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O microciclo de treino: a base fundamental da
planificação táctico-estratégica de um jogo de futebol

   
Treinador de futebol e elemento do quadro técnico do departamento
de futebol de formação da Associação Desportiva Sanjoanense.
Licenciado em Educação Física e Desporto pela
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
 
 
Raúl Oliveira
oliveiraul@gmail.com
(Portugal)
 

 

 

 

 
Resumo
     Este artigo transcreve um dos capitulos da tese final de licenciatura entitulada "Alterações ao modelo de jogo (?): A vertente estratágica do jogo - o scouting (observação e análise dos adversários) e a sua influência na planificação de um jogo de futebol" publicada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em 2006.
     O microciclo de treino em futebol é um dos mais sensiveis temas de debate ao nível da vertente da preparação competitiva de uma equipa dado que é neste que se fomentam os comportamentos pretendidos para o jogo. Da boa planificação do microciclo pode depender, em grande medida, o resultado de um encontro.
     Quais as principais preocupações a ter durante um microciclo e como enquadrar a vertente estratégica de um jogo dentro do microciclo de treino foram os principais alvos de discussão durante este capitulo, como é natural muitas foram as divergências de opiniões entre os inquridos e é díficil tirar conclusões precisas e consensuais, no entanto, consideramos que ouvir as opiniões e analisar os métodos de outros treinadores é um factor de evolução pessoal e que nos pode ajudar a todos a criar as nossas próprias ideias através de uma cuidada ponderação.
    Unitermos: Microciclo. Treino. Futebol.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 109 - Junio de 2007

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Introdução

"Cinco dias antes dos jogos todos os jogadores sabem quem vai jogar de início. Pelos treinos que realizam ao longo da semana percebem igualmente de que forma vão jogar e qual a táctica a utilizar para o adversário em questão".
José Mourinho (s.d., cit. por Lourenço, 2003)

"Não acredito nos sistemas que têm origem no gabinete, na reunião, na conversa com os jogadores. Acredito no treino, na repetição sistemática".
José Mourinho (s.d., cit. por Oliveira et al., 2006)


Material e métodos

Caracterização da amostra

    A amostra é constituída por onze entrevistados todos eles treinadores de futebol com o nível IV atribuído pela F.P.F., dos quais apenas um não esteve durante a última época desportiva (2005/2006) envolvido em competições dos campeonatos nacionais da federação portuguesa de futebol. Por ordem alfabética os entrevistados foram:

  • Alberto Silva (S. C. Vianense - Terceira Divisão Nacional)

  • Daniel Ramos (G. D. Trofense - Segunda Divisão Nacional)

  • Eduardo Luís (A. C. Vila Meã - Terceira Divisão Nacional)

  • João Eusébio (F. C. Rio Ave - Primeira Liga)

  • Jorge Amaral (A. D. Lousada - Segunda Divisão Nacional)

  • José Guilherme (F. C. Porto - Primeira Divisão Nacional de Juniores)

  • Luís Castro (F. C. Penafiel - Primeira Liga)

  • Professor Manuel Gomes "Neca" (C. D. Aves - Segunda Liga)

  • Rogério Rodrigues (V. S. C. Guimarães - Primeira Divisão Nacional de Juniores)

  • Vítor Frade (Docente na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto)

  • Vítor Maçãs (G. D. Chaves - Segunda Liga)


Metodologia

    Foi efectuada uma pesquisa bibliográfica e documental, e seleccionada informação pertinente para o tema.

    A metodologia aplicada na recolha de dados foi a observação directa sob a forma de inquérito oral, por meio de entrevista, com base em questões guia previamente elaboradas e registadas num gravador "Timex Sinclair 2020". As questões são de natureza aberta para que os entrevistados possam expressar as suas opiniões da forma mais completa possível. As entrevistas foram posteriormente transcritas para o programa Word do Windows XP da Microsoft.


Recolha de dados

    As entrevistas realizaram-se entre os dias 10 de Maio de 2006 e o dia 02 de Junho de 2006, tendo sido realizadas nas instalações dos clubes acima referidos e em gabinetes da Universidades do Porto e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.


1. Estruturar um microciclo - um trabalho infindável de "comos" e "quandos"...

    Os treinadores foram inquiridos acerca da sua estruturação do microciclo de treino, tendo alguns deles referido o seu microciclo padrão e através deste facto foi possível constatar que este é um processo muito subjectivo e directamente dependente da metodologia, condições de trabalho e crenças de cada um dos entrevistados.

    Para Vítor Maçãs "existem um série de factores que influem na planificação de um microciclo e muitas vezes nem estão relacionados com as condicionantes da recuperação ou dinâmicas das cargas, por exemplo, no Chaves apesar de termos no inicio jogo ao domingo e quarta-feira o que impedia a exploração de um microciclo semanal, mas a nossa ideia era sempre que tivéssemos jogo em casa treinar na segunda de manhã, folgar na terça e depois treinar na quarta de manhã e durante os restantes dias da semana, quando tivéssemos jogo fora jogaríamos ao domingo e só treinaríamos na terça de tarde, e isto tem a ver com o facto de não fazer sentido para os jogadores, que na sua maioria não são residentes em Chaves, estarem a regressar a chaves para na segunda a seguir ao almoço estarem a regressar ao Porto ou a Lisboa, por exemplo, temos que ser sensíveis relativamente a estes aspectos".

    José Guilherme caracteriza o seu microciclo padrão como "nós jogamos de sábado a sábado, no domingo folgamos e treinamos segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira. Na segunda-feira fazemos aquilo que se chama a recuperação mas sempre em regime táctico e técnico por isso treinamos alguns comportamentos que nós chamamos de sub-princípios e que dependem esses sub-princípios de um conjunto de problemas que nós tivemos durante o jogo ou daquilo que nós perspectivamos que vamos ter no próximo jogo, na terça-feira treinamos fundamentalmente sub-princípios aspectos relacionados com trabalho de sectores, trabalho inter-sectores tem a ver com aspectos de organização ofensiva, defensiva e transições mas sempre sub-princípios. Na quarta-feira treinamos os nossos grandes princípios tanto ofensivos como defensivos e também transições mas sempre os grandes princípios. Quinta-feira treinamos novamente sub-princípios ofensivos e defensivos mas aqui quase sempre com os jogadores divididos em termos de grupos por sectores, trabalham separados, na sexta-feira fazemos quase uma preparação para o jogo que é uma predisposição para o jogo em que pretendemos recuperar dos dias anteriores por um lado e por outro lado quase pré-activar os jogadores para o dia seguinte para o jogo e relembramos alguns aspectos que treinamos durante a semana relembramos aquilo que poderá acontecer durante o jogo".

    Daniel Ramos refere que "este ano mais por necessidade do clube, nós jogamos ao domingo, quase sempre, treinamos à segunda, folgamos à terça e voltamos a treinar à quarta, quinta e sexta sendo que as sessões são ao final da tarde. Eu sou mais defensor de treinar à terça, tendo isto vantagens e desvantagens. A vantagem de treinar à segunda prende-se com a maior rapidez em solucionar problemas de ordem física como necessidades médicas, etc. e este dia ali pode ser decisivo para se saber se posso ou não contar com o atleta para o próximo jogo. Por outro lado, o que eu vejo mais vantajoso de treinar à terça é que os jogadores que jogaram ao domingo, normalmente, à segunda fazem zero ou quase nada enquanto que à terça já há exercícios de baixíssima intensidade mas direccionados para aspectos tácticos que podem e devem ser utilizados e que permitem o tal reforço, a tal continuidade do trabalho que eu considero importante".

    João Eusébio refere que "numa semana normal, nós folgamos à segunda-feira, portanto à terça fazemos força em regime de recuperação, como pode calcular, à quarta fazemos força especifica de jogo, à quinta resistência específica na sexta velocidade específica. Como é que nós fazemos exercícios para que essas componentes façam parte dos exercícios, tem muito a ver com, repare, você pode fazer um exercício à terça e fazer o mesmo exercício à sexta e ser diferente a componente física, tem a ver com o volume que faz o exercício à terça e o volume à sexta, tem a ver com o tempo de recuperação que faz de exercício para exercício em cada um dos dias, ou seja, o mesmo exercício, o que eu quero dizer é, força especifica no futebol é o jogo de futebol, resistência especifica no futebol para mim é o jogo de futebol, a força normal de recuperação em futebol tudo é futebol, agora pode usar o mesmo exercício em dias diferentes tem é que ver o volume e a recuperação de exercício para exercício, sem descurar, como é óbvio a especificidade do exercício".

    Rogério Rodrigues afirma "se jogamos ao sábado folgamos ao Domingo, Segunda-feira quem jogou mais de 1 hora faz um treino, eu vou chamar-lhe um treino de recuperação activa, que não é bem um treino de recuperação mas um treino de baixa intensidade onde trabalham à parte, e os restantes fazem um trabalho aquisitivo com maior intensidade e maior volume. Terça-feira há um trabalho onde se privilegia um objectivo de força explosiva, de força específica. Quarta resistência específica. Quinta velocidade específica. E sexta é um treino que posso chamar também de recuperação activa do trabalho que foi feito durante a semana, com exercícios mais do foro lúdico e recreativo para criar um bom ambiente, e digamos que não, não… fazer um pouco esquecer o jogo, não há ansiedade para permitir um bocado de relaxamento e também um pouco de baixa intensidade. Em todos eles a componente bola está presente, e em todos eles se pretende que as quatro componentes de treino treináveis, técnica, táctica, física e psicológica, estejam presentes. A força é treinada em jogo, com espaços reduzidos com bola, com melhorias digamos do nível técnico porque a bola está presente, táctico porque os espaços reduzidos obrigam a uma consciência/reacção e uma cultura táctica para fazer frente às situações. Físico porque tem uma determinada duração, e pretende-se uma determinada intensidade para ir de encontro aos sistemas energéticos e aos objectivos em presença. E o aspecto psicológico porque se tem que ter uma concentração permanente, porque é uma situação de jogo, e eles têm que a encarar como se fosse um jogo formal, ou como se fosse um jogo do campeonato". Para o referido treinador "mais importante que o sistema a privilegiar, o sistema táctico, é importante criar um conjunto de características gerais e específicas, com os princípios de jogo que estão subjacentes a esse modelo, que irão ser a base de orientação do trabalho semanal. Ou seja, há uma definição do modelo de jogo, caracterização desse modelo de jogo, o modelo que nós queremos implantar e desenvolver ao longo da época. Para isso construímos também um conjunto de princípios gerais e específicos, com posse de bola, sem posse de bola, nas transições, e os exercícios ao longo da semana, de acordo com o microciclo padrão que estão subjacentes, precisamente também, a essa especificidade do jogo que pretendemos impor em cada jogo".

    Relativamente a este tema Luís Castro muito sucintamente afirma que durante a sua semana de trabalho "os factores de rendimento estão todos interligados, no entanto existem factores de rendimento mais importantes, claramente que os factores táctico e psicológico são os fundamentais no meu trabalho" para além disto "em todo o nosso planeamento não há nada que seja introduzido no jogo sem ter por base o nosso modelo de jogo. Todo o treino tem que ter por base o modelo de jogo".

    Relativamente a este ponto Jorge Amaral assume uma posição semelhante apesar de não deixar de referir a dimensão física como um vector também ele fundamental e de não referir o modelo de jogo como base deste trabalho semanal.

    Para Eduardo Luís a planificação do microciclo vai variando ao longo da época em função dos objectivos que vão ou não sendo atingidos e dá o exemplo de que "muitas vezes fazem-se coisas mediante não só o estado físico dos jogadores, mas o jogo anterior, se perdeu ou ganhou tudo isto influi semanalmente e diariamente naquilo que se faz nos treinos".

    Para Prof. Neca muitas são as condicionantes que o levam a ponderar a estrutura de um microciclo "algo que influência é, por exemplo, as condições de tempo, as condições que temos à nossa disposição ás vezes com sabe nesta região do país chove intensamente e ficamos condicionados por isso mesmo. O adversário que vamos defrontar, se o jogo é fora ou em casa condiciona sempre alguma coisa de algumas correcções que temos que fazer nessa mesma rota, o resultado anterior também nos vai ajudar a montar a estratégia para esse microciclo, enfim, todas estas coisas são condicionantes para aquilo que pretendemos fazer".

    Alberto Silva descreve "nós vamos treinando, vamos preparando a equipa quer física, quer mentalmente para a competição, depois a competição, os jogos é que nos vão dizer se nós estamos a fazer o treino correcto, pela receptividade da equipa, pela forma como a equipa ataca. Os jogos, há pessoas que dizem vamos treinar para jogar, eu digo vamos jogar para podermos treinar. É fácil perceber porque uma equipa que vá treinando, que vá assimilando no dia-a-dia, e que depois é uma equipa forte no aspecto mental, fisicamente vai subindo conforme vai decorrendo a competição, aliás a melhor forma de treino, e se vocês estiverem atentos reparam que os jogadores que chegam em melhor forma aos finais de época, os que aguentam melhor os jogos finais são aqueles que jogaram mais tempo durante a competição, porque é comum dizer-se 'este jogador está sem ritmo de jogo' na parte final da época, porque enquanto a grande maioria do plantel, aqueles 13 ou 14 jogadores que vão jogando regularmente chegam com cabedal, há jogadores que vão sentindo cãibras e espasmos musculares, e são aqueles que foram utilizados menos durante a época. Portanto, a competição é que nos vai dando, depende da opinião, mas a minha é essa, nos depois do jogo de Domingo, na segunda e na terça informações para podermos corrigir, ou até incentivar e trabalhar os aspectos mais positivos".

    Vítor Frade a este respeito considera que podemos utilizar "o termo mais normal de microciclo, mas prefiro de morfociclo precisamente porque tem a ver, é condicionado pelas formas das coisas, pela forma dos exercícios, que deve ser identificadora da forma mais macro que é o jogo que se pretende implantar. Portanto, se joga no Domingo e se volta a jogar no Domingo, na segunda-feira deve-se levar a efeito determinadas coisas, na terça outras, na quarta outras, etc. Ora, se de facto o primado é o modelo de jogo, portanto, nunca podemos deixar a especificidade. A especificidade daquele modelo. Quem defende outro modelo tem a especificidade de um modelo seu. Portanto, não podemos alienar a presença da especificidade, e para o fazermos, só nuanciando a especificidade, ou seja, agora contemplando estes aspectos da especificidade, e garantindo metodologicamente a continuidade através de um critério". Carvalhal (2003) baseia-se nestes princípios e descreve o seu microciclo padrão referindo que todos os seus jogadores sabem que "à segunda-feira é recuperação, que à terça-feira têm folga, que à quarta-feira vão treinar em espaços reduzidos e estão a treinar força, que à quinta-feira vão treinar em espaços mais alargados e estão a treinar resistência, à sexta-feira estão a treinar mais sobre aspectos da velocidade e ao sábado vão treinar velocidade e o lado estratégico do jogo. Mas tudo isto, toda a força ou resistência ou velocidade, para mim não vale nada, vale zero se não estiver condicionada à forma de jogar, à dimensão táctica".

    Por outro lado Lotina (2003) demonstra preocupações diferentes no seu microciclo padrão caracteriza-o por "segunda treino de recuperação, porque se não treinas na segunda-feira na terça-feira há mais lesões, está estudado. O melhor é recuperar na segunda e descansar na terça-feira. Na quarta um treino forte de manhã e de tarde resistência ou força. De resto, na quarta e na quinta é para melhorar a nossa filosofia. Na sexta algumas vezes recuperação, massagens, outras vezes alguma estratégia, alguma jogada também trabalhas. No sábado faço uma revisão a tudo, relembrar coisas da defesa, do ataque e tendo em conta o adversário, transmitir-lhes informação do adversário".

    A este nível sentimo-nos mais uma vez "forçados" a citar Vítor Frade para quem fundamental "é a noção de coerência porque a gente sabe que há esta concepção, aquela e a outra, hoje até há monografias que caracterizaram todas elas e isso é um aspecto, separou-se, e todas elas tem direito à vida, mas tenho que dizer eu opto por esta e então tenho que ser coerente. Portanto, e esse lado da coerência só pode surgir se eu tirar a fotografia exacta da realidade, souber caracterizar e depois ai sim opto". No entanto não deixamos de considerar que apesar de todas as dimensões serem importantes a dimensão táctica é segundo o nosso entendimento a vertente fundamental do processo de treino e relativamente a este aspecto apenas Rogério Rodrigues, Daniel Ramos, Luís Castro, José Guilherme e Vítor Frade revelam coformidade com a revisão de literatura e fazem uma referência efectiva ao principio de especificidade/modelo de jogo defendida por Mourinho (2001) e não apenas ao principio especificidade/modalidade, referida pela maioria dos treinadores, porque segundo Frade (2002) existem vários tipos de "futebois" cada um com as suas características próprias, no entanto o autor defende que modo de os fabricar é que pode ser o mesmo (periodização táctica).


2. A operacionalização do "plano táctico" semanal...

    Cada treinador possui uma forma muito própria de operacionalizar este plano táctico, que no fundo está dependente de variadíssimos factores que vão desde a organização do próprio microciclo até aos próprios princípios metodológicos de cada um dos treinadores.

    No que refere a este aspecto Vítor Frade deixa-nos uma ideia marcante pois "segundo a lógica daquilo que eu chamo a periodização táctica, a estratégia é muito importante, mas ela nunca pode ser em momento nenhum da semana mais importante que os outros. Portanto, habitualmente eu reservo a estratégia para sábado ou para sexta-feira. Então ela aí é mais importante do que o resto, e não pode ser. Mas ela também só é importante se aparecer no processo de molde a poder incorporar-se. E incorporar-se na justa medida que ela deve lá estar. Portanto ela logo desde o início deve incorporar-se, mas a 10 ou 15% para poder fazer parte da assimilação. E portanto, muitas das vezes o que sucede, "é pá treinaram tão bem"… eu às vezes treinava com alguns treinadores e eles, sim senhora até íamos jogar em casa, e depois ficavam admirados de a equipa ficar retraída. E eu dizia-lhes assim 'Contou o tempo que falou aos jogadores na palestra? ' 'Ai não…'. Por exemplo '25 minutos, e reparou que esteve a falar 20 para a defesa e 5 para o ataque', e eles nem se aperceberam, e se calhar isso, um pentelho, pode ser mobilizador para uma certa regressão. Portanto, devemos ter isso em atenção".

    Luís Castro refere que semanalmente é elaborado um plano táctico especial e que "este plano é definido no início da semana, todos os treinos são direccionados para a sua operacionalização. Por exemplo, não faz sentido se no domingo vou jogar com o bloco baixo, deixar os jogadores na quarta e na quinta jogar com o bloco subido e chegar a sexta e dizer-lhes que vamos jogar com o bloco baixo". Relativamente à sua participação no treino enquanto condutor do processo aquisitivo de informações o mesmo treinador refere que "tem que ser dito sempre ao atleta que estamos a fazer isto e o porque de estarmos a fazer isto. Quais são os princípios de jogo que nós estamos a trabalhar ali, para ele saber exactamente aquilo que está a fazer e o porquê de o estar a fazer".

    Do mesmo modo José Guilherme refere "fazemos isso durante a semana transmitimos as informações aos jogadores logo no inicio da semana pode ser na segunda-feira pode ser na terça-feira depende daquilo que treinar nesses dias mas durante o inicio da semana vamos transmitindo esses aspectos não damos a informação toda junta porque senão a informação era demasiado densa, vamos transmitindo ao longo da semana normalmente aquilo que acontece é que o meu adjunto que vai fazer a observação dá logo uma ideia de como a equipa joga e depois vamos particularizando ao longo da semana alguns aspectos em termos verbais e depois em situação de jogo vamos referindo e salientando isso".

    Relativamente à influência que o processo de scouting tem no seu microciclo Daniel Ramos afirma que está presente "sem dúvida, sempre, todas as semanas. Aspectos importantes eu tento tirar partido deles e dependendo dos adversários posso incorporar em determinados dias certos exercícios para estar preparado em termos defensivos ou para tirar partido em termos ofensivos". Quando questionado acerca da sessão de treino aquisitiva dos seus planos estratégicos Daniel Ramos referiu que, apesar de os ter em conta durante todos os dias da semana, o dia anterior ao confronto (normalmente sábado) é um dia importante "porque eles (jogadores) estão mais preparados para ouvir, está mais próxima a competição, estão mais receptivos a receber informação, estão mais concentrados devido à proximidade da competição. E também porque ao sábado existe..., o sábado permite uma preparação mais cuidada de alguns aspectos que são os mais importantes, os aspectos de ordem mais específica como, por exemplo, os lances de bola parada. O sábado é propício a isso porque permite exercícios de baixa intensidade em que o mais importante é o detalhe, o pormenor e aí usamos o sábado para tratar de aspectos do jogo que são de ordem específica e que passamos à prática". Para o referido treinador "intervenção sempre porque o que não se trabalha o jogador esquece. Muitas vezes fazemos exercícios que até saem bem num dado momento e, se calhar, passadas três semanas por pensarmos que estes já não precisam de tanta atenção eles deixam de produzir os efeitos desejados, por isso, a intervenção tem que ser sempre tanto no reforço daquilo que está bem e claro na correcção. A voz do treinador aí é importantíssima, não é a mesma coisa ser um elemento da equipa técnica que não o treinador a dar um feedback ou ser o treinador, o reforço ou a correcção do treinador é muito mais sentida pelos jogadores. Por isso considero que nos exercícios mais importantes é fundamental a presença e a intervenção do treinador".

    João Eusébio considera que a operacionalização dos planos tácticos especiais "normalmente depende do clube onde você esteja a trabalhar, se eu pudesse trabalhar num clube em que pudesse ter as pessoas a fazer tudo o que eu pedisse, seria ao sábado e à porta fechada, e porquê? Porque ao sábado é o dia mais próximo do jogo, é o dia em que as coisas ficam mais na mente e o dia em que o jogador assimila mais facilmente, agora, tem a ver com a intensidade do exercício e com o volume do exercício que você vai fazer. Ao sábado deve trabalhar a componente que seja mais fácil de recuperar para o jogo de domingo. É evidente que as tais estratégias, os pormenores pontuais que você pode mudar, eu treinava ao sábado e à porta fechada". O mesmo treinador considera que "é evidente que você deve sempre começar do simples para o mais complexo, mas ao sábado não vai por exercícios complexos, como já disse estratégias com êxito é ao sábado e não muito complexas que o jogador fique, assimile e entenda afinal o que eu vou fazer. Mas é necessário que durante a semana haja complexidade".

    Prof. Neca afirma "modifico pontualmente, não tenho um dia especifico vou fazendo durante a semana porque a estrutura base está já apreendida e não altero substancialmente essa estrutura" complementando "no início da época quando o modelo não está bem apreendido também utilizo o último dia ou o penúltimo dia para isso, mas no meio da época as coisas já estão tão apreendidas que não ligo muito ao dia em que faço essas estratégias". Relativamente à sua intervenção neste processo aquisitivo de informações Prof. Neca afirma que "cada jogador é mundo muito próprio, com crenças diferentes, motivações diferentes, formas de aprender também diferentes, é fundamental conhecer a personalidade de cada um e em função da personalidade ir interferindo para o poder ajudar a melhorar no dia a dia naquilo que nós pretendemos".

    Jorge Amaral afirma "durante a semana trabalho em função de onde eu quero criar desequilíbrios, de onde eu quero criar algumas nuances ao nível táctico sobre a equipa adversária, vou falando no treino acerca de algumas coisas que são importantes e normalmente ao sábado é quando eu, desta forma que viu, reduzida ou então de uma forma mais dimensionada, eu faço a descrição táctica da equipa contrária, como se posiciona, há alternativas mas normalmente é sempre ao sábado que eu faço sempre, digamos que, o toque final". O mesmo treinador relativamente à sua actuação neste processo diz-nos "sou uma pessoa que gosto de diversificar em termos de trabalho então eu antes de fazer um exercício explico-o, qual é a finalidade do exercício para os jogadores entenderem a finalidade do trabalho que estão a fazer tanto no aspecto físico, como no técnico ou no táctico. Os jogadores antes de irem para o campo têm um conhecimento do exercício, o que vão fazer, nada é explicado na altura do campo, por causa das perdas de tempo e de concentração, os jogadores quando saem do balneário, já saem com conhecimento total qual é a sua finalidade e depois pontualmente, pontualmente vou intervindo porque aliás sou bastante interventivo ao nível do treino e acho que essa intervenção, sem ser agressiva e abusiva, acho que deve ser premente em termos de, caso seja necessário, para a intervenção".

    Sem nunca referenciar um dia preferencial para alterações estratégicas, para Rogério Rodrigues "é obvio que se nós pudermos ir de encontro aquilo que estamos à espera de encontrar podemos de uma forma estratégica condicionar ou anular os pontos fortes desse adversário de forma a não sermos surpreendidos e de alguma forma até tirar alguns aspectos mais débeis para potenciar ao longo da semana para tirarmos partido deles, portanto essa observação parte do principio de nos dar informação que nos permite não ir ás escuras para esse jogo e essas informações ajudam-nos a minimizar a questão aleatória do próprio jogo. Se soubermos que o adversário tem determinado futebol tipo ou que joga com um certo tipo de sistema de jogo, que tem lances de bola parada preferidos e estudados que são regularidades é obvio que durante a semana vamos trabalhar e dar informações aos atletas daquilo com que vão ser deparados e até sugerir aspectos débeis de que poderemos tirar partido e ao mesmo tempo não ser surpreendidos por algumas nuances do adversário que pudessem-nos surpreender".

    Eduardo Luís dando sempre uma muito maior importância aos processo inerentes à sua equipa deixa em aberto a possibilidade de em casos muito pontuais poder dar alguma atenção semanal a um ou outro jogador no entanto "nesta divisão (terceira divisão nacional) não há equipas muito diferentes, não há muito boas equipas, as equipas são muito semelhantes, por isso treinar mais isto e menos aquilo não vai fazer grande diferença. Não vou criar uma pressão ao jogador e dizer-lhe atenção que vais ter ali um jogador melhor ou pior porque ele pela sua experiência e pelos anos que tem de futebol consegue resolver isso, podemos é dar-lhe um reforço de confiança quando defronta um jogador mais forte. Na minha concepção de futebol o importante é que a minha equipa esteja o melhor possível". Também Alberto Silva assume uma posição semelhante a Eduardo Luís reforçando a ideia de quase nunca ser "forçado" a alterações estratégicas como tal estas não assumem um papel relevante no seu processo de treino, no entanto no caso de necessidade o trabalho é sempre feito no campo de jogo com exercícios.

    Para Vítor Maçãs "o treino estratégico é desde a segunda-feira, se eu treinar na segunda-feira já é um treino estratégico, porque na segunda-feira ainda temos muito presente aquilo que foi o jogo anterior e se eu reforçar aquilo que foram as coisas positivas e se eu destacar algumas coisas negativas eu já estou a preparar o próximo jogo, não adaptando ao adversário em concreto mas à forma de jogar da minha equipa portanto à segunda-feira já é estratégico até de forma a gerir a fadiga física, psicológica e isso é tudo gerir, no fundo é ter uma noção do grupo e de algumas mensagens que a gente quer passar. Eu tento não ter uma rotina sobre quando falar aos jogadores, vou variando em função daquilo que eu acho conveniente. Agora todos os treinos da semana têm que ter uma vertente estratégica, agora guardar a estratégia para o sábado ou para a quinta no treino de conjunto eu não tenho por norma agir assim, eu não faço treino físico na segunda e na terça, de manhã físico e de tarde táctico... eu tento preparar a equipa para o jogo e a forma como organizo isso no microciclo é em função de gerir o tempo que tenho em função das preocupações que tenho para o jogo, umas que fazem parte do plano especifico de abordagem ao jogo outras que tem a ver com o bilhete de identidade da nossa equipa portanto se eu procuro ao longo do treino durante X tempo ir vincando os traços marcantes de jogo nossa equipa obviamente que é nessa linha que eu tenho que continuar todos os dias da semana, privilegiando um ou outro aspecto uma ou outra questão de preparação especifica para o jogo seguinte mas as ideias estruturantes eu não as mudo até porque nós sabemos que isso não é viável ao nível do treino".

    Lotina (2003) dá-nos o exemplo de como transmite as informações referentes ao adversário aos atletas afirmando "Sábado (entenda-se dia antes do jogo) falamos do adversário, único dia. (...) No sábado, dentro desta filosofia (entenda-se o seu modelo de jogo), fazemos referência ao adversário, àquilo que temos que temos que ter mais em atenção dentro da nossa maneira de fazer tendo em conta o adversário. Se o adversário joga com Figo e Overmars não é a mesma coisa que se joga com Morientes, dois pontas diferentes. Se tens Figo, muito forte no 1x1, mais ajudas, se tens Mendieta não faz falta tantas ajudas. Isto o futebolista tem que saber".

    Caçador (2003) considera que ao nível do treino "o privilégio dos treinadores actuais centra-se na dimensão táctica, que tem a ver com dois factores fundamentais: a táctica especifica e a estratégia. Parece-me que esta é a afirmação do futebol moderno. Um grande privilegio de toda a componente de treino que se centra na táctica, na sua componente individual e colectiva".

    Tal como refere Damásio (2000 cit. por Fernandes, 2003) a criação de imagens mentais, não está limitada à estimulação da visão, mas sim através de qualquer uma das modalidades sensoriais. Neste sentido a concretização cerebral do objecto abstracto que temos vindo a tratar - dados relativos ao adversário e/ou planos estratégicos - consegue-se também através de uma adaptabilidade para a especificidade. Assim se explica que todos os treinadores, revelando conformidade com o expresso na revisão de literatura, considerem que a forma mais importante de abordar os seus planos estratégicos e ideias de jogo ao longo do microciclo está relacionada com a repetição e exercitação sistemática de exercícios de campo.

    No que concerne ao aspecto relacionado com a problemática relativa ao treino aquisitivo de saberes e planos estratégicos (de fora desta discussão parecem estar Alberto Silva e Eduardo Luís para quem o treino estratégico não assume um papel relevante no treino) aqui existe de facto uma grande discussão acerca de reservar ou não uma sessão de treino (ou mais) especificamente para este aspecto. Vítor Frade, José Guilherme, Luís Castro e Rogério Rodrigues e Vítor Maçãs não consideram pertinente reservar a(s) última(s) sessão de treino para as nuances estratégicas e argumentam o facto pela estratégia não poder ser nunca mais importante que os (outros) princípios de jogo e pela necessidade de não estar a criar um envolvimento especial em volta do jogo a disputar, no entanto Daniel Ramos, João Eusébio, Prof. Neca e Jorge Amaral, apesar de considerarem importante trabalhar estes aspectos ao longo de toda a semana também, reservam para a(s) última(s) sessão de treino um papel importante na aquisição destas nuances estratégicas argumentando, também de forma válida, pelo facto de os atletas estarem mais predispostos para ouvir e mais concentrados para a competição.

    Sem assumir um qualquer partido pois ambas as perspectivas nos parecem bastante pertinentes devemos realçar que tal como Oliveira et al (2006) refere "a ênfase na dimensão estratégica pode interferir negativamente com aquilo que são os princípios de jogo. A tal ponto que se pode tornar num "atractor negativo", num "buraco negro", e por em risco a fluidez funcional da equipa. Não esqueçamos que estamos a falar de comportamentos, hábitos, que requerem tempo de aprendizagem e dos quais não nos desfazemos da noite para o dia. E isto é tanto mais evidente quanto mais qualitativa é a ideia de jogo. Porque quando falamos em qualidade falamos forçosamente em complexidade". A este nível parece-nos importante o uso daquilo a que Vítor Frade denomina como "o princípio metodológico do sentido da divina proporção", e que se materializa pela capacidade individual que cada treinador deve ter (e nem todos têm) de distinguir o fundamental e o acessório.


3. Intervir no jogo: a capacidade de reagir correctamente ás aleatoriedades do jogo ou, talvez, um acto fundamental de proactividade...

    Tentamos saber junto dos treinadores em que se baseava a sua intervenção durante o jogo (planificação táctica), ou seja, na operacionalização da planificação estratégica indagando acerca da existência ou não de um plano prévio de jogo.

    Alberto Silva refere que "essencialmente quero conhecer a minha equipa e as suas reacções e sabendo isto nem me preciso de preocupar com o que o adversário poderá vir a fazer. Posso-lhe dar um exemplo, eu dificilmente me arrependo daquilo que faço mas este ano arrependi-me de num jogo onde tinha três reforços no banco, não ter utilizado um deles porque estava há pouco tempo no clube, o que quero dizer é que tenho que conhecer bem os meus jogadores e actuar independentemente do adversário".

    Eduardo Luís caracteriza a sua actuação em jogo como "não é instintivamente..., posso reagir à acção do adversário mas não levo nada pensado" justificando o facto por, na sua opinião, "nesta competição não é provável que existam muitas diferenças, grandes esquemas quase todas as equipas jogam da mesma maneira e o nível não é muito elevado".

    José Guilherme considera "acho que é muito importante nós já termos as coisas preparadas para podermos reagir não de uma forma emocional mas de uma forma racional perante determinadas ocorrências, se eu souber aquilo que poderá acontecer e me preparar se calhar sou muito mais racional em termos das minhas opções do que se algo acontecer e eu não estiver a contar com aquilo e muitas vezes a minha primeira reacção não é a mais lógica a mais bem pensada por isso eu gosto de prever tudo o que possa acontecer, estar prevenido para essas coisas mas ás vezes por muito que tente antecipar aquilo que irá acontecer acontecem sempre imprevisíveis e temos que criar novas soluções".

    Luís Castro afirma "levo sempre um plano de jogo, o que posso é alterar o plano de jogo conforme esteja a perder ou a ganhar. A própria equipa já sabe, durante a semana treinamos que se em determinado momento mudarmos para um 4-2-4 aquilo que fazemos, se de repente mudarmos para um 4-4-2 ou um 4-3-3 têm de estar preparados".

    Para Vítor Maçãs "tenho planos de jogo, ou melhor, tenho um plano de jogo que contempla várias situações. Aquilo que, e isto depende da quantidade de informação que eu tiver sobre o adversário quanto mais informação mais consistente e elaborado é esse plano, mas o plano começa por ter origem na nossa equipa e um conjunto de alterações que eu admito que elas possam existir, sem que eu tenha nada definido, existe um conjunto de estratégias para o jogo tento que esse plano contemple o maior número de coisas possíveis, inclusive substituições, previsíveis alterações da equipa adversária e as minhas respostas para isso e isso nós temos mas tem que haver ali sempre uma margem, e o Prof. Jorge Araújo tem uma frase muito interessante em que diz 'muitas vezes nós somos habituados a gerir o previsivel, mas o mais importante é gerir o imprevisivel' e nesse sentido é que eu acho que nós levamos um conjunto de cartas no bolso e essas já estão preparadas e não perco muito tempo a pensar nelas porque já as tenho pensadas, mas depois o próprio desenvolvimento do jogo leva-nos a que aquilo tenha que ser completamente mudado e ai estão as tais coisas que nós sem prever temos que reagir e creio que aqui é onde ainda temos uma margem de progressão grande, porque admito que ainda temos um trabalho grande a fazer neste âmbito embora eu tenha uma preocupação de ter um conjunto de ideias, mas normalmente nunca conseguimos seguir o plano à risca porque à sempre imporderáveis. Creio que o treinador para além do trabalho semanal também tem que aperfeiçoar aquilo que as pessoas chamam de 'ler o jogo' e existem sempre uns que lêem muito bem outros muito mal, mas nós nunca sabemos quais são as variáveis ás quais devemos prestar mais atenção para poder ler aquilo, mas isso é uma questão de experiência que vamos adquirindo".

    Daniel Ramos refere que apesar de levar o jogo preparado e tentar sempre saber como pode o adversário reagir ás diferentes situações do jogo "não me baseio muito nisso porque nem sempre isso acontece, é importante sabermos mas sem estar preocupado com isso. Acho que cada vez mais um treinador tem que estar preparado para fazer opções no momento e não estar à espera de se ele fizer aquilo eu faço isto".

    João Eusébio afirma "na primeira liga todas as equipas estão identificadas umas com as outras e normalmente devemos estar preocupados com a nossa equipa, se o meu atleta não fizer isto eu tenho este isto" apesar disso o treinador não deixa de considerar importante saber as opções do adversário pois "o meu adversário é isto que ele faz, normalmente nestas situações faz isto, se ele fizer isto eu vou fazer isto, mas preocupamo-nos muito mais com a nossa equipa, estamos preocupados com a nossa equipa porque sabemos os trunfos que o adversário tem" afirmando claramente que no essencial devemos estar "preocupados sim, será que o nosso jogador faz isto se não faço isto".

    Prof. Neca diz-nos sucintamente "tenho claramente um plano de jogo que me vai ajudar durante os noventa minutos, podem haver correcções, mas há sempre um plano de jogo em função daquilo que é a minha equipa e o conhecimento do adversário".

    Jorge Amaral refere que "quando eu vou para o jogo eu já tenho, previamente, algumas situações, em função de se estiver a ganhar ou a perder ou em função daquilo que eu pretendo. O jogo depois, se calhar, vai-nos contrariar muitas vezes essa opinião mas ai é que é a capacidade do treinador, admitindo que tem algumas opções no banco, apesar de ter essas opções pensadas ter a capacidade de inventar outras, coisa que já tenho feito e que é normal fazer. Agora quando a gente vai para o jogo temos que levar já uma estratégia em função de a gente estar a ganhar, de querer dar a volta ao resultado e de querer manter aquele resultado, a estratégia tem que ir já definida".

    Rogério Rodrigues afirma que "há sempre algumas coisas que estão na cabeça, se o jogo estiver a correr bem em determinada altura substituições que possam estar pensadas, quando sabemos que determinado tipo de jogador defende menos ou não tem do ponto de vista físico capacidade para aguentar os 90 minutos com o grau de exigência e intensidade que se pretende, saber que há determinado tipo de jogadores que apesar de estarem de fora têm dado boas indicações durante os treinos e se as coisas estiverem a correr bem podemos aproveitar para lançar esses jogadores, existem sempre algumas coisas que vão sendo definidas e vão sendo pensadas. Levamos sempre opções fundamentalmente nunca levamos nada definido consoante aquilo que possa acontecer".

    Para Vítor Frade é importante construir um plano de jogo "mas não é quando se vai para o jogo é durante a semana, isso sim. Eu estive 28 anos no futebol e concretamente no F.C. Porto, foi o mais top, e estive com treinadores que preparavam estrategicamente os jogos e a equipa uns com palavras e outros concretamente ao longo da semana, se íamos jogar com o Milão, por exemplo, e, como complemento ao que se fazia, pensava-se se a situação estiver assim agora vamos meter este gajo grande e o jogo passa a ser directo para ele ganhar lances de cabeça e ele mandar para ali e estes gajos já sabem e isso treinava-se e quando estavam 20 mins de jogo as coisas não estão a resultar vamos alterar. Mas isso não era um objecto estranho para a equipa, a equipa sabia e com outro treinador de top e tão prestigiado como o outro fazia isso e não treinava, olha vamos fazer isto e isso concerteza são coisas diferentes. Basta ver o que alguns jogadores dizem do Mourinho da forma como ele imaginas as coisas e tal, o que é preciso é que isto não deixe de ser acessório e o principal não deixem de ser os princípios fundamentais que nós trabalhamos".

    Caçador (2003) salienta que "as pessoas ou têm ou não têm competência, não há treinadores de banco. Há treinadores que têm competência para orientar uma equipa ao mais alto nível, e para isso têm de estar actualizados como têm que utilizar metodologias convenientes de acordo com a filosofia de jogo. O treinador moderno é aquele que prepara a sua intervenção para que quando chega ao domingo, tudo o que foi preparado durante a semana aconteça não em função do imprevisto que é um jogo de futebol, mas em função de um adversário com quem nós vamos jogar e temos que conhecer plenamente". Mourinho (s.d., cit. por Lourenço, 2003) dá-nos mais um exemplo da forma como prepara os jogos e a sua intervenção afirmando "tentei prever tudo o que poderia acontecer. Mudanças tácticas durante o jogo, situações de risco para eles, como, por exemplo, estarem a ganhar 2-0 nos últimos minutos e precisarem de marcar um golo para passarem a eliminatória, expulsões, até a entrada dos médicos com as indicações que poderiam dar, enfim, tentámos prever tudo. Nunca tive um jogo tão bem preparado como este. Foi a tentativa de reduzir ao máximo o imprevisto. Vi inúmeros jogos deles, até com equipas muito mais fracas para os estudar em situação de franca superioridade e sem medo do adversário. Eu conhecia a Lázio por dentro e por fora".

    Apenas dois treinadores não consideram importante construir uma imagem prévia do jogo e em função dessa imagem ter já algumas situações "estudadas" ou planos de intervenção, para os restantes este é um aspecto fundamental, pois permite-lhes reagir mais rápida e racionalmente ás incidências do jogo uma vez que tal como refere Goleman et al (2002, cit. por Fernandes, 2003) em momentos de emergência, são os centros emocionais - cérebro límbico - que comandam o resto do cérebro. Também Damásio (2000, cit. por Fernandes, 2003) refere que as emoções desempenham um papel de guia em relação aos sinais não conscientes.

    Consideramos que este facto, por vezes, não será o ideal para tomar uma decisão que necessita de ser racional e ponderada e que pode decidir o rumo de um jogo. Parece-nos também fundamental que estas ideias estejam implementadas não só no cérebro do treinador, mas também no cérebro e nas "pernas" dos jogadores e julgamos que isto só será possível através da repetição sistemática dos processos de treino e da vivenciação aquisitiva destes mesmos estímulos no decorrer da preparação específica da competição. Estas acomodações ao nível do treino só são possíveis através da acção repetida de estímulos competitivos como antecipação de futuros requisitos para a competição (Frade, 2002)


Bibliografia

  • OLIVEIRA, R. (2006) "Alterações ao modelo de jogo (?): A vertente estratágica do jogo - o scouting (observação e análise dos adversários) e a sua influência na planificação de um jogo de futebol", Monografia final de Lic. em Ed. Física e Desporto. UTAD, Vila Real.

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revista digital · Año 12 · N° 109 | Buenos Aires, Junio 2007  
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