efdeportes.com
O processo de esportivização do taekwondo

   
*FAETEC/RJ.
**UNESA/RJ.
***LEEFEL, UNISUAM/RJ.
(Brasil)
 
 
Prof. Cesar de Carvalho Silva*  
Prof. José Antônio Vianna**  
Prof. Dr. Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro***
c.henriqueribeiro@ig.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O Taekwondo, "caminho dos pés e das mãos" é uma arte marcial milenar, com origem a partir da formação das antigas civilizações do território hoje conhecido como Coréia. Sua gênese auxiliou o povo coreano na sua proteção (auto defesa), sustentação e divulgação de toda uma cultura marcada historicamente por conflitos tanto de ordem interna quanto externa. Assim, com o passar dos anos, o taekwondo passou por uma série de modificações tanto na sua expressão corporal, produzida pelo homem, quanto no seu próprio nome, fruto de uma reorganização político administrativa objetivando sua expansão a todos os povos do planeta. Determinou-se, então, uma nova era desta arte marcial sob a influência direta do fenômeno esportivo levando a modalidade a 179 países regidos por uma única entidade internacional, a WTF (World Taekwondo Federation). Essa variável resultou na necessidade de adequar às técnicas marciais a um sistema rígido de regras o que veio a limitar o conteúdo do aprendizado das formas de movimentos do taekwondo de um modo geral bem como na sua filosofia original que se destinava a auto defesa. A presente pesquisa vem demonstrar que o treinamento do taekwondo na atualidade persiste em um propósito quase que exclusivo às competições o que vem a sugerir que inúmeras outras técnicas marciais se fragmentem e se tornem esquecidas.
    Unitermos: Artes marciais. Taekwondo. Esportivização.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 108 - Mayo de 2007

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Introdução

    As artes marciais possuem um conteúdo histórico enraizado na filosofia oriental. Na era romana a palavra "guerra", advinda de Marte, "deus da guerra" possuía vários simbolismos e um deles seria a guerra interior humana os quais sábios sacerdotes das antigas civilizações assimilavam a busca de seu "eu interior", isto é, o interno, que se ligava ao esotérico e o externo. Este último, caracterizando-se pela guerra propriamente dita. Esta constante busca do "eu" interior é a conseqüência de que o homem havia perdido algo e necessitava se encontrar e reunir-se consigo mesmo para localizar o seu rumo que havia sido perdido e esse rumo se conjugava pela preparação física e compreensão filosófica.

    A filosofia marcial se baseia em duas forças chamadas "Yin" e "Yang", que são forças que se opõem e são chamadas de "luta de opostos" que surgem para o homem para que ele tenha a exata noção do meio justo, equilíbrio e harmonia interior. A partir daí temos que as artes marciais estão diretamente ligadas a questão espiritual e mental do ser humano, estendendo-se a expressão corporal, ou seja, o meio externo.

    É interessante ressaltar a proximidade entre a luta e o sacerdócio que, segundo a história, no Japão quando um samurai chegava ao fim de sua carreira militar, passava a dedicar-se à meditação e vida monásticas, o que se conclui que após anos dedicando-se as formas do corpo que os levava à luta externa, passava a sua luta interna com o objetivo da conquista do conhecimento interior. (PLANETA, 1988, p.6-10).

    As artes marciais têm sua origem entre os anos de 4000 a 3000 a.C porém, essas datas ainda são questionáveis e acredita-se em tempos mais remotos ainda, contudo, há uma unanimidade quanto às regiões de seu aparecimento que se direciona aos povos orientais, sobretudo na Índia, Irã, China, Egito, Mesopotâmia e Japão em que se registram vários tipos de lutas sem a utilização de armas.

     Segundo estudos realizados por historiadores arqueólogos japoneses em 1935, foi confirmado que na Coréia existiam formas primitivas de lutas. Na verdade era o Soobak e o Taekyon, que surgiram há cerca de 1800 atrás. Segundo consta o relato, Na ocasião, várias outras lutas eram praticadas nos reinos coreanos tais como So Bak Hee, Tang Soo Do e outros (LEE et al, 1988, p.15).

    A confirmação de que na Coréia praticavam-se várias formas de lutas são os desenhos encontrados no reino Koguryo (37a.C a 668 d.C) onde se demonstram que a matéria marcial já era conhecida em tempos remotos naquele reino (KIM, 1995, p.9).

     Cada dinastia coreana durou cerca de 500 anos e com a unificação do território coreano a partir de Silla (668 a 935) é que a Coréia passou a ocupar a maioria da península. Na dinastia Joseon, (1392 -1910), por exemplo, foi quando floresceu o budismo e o confucionismo, esta última, foi à religião e filosofia de vida adotada pelo povo de forma dominante na época e que perdurou até a ocupação japonesa (1910-1945) (disponível em http://www.anestesiologia.com.br).

    Em 1950 acontece a chamada "Guerra da Coréia" fator político importante que resultou na divisão do território em dois, isto é, Coréia do Norte e Coréia do Sul.

    Em 1955, após a turbulência da guerra um grupo de militares chefiado pelo então General Choi Hong Hi decidiu unificar diversas escolas e estilos de artes marciais, dentre eles o Soobak e o Taekyon, que eram praticadas na época, e adotou o nome "Taekwondo" como sendo uma arte única coreana.

    Reconstruindo seu patrimônio histórico e divulgando sua cultura fragmentada pela ocupação japonesa e a guerra da Coréia, iniciou-se naquele país um processo de divulgação do taekwondo como forma de expandir a cultura coreana por todo o planeta.

     Em 1964, aconteceu o 1º campeonato da modalidade no mundo no mesmo ano em que se criou a Associação Coreana de Taekwondo. Dois anos mais tarde foi fundada a ITF, órgão responsável pela expansão da modalidade pelo mundo. Em 1973, foi criada a WTF, órgão controlador mundial do taekwondo que hoje conta com 179 países e 4.800.000 atletas filiados por todo o mundo. (KIM,1995p.12 e disponível em http://www.kois.go.kr/korea/korea.asp).

    Filiada ao COI (comitê Olímpico Internacional) desde 1980, a WTF segue seu rumo de trabalho no sentido de confirmar o taekwondo como esporte olímpico e oito anos depois, em 1988, consegue sua inclusão como esporte de demonstração nos jogos olímpicos de Seoul, Coréia, que culminou com sua definitiva inscrição como esporte olímpico nas Olimpíadas de Sydney, Austrália, no ano de 2000, (http://www.wtf.org/site/events/chronology.htm).

    Assim, o taekwondo foi se espalhando pelo mundo e chegou ao Brasil em 1970, através do Grão Mestre Sang Min Cho em São Paulo e, através do Grão Mestre Woo Jae Lee em 1972 no Rio de Janeiro, fatos estes que ainda geram alguma controversa (LEE et al 1988, p.15).

    O Taekwondo, como um todo, sofreu influência direta do fenômeno esportivo como suporte de sua sobrevivência, objeto de estudo neste trabalho. Sendo assim, apresenta-se, neste sentido, sob uma filosofia um pouco distante daquela que regeu sua estrutura e bases de surgimento. O Taekwondo contemporâneo apresenta-se sob a maestria de regras rígidas de competição sendo a mola mestra que divulga toda uma cultura milenar, cruzando fronteiras sob a batuta do esporte através da plasticidade de seus movimentos. Entretanto, por outro lado, devido as limitações impostas pelas regras, empobrece de certa forma a expressão corporal e modifica a sua filosofia e razão de existir que é fruto de uma história milenar.

    Diante de todo o processo que cruza os séculos e remonta a história desta arte marcial, alguns problemas são levantados: O taekwondo contemporâneo está sendo levado à restrição do treinamento de técnicas marciais em função do fenômeno esportivo a qual foi inserido?

    A metodologia de ensino aprendizagem do taekwondo atual vem traçando direcionamento exclusivo às técnicas de competição ou ainda se abre algum espaço para o taekwondo tradicional?

    Qual seria o perfil do processo ensino aprendizagem do taekwondo contemporâneo?


Objetivo

    O objetivo desta pesquisa é verificar o processo de ensino aprendizagem do taekwondo e o processo de esportivização.


Metodologia

    O presente estudo foi desenvolvido considerando que a modalidade de arte marcial Taekwondo vem apresentando significativas transformações na sua forma de treinamento e postura. Essas transformações advindas do processo de influência do esporte acarretaram em uma mudança no processo de ensino aprendizagem determinando uma nova tendência da arte marcial com restrições de ensinamentos de ordem técnica e filosófica.

    O estudo da matéria é importante, pois, ao se reportar à gênese do taekwondo bem como sua evolução histórica percebe-se que houve uma mudança filosófica da arte em prol da divulgação globalizada de um conhecimento exclusivo de técnicas de luta com a implementação de inúmeras regras.

    As competições auxiliaram e muito a evidenciar o taekwondo no quadro internacional esportivo o que é inegável, porém, essa evidência, ao longo dos anos poderá ser determinante para a modificação do processo de ensino aprendizagem de inúmeras técnicas de defesa pessoal.

    Aos mestres, uma reflexão sobre o problema exposto para a efetivação de um planejamento visando divulgar do taekwondo marcial de uma forma mais ampla.

    Aos professores, a especialização do aprendizado de múltiplas técnicas marciais, de defesa pessoal, para que possam divulgá-las para seus alunos oferecendo, assim, um produto não só voltado às competições como também atingindo um grupo de pessoas significativo que não se propõe ao ingresso em competições ou ao aprendizado de técnicas competitivas uma vez que o cotidiano não lhes permite o treinamento ostensivo e exclusivo deste seguimento.

    Aos alunos, dar o conhecimento de técnicas e filosofia milenar aumentando a auto estima bem como seu conteúdo técnico na aprendizagem, motivando-os e, conseqüentemente, transformando-os em praticantes mais firmes com aprimoramento do caráter, personalidade e força interior. O presente estudo delimita-se aos professores faixas pretas, 1º, 2º, 3º dans ou superiores, de Taekwondo do Estado do Rio de Janeiro, que ministram aulas em academias, registrados pela FTKDRJ e CBTKD.

    A amostragem para a presente pesquisa conta com 35 praticantes de Taekwondo, com graduação em faixa preta 1º, 2º, 3º"dans" e superiores, com registros na FTKDRJ e CBTKD que ministram aulas atualmente em academias ou instituições de ensino no Estado do Rio de Janeiro. Os pesquisados são praticantes de taekwondo, com graduação em faixa preta, 1º, 2º,3ºdans ou superiores que foram aprovados em seus respectivos exames de faixa regulares pela FTKRJ e CBTKD que estejam em atividade como professores no Estado do Rio de Janeiro.


Aprofundamento teórico

    Pensamentos filosóficos são fontes de inspiração para as artes marciais que, em razão disso, consideram-se elas tão antigas como o próprio surgimento do homem. Consideradas como artes do conflito permanente, estão diretamente relacionadas à luta dos opostos chamada "Yin" e o "Yang".

    Há registros de que existiam diversos tipos de lutas sem armas na Índia, Irã (antiga Pérsia), China, Egito, Mesopotâmia e Japão. Das diversas lutas existentes na época, hoje, no ocidente, recebemos algumas amostras, tais como, o Kung Fu proveniente da China com a divisão de Kung fu do norte e Kung fu do sul sendo o primeiro mais acrobático com saltos e chutes altos e o segundo, com técnicas mais voltadas aos membros superiores com trocas de golpes rápidos com as mãos. Proveniente do Japão, uma série de modalidades ainda permanece até os dias de hoje como é o caso do Karatê que se caracteriza por chutes e socos poderosos, o Jujutsu (juijitsu), Aikido, Judô, Kendô, Kyudo e outras. Originariamente coreana surge o Taekwondo que possui um cartel de chutes rápidos e de grande impacto, característica de um povo acostumado a subir e descer montanhas o qual proporcionou um desenvolvimento voltado ao fortalecimento dos membros inferiores (COHN,2002).

    Taekwondo, "caminho dos pés e das mãos" (KIM 1995, p.14) que, na íntegra, se traduz: Tae = pés; Kwon - mãos; Do - caminho (PLANETA 1988, p.40), não possui um fundador específico assim como o Aikido cujo fundador foi Morihei Ueshiba ou o Judô que teve como patrono Jigoro Kano (COHN,2002).

    Existem na história milenar coreana relatos de que na região praticavam-se artes marciais, fato este constatado através de desenhos em murais e em tumbas descobertas em 1935 por arqueólogos e historiadores japoneses. É interessante ressaltar que em épocas bem antigas, registra-se nomes como Taekyon, Soobak, Soobak hee, tangsoodo, dentre outras. O que pode causar surpresa é que o nome taekwondo, na verdade, só foi criado em 1955 pelo então General Choi Hon Hi com a união das diversas artes marciais existentes da época (LEE, et al 1988, p.15). Este fato histórico veio determinar uma nova era da existência de um país que aglutinou várias formas de luta de arte marcial em uma só, cujo próprio significado retrata a amplitude de movimentos inseridos nela própria.

    A Coréia antiga era dividida em três reinos. Silla (57 a.C - 935 d.C), a sudeste, Koguryo (37 a.C. - 668 d.C.), ao norte, o maior deles e que possuía características bélicas bem definidas e um outro reino cujo nome era Baekjae, (18 a. C. - 660 d.C.), a sudoeste, mais voltado a cultura e a arte (MARTA, 2004). Durante esse período, as lutas e guerras eram constantes e o território de Silla era constantemente invadido, principalmente por naturais de Koguryo, o maior de todos. O reinado de Chin Heung, 24º rei de Silla, foi criado um corpo de oficiais jovens e pertenciam a aristocracia e burguesia da época. Esse grupo guerreiro foi denominado de hwarang cujo significado era "irmão maior" (PLANETA, 1988, p. 39) com seu treinamento rígido, formou-se o Código de Honra dos hwarang que era fundamentado por cinco fortes pensamentos: "Obediência ao Rei, Respeito aos pais, Lealdade para com os amigos, Nunca recuar diante do inimigo e Somente matar quando não houve houver alternativa" (KIM, 1995, p.9).

    Ao treinamento constante do taekyon, com as mãos vazias como também a utilização de armas pelos hwarang, resultou no surgimento do "hwarang do" que pode ser traduzido como "o caminho do irmão maior" (PLANETA 1988, p. 39) que nada mais era do que uma derivação da já tradicional Taekyon que significava "chuta pulando" (LEE et al, 1988, p. 15).

    Assim, os hwarang,, com seu treinamento árduo, insistência, determinação e código de honra conseguiram unificar todo o território coreano e aqueles três reinos passaram a ter um único nome, Koryo que, posteriormente passou a chamar-se mais tarde de Coréia. (PLANETA, 1988, p.41-42).

    Já nos tempos modernos, a Coréia foi ocupada pelo Japão no período compreendido entre 1910 a 1945 e durante esses 35 anos de ocupação houve uma estagnação da cultura coreana. O karatê foi implantado compulsoriamente, sendo a única modalidade de arte marcial permitida, muito embora o taekyon continuasse a ser praticado de forma clandestina. O karatê, então, gozou de grande popularidade e teve como principal forma de divulgação as competições. Com o fim da 2ª Guerra Mundial e a desocupação militar japonesa na Coréia, houve um período de reestruturação de toda a cultura coreana. (LEE, et al 1988 p. 15-16).

    Com o fim da Segunda Guerra Mundial, tropas soviéticas ocupavam parte da península coreana ao norte e tropas dos EUA ocupavam ao sul tropas dos EUA. A intenção era de criar uma Coréia independente e liberal.

    Em 1948 os soviéticos deixaram o território coreano e um nacional chamando Kim Lisung, que era ativista e líder de um grupo guerrilheiro comunista e que havia participado do combate contra os japoneses, proclama no norte da Coréia a República Popular Democrática da Coréia. No ano seguinte, 1949, ao sul, é criada a República da Coréia sob a liderança de extremistas da direita. Os dois extremos reivindicam a soberania sobre toda a península até que em junho de 1950 o norte ataca o sul. A Organização das nações unidas sugeriu que países membros partissem em ajuda ao sul. Quinze países sob o comando do General norte-americano Douglas MacArthur partiram em direção ao norte e chegaram à fronteira com a China que também entrou no conflito.

    Na década de 60 inicia-se, assim, o processo de "esportivização" do taekwondo e a partir de então várias competições aconteceram (RIOS, 2004).

    Em 1964 ocorreu o 1º campeonato da modalidade do mundo em Seoul, Coréia. Houve a necessidade de estruturar administrativamente o taekwondo, então, em 1965, foi criada a Korea Taekwondo Association e dois anos mais tarde, em 1966, fundou-se a International Taekwondo Federation, dedicada a difundir o taekwondo pelo mundo. (LEE, et al 1988 p. 16). Esse processo de "esportivização" segue de forma firme até que em 1971 o então Presidente da República da Coréia, Park Chung Hee, proclama taekwondo como esporte nacional e cede um terreno em Seoul para a construção da Kuk Ki Won, conhecido como quartel general do Taekwondo na Coréia até os dias atuais (KIM 1995, p.12).

    Campeonatos foram acontecendo desde então e entre os dias 25 a 27 de maio de 1973 foi organizado o 1º Campeonato mundial de taekwondo pela Korea Taekwondo Association, no ginásio da Kukiwon, em Seoul, com cerca de 200 atletas e 19 países integrantes.

    Por questões políticas, o General Choi Hon Hi retirou-se da Coréia em 1972 domiciliando-se no Canadá, levando consigo a ITF onde implantou naquele país sua nova sede. (RIOS, 2004).

    Contando somente com a KTA, porém, sem características internacionais, criou-se no dia 28 de maio de 1973, a WTF com 35 países filiados sob a presidência do Dr. Um Young Kim, que passou a regular o Taekwondo por todo o mundo, (RIOS, 2004).

    Assim, o taekwondo foi seguindo um cronograma voltado para competições. Em 1975 realiza-se o 2º Campeonato Mundial, também em Seoul e, neste mesmo ano, a WTF filia-se na GAISF. Em 1976, torna-se modalidade oficial de competição da CISM. Em 1980 o taekwondo consegue a inscrição como modalidade oficial do COI e três anos mais tarde (1983) também como modalidade oficial dos Jogos Pan-americanos.

    Atualmente a WTF é a entidade oficial que administra o taekwondo mundial e possui 179 países membros, presidida pelo Dr Chungwon Choue eleito em 11 de junho de 2004. Muitos outros campeonatos mundiais foram organizados com a intenção de levar o taekwondo para que todos no mundo o conhecessem como parte da cultura coreana, além dos exemplos acima, ainda em 1986 foi incluído como modalidade de competição nos jogos Asiáticos e Africanos.

    Em 17 de outubro de 1988, o taekwondo participou pela primeira vez dos jogos olímpicos na Coréia, porém, em caráter experimental e de demonstração fato este que se repetiu em agosto de 1992 em Barcelona, Espanha. Em Sydney, Austrália, em 2000 o taekwondo foi incluído definitivamente como modalidade olímpica participando do quadro oficial de medalhas o mesmo acontecendo em Atenas, Grécia em 2004 (Disponível em: http://www.wtf.org/site/about_wtf/intro.htm.).

    No Brasil, a origem do taekwondo reúne alguma controversa em relação àquele que definitivamente trouxe o taekwondo para o nosso país.

    KIM (1995, p.13) afirma que o introdutor do taekwondo no Brasil foi o Grão Mestre Sang Min Cho em 1970, entretanto, Rios (2004), contesta esta informação e traz o nome do Grão mestre Jung Do Lim que teria sido o introdutor do taekwondo em nosso país em 1968.

    O Grão Mestre Jung Roul Kim também foi muito importante na organização do taekwondo no Brasil. Oficial do Exército Sul Coreano e com experiência na área administrativa, chegou ao Brasil em 1971, também na Bahia, onde além do clube Fantoche ministrou aulas de taekwondo do na Escola da Polícia Militar.

    Surge também a informação de que os Grão Mestres Sang Min Cho (1970), Sang In Kim ( 1971) e Kun Mo Bang (1971), foram enviados pela ITF a pedido do então Presidente Emílio Garrastazu Médice para ajudar no combate as pessoas que não concordavam com o governo militar da época. Assim, iniciaram o trabalho, primeiramente, na DOPS ensinado taekwondo para a polícia secreta (MARTA 2000).

    Discussões à parte, o que fica claro é que com três décadas de existência, várias federações foram criadas por todo o Brasil o que mostra que houve uma organização esportiva que acompanhou de perto a evolução do taekwondo de outros países.

    Competições acontecendo e o taekwondo no Brasil também voltado ao treinamento de competições, chegou o grande momento de mostrar o trabalho realizado. Na primeira oportunidade de uma competição olímpica e em processo complicado de seletiva, foi classificada a atleta brasileira Carmem Carolina para disputar os jogos das olimpíadas de Sydney, Austrália em 2000, entretanto, lutou apenas uma vez e Carmem foi eliminada.

    Em Atenas 2004, o Brasil conseguiu participar em três categorias com um significativo 4º lugar tanto na categoria masculina com Diogo Silva quanto na categoria feminina com Natália Falavigna.

    O treinamento prosseguiu e com o apoio do COB, a brasileira Natália Falavigna conquista o título de campeã mundial da categoria feminina até 72kg, no campeonato mundial de taekwondo realizado em Madri, Espanha, fato este inédito e histórico para o tawkwondo nacional (Disponível em http://esporte.uol.com.br/outros/ultimas) demonstrando o desenvolvimento e o interesse político forte também no Brasil do processo de treinamento do desporto.

    O fenômeno esportivo nas artes marciais vem sendo relatado por PRONI, (1993, apud MARTA, 2004) em que, na oportunidade, observou que durante algumas décadas as artes marciais foram sendo transformadas em modalidades esportivas fato que determinou uma nova tendência com adaptações e exigências do mercado em que as academias foram obrigadas a se adaptar para atender a demanda dos interessados. Com isso, surgem as federações nacionais e internacionais com o objetivo de organizar as competições.

    O mesmo Proni (1994, apud MARTA 2004), entretanto, vem conceituando arte marcial como sendo um conjunto de técnicas de defesa pessoal com filosofia particular a cada uma, com perspectiva militar e que surgiram da necessidade da preservação da integridade física de grupos oprimidos o que, na verdade, mostra uma transformação importante no sentido do direcionamento esportivo, cujos objetivos diferem radicalmente.

    Alguns ensinamentos nesta área vêm também de Elias & Dunning (1985). Os autores investigaram a excitação das pessoas que destinam seu tempo de lazer para a prática de esportes. Pesquisaram e constataram que houve a transição dos jogos ditos passatempos para o esporte, e utilizaram uma expressão inovadora, a "esportivização", para justificar este fato que ocorreu, primeiramente, na sociedade inglesa em razão da "relação entre o desenvolvimento da estrutura de poder inglês e o desenvolvimento dos passatempos com características de desportos, no século XVIII". Continuam relatando sua pesquisa, porém, agora, se voltam para as lutas e lembram de lutas como o pancrácio, o pugilato e o boxe grego, exemplos de lutas esportivas nos antigos jogos olímpicos que duraram mais de mil anos com alto grau de violência que resultavam em alguns casos em morte, sugerindo, então que houve uma evolução das regras no sentido de preservar a integridade física dos praticantes comparando-as com as empregadas na luta livre e outras lutas olímpicas antigas (ELIAS, & DUNNING, 1985, p.42,192,200 - 207).

    Elias & Dunning (1985, p.224) descrevem que as regras foram sendo implementadas a partir do século XIX ou até na segunda metade do século XVIII e que atividades de lazer que exigiam esforço físico já possuíam características de esporte em outros países, além da Inglaterra.

    No caso específico do taekwondo, KIM (1995, P.40) evidencia uma quantidade de técnicas mais utilizadas no taekwondo, e atesta: "Quando se pratica TKD, o aproveitamento do corpo não é dirigido a apenas algumas partes, mas sim a todo o corpo". Essa afirmação demonstra que não há limites na aplicabilidade das técnicas o que vem a se contrapor quando nos referimos as regras de competição onde os golpes só podem ser aplicados em locais específicos.

    Continuando, enumera várias partes do corpo que são mais utilizadas. Dentre muitos segmentos do corpo algumas chamam a atenção como, por exemplo, os dedos das mãos, a lateral da mão chamada de son-nal, palmas das mãos (batang son), as falanges proximal, medial e distal, dorso da mão (son dung), cotovelo (palkup), joelho (mu-rup), 'canela' ou tíbia (junggani) e outras. Contudo, segundo as regras oficiais da WTF de competição, nenhuma dessas técnicas são permitidas onde somente técnicas de soco (punhos fechados) e chutes com a exclusiva utilização dos pés são aceitas.

    O mesmo Kim (1995, p.73) argumenta que as técnicas de ataque e as partes do corpo utilizadas irão variar dependendo do local alvo e comenta "As variedades de ataques são tantas que nem podemos calcular, podemos apenas dividir os ataques em dois tipos; com o uso dos braços ou com o uso das pernas". Outras várias técnicas de defesa pessoal são destacadas em Lee (et al 1988, p. 29), em que existe uma subdivisão do ensino aprendizado em relação à graduação do praticante, isto é, de acordo com as faixas, o praticante tem um ensinamento que vai sendo elevado tanto quantitativamente quanto qualitativamente à medida que o praticante vai recebendo uma nova graduação. Com essa metodologia se pode concluir que quando se atinge a faixa preta e graus superiores, os praticantes já adquiriram um conhecimento globalizado e específico o que vem confirmar que o taekwondo é uma arte que enfatiza técnicas de defesa pessoal de forma bem ampla.

    Observa-se que na obra há um pequeno capítulo com o título: "Regulamento de Competição de Taekwondo". Muito embora a edição seja de 1988, fica explícito que a competição já faz parte do conteúdo de ensino aprendizagem do taekwondo e as regras já fazem parte obrigatoriamente do contexto:

[...] As lutas consistem num confronto de habilidade e destreza entre dois oponentes, através do desenvolvimento de golpes e situações aplicadas com os pés e as mãos (chutes e socos), técnicas estas que se aplicarão e desenvolverão dentro das limitações desportivas que proíbem seja posta em perigo a integridade física dos contenedores [...] p.332

    Comparando os ensinamentos técnicos de defesa pessoal com o trecho acima podemos verificar claramente que ocorre restrição de técnicas do taekwondo só sendo utilizadas aquelas permitidas pelo regulamento.

    Brancht (1997, p.10,apud Rios 2005) comenta em seu artigo que particularmente, no processo de "esportivização" do taekwondo, alguns professores apesar de tentarem seguir a filosofia das artes marciais, sofrem a influência do esporte e voltam seu treinamento para as competições, rendimento físico, Record, racionalização e cientificidade do treinamento.

    Rios (2005) enfatiza ainda a questão da esportivização, determinando seu início no taekwondo, e diferenciando a qualidade técnica dos praticantes:

[...] A esportivização do taekwondo se iniciou na década de 1960, mas este continuou mantendo muito dos elementos que o caracterizava como arte marcial. Na década de 70 com a criação da WTF e exigência por parte desta para que todos os filiados deveriam praticar o novo estilo Kukiwon, é que percebemos uma mudança considerável na forma que era ensinado o taekwondo. O praticante de arte marcial desenvolvia técnicas que, se numa situação real de luta precisasse usá-las, derrubaria o oponente em poucos segundos. Para a apropriação dessas técnicas era preciso um longo tempo, tempo que não era mais disponível, já que o novo estilo reserva este para o treinamento de técnicas permitidas nas competições [...]

    A faixa amarrada na cintura do praticante é o símbolo de uma graduação e de um tempo de treinamento. Assim, quando o praticante ingressa em uma academia ele recebe a faixa branca como indicativo do seu início como praticante. Esta faixa branca tem uma denominação de 10º gub. Com seu aprendizado e tempo de treinamento, o atleta é submetido aos exames de faixa, que são periódicos. A faixa branca ponta amarela ou 9ºgub é o segundo estágio; amarela ou 8ºgub; laranja ou 7ºgub; verde ou 6ºgub; verde ponta azul ou 5ºgub; azul ou 4ºgub; azul ponta vermelha ou 3º gub; vermelha ou 2º gub, e vermelha ponta preta ou 1º gub . A partir daí, então o praticante, seguirá para a faixa preta ou 1º dan e assim, sucessivamente, atingindo o 2º e 3º. No 4º dan, atinge a primeira graduação de mestre, no 5º dan , a segunda graduação de mestre e no 6ºdan a terceira graduação de mestre. Quanto atinge o 7º dan conquista sua primeira graduação de grão mestre. No 8º dan, a segunda graduação de grão mestre e no 9º dan , a terceira graduação de grão mestre. O 10º dan só concedido ao presidente da WTF. ( LEE et al 1988, p.27).

    Rios (2005) observou que mesmo com a questão de exames de faixa as provas estão sendo mais facilitadas e atribui a questão da "esportivização": "Percebemos que a exigência do exame de faixa preta diminuiu, no sentido da cobrança, eliminando elementos que necessitavam de uma resistência física muito forte, como o quebramento [kyopa]"

    Sob a batuta do esporte o Taekwondo vai seguindo sua evolução histórica neste milênio e, organizado por uma federação mundial com sede em Seoul, Coréia, a WTF vai traçando tendências para o treinamento de suas técnicas e espalhando-as por todo o planeta.

    É importante que se dê ênfase ao esporte e as formas que ele tem assumido tanto no contexto social, educacional e cultural. Tubino (2001, p.21) trata do assunto com muita propriedade e aborda a ação do Estado intervindo em assuntos esportivos como meio de possibilitar o equilíbrio social. Fato este que se verificou também na Coréia.(KIM 1995, P. 12).

    O artigo 12 das regras oficiais de taekwondo divulgadas pela WTF rege que pontos válidos serão aqueles aplicados no meio - seção do tronco coberta pelo protetor e na face, a parte inteira da face que incluem ambas as orelhas que serão considerados caso haja precisão e força nos golpes. Atribui-se um (01) ponto aos golpes aplicados no tronco e dois pontos aqueles aplicados na face, com um ponto adicional caso o árbitro abrir a contagem ou Knock down (art.17).

    Segundo a própria WTF, o propósito das Regras de Competição é administrar todos os assuntos que pertencem a competições de todos os níveis e ser promovido razoavelmente e suavemente, organizada pela entidade assegurando sua aplicabilidade de forma unificada em todo o mundo. (Disponível em http://www.wtf.org/site/rules/competition.htm).

    Utilizamos como coleta de dados a entrevista através de perguntas diretivas em academias situadas no Estado do Rio de Janeiro, instituições de ensino onde ocorrem aulas também de taekwondo e na IV e V etapas do campeonato estadual de 2005 na SUAM onde houve uma maior concentração de professores. Os entrevistados, após assinarem o termo de consentimento, informaram através do questionário como vêm sendo desenvolvidas as suas aulas de taekwondo exclusivamente na questão técnica, não sendo objeto de estudo a preparação física, apenas como complemento às informações obtidas.

    A partir da coleta das informações, serão divididas as respostas em dois grupos: o primeiro, com respostas dadas por faixas pretas com formação há menos de 10 anos e o segundo com formação há dez anos ou mais o que possibilitará realizar uma comparação entre os dois grupos e analisar se há influência do fenômeno esportivo nas academias de um modo geral e se esta influência está determinando a limitação do ensino aprendizagem das variadas técnicas marciais. O referido estudo limita-se a uma pesquisa em academias do Estado do Rio de Janeiro e na IV e V etapa do campeonato estadual de 2005 com professores devidamente registrados na FTKDRJ e CBTKD.


Tratamento de dados

    Para verificação dos termos e assim quantificar a dados apresentados, foi utilizado a estatística descritiva com media e percentil dos resultados obtidos.


Apresentação e discussão dos dados

    A coleta de dados foi realizada atendendo aos objetivos específicos do trabalho monográfico. Assim, foram entrevistados dois grupos de professores. O primeiro grupo sendo formado por faixas pretas que obtiveram graduação há menos de dez anos e o segundo grupo formado por faixas pretas que obtiveram graduação há dez anos ou mais. No total foram entrevistados 35 faixas pretas que atualmente estão ministrando aulas de taekwondo sendo 18 pertencentes ao primeiro grupo e 17 pertencentes ao segundo grupo. Para a realização da referida entrevista, foi confeccionado um questionário com 17 perguntas iguais aos dois grupos, sendo 3 diretivas e 14 não diretivas. A seguir segue a exposição dos resultados obtidos.


Gênero

    No primeiro grupo, ou seja, 18 faixas pretas que obtiveram graduação em tempo inferior a 10 anos, 17 são do gênero masculino e apenas uma entrevistada pertence ao gênero feminino, isto representa em termos percentuais 94.44% contra 5.8% de mulheres.

    No segundo grupo, com faixas pretas formados há mais de 10 anos, foram entrevistados 17 profissionais, sendo que 16 eram homens e apenas uma mulher assim como aconteceu no primeiro grupo.

    "O taekwondo foi uma das lutas mais bem aceitas dentre as artes marciais pelo gênero feminino" (KIM, 1995 p. 151). Analisando e comparando os gráficos pode-se concluir que, apesar de hoje em dia existirem várias atletas do gênero feminino, as mesmas, em sua maioria, quando atingem o mercado de trabalho, não prosseguem suas carreiras como professoras. Este fato pode ser constatado nos dois grupos estudados mostrando que o mercado de trabalho nesse setor apresenta há muito tempo uma soberania entre os homens.

    ABRAMO (2004) identifica que na América Latina houve um crescimento significativo da força feminina no mercado de trabalho em que há um nivelamento educacional entre as mulheres e os homens, entretanto, entende que, para algumas ocupações, ainda existam alguns persistentes obstáculos.


Faixa etária

    A faixa etária também foi um fator de avaliação e ficou claro que o primeiro grupo apresentou uma idade bem menor do que o segundo grupo. Isso pode ser explicado tão somente pelo fato do primeiro grupo ser formado por faixas pretas com formação profissional mais recente, ha menos de 10 anos, logo, mais jovem, muito embora se possa analisar que ainda existe integrantes deste grupo com idade superior a 36 anos. Assim, temos um gráfico comparativo:

    Observamos no gráfico acima em que se demonstram faixas pretas formados há mais de dez anos que existe uma predominância nos profissionais com idades acima de 36 anos, isto é, o gráfico de um modo geral é inverso quando comparamos com o outro grupo. Neste grupo encontramos em menor número alguns integrantes com idades jovens.


Escolaridade

    A questão da escolaridade é de importante avaliação e o gráfico pode esclarecer algumas tendências.

    Observamos do lado esquerdo do gráfico o primeiro grupo em que constam os entrevistados faixas pretas formados há menos de dez anos. Demonstra-se que os entrevistados apresentam um índice mais elevado no que se refere ao ensino médio, 44.44%, 33.33% encontram-se cursando o ensino superior em sua totalidade o curso de Educação Física que declinado na entrevista.

    Partindo para a análise do outro lado, isto é, do grupo com mais de dez anos de formação, identificamos um maior índice de escolaridade no que se refere ao curso superior com 17.64% e, ainda, um entrevistado (5.88%) com curso de pós-graduação em treinamento desportivo. Os que ainda estão cursando a universidade revelaram estarem cursando o curso de Educação Física em sua totalidade.

    Pode-se observar que está existindo uma preocupação de ambos os grupos comparados em obterem um curso de graduação em Educação Física. Dos 35 entrevistados 16 ou já se formou ou está em formação em Educação Física o que representa 45,71% do total dos entrevistados.

    Justifica-se essa busca pelo curso de Educação Física em razão do Regulamento Geral de Exame de Faixa da CBTKD de 15 de agosto de 2005 que, em seu artigo 8º e 12º determina, respectivamente, que os níveis "A", que são os faixas pretas de graduação 4º a 6º dan e "B", do 1º ao 3º dan , necessitam apresentar uma série de documentos para a realização dos exames de faixa, dentre eles o registro no CREF. (Disponível em www.bang.com.br).

    O curso de Educação Física já é uma realidade na modalidade. No site da Confederação Brasileira de Taekwondo o Conselho Federal de Educação Física já compõe a lista de links o que demonstra uma preocupação com relação à entidade e seus atletas e professores filiados. (Disponível em http://www.cbtkd.com.br/links.php).


Graduação de faixa preta

    Como já visto a graduação de taekwondo é traduzida em "gubs" quando o atleta ainda não possui a graduação de faixa preta e em "dans" quando atinge a sua primeira graduação de faixa preta. Portanto, para que possa ser considerado faixa preta o praticante deve ter passado por todos os "gubs", isto é, do 10º ao 1º gub (LEE, et al 1988 p.27)

    De acordo com a coleta dos dados, se percebe que no grupo inferior a dez anos existe uma predominância no 1º dan o que é natural tendo em vista que representa ainda um grupo jovem. Entretanto, isso não quer dizer que quando atingirem um tempo maior de treinamento tenham condições de se graduarem para os dans superiores, pois, existe a questão financeira também que é um fator de exclusão.

    Segundo a Federação de Taekwondo do Rio de Janeiro os valores para exame de faixa são o seguinte:

    Assim, pode-se observar que os valores para os exames de promoção de faixa para dans superiores atingem cifras significativas comparando com o poder aquisitivo do povo brasileiro. Segundo o DIEESE, em outubro de 2005 o salário mínimo oferecido pelo governo federal foi de R$300,00, entretanto, segundo a mesma entidade o salário que seria necessário é bem mais elevado, ou seja, R$1.468,24 (Em: http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminnov05.xml).

    Sendo assim, constata-se que o acesso a dans superiores é restrito aqueles que têm mais condições financeiras.(http://wwww.ftkderj.kit.net/eventos/examefaixa.htm).

    Quando se observa os dados do outro grupo, encontra-se uma melhor distribuição entre a graduação. Nota-se que ainda há uma prevalência com relação ao 1ºdan. Neste grupo encontramos os Mestres que são aqueles com graduação de 4º e 5º dans. São os profissionais com mais de 20 anos de taekwondo considerados com conhecimentos mais específicos e mais aprofundados da arte.


Número de participações em competições

    Os números de participações em competições demonstra que ambos os grupos participam de forma significativa. Entretanto, o grupo com mais de dez anos tem uma participação mais intensa. Basta observar que a grande maioria, isto é, 14 entrevistados, inscrevem seus alunos de 4 a 6 e de 10 a 12 competições anuais. Já no grupo de menos de 10 anos a predominância se dá na faixa de 4 a 6 e 7 a 9 competições anuais.


Preferência quanto a luta (kiuriguy) ou seqüência (poon set)

    Podemos observar que a preferência dos praticantes é a luta. O gráfico representa bem a preferência dos entrevistados:

    A justificativa reuniu algumas respostas. Tanto no grupo com menos de dez anos de atividade profissional quanto ao outro grupo com dez anos ou mais, observa-se que a justificativa dada em preferência foi que a razão da maior participação em lutas deve-se ao fato dos alunos preferirem, isto, é, 48.57% do total dos entrevistados. É importante também saber se é realmente uma preferência dos alunos ou o próprio professor que tem a visão de direcionar seu treinamento exclusivamente para a luta, não motivando os mesmos para o segmento das seqüências de mãos, outro segmento do taekwondo.

    Quando um aluno procura uma arte marcial ele desconhece que existem vários outros segmentos e cabe ao professor demonstrar seu universo para que o praticante que inicia tenha um conteúdo para tirar suas conclusões e optar.

    KIM (1995 p.14-94) descreve a importância do taekwondo para a formação do cidadão como um todo, inclusive ensina todos os passos básicos para o praticante iniciante desde a entrada na academia com saudações iniciais, como vestir o dobok (roupa de treinamento) até noções de anatomia e pontos vitais. Considera importante no processo de ensino aprendizagem todo o conteúdo da arte mostrando, inclusive, partes do corpo que podem ser tecnicamente utilizadas e sua real aplicabilidade. Não menciona regras neste capítulo, muito pelo contrário, afirma que no Taekwondo, "o aproveitamento do corpo não é dirigido a apenas algumas partes, mas sim a todo o corpo". (KIM, 1995 p.40).

    Utilizando-se da mesma linha de KIM (1995), Lee (et al 1988 ) preocupa-se também com a questão da utilização de armas ou outros objetos que auxiliam na questão da defesa pessoal, técnicas de relaxamento zen - zwa - seon (meditação), além, do conhecimento de primeiros socorros (LEE et al 1988, p. 163-167 e p.277-328).

    Assim, apesar de recomendado pela literatura o conhecimento, treinamento e ensinamento de técnicas diversas, alguns professores preferem ignorar o conteúdo do taekwondo limitando-o tão somente às técnicas mais usuais de competição e alegando que esse direcionamento é em função da preferência dos alunos.

    Alguns professores ainda preferiram responder que por uma questão particular (visão do próprio professor) preferem mais as lutas e assim procuram direcionar mais seus treinos para esse segmento, representando 31.42% do total dos entrevistados.

    Outro grupo respondeu que por serem ou terem sido competidores preferem, então, dar esse direcionamento em suas aulas que representa 14.28%. Assim, se uma resposta se associar a outra obteremos 94.27% dos entrevistados que justificam o ingresso em competições de luta pela própria competição.

    O regulamento da competição de Poon set (seqüências) foi criado em 23 de setembro de 2003, teve sua revisão em 12 de abril de 2005 e será efetivada em 13 de abril de 2006. Tudo sendo preparado para o campeonato mundial que acontecerá em breve e organizado pela WTF. (Disponível em http://www.bang.com.br/).

    Entretanto, na indagação realizada sobre o porquê da existência da divisão entre lutas (kiuriguy) e seqüências (poon set), uma parte significativa, ou seja, 45.71% do total dos entrevistados, respondeu que a divisão existe para atender às pessoas que não gostam de lutar.

    É importante registrar que o poon set faz parte da arte marcial propriamente dita (KIM, 1995 p.94 -149) e está também no contexto esportivo. Cada Poon Set tem seu significado e tem sua raiz histórica por cerca de 5000 anos de civilização coreana. Desenvolve movimentos em diagramas e visa buscar melhor qualidade física como equilíbrio, velocidade força, além de respiração e postura.(KIM, 1995 p.94). Apesar de todas as qualidades, ainda assim é vista de forma desprestigiada por aqueles que se dedicam às técnicas de luta corporal. Ficou evidenciado que o praticante de takwondo que compete com a luta corporal goza de um maior "status" entre os praticantes de um modo geral.

    Este pensamento não se relaciona com outros entrevistados que preferiram dizer que a preservação da arte marcial é o principal motivo da divisão.

    Dos trinta e cinco entrevistados, 48.57%, afirmaram que a preservação da arte marcial é de suma importância e não evidenciaram qualquer discriminação.

    Tanto no grupo formado por faixas pretas com formação profissional há menos de dez anos quanto ao outro grupo, com dez anos ou mais responderam de forma semelhante, não havendo desequilíbrios significativos quanto a tendências nos dois grupos pesquisados. Com isso pode-se perceber que, apesar do tempo de formação profissional e graduação, existe certa igualdade nas respostas.


Prioridade no treinamento

    Em média cada professor de taekwondo ministra aulas três vezes por semana e a indagação sobre a prioridade nos treinos foi enfatizada.

    No grupo composto por faixas pretas com menos de dez anos de atividade profissional, uma maioria de 88.88% preferiram responder que treinamento para competição de luta é prioridade em suas aulas e que treinam pouca arte marcial apenas na ocasião de exame para promoção de faixa (Regulamento Nacional para Exame de Faixa, CBTKD, Disponível em http://www.bang.com.br/).

    Apenas 11.11% disseram que realizam em seus treinos em ambas as modalidades, isto é, arte marcial e competição. No outro grupo, 8 dos 17 entrevistados preferiram responder que dedicam prioritariamente nas suas aulas as técnicas tanto marciais quanto às técnicas de competição, 6 entrevistados disseram que priorizam ao treinamento de competição e somente 3 priorizam as técnicas marciais.

    Comparando este gráfico com o gráfico de nº de competições que participam durante o ano com o gráfico da opção de treinamento, observa-se que eles apresentam um dado interessante que não aparece e que requer interpretação.

    No gráfico em que se destina ao número de competições, tivemos que no grupo de mais de 10 anos, houve uma maciça participação anual em competições e, segundo as respostas dadas, a opção da competição foi quase sempre a luta. Porém, neste gráfico de prioridade de treinamento, o mesmo grupo não enfatizou o treinamento de competição de luta e afirmou que também realiza treinamentos marciais em suas aulas.

    Explica-se esta constatação devido ao fato deste grupo realizar aulas em separado para aqueles atletas que se dedicam às competições utilizando as aulas semanais para atender ao público mais heterogêneo. Isso ficou claro no gráfico destinado à justificativa da pergunta em que os entrevistados (52.94%) responderam que priorizam também a arte marcial por considerá-la importante para o praticante. Entretanto, 47.05% consideraram que o fato da prioridade no treinamento de técnicas de competição é devido ao calendário bem como a questão motivacional.

    Já no segundo grupo formado por profissionais formados há menos de dez anos, 94.44% preferiram responder que calendário bem como a questão motivacional são fatores que determinam à prioridade do treinamento. Este gráfico demonstra bem a prioridade deste grupo o que vêm a justificar também as respostas anteriores que, sem dúvida mostraram a direção dada por este grupo às aulas de taekwondo.


    Brancht (1997, p.10,apud Rios 2005) explica que apesar dos professores de taekwondo tentarem seguir uma tendência marcial, sofrem influência do processo esportivo e também segundo Proni (1993, apud MARTA, 2004) ) para atender a demanda do mercado, voltam seu trabalho para o ensinamento de técnicas competitivas. RIOS (2004) enfatiza, entretanto, que tais ensinamentos levam o aluno a perderem certas qualidades físicas como a força do golpe em derrubar o oponente, treinamento este que demanda certo tempo de treino.Nos dias atuais, em função de uma diretriz competitiva, técnicas marciais de força foram suprimidas pelas técnicas de cunho competitivo, isto é, mais velozes.


Treinamento de chutes rosto ou em função da regra

    Na entrevista sobre a questão do treinamento dos chutes no rosto em competições que não são mais permitidas em algumas categorias, o grupo composto por profissionais mais jovens foi enfático em assinalar que o treinamento realizado é em função da regra. Técnicas de chutes rosto só são treinadas em categorias mais avançadas sendo que as categorias inferiores têm uma limitação em seu treinamento em função da regra.

    Por outro lado, no outro grupo, as respostas são inversas. A maioria realiza treinamento com chutes no rosto, porém, esclarecem aos seus alunos que tais chutes não são permitidos nas respectivas categorias.

    Apesar de demonstrar que no segundo o treinamento de chutes rosto ainda é uma prioridade, já existem faixas pretas experientes que já estão encaminhando seu treinamento exclusivamente de acordo com a regra.

    Fazendo uma junção entre os dois grupos, temos que dos 35 entrevistados, o treinamento de acordo com a regra se equivale a 48.57% e o treino destinado mais livremente com chutes no rosto, 51.42%.


Conclusão

    O taekwondo, arte marcial genuinamente coreana, atravessou milênios da história, cruzou fronteiras e se espalhou pelos povos de todo o mundo. Hoje, com 179 países filiados a uma entidade internacional chamada de WTF (World Taekwondo Federation), o taekwondo vem plantando sementes de uma cultura oriental milenar levando ao conhecimento dos praticantes a sua filosofia marcial.

    A exemplo do que ocorreu no passado quando Silla conseguiu unificar todo o território coreano através de um grupo de cavaleiros determinados que possuíam um código de honra como motivação para suas ações, o Taekwondo da atualidade demonstra que pode também unificar politicamente todo um país dividido entre norte e sul. Assim, demonstra a história uma coerência na filosofia desta arte marcial que sempre exerceu uma forte influência sobre o povo coreano desde os primórdios de sua origem.

    A arte marcial taekwondo difere da arte competitiva marcial taekwondo. Apesar de não deixar de ser marcial em razão do aproveitamento de técnicas marciais, o taekwondo competitivo apresenta-se de uma forma modificada em razão da subjugação às regras rígidas a que se submete. Essas modificações de ordem técnica possibilitaram a inclusão mais maciça do taekwondo na sociedade de uma forma geral atendendo a um público mais jovem e, sem dúvida, determinou também uma nova ordem, diferentemente daquela seguida no passado em que o taekwondo só poderia ser utilizado no caso da defesa propriamente dita de povos oprimidos. Entretanto, é importante enfatizar que os princípios que fundamentam a arte continuam até os dias de hoje enraizadas no âmago de todos os praticantes que nada mais são do que o espírito do taekwondo: cortesia (educação e respeito), integridade (honestidade e justiça), perseverança (Nunca desistir de nenhum objetivo), domínio sobre si mesmo (lutar contra os desejos do corpo) e espírito indomável (Nunca se entregar perante o inimigo) (KIM, 1995 p.14).

    Com cerca de mais de 2000 técnicas existentes essa maravilhosa arte marcial apresenta-se nos dias de hoje de forma resumida. Perde-se muito de sua "marcialidade" em função das imposições das regras de competição que, em um futuro breve, será determinante para o desaparecimento dessas técnicas já fragmentadas.

    Assim, cabe uma atenção maior a este aspecto na tentativa de desacelerar, a princípio, este processo de esquecimento das demais técnicas marciais o que, caso contrário, determinará a total extinção da possibilidade do processo de ensino aprendizagem das inúmeras e enriquecedoras técnicas que representam à cultura e história de um povo na expressão corporal dos indivíduos. O presente estudo poderá ser ponto de partida para que a pesquisa se amplie com amostras reservadas também para outros estados do Brasil o que poderá trazer evidências comparativas mais abrangentes sobre o processo, como forma de avaliar as tendências do treinamento. Estendendo o tema, também aos meios de correlação da mesma influência esportiva entre outras artes marciais.


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