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Impactos ambientais positivos são possíveis nos
esportes praticados em ambientes naturais?

   
*Mestranda em Psicologia Social (UERJ),
Graduada em Educação Física (UERJ).
**Doutorando em Psicologia Social (UERJ),
Mestre em Ciência da Motricidade Humana (UCB/RJ),
Prof. Assistente da Universidade Veiga de Almeida.
(Brasil)
 
 
Kalyla Maroun*
kalylamaroun@yahoo.com.br  
Valdo Vieira**
valdovieira@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Este estudo procurou identificar os possíveis impactos ambientais positivos ocasionados pela prática esportiva em meio natural. O que motivou o desenvolvimento deste trabalho foram as várias alusões encontradas nos meios de comunicação sobre os danos ocasionados aos fatores e referências ambientais pelas atividades esportivas. Para a consecução do objetivo utilizou-se uma amostra intencional com atletas de diversas modalidades de Esportes da Natureza e profissionais de educação física. Os resultados mostram que os principais benefícios citados ocorrem no meio antrópico, podendo favorecer, por conseqüência, os meios bióticos e abióticos.
    Unitermos: Impactos ambientais. Esporte. Natureza.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 108 - Mayo de 2007

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Introdução

    Verifica-se nos últimos anos uma mobilização mundial em prol das causas ambientais. É notório que a sociedade mundial vem debatendo e buscando alternativas para a preservação do planeta. Há uma comunhão de esforços entre as nações, ou pelo menos de intenções, objetivando viabilizar a adoção do propagado desenvolvimento sustentável. Um dos núcleos das discussões que se estabelece é o que se refere aos processos de degradação do meio natural. Não se concebe mais a intervenção humana com a natureza sem o devido planejamento, sem a adoção de medidas que minimizem ou eliminem possíveis impactos ambientais negativos. Na atualidade é fundamental que todos os setores da sociedade desenvolvam e disseminem conhecimentos e formem cidadãos com novas atitudes e valores em relação ao meio ambiente.

    Divulgou-se na década de 80 que o buraco na camada de ozônio da atmosfera e o efeito estufa iriam por fim a vida humana na Terra. O anúncio dessa catástrofe que estava por vir mobilizou a sociedade mundial, o que resultou no surgimento e fortalecimento de diversas entidades e organizações ambientais. A relevância desta temática é explicitada ao se verificar uma infinidade de reuniões, fóruns, congressos, convenções e conferências que ocorreram a partir deste período, em níveis locais, regionais, nacionais e internacionais, culminando em diversos acordos, tratados, cartas, declarações, protocolos, normas, resoluções e planos. Entretanto a implantação das mudanças que poderiam reverter o quadro caótico em que a Humanidade se encontra está em ritmo aquém do desejado, pois as questões econômicas ainda prevalecem nos diversos fóruns de discussão sobre o futuro do planeta.


Esporte e natureza

    O esporte se relaciona com a natureza principalmente através do movimento esportivo denominado Esportes da Natureza. Essas atividades esportivas são caracterizadas pela interação de seus praticantes com o ambiente natural, ou seja, são praticados em espaços naturais - na terra, água e/ou ar. Se por um lado pode-se lançar um olhar positivo em relação a esta interação do homem com a natureza através da prática esportiva, por outro este processo merece atenção, pois o crescente surgimento de modalidades esportivas que utilizam o meio natural para a sua prática, associado ao aumento do número de praticantes, resulta em uma exploração maior dos fatores ambientais envolvidos no desenvolvimento dessas atividades. Isso exige que todos os envolvidos nos eventos esportivos, sejam esportistas, organizadores, público e mídia, tenham a compreensão de sua responsabilidade frente às questões ambientais.

    Tubino (1992) chama a atenção para a preocupação dos ambientalistas com a possibilidade de exaustão dos ambientes onde são praticados esses esportes. Em inúmeros trabalhos científicos (dissertações e teses), páginas na internet e reportagens em revistas especializadas, encontra-se menções sobre os danos ocasionados pelo esporte ao meio natural. O que parece nesses casos é que a divulgação - exagerada ou não - sobre as possíveis degradações dos ambientes onde esses esportes são praticados, através dos diversos meios de locução, poderá levar a uma idéia de contraposição entre os impactos negativos relacionados à essas práticas esportivas e os ideais da sociedade contemporânea relativos a proteção e preservação das áreas naturais. O que é um alerta, pois se hoje o esporte é visto positivamente pela sociedade pelos benefícios advindos de sua prática, esse conceito poderá ser modificado a partir do momento que associarem o esporte a um dos responsáveis pela degradação de áreas naturais.


Críticas aos Esportes da Natureza

    Em relação especificamente aos danos ambientais poderíamos citar Jesus (1999). Ele menciona que a expansão das atividades esportivas em áreas naturais praticamente intocadas tende a causar impactos significativos acrescentando que essas atividades são de difícil controle e planejamento e, por conseqüência, potencialmente danosos à natureza e à sociedade. Marinho (2001) acrescenta que as atividades esportivas realizadas em ambientes naturais proporcionam uma visão reduzida da natureza e, neste caso, a proteção ambiental parece ser irrelevante. Costa (1998) afirma que, embora divulguem que as práticas junto à natureza são preservacionistas, ainda sim há o risco de haver um desequilíbrio nos ecossistemas devido à construção de infra-estruturas de apoio à sua realização.

    Rosado (apud Krebs, 2002) cita alguns dos impactos ambientais negativos do golfe. Entre eles se encontram os impactos na qualidade do ar em virtude da poluição provocada pelos veículos dos esportes motorizados e a destruição da flora e da fauna locais ocasionados pelo uso intenso de fertilizantes para manter as condições propícias para a realização da atividade esportiva e Os cuidado com os danos que os esportes da natureza podem ocasionar não se limitam a prática em si. Numa visão mais abrangente poderíamos citar os elos que permitem e auxiliam a realização da prática esportiva como as indústrias de calçados, roupas, insumos e equipamentos. Nestes casos essas atividades são reguladas por lei, necessitando de estudos ambientais para o seu funcionamento, o que não acontece com a prática esportiva em si - possivelmente pelo fato do legislador não considerar que possam ocorrer significativos danos ao meio ambiente.

    Para ilustrar - e facilitar a pesquisa dos interessados nesta temática - podemos constatar as afirmativas acima sobre os impactos ambientais negativos na natureza ocasionados pelo esporte nos endereços virtuais listados abaixo. É importante explicitar que não fizemos uma análise do conteúdo das páginas eletrônicas abaixo já que o único intento é mostrar que alguns setores da sociedade estão expondo a sua preocupação com os impactos ambientais negativos ocasionados pela prática esportiva na natureza.

  1. Revista Sociedade e Natureza - Menção: Esportes aquáticos ocasionando poluição hídrica.

  2. Publicação Agir Azul (Associação Ambientalista Pangea) - Menção: Os impactos ambientais do jet-ski na Ilha dos Lobos, em Torres, RS.

  3. Scripta Nova (Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales) - Menção: Práticas esportivas realizadas em áreas de natureza praticamente intocada tendendo a causar impactos significativos.

  4. Webventure:
    A. Menção: Impactos causados pela prática do biking.
    B. Menção: Brotas e São Luís estudam impactos do rafting.

  5. Roteiro Brasil (Jornal de Turismo) - Menção: Impacto ambiental que envolvem os esportes de aventura preocupam órgãos oficiais, Organizações Não Governamentais e empresas.


Conscientização

    Evidencia-se em alguns segmentos do esporte como entidades, organizadores de eventos esportivos e praticantes de esportes da natureza a preocupação com a preservação ambiental. No entanto, o desconhecimento sobre as conseqüências da interferência da prática esportiva na natureza impede a efetivação de medidas de minimização de impactos ambientais negativos. Pode-se atribuir a isso o despreparo e amadorismo dos organizadores, a falta de infra-estrutura no local em que se realizam as atividades, a utilização de mão-de-obra sem conhecimento técnico e a utilização de equipamentos inadequados. O acirramento de uma disputa esportiva pode também deixar em segundo plano o 'respeito' ao meio ambiente.

    Entre as diversas ações adotadas pelos envolvidos na prática esportiva em prol do meio ambiente pode-se destacar os exemplos de um evento de surf e outro de skate. Pupo (2002) relata que na etapa do Circuito Mundial de Surf, segunda divisão, realizado na praia da Joaquina, Santa Catarina, foram previstas algumas ações ambientais, tais como: planejamento da montagem da estrutura do campeonato de forma que não ocasionasse impactos ambientais na restinga; a instalação de sanitários ecologicamente corretos; lixeiras para a coleta seletiva; divulgação de mensagens educativas pela locução do evento; estudos sobre o ecossistema local.

    As organizações ecológicas também se preocupam com as práticas esportivas que envolvam elementos naturais.

Entre as novidades na estrutura do local do festival, está a construção [...] de uma rampa de skate (vertical) feitas com madeira certificada pelo Conselho de Manejo Florestal, uma garantia de que a madeira foi extraída da floresta de maneira legal e sustentável. A rampa para a prática de skate vertical, modalidade que tem atletas brasileiros nas primeiras colocações do ranking internacional, será a primeira pista de skate ecologicamente correta do mundo, criando um modelo que pode ser repetido em outros países (GREENPEACE, 2003).


Impactos ambientais

    Moreira (2002) comenta que ainda não há consenso sobre a definição e o conceito de impacto ambiental. Entretanto, baseado na literatura pesquisada, pode-se definir resumidamente impacto ambiental como a modificação ou alteração das propriedades do meio ambiente que não possam ser absorvidas pelo mesmo sem causar alteração do equilíbrio do ecossistema. Os impactos ambientais podem afetar os componentes bióticos (componentes vivos do meio ambiente, como a fauna e a flora), abióticos (elementos não vivos, como a água, a atmosfera e o solo) e antrópicos (compreende os fatores sociais, econômicos e culturais da sociedade humana), podendo ser classificados quantitativa e/ou qualitativamente segundo alguns critérios, como em relação ao tempo da ocorrência, à duração e à significância,

    A exposição acima deixa claro a complexidade da identificação de impactos ambientais. Rohde (2002) menciona que, segundo os dados da National Environmental Policy Act, os gastos com um Relatório de Impactos Ambientais nos Estados Unidos equivalem, em média, a 19% do valor total de um empreendimento. Pelo fato da realização das atividades esportivas na natureza não exigirem um estudo de impactos ambientais, conclui-se que muito do que é divulgado pode ser pura especulação. Neste sentido Vieira (2004) apresenta um instrumento de identificação de impactos ambientais em práticas esportivas na natureza (IMPAC-AMBES) de rápido preenchimento e sem custo que pode vir a suprir a carência nesta área. Os poucos trabalhos encontrados parecem ser incipientes, pois geralmente identificam somente danos nos ambientes onde se desenvolve a atividade em si. Sendo assim, um esporte aéreo, por exemplo, pode agravar não só o "ar". A prática da Asa Delta, um esporte "aéreo" pode ocasionar - entre outras possibilidades - a compactação e erosão do solo onde são feitos os pousos e decolagens (ambiente terrestre).

    Embora estejam em evidência as degradações ocasionadas pela prática esportiva ao ambiente natural é fundamental salientar que esses danos são potenciais, isto é, podem ou não ocorrer. Neste trabalho se pretende mostrar a outra face: os benefícios que a interação do esporte com o meio ambiente pode proporcionar ao meio natural e a importância da disseminação dessa vertente.


Metodologia

    Neste trabalho procuramos identificar quais são os possíveis impactos ambientais positivos ocasionados pela prática esportiva na natureza. Para isso, utilizando uma amostra intencional composta por 20 pessoas, entre renomados praticantes de atividades esportivas na natureza (balonismo, escalada, mergulho, montanhismo, mountain bike, rafting e surf) e profissionais de educação física, foi pedido que listassem 5 impactos ambientais positivos ocasionados pela prática esportiva na natureza.


Resultados

    Após coletar, analisar e compilar as informações, unificando e uniformizando a redação das indicações semelhantes, foram as seguintes as indicações feitas pelos colaboradores:

  • A presença dos esportistas inibe a ação predatória de caçadores e pescadores;

  • A abertura de novas trilhas de forma sustentada propicia novos atrativos para a prática de esportes;

  • Amplia-se a compreensão da relação Homem x Natureza;

  • Altera-se positivamente o comportamento daqueles que não são praticantes dos esportes de natureza mas que passam a conhecer esta prática;

  • Prolifera-se a conscientização da necessidade de preservar os recursos naturais;

  • Prolifera-se a conscientização da necessidade de preservar o patrimônio histórico;

  • Evita o consumo de drogas;

  • Formação da cidadania ambiental;

  • Gera-se empregos na comunidade;

  • Gera-se rendas na comunidade;

  • Aumenta-se a conscientização ambiental;

  • Aumenta-se o respeito pelos animais;

  • Melhoria na infra-estrutura do local onde há a prática esportiva;

  • Surge novas alternativas de emprego na área de esportes;

  • Possibilidade dos praticantes alertarem sobre a degradação ambiental no local onde há a prática esportiva;

  • Possibilidade de auxílio o estudo do Meio Ambiente ao permitir que se alcance lugares de difícil acesso;

  • Possibilidade do desenvolvimento sustentável da região onde há a prática esportiva;

  • Possibilidade de criação de novas áreas de proteção ambiental;

  • Restauram-se áreas em processo de degradação ambiental;

  • Visão de totalidade e interdisciplinaridade das questões ambientais.

    Faz-se mister salientar que não foi julgada a validade da respostas obtidas. Estas foram apenas elencadas conforme as informações recebidas dos colaboradores. Dos impactos ambientais positivos mencionados percebe-se que estes, em sua maioria, referem-se ao meio antrópico, isto é, benefícios no meio sócio-econômico e cultural que fazem referência ao próprio Homem, podendo ter como conseqüência, ou não, uma melhoria nos fatores bióticos e abióticos.


Conclusão

    Hoje muitas práticas esportivas deixam de ser realizadas em espaços naturais, sobretudo os públicos, visto que, nestes espaços, os responsáveis por sua administração não possuem conhecimento de quais impactos ambientais tais atividades podem ocasionar o que, possivelmente, ocorre também com os demais envolvidos com a prática esportiva.

    É fundamental que se saiba que a prática esportiva tem vieses positivos e negativos em relação ao meio natural e para isso deve ser mostrado a outra vertente, pois até então a visão predominante é que os esportes degradam os ambientes naturais.

    Para que isso seja modificado é essencial que os profissionais de educação física - juntos a profissionais das diversas áreas que interajam com o meio natural - estejam discutindo esta temática. Se por um lado não podemos deixar que atribuam a responsabilidade de danos aos elementos naturais a toda prática esportiva, seria penoso no futuro termos de admitir que estavam certos. Para isso não acontecer é preciso aprofundar essas questões, exigir um planejamento adequado das atividades esportivas realizadas em meio natural, visando a prevenção, minimização ou eliminação das possibilidades de ocorrência de danos ambientais.

    Embora o objetivo deste trabalho tenha sido evidenciar os possíveis impactos ambientais positivos ocasionados pelos esportes da natureza, espera-se que ele sirva na realidade para nutrir um desejo de busca por um mundo melhor, com paz, eqüidade social e preservação da natureza.


Referências

  • COSTA, V. L. de M. As Representações de Aventura e de Espaço Lúdico entre Praticantes de Atividades Físicas e Esportivas de Risco e Aventura na Natureza - Estudo do Núcleo Central. In: Representação Social do Esporte e da Atividade Física - Ensaios Etnográficos. Brasília: INDESP, v.1, p.53-66, 1998.

  • GREENPEACE. Ecosystem versão 2.0 reforça conceito de evento ecologicamente correto. Disponível em: http://www.greenpeace.org.br Acesso em: 19/02/03.

  • JESUS, G. M. de. A Geografia e os Esportes: Uma Pequena Agenda e Amplos Horizontes. Revista Conexões: educação, esporte, lazer. Campinas, v.1, n.2, p. 46-59, jun. 1999.

  • KREBS, Ruy J. Esporte, Meio Ambiente e Qualidade de Vida: Um Entrejogo mediado pela Perspectiva Ecológica. MOREIRA, W. W.; SIMÕES, R. (Orgs.) Esporte como um Fator de Qualidade de Vida. Piracicaba: UNIMEP, 2002.

  • MARINHO, A. Lazer, natureza e aventura: compartilhando emoções e compromissos. Revista Brasileira das Ciências do Esporte. Campinas, v. 22, n. 2, p. 147-153, 2001.

  • MOREIRA, R. Para que o EIA/RIMA quase Vinte Anos Depois? Verdum, R., Medeiros, R.M.V. (Org.). RIMA - Relatório de Impacto Ambiental. Porto Alegre: Editora da Universidade - UFRGS, 2002. p. 11-18.

  • PUPO, F. Campeonatos Ecologicamente Corretos. Revista Hardcore. São Paulo, ano 13, n.157, p. 36, set. 2002.

  • ROHDE, G.M. Estudos de Impacto Ambiental: a Situação Brasileira. Verdum, R., Medeiros, R.M.V. (Org.). RIMA - Relatório de Impacto Ambiental. Porto Alegre: Editora da Universidade - UFRGS, 2002. p. 41- 65

  • TUBINO, M. Uma Visão Paradigmática das Perspectivas do Esporte para o Início do Século XXI. In: MOREIRA, W. W. (Org.). Educação Física & Esportes - Perspectivas para o Século XXI. Campinas: Papirus, 1992. p. 125-139.

  • VIEIRA, Valdo. Desenvolvimento de um Instrumento de Identificação de Impactos Ambientais em Práticas Esportivas na Natureza (IMPAC-AMBES). Dissertação (Mestrado em Ciência da Motricidade Humana) - Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, 2004.

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revista digital · Año 12 · N° 108 | Buenos Aires, Mayo 2007  
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