estruturais que caracterizam assimetrias, as quais podem ser geradas por demandas diárias do corpo como utilização inadequada dos mobiliários, vícios posturais, uso de calçados impróprios, podendo presumir a existência de patologia e que acarretam desconforto, algias e incapacidades funcionais, muitas vezes perdurando por toda a vida. Pantanali, Rosa Neto e Caon (2005), afirmam que o diagnóstico precoce de alterações posturais ainda na infância é de importância fundamental, pelo seu papel na gênese de alterações biomecânicas, que rotineiramente podem tornar-se sintomáticas, denotando problemas posturais, desgastes articulares e distúrbios da marcha.

    Diante do exposto, a realização de Avaliação Postural deve constituir rotina nas escolas devido ao seu caráter preventivo, possibilitando identificar os desvios comumente encontrados, podendo-se evitar a prescrição de atividades e exercícios que venham a acentuá-los e realizar triagem e encaminhamento das crianças e jovens que apresentam desvios patológicos para um tratamento multidisciplinar adequado, contribuindo, em última instância, para a qualidade de vida e saúde dos escolares. Conforme Maine e Beresford (2005) "A avaliação postural refletirá na corporeidade dos escolares, servindo como meio de orientação e incentivo a executarem corretamente as atividades, contribuindo na prevenção de distúrbios posturais que afetam o desempenho motriz e conseqüentemente a qualidade de vida."

    Para uma avaliação postural eficiente faz-se necessário, como postula Teixeira (2003), a realização de uma "leitura sensível" da criança e de todo o contexto em que está inserida, já que, segundo Bankoff (1994), na postura convergem todos os elementos que caracterizam a corporeidade como os fatores anátomo-funcionais, psico-emotivos e sócio-ambientais; e utilização de instrumentos que extraiam informações relevantes, sem parcialidade ou preconceito.

    A utilização de instrumentos validados é imprescindível ao possibilitar o estabelecimento de uma linguagem comum entre os profissionais das diferentes áreas, prover bases científicas para a compreensão e estudo dos problemas observados, propiciar a comparação de dados ao longo do tempo e permitir o confronto de técnicas e abordagens terapêuticas. Do mesmo modo, sua utilização estabelece marcos com os quais se podem monitorar progressos e, além disso, possibilita a demonstração objetiva da eficiência do tratamento (TEIXEIRA, 2003).

    Devido à escassez de instrumentos de avaliação postural com finalidade de triagem validados, foi criado o IAP - Instrumento de Avaliação Postural, baseando-se em fichas de avaliação postural disponíveis na literatura, em projetos e na experiência adquirida pela equipe que realiza avaliação postural em escolares, a qual notou limitações nas fichas pesquisadas e necessidade de utilizar um instrumento científico e padronizado.

    O objetivo do presente estudo foi validar o conteúdo do Instrumento de Avaliação Postural - IAP, o qual foi submetido à avaliação por profissionais especializados, conferindo autenticidade científica para o instrumento a ser utilizado no projeto intitulado "PROJETO SAÚDE ESCOLAR", que objetiva avaliar os perfis de crescimento físico, postura corporal, rendimento escolar, aptidão física, desenvolvimento motor e características psicossociais e, quando necessário, realizar encaminhamento e intervenção, de crianças matriculadas de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental, na cidade de Florianópolis/SC. O projeto supracitado é orientado pelo Prof. Dr. Francisco Rosa Neto, na disciplina Desenvolvimento Motor do curso de Pós-Graduação Strictu Sensu - Mestrado em Ciências do Movimento Humano da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC.


Metodologia

    A validação do Instrumento de Avaliação Postural - IAP foi desenvolvida em três etapas: primeiramente através do estudo e discussão da ficha inicialmente utilizada no projeto "Saúde Escolar" e outras presentes na literatura e em projetos pesquisados, observando-se suas limitações; seguindo-se da criação do IAP e, por fim, da determinação da validação de conteúdo do instrumento através da apreciação por um comitê composto por 13 juízes com importante experiência no assunto - entre Especialistas, Mestres e Doutores, atuantes nas áreas da Fisioterapia, Educação Física, Medicina e Terapia Ocupacional - aos quais foram apresentados o IAP - Instrumento de Avaliação Postural (anexo), acrescido de orientações para seu preenchimento referente à validação de conteúdo. Os juízes analisaram o instrumento considerando a clareza de descrição, validade e viabilidade de aplicação dos itens que compõem o IAP.

    Para avaliar a validade de conteúdo dos itens foi utilizado o Índice de Validade de Conteúdo (IVC) proposto por Waltz, Strickland e Lenz (1991), calculado da seguinte forma:

    A avaliação de cada juiz foi comparada com as avaliações dos demais, calculando-se o IVC para cada par de juízes (juiz 1 x juiz 2; juiz 1 x juiz 3; juiz 2 x juiz 3; ... e assim sucessivamente).

    Os dados obtidos foram dispostos em planilha eletrônica a qual foi utilizado o programa Excel 2002 para Microsoft Windows.


Resultados e discussão

    Na literatura encontram-se estudos, como os citados anteriormente, relacionados à importância da avaliação postural no ambiente escolar e às implicações da má postura em escolares, porém, são escassos os estudos relacionados à validação de instrumentos voltados à avaliação postural escolar. Autores como Miranda (2000), sugerem em seus estudos quando abordam a temática postural, exemplos de fichas de avaliação postural, não constituindo porém, em instrumentos validados. Outros instrumentos de análise postural disponíveis na literatura e no mercado, por sua vez, tornam-se inviáveis para a aplicação quando, por exemplo, se pretende realizar triagem em escolas, por consistirem em instrumentos com finalidade diagnóstica e/ou terem um alto custo financeiro, tornando-se inacessíveis aos profissionais e às instituições escolares.

    O IAP - Instrumento de Avaliação Postural foi desenvolvido propiciando acessibilidade, facilidade e rapidez na utilização, inclusive para a avaliação de um número elevado de crianças, eficácia na triagem e autenticidade científica. Para a validação, seus itens foram analisados considerando-se os critérios de: clareza de descrição, que ressalta o entendimento do item por parte do profissional que irá utilizá-lo, devendo ser exposto de forma clara e evidente, não suscitando dúvida ou dificuldade durante a realização da avaliação postural; validade de aplicação do item, o qual se refere à importância e pertinência de se analisar determinado aspecto da postura durante o processo de avaliação; e, por fim, a viabilidade de aplicação do item, destacando não somente a possibilidade, bem como a facilidade em se avaliar na postura do escolar o item proposto.

    No índice de validade Waltz; Strickland; Lenz (1991) referem que o foco principal da validação de conteúdo é determinar se os itens especificados no instrumento representam a adequação do conteúdo do critério expresso no instrumento, sendo a função de como o instrumento foi desenvolvido, os resultados obtidos foram analisados conforme o Índice de Validação de Conteúdo e em relação aos critérios supracitados.

    A tabela 1, representa os valores obtidos através do cálculo do Índice de Validade de Conteúdo. Representando os treze juízes pelos números de 1 a 13, a intersecção das linhas abcissas com as ordenadas apresenta o valor que corresponde ao índice de concordância entre os mesmos, na qual constata-se uma correlação favorável à validade de conteúdo, sendo que somente os juízes 2 e 4 apresentaram respostas desfavoráveis à validação nos itens referentes à VLc (curvatura da coluna cervical) e VAf (posicionamento do quadril), destacando a falta de nitidez das figuras. As observações foram consideradas e procurou-se melhorar a qualidade dos desenhos utilizados.

    Nas figuras 1, 2 e 3, estão representadas, consecutivamente, as respostas dos avaliadores em relação à clareza de descrição, validade de aplicação e viabilidade de aplicação dos itens que compõem o IAP, onde observou-se uma grande concentração de respostas consideradas claras, válidas e viáveis.

    A clareza de descrição do item tem importância relevante para a validação de conteúdo do Instrumento de Avaliação Postural, por se tratar de um método de avaliação da postura corporal que utiliza como forma de registro a análise subjetiva do avaliador, devendo, cada item proposto a ser avaliado, apresentar-se evidente ao avaliador.

    A validade de aplicação dos itens, que se refere à relevância em se avaliar determinada estrutura corporal, a fim de obter uma correlação com os possíveis desvios posturais, é fundamental para o processo de validação do instrumento ao demonstrar se há necessidade ou não de se avaliar o item proposto. Como exemplo tem-se que Alonso e Macon (2005) ressaltam a preocupação pelos desvios vertebrais, onde as dores e desvios constituem uma das principais causas de consulta e abstenção do trabalho nos países industrializados na idade adulta, destacando a importância da atenção a esses desvios nas primeiras idades e na adolescência, pois, segundo Lapierre (apud MIRANDA, 2000), "excluindo-se as patologias de ordem traumática, senil ou infecciosa, acredita-se que as deformações ósseas têm sua origem entre o nascimento e os 20 anos de idade".

    Deste modo, é, não somente relevante como importante, avaliar na postura corporal as curvaturas vertebrais e seus possíveis desvios.

    A viabilidade de aplicação refere-se à possibilidade de determinada estrutura corporal ser avaliada, sendo importante sua análise para verificar a facilidade ou dificuldade, ou, até mesmo a impossibilidade em se avaliar o item proposto. Devemos considerar que o instrumento propôs-se a ter praticidade na aplicação de seu conteúdo e finalidade de triar, analisando, como postula Rosa Neto (1991), o segmento corporal, detectando seus possíveis desvios posturais, e, quando necessário, o encaminhamento e realização de avaliação objetiva com finalidade diagnóstica.

    De forma ilustrativa, a figura 4 vem demonstrar a porcentagem das respostas feitas pelos juízes, onde totalizaram-se 702 respostas; sendo 89% como claras, válidas e/ou viáveis; 10% pouco claras, pouco válidas e/ou pouco viáveis e somente 1% consideradas confusas, inválidas e/ou inviáveis, o que atesta a validade de conteúdo em 89% das respostas elaboradas pelos juizes.

    Os resultados apontam que os itens têm descrição clara, possuem validade e viabilidade de aplicação, o que corrobora para a validação de conteúdo do Instrumento de Avaliação Postural - IAP.

    Os juízes apresentaram sugestões relacionadas à melhoria das ilustrações, alteração do conteúdo escrito, modificação na ordem dos itens e acréscimo de itens a serem avaliados. Foram alterados os itens: VAd, acrescendo à avaliação do segmento corporal tronco, o quesito inclinação lateral (à direita ou à esquerda), anterior e posterior, sugerida por 01 juiz; VPa, substituindo o termo escápula retraída por escápula abduzida, sugerida por 02 juízes; Vaf, modificando as ilustrações de quadril que, por fim, passaram a constituir o item perna na avaliação da postura na vista anterior.


Conclusão

    Os resultados desse estudo permitem concluir que o Instrumento de Avaliação Postural - IAP obteve validade do seu conteúdo, após a análise dos seus itens por profissionais especializados nas áreas de Fisioterapia, Educação Física, Medicina e Terapia Ocupacional, perfazendo 89% das respostas como favoráveis à validação.


Anexo


Referências

  • Alonso MTG, Macon EI. La actitud postural en el escolar. Una propuesta de trabajo. Revista Digital - Buenos Aires. Año 9, n 60 Mayo de 2003, disponível em: http://efdeportes.com em 27/10/2005.

  • Bankoff AD, Freire JB, Villarta R. Postura Corporal: integração dos fatores culturais e sociais aos fatores biológicos. Brasília: Ministério da Saúde, Ministério da Educação e do Desporto, 1994.

  • Calliet R. Exercício: Coluna e Postura. In: Shankar K. Prescrição de Exercícios. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

  • Maine RMDD, Beresford H. A Avaliação Postural em Escolares Antecedendo a Prática Desportiva numa Visão da Ciência da Motricidade Humana. Disponível em www.castelobranco.br, em 01/04/2005.

  • Miranda E. Bases de Anatomia e Cinesiologia. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.

  • Moffat M; Vickery S. Manual de Manutenção e Reeducação Postural. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.

  • Oliveira C, et al. Avaliação e Orientação Postural em Escolares de 7 - 12 anos do Colégio Estadual Jardim Piza - Roseira. Disponível em www.ccs.br, em 01/04/2005.

  • Pantanali, SB; Rosa Neto, F; Caon, G. Incidência de alterações podais em pré-escolares de 2 a 6 anos de idade. Fisioterapia Brasil, v.6, n.4, jul-ago, 2005, p 245-248.

  • Penha PJ, et al. Postural Assessment of Girls Between 7 and 10 Years of Age. Clinics 2005; 60(1).

  • Pereira OS. A Utilização da Análise Computadorizada como Método de Avaliação das Alterações Posturais: um estudo preliminar. Revista Fisioterapia em Movimento 2003; 16(2):17-25.

  • Rosa Neto F. Avaliação Postural em Escolares de 1 à 4 série do 1 grau. Revista Brasileira de Ciência e Movimento 1991; 05(2): 07-11.

  • Teixeira E, et al. Terapia Ocupacional na Reabilitação Física. São Paulo: Roca, 2003.

  • Verderi E. A Importância da Avaliação Postural. Revista Digital - Buenos Aires - Ano 8 - N° 57 - Fevereiro de 2003, Disponível em http://www.efdeportes.com em 14/03/2005.

  • Waltz CF, Strickland OL, Lenz ER. Measurement in Nursing Research, Ed. F.A. Davis Company, Philadelphia, 1991.

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