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Assimetrias de circunferências musculares e de percentual de gordura entre os lados dominante e não-dominante de judocas

   
*Acadêmicas de Educação Física.
**Orientadora. Profa. Dra. do
Departamento de Educação Física.
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
(Brasil)
 
 
Daniele Detanico*
danieledetanico@gmail.com  
Francimara Budal Arins*
fran@desenvolver.net  
Saray Giovana dos Santos**
saray@cds.ufsc.br
 

 

 

 

 
Resumo
     Este estudo descritivo diagnóstico teve como objetivo analisar as assimetrias de circunferências musculares e do percentual de gordura em judocas. Foram mensuradas as circunferências musculares de braço, coxa e semi-perímetro torácico e as dobras cutâneas de tríceps, subescapular, supraíliaca e panturrilha medial em ambos os lados do corpo dos judocas (lados dominantes e não-dominantes). Os resultados demonstraram que todos os judocas analisados apresentaram assimetrias musculares. Mediante a aplicação do teste "t" de Student verificou-se que as circunferências musculares de braço, de coxa e do semi-perímetro torácico foram significativamente maiores no lado dominante quando comparadas às circunferências musculares do lado não-dominante; todos os judocas tiveram o percentual de gordura do lado dominante significativamente menor que o lado não-dominante. Tendo em vista os resultados obtidos, conclui-se que o tipo de prática dos judocas não está sendo simétrica, haja vista que os judocas participantes do estudo apresentaram assimetrias tanto nas circunferências musculares quando no percentual de gordura. Tal achado aponta para futuros problemas osteomioarticulares desse grupo.
    Unitermos: Judô. Assimetrias. Prática unilateral.
 
Abstract
     This diagnostic descriptive study had as objective to analyze the asymmetries of muscular circumferences and asymmetries of the fat percentage in judokas. The muscular circumferences arm, thigh and thoracic half-perimeter in the dominant and non-dominant sides have been measured; and the coetaneous folds of triceps, subscapular, suprailiaca and medium calf in both sides. The analyzed results should demonstrated that all judokas have presented muscular asymmetries. Through the application Student test "t" verified that the muscular circumferences of arm, thigh and the thoracic half-perimeter had been significantly bigger in the dominant side when compared with the muscular circumferences of the non-dominant side; all judokas had had the fat percentage significantly smaller than the non-dominant side. In view of the gotten results, it is concluded that the practical type of the judokas is not being symmetrical, because they have presented asymmetries of the muscular circumferences and asymmetry in the fat percentage. Such results points with relation to articulation and muscular damages in the future of this group.
    Keywords: Judo. Asymmetry. Unilateral practice.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 105 - Febrero de 2007

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Introdução

    Tendo em vista que a maioria das modalidades esportivas são praticadas de forma unilateral e, ainda, sendo o corpo humano assimétrico, com o tempo de prática essas assimetrias tendem a acentuar-se. Por outro lado, existem modalidades esportivas que têm características de prática bilateral, a exemplo judô, natação, handebol, entre outras. Especificamente no judô, a prática que deveria ser simétrica, isto é, bilateral, não é efetivamente praticada por judocas, como mostrou o estudo de Santos (1993), caracterizando a mesma com atividades específicas de trabalho unilateral.

    A prática sistemática do judô por um tempo prolongado utilizando apenas no lado dominante pode acarretar desequilíbrios musculares, que por conseqüência afetam negativamente o desenvolvimento postural dos seus praticantes, visto que alguns estudos já comprovaram tal acometimento (SANTOS, 1993; PIEMONTEZ et al., 2005).

    Nesse sentido, tendo em vista a importância do levantamento do tipo de prática (unilateral ou bilateral) efetuada por judocas para prevenção de desvios posturais é que se realizou este estudo com o objetivo geral de analisar as assimetrias de circunferências musculares e assimetrias do percentual de gordura em praticantes do judô. Mais especificamente, objetivou-se identificar o número de assimetrias musculares nas circunferências nos segmentos braço, coxa e semi-perímetro torácico e a diferença do percentual de gordura obtido entre o lado dominante e não-dominante apresentadas pelos judocas; comparar as circunferências musculares e o percentual de gordura de diversos segmentos corporais entre os lados dominante e não-dominante.

    Na busca da verdade para o estudo delimitaram-se as seguintes hipóteses: H1 - os judocas apresentam os segmentos do lado dominante mais hipertrofiado que o lado não-dominante; H2 - o lado dominante dos judocas apresenta menor percentual de gordura que o lado não-dominante.


Materiais e métodos

    Participaram deste estudo descritivo do tipo diagnóstico, 27 judocas do sexo masculino, escolhidos intencionalmente, pois deveriam ter no mínimo dois anos de prática, participantes de três centros de treinamento de judô da cidade de Florianópolis.

    Os instrumentos de medida utilizados foram uma fita métrica com precisão de 1mm e um adipômetro da marca CESCORF. Foram mensuradas as circunferências musculares de braço, coxa e semi-perímetro torácico e as dobras cutâneas de tríceps, subescapular, supraíliaca e panturrilha medial nos lados dominante e não-dominante.

    A coleta de dados foi realizada nos locais de prática, agendado antecipadamente, após a assinatura do consentimento orientado, exigido pelo Comitê de Ética da UFSC. Estando os sujeitos com calção de banho, as medidas foram realizadas com demarcação dos pontos anatômicos de referência em ambos os lados com caneta demográfica.

    Para o cálculo da densidade corporal foi utilizada a equação de Petroski e o percentual de gordura foi calculado a partir da equação de Siri. Para análise estatística dos dados utilizaram-se técnicas de estatística descritiva em termos de média, desvio-padrão, mínimo, máximo e estatística não-paramétrica com utilização do teste "t" de Student para dados pareados, com probabilidade de 0,05.


Resultados e discussão

    Dos 27 judocas participantes do estudo, no quadro abaixo estão contidos as características gerais dos mesmos, no que concerne idade, tempo de prática e graduação.

    De acordo com o Quadro 1 observa-se que os atletas de judô apresentaram média de idade de 22,5±6,25 anos e média de tempo de prática de 11,8±5,21 anos. De acordo com a graduação, cinco apresentaram-se com o 2º kyu (faixa roxa), 16 com o 1º kyu (faixa marrom) e seis 1º Dan (faixa preta).

    Atendendo ao primeiro objetivo específico do estudo, verificou-se o número de assimetrias nas circunferências dos segmentos corporais: braço, coxa e semi-perímetro torácico, conforme apresentados no Quadro 2.

    De acordo com o quadro acima, pode-se observar que grande parte dos judocas analisados possui assimetrias nas circunferências musculares, sendo que 21 possuem assimetria de circunferência de braço, 23 de circunferência de coxa e 23 de circunferência de semi-perímetro torácico. No total, os 27 judocas analisados possuem 67 assimetrias musculares nos segmentos corporais.

    Mesmo sendo o Judô um esporte que deveria ser praticado bilateralmente, assim como todos deveriam, estudos reforçam os dados aqui obtidos, a exemplo de Melo et al. (1992), ao estudarem judocas paranaenses, encontraram diferenças significativas entre a perimetria dos membros superiores, membros inferiores e hemi-tronco entre os lados dominante e não-dominante.

    Em outras modalidades, Araújo et al. (2004) também encontraram diferenças entra as circunferências de braços e antebraços direito e esquerdo de atletas da Seleção Brasileira de Tênis de Mesa. Da mesma forma, Silva e Milani (2004), analisando a força de prensão manual nos lados dominante e não-dominante em jogadores de voleibol, encontraram diferenças em ambos os lados, concluindo que estas podem interferir no rendimento final do atleta durante uma partida.

    Com relação ao percentual de gordura obtido das medidas do lado dominante e não-dominante, os resultados obtidos estão apresentados no Quadro 3.

    Observando o Quadro 3, verifica-se que o lado dominante apresenta percentual de gordura menor que o lado não-dominante, o que ratifica que o treinamento de forma geral está sendo mais exigido do lado dominante do atleta.

    Os dados obtidos tanto em termos de circunferência quanto em percentual de gordura afirmam que a prática do Judô, para esse grupo, não está sendo exigida de forma bilateral. Esse fato pode ser justificado por diferentes variáveis que não foram controladas neste estudo, porém certamente a mais apropriada é o estigma que judocas têm sobre a prática bilateral, ou seja, consideram perda de tempo treinar o lado não-dominante (SANTOS et al., 1990).

    O segundo objetivo específico foi de comparar as circunferências musculares e o percentual de gordura dos segmentos corporais entre o lado dominante e não-dominante. Para tal utilizou-se o teste "t" de Student com nível de significância de 0,05, cujos resultados estão demonstrados na Tabela 1.

    No que se refere à comparação das circunferências musculares dos segmentos corporais de braço, coxa e semi-perímetro torácico entre os lados dominantes e não-dominantes, mediante a aplicação do teste "t" de Student para amostra dependente, rejeita-se a hipótese nula, encontrando-se diferença significativa para todas as variáveis, ou seja, os judocas apresentam os segmentos do lado dominante mais hipertrofiado que o lado não-dominante. Da mesma forma, no percentual de gordura rejeita-se a hipótese nula, ou seja, o lado dominante dos judocas apresentou menor percentual de gordura que o lado não-dominante.

    Tais achados comprovam a hipótese de que os judocas trabalham sistematicamente de forma unilateral. Esse tipo de prática pode resultar lesões específicas em curto prazo, lesões do tipo repetitiva com desgastes osteomioarticulares em médio prazo e problemas posturais ratificados em longo prazo. Santos (1993) detectou em seu estudo realizado com judocas com média de idade de 24,8±7,9 anos e tempo de prática de 14,1±6,5 anos, desvios posturais principalmente em termos de escoliose, resultante dos anos consecutivos de prática unilateral. Outro estudo realizado com judocas encontrou maior crescimento ósseo-muscular no lado dominante (PIEMONTEZ et al., 2005).

    A prática específica e suas seqüelas, também já foi apresentada em um trabalho realizado por Silva (1989) o qual detectou encurtamento de antebraço no lado dominante em função da exigência unilateral da técnica de preferência - Morote-Seoi-Nague.

    Em outras modalidades, encontraram-se resultados semelhantes no que se refere aos desvios posturais decorrente da prática sistemática unilateral. A exemplo, Neto Jr. et al. (2004) encontraram alterações posturais em atletas que participavam de provas de potência muscular, decorrentes de desequilíbrios musculares; e Dezan et al. (2004) verificaram alta ocorrência de dores lombares, provavelmente relacionadas à exigência da modalidade e desequilibro muscular, em atletas de luta olímpica.


Conclusões

    Com base nos resultados obtidos e respeitando os pressupostos teóricos pesquisados, conclui-se que:

  • todos os judocas participantes deste estudo apresentaram assimetria muscular;

  • as circunferências de braço, coxa e semi-perímetro torácico foram significativamente maiores no lado dominante;

  • o percentual de gordura foi significativamente menor no lado dominante.

    Os resultados permitem alertar ao grupo de judocas para a efetivação de uma prática bilateral com o intuito de prevenção de futuros desvios posturais.


Referências bibliográficas

  • ARAÚJO, D.J.; AMARAL, C.A.; FREITAS, W.Z; et al. Perimetria dos braços e antebraços de praticantes de tênis de mesa. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 27, 2004, São Paulo. Anais... São Paulo: CELAFISCS, 2004, p. 302.

  • DEZAN, V.H., SARRAF, T.A., RODACKI, A.L.F. Alterações posturais, desequilíbrios musculares e lombalgias em atletas de luta olímpica. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.12, n.1, jan/mar. 2004, p. 35-38.

  • MELO, S.I.L.; SANTOS, S.G.; PIRES-NETO, C.S. Comparação do percentual de gordura e de circunferências entre os lados dominante e não-dominante em judocas. In: Jornada de Pesquisa da UFSM, 2, 1992. Santa Maria, Anais... Santa Maria: UFSM, 1992, p. 433.

  • NETO Jr., J; PASTRE, C.M.; MONTEIRO, H.L. Alterações posturais em atletas brasileiros do sexo masculino que participaram de provas de potência muscular em competições internacionais. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.10, n.3, maio/junho, 2004, p.195-198.

  • PIEMONTEZ, G.R.; MARTINS, A.C.V.; COAN, M.V. Análise da postura em atletas de judô. In: Suplemento da Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, Florianópolis, v.10, n.1, nov/2005.

  • SANTOS, S. G. dos. A influência da pratica do judô na postura de atletas do sexo masculino do estado do Paraná. Santa Maria: UFSM, 1993. 130 p. Dissertação (Mestrado em Ciência do Movimento Humano). Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.

  • SANTOS, S. G. dos et al. Estudo sobre a aplicação dos princípios judoísticos na aprendizagem do judô. Revista da Educação Física/UEM, n. 1. p. 11-14, 1990.

  • SILVA, N. W. P. da. A influência do treinamento precoce do morote-seoi-nage para competição, em crianças de nove e 10 anos, nas complicações de simetria muscular dos membros superiores. Rio de Janeiro: UFRJ, 1989. Dissertação (Mestrado em Educação Física). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

  • SILVA, O.G.; MILANI, N.S. Força de prensão manual nos lados dominante e não-dominante em jogadores de voleibol. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 27, 2004, São Paulo. Anais... São Paulo: CELAFISCS, 2004, p. 189.

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