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O uso da bola suíça no tratamento da escoliose.
Um estudo de caso

   
*UDESC/ Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos - CEFID,
Florianópolis - SC.Fisioterapeuta Especialista Latu Sensu em Acupuntura.
**UDESC/ Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos -
CEFID, Florianópolis - SC.
(Brasil)
 
 
Mariana Oliveira Gesser*  
Elisabete Maria Oliveira**  
Kris Marcel Artiero Silva**
marianagesser@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     A coluna vertebral possui curvaturas naturais no plano sagital. Uma curvatura lateral da coluna em um plano frontal é chamada escoliose. O objetivo principal deste estudo é verificar a eficácia do uso da Bola Suíça no tratamento da escoliose. Realizou-se um estudo de caso de apenas um indivíduo portador de escoliose postural, sendo uma pesquisa do tipo descritiva, não-probabilística e intencional. Foram coletados os dados de 20 sessões executadas três vezes por semana, num período de aproximadamente 2 meses. Verificou-se significativa redução de dor analisada numa escala de 0 a 10, redução do ângulo de Cobb na análise radiográfica, assim como aquisição de equilíbrio postural. Portanto, foi observado, realmente, um resultado satisfatório do estudo.
    Unitermos: Fisioterapia. Escoliose. Bola suíça.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 12 - N° 107 - Abril de 2007

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Introdução

    Um dos maiores problemas que assolam os países em desenvolvimento são os Males da Coluna, que contribuem sobremaneira para limitar a "vida ativa" de seus habitantes, tornando-os, na maioria dos casos, precocemente incapacitados para o trabalho, interrompendo assim uma existência produtiva e acarretando ônus social para o Estado. No Brasil, estatísticas demonstram que há uma parcela significativa da população acometida por esse mal (MOMESSO, 1997).

    A escoliose pode ser devido a inúmeras causas, algumas conhecidas e outras não. Parece haver um número igual de abordagens de tratamento. (CARRIÉRE, 1999).

    O presente estudo apresenta a Bola Suíça como uma das abordagens. Os pacientes são desafiados a conseguir simetria quando se exercitam, devido à instabilidade da bola. A coordenação e o equilíbrio são necessários e podem ser treinados juntos com força e mobilidade. Os pacientes relatam uma diminuição na dor e geralmente se sentem motivados fazendo exercícios individualizados para suas necessidades (CARRIÉRE, 1999). O objetivo é avaliar a eficácia do tratamento com Bola Suíça para paciente portador de escoliose, através dos resultados de análise radiográfica (Método de Cobb), análise de dor e análise postural.


Materiais e métodos

    Conforme conceito de Gil (1991), o presente trabalho pode ser considerado como um estudo de caso, que é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, e uma pesquisa descritiva que tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis.

    Pode ser considerada conforme Costa Neto (1999), uma amostra não-probabilística, assim como, intencional onde o amostrador deliberadamente escolhe certos elementos para pertencer à amostra, por julgar tais elementos bem representativos da população.

    Os instrumentos de pesquisa que fizeram parte deste estudo são: Ficha de Avaliação Postural da Clínica de Prevenção e Reabilitação UDESC, com visão ântero-posterior e perfil; Avaliação Radiográfica, sendo analisado o ângulo de Cobb; Avaliação da dor através de Escala Subjetiva de Dor Análoga Visual na qual o paciente indica verbalmente qual valor, entre 0 a 10, representando melhor sua dor ao início e ao fim de cada sessão; Bola Suíça da marca Physio Gyminic, com tamanho de 95 cm, made in Italy; um goniômetro da marca Carci; e, fichas de evoluções diárias.

    O Plano de Tratamento consiste em: auto-alongamento dos músculos eretores da espinha lombares e tecido mole posterior à coluna, segundo Kisner (1998), no qual o paciente em decúbito dorsal com joelhos fletidos e pés apoiados, primeiro puxa um joelho, depois o outro na direção do peito, cruza as mãos ao redor das coxas e puxa-as para o peito,, elevando o sacro da mesa; alongamento de tronco sentado sobre os calcanhares, no qual segundo Kisner (1998), o paciente inclina-se para frente de modo que o abdômen se apoia sobre a parte anterior da coxa, os braços são alongados por cima da cabeça bilateralmente, e as mãos ficam espalmadas no chão; em seguida, inclina o tronco lateralmente; e, o programa de exercícios com a bola suíça, incluindo: "Andando nas mãos", "Ouriço do Mar", "Peixinho", "Swing", "Cowboy", "Balança", "Testa de Ferro", "Faquir", e "Tesoura", para, segundo Carriére (1999), obter simetria e equilíbrio muscular, alongar músculos retraídos e fortalecer os músculos do tronco.

    Para este estudo, um indivíduo do sexo masculino, 24 anos de idade, cor branca, portador de escoliose lombar postural em "C", com ápice em L2, de convexidade à esquerda. Possui frouxidão ligamentar generalizada e alongamento muscular em MMSS e MMII excessivo. Possui encurtamento da musculatura paravertebral no lado côncavo da curvatura que se estende de L2 a L5.

    Realizou-se ao primeiro contato com o paciente uma avaliação subjetiva da dor, na qual o paciente relatou uma queixa álgica lombossacra que sente há aproximadamente 2 anos, exacerbada após o excesso de trabalho a que rotineiramente tem que se submeter.

    À avaliação radiográfica inicial apresentou ângulo de Cobb de 14o , convexidade à esquerda e ausência de rotação de vértebras.

    À avaliação postural inicial, obteve-se os seguintes dados:

    Em Visão Ântero-posterior: inclinação da cabeça para a esquerda; ombro esquerdo e escápula esquerda mais elevados; gibosidade à esquerda; triângulo de Tales esquerdo maior; golpe de machado ausente; crista ilíaca direita mais elevada; nível de prega glútea normal; joelhos, retropé e antepé normais.

    Em Visão de Perfil: posição da cabeça normal; ombros protusos; membros superiores normais; colunas dorsal e lombar normais; equilíbrio sagital da pelve normal; equilíbrio horizontal da pelve apresentando lado direito mais elevado; joelhos e hálux normais.

    Realizou-se mensuração do comprimento real e aparente de membros inferiores, apresentando o paciente a mesma medida bilateralmente.

    O paciente foi submetido ao processo de avaliação ao início e ao fim do estudo, realizou os exercícios propostos com a bola suíça num período de aproximadamente 2 meses, 3 vezes por semana, 45 minutos por dia, na Clínica de Prevenção e Reabilitação CEFID/UDESC. Logo após foram feitas as análises dos resultados, avaliando se houve algum grau de correção da patologia, alguma diminuição da dor e obtenção de maior simetria corporal.


Exercícios com a bola suíça





Resultados

    O paciente relatava dor ao início das sessões, conforme Gráfico 1 e 2, numa escala análoga visual de 0 a 10, onde destacava-se nas primeiras dez sessões o paciente referir valores para o quadro álgico não inferiores a 3 e com uma Moda de valor 4; e, no entanto, nas últimas dez sessões não foram superiores a 4 e com uma Moda de valor 2, mostrando alívio do quadro álgico. Ao final das sessões sempre referiu um valor "0"(zero), isto é, sem dor.



    O ângulo de Cobb foi verificado conforme exames radiográficos, através do goniômetro, após o traçados das linhas, onde o paciente portava uma escoliose lombar em "C" de 14o ao início do tratamento, sendo reduzido para 8o conforme exame posterior ao término do tratamento; ilustrado no Gráfico 3:

    O resultado da análise radiográfica em relação ao ângulo de Cobb pode ser comparado ao estudo realizado por Weiss apud CARRIÉRE (1999), no qual executou o sistema de tratamento de Schroth, baseado no treino cinestésico sensório-motor que usa mecanismos de feedback sensório-motor, bem conhecido na Alemanha, mostrando uma progressão lenta de 6o ou mais em menos de 25% dos 181 pacientes, estabilização em 57% e uma diminuição na curvatura de 6o ou mais em 18%.

    Weiss apud CARRIÉRE (1999), também reavaliou as radiografias de 107 pacientes antes e depois de um tratamento de quatro a seis semanas na Katharina Schroth Clinic e encontrou 5o de melhora em 44% dos casos, junto com uma diminuição significante na dor.

    Através da análise postural realizada ao início e ao final do tratamento, pode-se concluir que o paciente assumiu maiores simetria e percepção corporal devido aos seguintes resultados:

    Em visão ântero-posterior, a cabeça apresentava-se inclinada para esquerda ao início e normal ao final, ombro esquerdo e escápula esquerda mais elevados ao início e normais ao final, crista ilíaca direita mais elevada ao início e normal ao final; nível da prega glútea, joelhos, retropé e antepé encontraram-se normais tanto no início quanto no final do tratamento.

    Em visão de perfil, os ombros ao início mostraram-se protusos, sendo observada uma diminuição do nível de protusão ao final do tratamento; em relação ao equilíbrio horizontal da pelve, o lado direito apresentava-se mais elevado ao início e normal ao final; cabeça, membros superiores, coluna dorsal e lombar, equilíbrio sagital da pelve, joelhos e hálux mantiveram-se normais ao início e ao final do tratamento. Todos os dados expostos estão ilustrados nas Tabelas 1 e 2:



Discussão

    Uma melhor simetria e um aumento na percepção de postura e movimento foram adquiridos também no estudo realizado por Schneider apud CARRIÉRE (1999) que avaliou os resultados de 53 pacientes tratados com Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva, 32 dos quais recebendo um colete de Chêneau antes do tratamento.

    O sucesso do tratamento da escoliose com a Bola Suíça pode ser equiparado à aplicação do conceito de tratamento de Vojta, que se baseia na locomoção reflexa e no fortalecimento dos músculos genuínos (intrínsecos) da coluna, por Hanke apud CARRIÉRE (1999). Hanke relatou uma alta incidência de sucesso no tratamento de pacientes com escoliose usando seu conceito; e, Hardt apud CARRIÉRE (1999), descreveu sua experiência com o conceito de Vojta para tratamento de escoliose, abordando a coordenação e a estabilização insuficientes dos músculos da coluna, a percepção corporal e reações de equilíbrio que são também insuficientes em pacientes com escoliose.

    Os padrões do rastejar reflexo e do rolar reflexo são empregados desde 1959 na reabilitação de crianças com problemas motores e somente um ano mais tarde é que esse método foi estendido aos "bebês de risco" do ponto de vista motor. No decorrer dos últimos anos, essa terapia se comprovou útil também na reabilitação de adultos com as mais diversas perturbações motoras (VOJTA E PETERS, 2000).

    Segundo Vojta & Peters (2000), esse método é utilizado para o tratamento de posturas ortopédicas viciosas como a escoliose, entre outras patologias.


Conclusão

    A partir dos resultados obtidos no estudo, dentre eles a redução do ângulo de Cobb de 14 graus para 8 graus, analisado através de análise radiográfica realizada antes e depois do tratamento, assim como a redução no quadro álgico, analisando-se a dor numa Escala Análoga Visual de 0 a 10 segundo o Instituto Roxane (2001), onde o paciente relatava sentir dor de valor 8 (oito) ao início da primeira sessão e valor 1 (um) ao início da última (20a) sessão, sendo relatada dor de valor 0 (zero) ao final de todas as sessões, e a aquisição de maior simetria e percepção corporal analizada através de Avaliações Posturais em visões ântero-posterior e perfil ao início e ao final do tratamento, conclui-se que o uso da Bola Suíça no tratamento da escoliose, realmente, demonstrou-se ser eficaz, trazendo resultados satisfatórios ao indivíduo pesquisado.


Referências

  • CARRIÉRE, Beate. Bola Suíça. Teoria, Exercícios Básicos e Aplicação Clínica. São Paulo: Manole, 1999, 1 ed.

  • VOJTA, V; PETERS, A. O Princípio de Vojta: Grupos musculares na locomoção reflexa e na ontogênese motora. 2a ed. São Paulo: Manole, 2000.

  • KISNER, C; COLBY, L. A. Exercícios Terapêuticos: Fundamentos e Técnicas. 3a ed. São Paulo: Manole, 1998.

  • MOMESSO, R. B. Proteja sua Coluna. São Paulo: Cone, 1997.

  • GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 3a ed. São Paulo: Atlas, 1991

  • COSTA NETO, P. L. O. Estatística. 17a ed. São Paulo: ABDR, 1999.

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