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Prática e ensino de dança de salão, comportamento
sexual e drogadição: confusões e preconceitos
Practice and teaching of ball dance, sexual behaviour and drugs: confused perceptions and preconceptions

   
Último grau acadêmico: Mestre em Ciências Biológicas, Universidade
Federal do Paraná. Instituição em que trabalha: Secretaria
Municipal da Saúde do Município de Curitiba.
 
 
Maristela Zamoner
mzamoner@sms.curitiba.pr.gov.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     Embora possam influenciar o trabalho docente e a instituição de uma licenciatura em dança de salão, as percepções e preconceitos sobre a atividade nos diversos grupos sociais permanecem desconhecidas. Neste trabalho objetivou-se observar algumas destas questões em um grupo de acadêmicos curitibanos. Verificou-se que: mais da metade afirma não haver conexão entre dança de salão e sexo mas admite que a atividade pode revigorar sexualmente um casamento; muitos entendem que a atividade é compatível com usuários de drogas lícitas; a maioria acha desnecessária a educação formal dos docentes. Os resultados indicam que existem percepções confusas e preconceitos em relação à dança de salão.
    Unitermos: Dança de salão. Percepção. Preconceito. Licenciatura. Comportamento sexual. Drogadição.
 
Abstract
     Although they can influence the teaching work and the institution of a licentiate degree in ball dance, the perceptions and preconceptions on the activity in the diverse social groups remain unknown. In this work it was observed some of these questions in a group of academics from Curitiba. It was verified that: more than the half of them affirms do not have connection between ball dance and sex, but it admits that the activity can improve a marriage sexually better; many understand that the activity is compatible with users of allowed drugs; the majority finds the formal education of the teachers unnecessary. The results indicate some confused perceptions and preconceptions in relation to the ball dance.
    Keywords: Ball dance. Perception. Preconception. Licentiate degree. Sexual behaviour. Drugs.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 107 - Abril de 2007

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Introdução

    Cresce no mercado de ensino e, mais recentemente também no universo acadêmico, a popularidade da dança de salão (ALMEIDA, 2005).

    A instituição de um curso superior de Licenciatura em Dança de Salão vem sendo debatida há alguns anos (ZAMONER, 2005). A formação de docentes vem sendo discutida no âmbito acadêmico, trazendo à tona questões importantes, como o incentivo de jovens, adolescentes e terceira idade a comportamentos sexuais de risco (ZAMONER, 2000; ZAMONER e TEIXEIRA, 2001, TEIXEIRA e ZAMONER, 2002) e lesões corporais em decorrência do ensino e da prática inadequados (BEHR, 2005, ZAMONER, 2005). Nesta direção, a Faculdade Metropolitana de Curitiba - FAMEC, é a única instituição brasileira que mantém um curso de caráter formal na área: especialização em "Dança de Salão - Teoria e Técnica".

    Aspectos importantes para a educação formal dos docentes, como os motivos pelos quais os indivíduos procuram aulas de dança de salão e a forma como o professor é visto, vêm sendo analisados mais recentemente (D´AQUINO et al., 2005). Entretanto, não são encontradas referências detalhadas a respeito das percepções e preconceitos sobre a dança de salão em grupos sociais, fatores que podem influenciar o processo de formalização de um curso superior de licenciatura na área.

    Nota-se empiricamente que há indivíduos que percebem a atividade como: favorecedora da multiplicidade de parceiros afetivos e do uso de drogas; ensinada por professores que atuam com interesses diferentes do ensino e incompatível com uma Licenciatura.

    Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi verificar em um grupo de acadêmicos curitibanos, percepções e preconceitos em relação a dança de salão de maneira isolada e comparada com outras atividades.


Metodologia

    No mês de junho de 2006 foram entrevistados 86 acadêmicos de cursos das áreas de ciências exatas e humanas da cidade de Curitiba, estado do Paraná - Brasil. As entrevistas foram realizadas por meio de formulários, sendo oportunizado um tempo de aproximadamente 15 minutos para responder. As perguntas apresentadas aos entrevistados objetivaram coletar dados sobre suas percepções a respeito da atividade de dança de salão, seus docentes e a necessidade da licenciatura. As respostas foram tabeladas, os dados apresentados graficamente, analisados e discutidos.


Resultados e discussão

O que é dança de salão

    Sobre o que é a dança de salão, verificou-se que 33,73% dos entrevistados considera que é um entretenimento (Graf. I). Moreno (2004) registra que a dança de salão vai muito além da recreação: é arte, opção escolhida por apenas 17,44% dos entrevistados (Gráfico. I).

    Mais da metade, 56,98%, entende que a dança de salão pode ser uma modalidade olímpica, embora esta seja tecnicamente incompatível com a que é praticada como arte (ZAMONER, 2005). Nota-se ainda que, ao definir dança de salão nenhum dos entrevistados a considerou como esporte (Graf. I).


Motivos para procura por aulas de dança de salão

    Por mais que os alunos de dança de salão tenham dificuldade para admitir, é uma atividade procurada intensamente com a finalidade de busca de parceiros afetivos (ZAMONER, 2005). Entretanto, sobre o principal motivo pelo qual as pessoas procuram aulas, verificou-se que 48,83% dos entrevistados sustenta que as aulas são procuradas para o aprendizado, e apenas 10,47% para busca de parceiros afetivos (Grafico II).


Dança de salão e sexo

    A maioria dos entrevistados, 67,44%, considera que casais cujo casamento é sexualmente monótono podem revigorar sua atividade sexual praticando dança de salão. Entretanto, 65,12% afirma que não há relação entre dança de salão e sexo; 68,60%, entende que aulas de dança de salão para crianças e adolescentes não podem estimular precocemente a atividade sexual.

    Estes resultados mostram que a percepção da relação entre dança de salão e sexo é confusa, o que também se verifica na literatura ao comparar idéias de professores notoriamente conhecidos. Maria Antonieta, uma das mais antigas professoras de dança de salão do Brasil, dicotomiza dança de salão e sexo, declarando na Tribuna da Imprensa, em 20 de agosto de 1990 que ao dançar lambada a sensualidade é liberada de maneira natural, sem malícia (DRUMOND, 2004). Para Jesus (2005), professor e ícone da dança de salão brasileira, somos sensíveis a gestos de carinho que ficam adormecidos no dia a dia e são despertados por quem pratica a dança de salão, que tem o poder de fazer estes sentimentos aflorarem. Considera que dançar é sedução.

    Há relatos na literatura sobre o fato de que esta nebulosidade, embora não descrita, tem consequências potencialmente perigosas. A influência deletéria da dança de salão sobre o comportamento sexual de crianças, adolescentes, jovens e idosos conduzidos por profissionais despreparados já foi amplamente descrita (ZAMONER, 2000; ZAMONER e TEIXEIRA, 2001, TEIXEIRA e ZAMONER, 2002; ZAMONER, 2005). Tendo como ilustração a foto de um casal de idosos dançando, a Gazeta do Povo de 1º de maio de 2005, divulgou uma entrevista na qual Maria Helena Vilela, educadora sexual, diretora do Instituto Kaplan, ressalta que são promovidas atividades de dança de salão para terceira idade sem a devida atenção ao estímulo à atividade sexual e consequentemente sem prevenção contra DST/AIDS. Na mesma reportagem, Cristina Pimenta, consultora da Unidade de Prevenção do Programa Nacional de DST/AIDS, afirma que a preocupação com a terceira idade está aumentando devido ao surgimento de muitos casos novos.


Atividade de dança de salão e formação dos docentes

    A maior parte dos entrevistados (62,79%) entende que não deve haver um curso de Licenciatura em Dança de Salão.

    Um dos motivos pode ser o desconhecimento a respeito de consequências das aulas ministradas por profissionais despreparados, por exemplo, as lesões corporais, consideradas por Bher (2005) e Zamoner (2005). Outro motivo pode ser o fato de que a maioria entende que a atividade é um entretenimento, sendo para muitos, propícia ao uso de drogas socialmente aceitas (característco de situações de entretenimento e favorecimento de oportunidades para relacionamentos afetivos - salões de bailes, reuniões dançantes). Esta observação sugere ainda que a principal justificativa apresentada pelos entrevistados para se procurar aulas, o aprendizado, não é autêntica.


Percepção comparativa entre dança de salão e outras atividades - drogadição

    Quanto aos preconceitos em relação à drogadição, verificou-se que 29,08% considera que é mais fácil encontrar usuários de drogas ilegais em praticantes de atividades musicais e 29,07% em atividades esportivas, seguido por teatro e dança de salão, respectivamente com 13,95% e 12,79% (Gráfico III).

    Dentre os entrevistados, 34,88%, considera que as atividades relacionadas à música são mais propícias para encontrar usuários de bebida alcoólica e cigarro, seguido por dança de salão, com 24,43% (Gráfico IV).

    A questão da relação entre dança de salão e álcool já foi discutida por Gonzaga (1996), que afirma que o abuso de bebidas alcoólicas não combina com dança de salão.


Conclusões

    Conclue-se que:

  1. As percepções do grupo analisado sobre o que é a dança de salão, o que se busca em suas aulas e sua relação com sexo, são confusas, o que pode resultar em situações de risco potencial;

  2. Há uma visão preconceituosa por parte de muitos entrevistados ao considerar que é mais provável um praticante de dança de salão ser usuário de drogas lícitas do que um praticante de outras atividades;

  3. A necessidade da educação formal dos docentes não é amplamente percebida, possivelmente porque a seriedade da ação do professor pode estar mascarada por fatos como:

    • A maioria considera a atividade um entretenimento;

    • A maioria deve desconhecer os efeitos deletérios de aulas de dança de salão ministradas por professores despreparados.


  4. Estas concepções e preconceitos verificados neste grupo podem ser dificultadores para o estabelecimento de uma licenciatura na área.


Investigações futuras

    A partir das conclusões, novas investigações podem ser procedidas em direção à identificação dos motivos que justificam as percepções sobre a dança de salão que foram verificadas.

    Este tipo de pesquisa pode ainda ser realizada com grupos diferentes para avaliação tanto da percepção quanto da importância da instituição de um curso superior como sugerido.


Referências bibliográficas

  • BEHR, R. V. Lesões em dança de salão? como prevenir? . In: Anais. I JORNADA CATARINENSE DE DANÇA DE SALÃO, Florianópolis, Sc. 2005.

  • D'AQUINO, R.; GUIMARÃES, A. C. de A.; SIMAS, J. P. N. Dança de Salão: Motivos dos indivíduos que procuram esta atividade. Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 88 - Setiembre de 2005.

  • DRUMMOND, T. Enquanto houver Dança. Biografia de Maria Antonieta Guaycurús de Souza, a grande dama dos Salões. Bom Texto. Rio de Janeiro. 2004.

  • GAZETA DO POVO, 1º de maio. No Brasil, enquanto a contaminação pelo HIV cai entre os jovens, cresce na terceira idade. Aumentam os casos de AIDS entre os idosos. Domingo, p. 19. 2005.

  • GONZAGA, L. Técnicas de Dança de Salão. Sprint. São Paulo. 1996.

  • JESUS, C. Vem Dançar Comigo. Editora Gente. São Paulo. 2005.

  • MORENO, L. Dois na Dança. Conheça a mais completa de todas as Artes. s/ editora. São Paulo. 2004.

  • TEIXEIRA, C. F. e ZAMONER, M. Relato de Experiência de Ensino da Dança de Salão como Estratégia de Educação Sexual. In: Anais. ENCONTRO "PERSPECTIVAS DO ENSINO DE BIOLOGIA", VIII FE/USP, São Paulo. 2002.

  • ZAMONER, M. e TEIXEIRIA, C. F. Contribuição da dança de salão para redução dos índices de gravidez precoce e DST em crianças e adolescentes. In: Anais. III CONGRESSO SUL-AMERICANO DE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE, Ponta Grossa, Paraná. 2001.

  • ZAMONER, M. Educação sexual partindo dos princípios da dança de salão no ensino médio e fundamental. In: Anais. II CONGRESSO SUL-AMERICANO DE ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE, Ponta Grossa, Paraná. 2000.

  • ZAMONER, M. Dança de salão: a caminho da licenciatura. Curitiba, Editora Protexto. 2005.

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