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Reprodutibilidade da posição de saída de bloco
em atletas juvenis de atletismo de SC - Brasil

   
*Acadêmicos do curso de Educação Física
da Universidade Federal de Santa Catarina.
**Prof. Ms. do Centro de Desportos da UFSC.
***Prof. Dr. do Centro de Desportos da UFSC.
(Brasil)
 
 
Diogo Cunha dos Reis*  
Audrey Cristine Esteves** | Rogério Marques Leite**  
André da Silva Nascimento* | Antônio Renato Pereira Moro***
biomecanica43@yahoo.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
     O propósito deste estudo foi verificar a reprodutibilidade da posição de saída de bloco em atletas juvenis do Estado de Santa Catarina. Os sujeitos de pesquisa constaram de 25 corredores homens e 13 mulheres, com média de idade de 17 anos. O instrumento utilizado para coleta de dados foi o sistema bi-dimensional de reconstrução do movimento DMAS 5,0 da SPICATek®. Os ângulos medidos foram do joelho e quadril da perna de impulsão e apoio. Os resultados mostram que para corredores do sexo masculino o ângulo do joelho da perna de impulsão foi (96,7 ± 14,5)º e para as atletas do sexo feminino (100,3 ± 15,1)º. O ângulo do quadril da perna de impulsão, nos homens foi (40,5 ± 8,6)º e nas mulheres (40,1 ± 2,7)º. Os ângulos do joelho da perna de apoio nos homens foram (113,6 ± 16,1)º, e para as mulheres (124,1 ± 14,8)º. Os ângulos do quadril da perna de apoio dos homens foram (72,1 ± 7,9)º e para as mulheres (64,3 ±10,8)º. Foram encontradas diferenças significativas entre mulheres e homens, podendo estas estar associadas à localização do centro de massa e das próprias características físicas dos atletas. Assim, conclui-se que a reprodutibilidade da posição de saída de bloco é baixa em atletas juvenis.
    Unitermos: Posição de saída de bloco. Atletismo. Atletas juvenis.
 
Abstract
     The purpose of this study was to verify the reproductibility of the starting block position in youthful athletes of the Santa Catarina State. The subject sample comprised of 25 male sprinters and 13 female sprinters, with middle age of 17 years old The instrument used for the collection of data was the system of bi-dimensional reconstruction of movement DMAS 5,0 of the SPICATek®. The angles measurement was knee and hip of front leg and rear leg. The results showing that for male sprinters the knee angle of front leg were (96,7±14,5)º and for the female sprinters (100,3±15,1)º. The hip angle of front leg in men were (40,5±8,6)º and in women (40,1± 2,7)º. The knee angles of rear leg in men were (113,6 ± 16,1)º, and women (124,1 ± 14,8)º. The hip angle of rear leg in men were (72,1 ± 7,9)º and for women (64,3 ±10,8)º. Significant differences between men and women had been found, can be to associates the localization of the center of mass and the proper physical characteristics of the athletes. Thus, it concludes that the reproductibility of the starting block position is low in youthful athletes.
    Keywords: Starting block position. Athletism. Youthful athletes.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 106 - Marzo de 2007

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Introdução

    Segundo as regras estabelecidas pela Federação Internacional de Atletismo Amador (IAAF), nas provas até 400m deve ser adotada a técnica de saída baixa com blocos. A saída de bloco é uma complexa tarefa motora caracterizada pelo impulso exercido na direção horizontal e pela habilidade de geração dessas forças em um curto período de tempo (HAFES et al, 1985 & HARLAND et al, 1995).

    Em uma corrida com saída baixa a posição do atleta é um importante aspecto que contribui para uma boa performance, entre os indicadores que influenciam no desempenho da saída estão a localização do centro de massa (CM) e sua velocidade horizontal (MERO, 1988). Da mesma forma, a posição do bloco e a distância entre os pedais, bem como a relação angular entre as partes do corpo definem uma ótima condição de partida (KRAAN et al. 2001)

    Em consonância com este, Coh et al (1998) realizaram estudo visando estabelecer os parâmetros cinemáticos da saída de bloco em atletas profissionais. Deste modo, é necessário que os atletas, principalmente aqueles que competem em provas curtas (como as de 100m), tenham uma técnica apurada de saída de bloco, pois esta é determinante para o resultado destas provas (REIS et al, 2005). Não obstante é necessária que haja a reprodutibilidade do movimento de saída com a menor variação possível.

    Segundo Zanon & Mota (2003), a maioria dos estudos abordando a biomecânica da saída de bloco disponíveis na literatura foram realizados com atletas de elite de outros países, muitas vezes não condizendo com a realidade da maioria dos atletas brasileiros, sejam eles profissionais ou amadores. Assim, este estudo tem por objetivo analisar a reprodutibilidade da posição de saída de bloco em competidores juvenis de atletismo do Estado de Santa Catarina.


Materiais e métodos

    Participaram do estudo 38 atletas da categoria juvenil, sendo 25 meninos com média de idade 16,5 anos e com estatura e massa médias de (1,74±0,07)m e (66,9± 6,0)kg e 13 meninas com média de idade 16 anos e com estatura e massa médias de (1,64±0,05) e (55,6±5,1)kg

    A coleta de dados foi realizada durante a realização dos "Joguinhos Abertos de Santa Catarina - 2004" (competição realizada em Florianópolis, Santa Catarina, na pista de Atletismo do Centro de Desportos na Universidade Federal de Santa Catarina). Em função do transcorrer da competição, a movimentação dos equipamentos e da equipe de pesquisadores dentro do campo atlético ficou limitado para não influenciar na realização das provas. Diante disto, e devido a dominância lateral de cada atleta, algumas coletas restringiram-se à analise da saída de bloco do lado da perna de impulsão e outras do lado da perna de apoio.

    Os procedimentos adotados para a realização desta pesquisa foram: inicialmente aplicou-se uma breve entrevista a fim de identificar alguns dados pessoais, em seguida mensurou-se massa corporal através de uma balança da marca Filizola® com aferição de 100g e limite de carga de 150kg, a estatura foi verificada através de um estadiômetro da marca Seca® com aferição de 1mm e escala de 130 - 200cm.

    Com o intuito de analisar a reprodutibilidade da posição de saída de bloco dos atletas, foram filmadas três simulações de saídas de provas de 100 m, onde o individuo foi instruído a criar um estado mental de semelhança à largada real de 100 m. As largadas simuladas foram realizadas durante a fase de aquecimento do atleta (após 30 min de aquecimento), respeitando um intervalo de 5 minutos entre as largadas (tal procedimento foi realizado a fim de proporcionar uma maior recuperação energética e bem como possibilitar um eficiente estado mental da simulação). O fato de este estudo ter sido realizado durante o transcorrer do evento, impossibilitou que toda a metodologia planejada fosse colocada em prática, o que acarretou na não realização das filmagens em ambos os lados (direito e esquerdo de cada atleta), devido à indisponibilidade de transporte dos equipamentos pelo campo atlético.

    Para a realização das filmagens utilizou-se uma câmera filmadora digital da marca JVC® modelo GR-D90U, com uma freqüência de aquisição de 30 hz, previamente calibrada por uma referência métrica composta por dois pontos separados entre si por uma distância de 80 cm. Para posicionar a câmera filmadora, utilizou-se um tripé da marca Manfroto® modelo 3221.

    Para o tratamento e corte das imagens foi utilizado o software de edição de imagens Pinnacle® Studio versão 9.0, assim como o software de análise cinemática do movimento humano DMAS Coach® - versão 6.0 da SPICA Technology Corp. (utilizado para a mensuração das variáveis angulares nos movimentos).

    Os ângulos analisados foram do quadril e joelho (da perna de apoio e perna de impulsão) na posição inicial de partida de provas de 100m.

    O tratamento estatístico consistiu no cálculo da média, desvio padrão e coeficiente de variação de Pearson (CV%) dos valores dos ângulos relativos do joelho e do quadril, caracterizados pelas pernas de impulsão e de apoio, seguido de aplicação do teste "t" de Student para detectar possíveis diferenças entre as médias dos grupos masculino e feminino, ao nível de 5% de significância.


Apresentação e discussão dos resultados

    A tabela apresenta os valores angulares das articulações analisadas durante a posição de saída de bloco.

    Para os atletas do sexo masculino foram encontradas médias para o valor do ângulo do joelho da perna de impulsão (96,7 ± 14,5)º menores (p=0,05) que para as atletas do sexo feminino (100,3 ± 15,1)º. Para o ângulo do quadril em relação a perna de impulsão, os homens apresentaram valores (40,5 ± 8,6)º superiores aos das mulheres (40,1 ± 2,7)º. A média dos valores angulares do joelho da perna de apoio, também mostraram-se menores para os homens (113,6 ± 16,1)º, que para as mulheres (124,1 ± 14,8)º. Já os valores dos ângulos do quadril da perna de apoio dos homens (72,1 ± 7,9)º mostraram-se superiores para as mulheres (64,3 ± 10,8)º. Devido ao fato das mulheres terem assumido uma posição mais entendida da articulação de joelho, consequentemente a angulação do quadril será reduzida, aliado a este fato conforme dados da literatura (PLAGENHOEF, EVANS e ABDELNOUR, 1983) as mulheres possuem um menor comprimento de tronco, colaborando para a redução angular no quadril.

    Coh et al. (1998) encontraram resultados similares aos deste estudo, em relação à angulação de joelho e quadril em atletas adultos profissionais, onde para o quadril apresentaram valores de 44,78±6,15º para o masculino e 42,36±9,43º para feminino na perna de impulsão, 24,91±4,27º (masculino) e 19,25±9,30º (feminino) para perna de apoio. Já na articulação do joelho foram observados os valores 93,75±8,26º (masculino) e 103,38±6,97º (feminino) para perna de impulsão, e 112,72±13,31º (masculino) e 115,59±13,86º (feminino) para perna de apoio. Stevenson (2001) cita que uma boa angulação do joelho na posição de partida está em torno de 83º para perna de impulsão e 121º para a perna de apoio.

    A partir do CV% de Pearson, obteve-se maior variabilidade no ângulo do quadril da perna de impulsão para homens e menor variabilidade para mulheres nesta mesma variável. Este fato pode estar associado ao grau de maturidade dos atletas, destacando que homens e mulheres apresentam idades de início e velocidades de desenvolvimento maturacional diferentes, onde nesta faixa etária as mulheres apresentam maior estabilidade no seu comportamento motor. Coh et al. (1998) a posição de saída depende das características morfológicas dos atletas e da habilidade motora individual, estando diretamente ligadas ao estágio maturacional.

    Já nos demais ângulos a variabilidade foi média, podendo estar relacionada ao tempo de prática e de treinamento na modalidade, bem como ao tempo destinado ao treinamento na técnica de saída, dificultando a reprodutibilidade do padrão de saída.

    Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas quando comparadas mulheres e homens, podendo estas estar associadas à localização do centro de massa e das próprias características físicas dos atletas.


Conclusão

    A partir do exposto é possível constatar que a reprodutibilidade da saída de bloco dos atletas analisados foi baixa em função da variabilidade dos ângulos articulares relativos do joelho e quadril, embora os valores aproximem-se de medidas encontradas em atletas profissionais.

    Em virtude da importância da saída de bloco para o resultado das provas de velocidade do Atletismo recomenda-se uma maior ênfase no treinamento desta técnica, levando-se em consideração resultados de pesquisas, buscando a homogeneidade e otimização dos resultados.


Referências

  • Reis, D. C.; Ricardo, A. C.; Souza, P. D.; Piucco, T.; Rossato, M.; Foza, V.; Ramos, E.; Ferreira, G. M. L.; Moro, A. R. P. Análise cinemática da saída de bloco em provas de 100m e 400m: estudo de caso. Anais do XI Congresso Brasileiro de Biomecânica. João Pessoa, CD-ROM, 2005.

  • Mero, A. Force-time Characteristics and running velocity of male sprinters during acceleration phase of sprinting. In: Research Quarterly for exercise and sport, Finland, v. 59, n 2, University of Jyvaskylã, pp. 94-99, 1988.

  • Hafez, A.M.A., Roberts, E.M. and Seireg, A.A. (1985) Force and velocity during front foot contact in the sprint start. In: Biomechanics. Eds: Winter, D.A., Norman, R.W., Wells, R.P., Hayes, K.C. and Patla, A.E. Human Kinetics, Champaign, IL. 350-355.

  • Harland, M.J., Andrews, M.H. and Steele, J.R. (1995) Instrumented start blocks: A quantitative coaching aid. In: XIII International Symposium for Biomechanics in Sport. Ed: Bauer T. Ontario. 367- 370.

  • ZANON, S. E MOTA, C. B. Análise de variáveis cinemáticas da saída dos 100m. In: Anais do X Congresso Brasileiro de Biomecânica. Minas Gerais, Vol. 1, pp. 194-197, 2003.

  • Coh, M; Jošt, B; Škof, B; Tomažin, K, Dolenec, A. Kinematic and kinetic parameters of the sprint start and start acceleration model of top sprinters. Gymnica, v 28, 1998, p. 33 - 42.

  • Stevenson, M. The sprint start. Coach e Athletic. 2001. p. 20 - 23.

  • Kraan, GA; vanVeen, J; Snijders, CJ; Storm, J. Starting form standing; why step backward? Journal of Biomechanics, 34, 2001, p. 211-215.

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