efdeportes.com
Estudo das alterações na expressão da
corporeidade de alunos praticantes
de Educação Física Escolar

   
Professor de Educação Física licenciado pela UFSM
Professor Especialista em Ciência do Movimento Humano pela UFSM
Professor de Educação Física da Rede Municipal de Ensino de Passo Fundo.
 
 
Nilton Cezar Rodrigues Menezes
nilton.menezes@bol.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     Este trabalho desenvolvido no segundo semestre de 2005 teve como objetivo estudar as alterações na corporeidade dos alunos da sexta série (turma 61) pela prática da Educação Física escolar. Neste estiveram envolvidos dezoito dos vinte e dois praticantes. As aulas realizaram-se três vezes por semana, nas terças e sextas feiras pela parte da manhã, tendo quarenta minutos de duração e como local de atividades, a Escola Municipal de Ensino Fundamental incompleto Etelvina Rocha Duro, situada a rua Tramandaí, n° 142, no Município de Passo Fundo/RS. Na metodologia foi proposto o método misto em Educação Física. A pesquisa caracterizou-se como de caso. Na coleta de dados usamos a observação participante (entrevista semi-estruturada). Concluímos que as alterações na corporeidade dos alunos da sexta série ocorrem a cada novo exercício, cada re-elaboração e re-significação do movimento trabalhado nas aulas, inscrevendo uma história de movimentos, com seus erros e acertos, como também problemas específicos de aprendizagem. E por fim, estes movimentos trabalhados tecem perspectivas e projetos aos alunos, futuramente.
    Unitermos: Aividade física. Coporeidade. Educação Física escolar
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 105 - Febrero de 2007

1 / 1

Introdução

    A Educação Física escolar, ao do longo do tempo, está se confirmando como prática pedagógica em seus diferentes interesses e concepções pedagógicas. Portanto, com diferentes concepções sociedade e educação. Para tal, o desafio que se apresenta para a Educação Física é de que dentro de qualquer processo educacional ela possa junto com as demais disciplinas, fazer com que os objetivos educacionais alcancem suas metas estabelecidas.

    A Educação Física escolar deve interagir com as demais disciplinas. Com iniciativas que oportunizem a produção e a socialização do conhecimento, mediante interesses transformadores. Caracterizando, assim a interdisciplinaridade presente na sua proposta, referindo-se aos pontos comuns com as demais disciplinas.

    Para alcançar esses objetivos, prementes se fazem algumas ações pedagógicas direcionando-as para uma práxis focada na reflexão, compreensão e superação da realidade, pela sua re-elaboração. Esta práxis, transformadora da realidade, sem dúvida passa pelo movimento humano, objeto de estudo da Educação Física.

    Considerando isto, organizamos este estudo no intuito de colaborar quanto a formas de reflexão e possível atuação junto ao contexto da Educação Física escolar. Estudando alguns pontos importantes quando abordamos a corporeidade, principalmente no que se refere à compreensão de homem, mundo, sociedade, Educação Física.

    Com este fim, a proposta deste trabalho, tem como objetivo principal estudar as alterações na corporeidade dos alunos pela prática da Educação física escolar orientada. E como objetivos específicos: desvelar novas rotinas construídas pelos alunos a partir da participação em atividades físicas regulares; detectar alterações na construção da imagem corporal nos alunos da sexta série; comprovar a contribuição das atividades físicas regulares de variadas modalidades na melhoria da corporeidade dos alunos. Partindo-se do problema identificado, ou seja: quais são as alterações que ocorrem na re-construção da corporeidade de alunos da sexta (6ª) série pela prática de Educação Física escolar orientada de diferentes modalidades.

    Para que este estudo fosse realizado, entramos no entendimento da função social da Educação Física na escola, ou a Educação física como aprendizagem social. A função social da Educação Física está na aprendizagem de temas relacionados ao movimento/ corporeidade, através do "Jogo lúdico" (voleibol, futebol, atletismo). Conhecimentos estes produzidos historicamente pela humanidade e sistematizados aqui, com a finalidade de atender também às necessidades da Educação Física escolar. Sendo para isso, importante que a escola, mediante a proposta de atividades físicas diferenciadas e orientadas pela disciplina de Educação Física, desenvolva a consciência de corporeidade em seus alunos, bem como o conhecimento de que o movimento é fundamental para a criança conhecer-se e perceber-se, enquanto corporalidade e movimento.


Corporeidade

    No desenrolar da história, as manifestações do homem como ser corpóreo se diferenciam, dependendo do seu contexto sócio cultural. Pois como o homem existe mediante a condição de estar incluso em um sistema pelo qual é influenciado, também exerce grande influência sobre o mesmo. Construindo a sua história corporal que não é melhor ou pior do que as demais, mas sim diferente. Gonçalves nos diz que:

ao longo da história humana, o homem apresenta inúmeras variações na concepção e no tratamento de seu corpo, bem como nas formas de comportar-se corporalmente, que revelaram e revelam as relações do corpo com um determinado contexto social (1994, p. 14).

    Pelo estudo fomos levados a refletir sobre o que é corporeidade. Neste contexto, Merleau-Ponty possibilitou para a Educação Física uma visão de corpo e de movimento integrada a totalidade. De acordo com Gonçalves (1994, p.23), considerando que a reflexão nunca abarca a realidade em sua totalidade, "sempre havendo possibilidades de outras interpretações, de outros significados, este, busca a compreensão do homem de forma integral", onde homem é ser no mundo e só pode ser compreendido a partir de sua facticidade.

    Santin referindo-se ao "homem enquanto um ser que se move" utiliza-se de um pensamento de Merleau-Ponty (1999, p.79) através das seguintes palavras "a corporeidade que se torna palavra", é o gesto que é linguagem, sem possibilidade e de se desvincular o movimento gestual do significado, assim como é impossível separar a melodia dos sons em uma sinfonia.

    Portanto, o homem é corporeidade e, como tal, é movimento, é gesto, é expressividade, é presença. Maurice Merleau Ponty descreve esta presença do homem como corporeidade, não enquanto o homem se reduz ao conceito de corpo material, mas enquanto fenômeno corporal, isto é, enquanto expressividade, palavra e linguagem.

    Todavia, mediante esta linguagem é necessário esclarecer o entendimento de movimento humano, diferenciando-o do movimento que é inerente a todos os seres vivos. Nesta intenção é imprescindível atentarmos para características que o identificam como sendo o movimento do homem e, de acordo com a proposta deste estudo, deve estar centrado numa práxis transformadora, buscando a autonomia de um ser em movimento, tendo, desta forma, como objeto de estudo, o próprio Movimento Humano, o qual permeará todos os saberes da Educação Física. Logo, a escola é sem dúvida a instituição que promove, de forma sistematizada, a socialização deste processo.

    Nesta proposta de estudo, falar em educação, sem nos referimos à corporeidade é permanecermos no reducionismo da dualidade corpo e mente. Neste sentido, Assmann (1995, p.106) faz uma grande contribuição quando afirma que a "corporeidade não é fonte complementar de critérios educacionais, mas seu foco irradiante primeiro e principal". Pois, quando a criança vai à escola e vivencia o processo de elaboração e re-elaboração do conhecimento, através do movimento, é ela em sua totalidade que participa. Portanto, propiciar a vivência da corporeidade é fundamental para a Educação Física Escolar.


Metodologia: análise e discussão dos resultados

    Para o contexto deste estudo, a parte metodológica ficou constituída da seguinte estrutura: caracteriza-se como qualitativo, com um trabalho de campo feito a partir de observações descritivas e reflexivas propostas por Ludke & André (1986). Por conseguinte, elaborou-se um instrumento de identificação, composto de nove questões abertas e fechadas, distribuídos para vinte e três alunos a partir dos doze anos. Com isso, foi feito um corte para selecionar dezoito alunos para entrevista. Na organização do trabalho da proposta, nos valemos dos seguintes procedimentos de organização e estrutura das aulas: nº de aulas na semana: 03 vezes; metodologia: método misto; tempo de aula: 40 minutos; atividades físicas: jogo (voleibol, futebol, atletismo); horário de aulas: 8:00 às 9:00h; dias da semana: segundas a sextas - feira; local: Escola Municipal Etelvina Rocha Duro: localização: Rua Tramandaí, n° 142; cidade: Passo Fundo/RS/ Brasil; alunos envolvidos: vinte e três a partir dos doze anos.


As entrevistas

    Transcreveremos dois recortes das entrevistas realizadas com os alunos participantes do estudo. Nesta primeira categoria de entrevistas uma "situação" se destacou, mediante a surpresa do aluno mediante a "realização" de atividades como: voleibol, futebol e atletismo através de jogo/brincadeira. Vamos a "situação" selecionada, com o recorte em relação ao mini-voleibol:

é bem legal, fazer o mini-voleibol de forma mais "solta", assim, também ninguém fica de fora do jogo. E tu se diverte pra valer com as jogadas. È uma diversão. (Marcela, 12 anos).

    Passaremos a seguir a trabalhar sobre a análise da primeira questão do instrumento, "Qual alteração você percebe no seu próprio corpo mediante a realização de atividades físicas de diferentes modalidades?". Para este questionamento, selecionamos um (01) recorte.

percebo que a cada troca de atividades, temos que fazer uma troca de atitude, como se estivéssemos trocando de roupa. Nos adaptando a elas. E depois que terminamos e começamos outra atividade, ficamos com os resquícios da anterior. E quando tudo termina acontece à mesma coisa. (Letícia, 13 anos)


Reflexões

    A Educação Física caracterizou-se neste estudo como um componente a dar um cunho lúdico ao conteúdo abordado, como saber produzido e sistematizado na prática social dos homens ao longo de sua história. Buscando com isso, a compreensão das impressões que impregnam os corpos dos seres humanos pelos aspectos sócio-culturais de diferentes momentos históricos. Pela percepção das alterações nos seus próprios corpos. Desvelando as possibilidades para uma participação dinâmica no processo de intervenção, elaboração, re-elaboração e re-construção da corporeidade pela aquisição de novas impressões corporais.

    Porém, para tal intento levamos em conta, o desenvolvimento do aluno enquanto ser social e a produção histórica do conhecimento acerca do jogo, e dos diversos elementos da cultura corporal, considerando o referencial de experiência que a criança traz de sua comunidade, a possibilidade de mudar as regras e produzir novos jogos. Logo, favorecendo a reflexão e a produção coletiva. É sabido que o indivíduo se humaniza na convivência com outros seres humanos. Nesta relação ele aprende a colaborar, repartir, ceder, expor suas idéias e compartilhar suas experiências de maneira lúdica.

    Desta forma, o jogo teve um papel preponderante, pela sua importância no desenvolvimento dos alunos. Ele foi à mola propulsora das alterações na corporeidade dos alunos. Sendo responsável pelos trejeitos, maneira de movimentar-se, de posicionar-se para jogar e até mesmo de falar. Ficando esses resquícios na maneira de proceder, na passagem de uma modalidade de atividades físicas para outra. Assim, provocando re-elaborações e re-significações na construção corporal de cada aluno. Contribuindo para que este se relacione melhor, fazendo uma leitura crítica da realidade como sujeito histórico, que precisa de outros sujeitos, para poder interferir e transformar, sendo, ao mesmo tempo, produtor e produto desta sociedade. E quanto aos educadores, eles, assim procedendo, com certeza estarão contribuindo para legitimar a Educação Física no âmbito escolar comprometida com uma sociedade mais justa.

    Desta maneira, um projeto pedagógico sério, uma educação física moderna, tem que ser dinâmica e estar constantemente se renovando, constituindo-se em um permanente estudo reflexivo que leve o homem a ser melhor. Concluímos que, as posições desenvolvidas sobre a percepção das alterações na corporeidade, mediante atividades físicas orientadas e regulares trabalhadas de forma lúdica (jogo) devem sustentar todos os demais temas da Educação Física.


Conclusões

    Neste trabalho para compreender quais as alterações na corporeidade dos alunos na prática de educação Física Escolar, mediante atividades físicas orientadas, buscou-se fazer entrevistas. E a partir destas compreendemos que foi fundamental a intervenção da Educação Física escolar que construiu mudanças na cultura dos alunos. Desvelando-se que as alterações na corporeidade dos alunos da sexta série (turma 61), ocorreram a cada novo movimento trabalhado. Escrevendo a cada aula uma história prévia de movimentos, com seus erros e acertos, como também problemas específicos relacionados à aprendizagem. Demonstrando todo um conjunto de relações emocionais e culturais que foram construídas no momento de sua realização e continuarão ao longo das caminhadas individuais.

    Constatou-se também neste estudo, que o movimento humano são construções individualizadas, que se concretizam pela influência de uma cultura de seus elementos, sobre os indivíduos que compõem uma determinada sociedade. E ao concluirmos, apontamos a necessidade de repensar o corpo enquanto corporeidade, buscando caminhos no sentido de uma construção pela compreensão de corpo que tenha como objetivo, superar esta realidade que o pensa como instrumento, máquina e mercadoria.

    Para que isso aconteça, cremos que a ludicidade deve permear toda a atividade e estar presente em todos os temas, por ser uma das mais importantes características da Educação Física Escolar. Nesta perspectiva de totalidade, em que o aluno é o seu corpo, historicamente produzido e que se movimenta intencionalmente e significativamente, deve ser ponto de partida para a reflexão, interferindo no processo educativo. Sendo assim, a Educação Física é importante na medida em que trabalha este ser corpóreo pelo movimento, visando à formação do homem crítico, participativo, transformador. Para isso, o professor deve assumir a Educação Física como ação pedagógica com a totalidade do processo educativo. Para tanto, torna-se necessário que esta ação, seja orientada por uma concepção clara de mundo, homem, sociedade e educação que se almeja.


Referencias bibliográficas

  • Assmann, H. Paradigmas educacionais e corporeidade. Piracicaba, SP. UNIMEP 1995

  • Lüdke, M. Pesquisa em educação: abordagens Qualitativas. SP: EPU, 1986.

  • Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da Percepção. SP: Martins Fontes, 1999.

  • Gonçalves, M. A. S. Sentir, pensar e agir: corporeidade e educação. Campinas: Papirus, 1994.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Google
Web EFDeportes.com

revista digital · Año 11 · N° 105 | Buenos Aires, Febrero 2007  
© 1997-2007 Derechos reservados